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sábado, 21 de janeiro de 2017

Uma cerimônia de coroação

O dever do ser humano é ajudar outro, mesmo precisando de ajuda.
(Belarmino F.L. Bisneto)


Não sou simpatizante da Teologia da Prosperidade. Também não acredito no retrógrado “quanto mais pobre, mais santo”. Me identifico muito mais com a ideologia de Paulo. Na riqueza ou na pobreza, na saúde ou na doença, em fartura ou na necessidade, em euforia ou no abatimento, posso todas as coisas naquele que me fortalece. Minha conta no banco não pode interferir em minha comunhão com Deus (Filipenses 4:11-13).

Biblicamente falando, o “amor” ao dinheiro é a raiz de todos os males (I Timóteo 6:10). Mas, o dinheiro, em si, pode ser um manancial de bênçãos (Malaquias 3:10). Ninguém vai para o céu porque é dizimista, e nem é condenado ao fogo do inferno por não ser. Porém, inegavelmente, Deus tem um cuidado especial sobre a vida de quem tem um coração voluntário (II Coríntios 9:7).

Não se engane. A Igreja é prioritariamente, uma instituição espiritual, que atua num ambiente material. Para sobreviver como organização, ela precisa de dinheiro, afim de manter, em dia suas, obrigações financeiras, estruturar seus templos e investir em obras missionárias. Estes recursos saem de bolsos fiéis. Não existe outra fonte de renda. Ou, pelo menos, não deveria ter.

Uma Igreja que mantem viva a chama apostólica, também se dedica a cuidar dos necessitados (Atos 2:44-47). Deus é glorificado quando órfãos e viúvas são amparados pela generosidade de seu povo (Tiago 1:27). Um coração generoso é também um coração adorador. 

Dizem, por exemplo, que a obra missionária é feita pelos pés de quem vai, os joelhos de quem ora, e pelas mãos que contribuem. Existe uma espiritualidade inerente ao fato de ofertar, que excede a compreensão humana. Mas, existe uma história no Velho Testamento, que pode nos dar uma ilustração clara do poder espiritual existente na oferta gerada por um coração voluntário.

O profeta Zacarias foi levantado por Deus como um conselheiro dos judeus após os anos de exílio na Babilônia. A marca registrada deste mensageiro do Senhor foram as suas maravilhosas “visões” espirituais, que quando interpretadas corretamente, ainda revelam verdades gloriosas para cristãos de todos os tempos e lugares.

Zacarias foi contemporâneo de Ageu, e profetizou num período onde os líderes mais expoentes da nação eram Esdras e Neemias, responsáveis por recolaram Israel num caminho de retorno aos mandamentos de Deus. Parte importante destes princípios, era exatamente a generosidade para com a Casa do Senhor, através da entrega de dízimos e ofertas alçadas para manutenção do Santuário e sustento dos levitas. Neste período, o sumo-sacerdote responsável pelos serviços do templo era Josué, que junto a Zorobabel, foi responsável pelo restabelecimento do Templo de Jerusalém e de seus cultos.  

Josué é personagem recorrente nas visões de Zacarias, onde, tipologicamente, representava o próprio Cristo que haveria de vir.

Após uma série de oito visões miraculosas e interligadas, Deus ordenou ao profeta para descer até as casas de Heldai, Tobias, Jedaías e Josias, todos recém repatriados, e ali pedir doações de ouro e prata. Com o material doado, ele deveria confeccionar algumas coroas. Em seguida, a ordem do Senhor, era para que o profeta se dirigisse até o Templo, onde então, uma após a outra, deveria colocar cada coroa na cabeça de Josué (Zacarias 6:9-15).

Apesar da discussão teológica em torno deste evento ser acalorada em algumas “rodas”, é comum o entendimento da tipologia existente nesta passagem como sendo um simbolismo para a coroação do próprio Cristo, já que o propósito relevado ao profeta é exatamente estabelecer um memorial no Templo do Senhor, o mesmo local onde o menino Jesus seria apresentado quatro séculos depois (Lucas 2:27).

Se a coroa representa o poder, a honra e a autoridade que é outorgada a um Rei, aqui vale ressaltar a origem da matéria prima utilizada em sua fabricação, ou seja, a voluntariedade do povo em ofertar.

Os judeus que retornaram do exílio tinham poucos recursos. Naquele tempo havia apenas um animal para cada seis pessoas, o que evidenciava a limitação financeira daquela gente. O pouco que tinham foi empregado na reconstrução de Jerusalém, com a edificação do Templo e a reforma dos muros. Mesmo assim, o Senhor solicitou que as famílias contribuíssem com ouro e prata para uma destinação aparentemente fútil. 

E o povo não se omitiu em ajudar.

Para ser coroado, Josué precisou se ajoelhar, inclinando-se diante do profeta, que honradamente, depositou cada coroa sobre sua cabeça. Ali, diante do sumo sacerdote, Zacarias não estava sozinho, pois em suas mãos segurava o fruto da generosidade dos judeus. 

E se analisarmos esta cena com os olhos espirituais, passaremos a contribuir com muito mais amor e alegria.

Imagine que agora, ao invés de Josué, temos o próprio Cristo ressurreto. Todo poder lhe foi dado nos céus e na terra. Ele se tornou Senhor sobre tudo e todos. Diariamente, as miríades de anjos, e um número incontável de santos exaltam seu nome e reafirmam sua realeza. Diante de tão grande devoção, Cristo levanta-se do trono e se inclina para ser coroado por seu povo. 

A beleza deste mistério é que a coroa que reluz em sua cabeça, repousando sobre seus cabelos brancos como neve, é feita aqui na terra, usando uma matéria prima muito prezada na eternidade: a "generosidade" dos fiéis, que jamais se negam a estender a sua mão para as necessidades do Reino de Deus.

Ofertar com alegria é coroar o Cristo mais uma vez.

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