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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O homem da mão mirrada

Quer você acredite que consiga fazer uma coisa ou não, você está certo.
(Henry Ford)


A grande maioria da população mundial é destra, ou seja, executa a maior parte de suas atividades tendo os membros do lado direito como base da ação. Embora não existam estudos conclusivos sobre a proporcionalidade, as pesquisas realizadas apontam sempre um número inferior a 13% de pessoas no mundo que se consideram canhotas. Então, a maioria esmagadora, seja por fatores genéticos, hereditários ou sócio-culturais, tem a sua mão direita como mestra.

Na cultura judaica, a mão direita representava a autoridade, o que pode ser observado em Gêneses 48:14, quando Jacó no momento em que abençoava os filhos de José, inverteu as mãos, colocando sua destra sobre a cabeça do caçula Efraim, delegando a ele a autoridade, que teoricamente, deveria ser transmitida para Manassés, o neto mais velho. Logo, a mão direita, além de funcional, tinha grande representatividade cultural e espiritual. Mateus 12, registra a história de um homem sofrendo de atrofia em seu braço direito. Mas, a enfermidade, e posteriormente, a cura, ganham novos contornos de imensa simbologia, quando entendemos as consequências sociais e religiosas desta paralisia.

O famoso caso do homem da mão mirrada (ou ressequida), é mais uma daquelas histórias envolvendo anônimos, que comprovam que o mais relevante não é o milagre em si, e sim os fatores que o envolviam. Uma vez que Jesus interferia nestas situações, a certeza de uma manifestação miraculosa era absoluta e de difícil compreensão, mas os caminhos do milagre sempre têm muito a nos ensinar.

Os líderes religiosos estavam furiosos com Jesus, pois pouco tempo antes, Ele havia permitido que seus discípulos colhessem espigas para se alimentar, mesmo sendo sábado. Quando tentaram recriminar Jesus, ouviram sua poderosa declaração que “Ele” era o “Senhor do Sábado” (Lucas 6:1-5). Enquanto caminhava para dentro da cidade, Jesus manifestava sua misericórdia a todos que se achegavam, despertando ainda mais a fúria dos fariseus. Ao entrar na Sinagoga, foi seguido por diversos religiosos que queriam encontrar algum argumento para condenar Jesus.

Ali, um homem cujo nome não sabemos, vivia um drama pessoal muito intenso. Acometido de uma grave enfermidade degenerativa, ele viu, dia após dia, sua mão direita se atrofiar. Nesta condição, ele estaria proibido pela lei de entrar no templo, para não contaminar a Casa do Senhor. Porém, contrariando a sistemática religiosa que lhe era imposta, ele ocultou a mão enferma sobre as vestes e adentrou a Sinagoga para meditar na Palavra de Deus.

Embora lhe dissessem que aquele era um lugar onde um “deficiente físico” não poderia frequentar, o homem desta história parece ter lido o Salmo 73:17, e compreendido que as respostas para algumas de nossas questões mais relevantes só são encontradas no Templo. Naquele dia, enquanto devorava as palavras dos rabis, tentando entender a teoria, ele viveu a experiência prática de um encontro com aquele do qual os profetas testificaram. Seus olhos se cruzaram com os olhos de Jesus.

Imediatamente, os olhos do Mestre descortinaram seu segredo, e então, diante de todos os presentes, Jesus o chamou para o meio da congregação.

Olhos maliciosos se atentaram para a cena, buscando um argumento que desmerecesse as ações do Cristo. Jesus pediu ao homem que estendesse a sua mão, a mesma que ele escondia da sociedade. Mas ali, numa atitude de fé, mesmo correndo o risco de sofrer represálias, o homem estendeu sua mão para Jesus. E ao invés da atrofia, ele sentiu cada nervo, cada músculo, cada tendão, cada osso responder prontamente ao seu comando. Jesus tinha lhe devolvido mais do que os movimentos da mão, Ele restaurou sua dignidade.  

Os fariseus se retiraram indignados, pois Jesus havia “desrespeitado” o sábado. Saindo dali, iniciaram seus planos para matar o pregador de Nazaré. Já o homem agraciado com o milagre só tinha motivos para agradecer.

Certa vez, um cego que também fora curado num sábado, quando questionado sobre as motivações de Jesus ao “ confrontar” a lei, replicou com uma resposta brilhante: - “Só sei que era cego, e agora estou vendo” (João 9:25). O homem cuja mão ressequida foi restaurada por Jesus talvez tenha feito algo parecido. Diante das acusações e das indagações dos fariseus, ergueu as mãos para o céu, e depois, aplaudiu calorosamente ao Senhor em agradecimento.

Quantos de nós estamos escondendo nossas atrofias da sociedade. Temos vergonha das limitações que nos impedem de se destacar em uma área específica da vida, e então, hibernamos espiritualmente. Queremos cantar como a líder de louvor da igreja, e por não conseguir, nos calamos. Queremos pregar como aquele conferencista afamado, mas como não temos a mesma eloquência, deixamos de anunciar Jesus. Escondemos a mão atrofiada, e nos esquecemos que a outra mão é totalmente funcional. E o pior. Nos esquecemos que Jesus tem o poder (e o desejo) de nos curar de qualquer atrofia espiritual.

E porque, muitas vezes, continuamos atrofiados? Talvez porque não sigamos Jesus, distraindo nossa atenção com os fariseus e suas palavras caluniosas. Talvez porque não entremos no templo, preferindo visitar casas e estabelecimentos onde Cristo não está. Ou, quem sabe, o que nos falta é a coragem de descortinarmos nossas vergonhas e debilidades, estendermos nossa mão atrofiada para o Mestre, por medo do que as pessoas em nossa volta possam pensar. E o que Cristo pensa? Como Ele se sente diante de nossa incredulidade? 

Quem aponta nossos defeitos degenerativos, pouco (ou nada) pode fazer para corrigi-los. Mas, se apontarmos nossas debilidades, na direção de Jesus, então, Ele é poderoso para transformar nossas fraquezas, numa fonte inesgotável de força e inspiração. Nenhuma mão mirrada, será capaz de limitar as ações, de quem faz do Senhor a sua destra (Isaías 41:10).


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