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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A serpente e o calcanhar

Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, 
não precisa temer o resultado de cem batalhas.
(Sun Tzu)


Somos uma geração que deseja pisar na cabeça do diabo. O problema, é que temos nos esquecido de um “pequeno” efeito colateral desta ação. O ferimento no calcanhar.

No Jardim do Éden, a primeira profecia messiânica teve como emissário o próprio Deus. A serpente (que representava o inimigo), foi avisada que, da semente da mulher nasceria um, que pisaria em sua cabeça. Porém, uma informação muito relevante é acrescentada: "e a serpente irá ferir o seu calcanhar" (Gêneses 3:15). É jargão usual em muitas pregações, a ordenança de se pisar na cabeça de Satanás, e crentes incautos tem se lançado nesta empreitada desastrosa, declarando a plenos pulmões que o diabo está embaixo de seus pés. E o pior é que muita gente tem se aventurado a pisar na cabeça da serpente com pés desprotegidos.

É neste momento, que o inimigo inocula seu veneno em calcanhares incautos. Exatamente por isso, temos tantos crentes de andar cambaleante, e outros que já não conseguem mais caminhar. E uma vez no organismo, o veneno não para de subir. Quem fere a cabeça de Satanás, também acaba mortalmente ferido. Jesus cumpriu está missão, mas no processo, foi abraçado pela morte. Felizmente, Cristo é imune ao veneno desta víbora infernal. Nós não.

A autoridade de pisar na cabeça da "serpente" (singular) pertence apenas a Jesus Cristo, que por sua vez é capaz de suportar o ferimento colateral. Nós temos outras "serpentes" (plural) para nos preocuparmos, e escorpiões também. Para estas "forças" que se intrometem em nosso caminho diariamente, estamos autorizados por Jesus, a literalmente, passar por cima (Lucas 10:19-21). Agora, quando agimos por contra própria, desafiando Satanás com nossos pés, subestimamos o mais letal dos adversários e provarmos ignorância quanto a nossa própria condição. O diabo não está preocupado com os "pés". O calcanhar é apenas uma porta de entrada. O alvo dele é bem mais acima. A triste verdade, é que a nossa geração “esmagadora de serpentes”, é também uma geração de corações e mentes envenenadas. O inimigo é hábil em perder uma batalha, para depois, ganhar a guerra. Então, todo cuidado é pouco.

Em Hebreus 12:9, Deus é identificado como sendo o “pai” dos espíritos, ao qual devemos obedecer como “filhos”. Aqui, nos é descortinada a extensão do mundo espiritual, com seus mistérios ainda não revelados e suas batalhas constantes e acirradas, que embora não vejamos, estamos no centro do embate.

Deus é um ser espiritual, bem como também o é, as primícias da criação. Antes dos mundos físicos existirem, Deus criou seus anjos, que hoje podem ser identificadas como ministros espirituais a serviço do Senhor, cumprindo desígnios e tornando-se visíveis aos homens apenas em ocasiões especiais (Gênesis 32:1-2 / Daniel 8:15-17 / Lucas 22:43). Se os anjos do Senhor são espíritos, logo a terça parte dos renegados, que foram expulsos do paraíso também o são. Espíritos maldosos e enganadores, que atuam nas esferas celestes (céu cósmico), aos quais comumente denominamos “demônios”.

O homem também possui um espírito dentro de si, que foi dado e será recolhido por Deus (Eclesiastes 12:7), recebendo então uma destinação final baseado no julgamento de seus atos enquanto vivente (Hebreus 9:27). Assim, estamos todos interligados nesta esfera ainda incompreendida em decorrência de nossa “corruptibilidade”. Mas, nossa ignorância a muitos elementos desta realidade espiritual, não nos imuniza dos efeitos práticos dos eventos cósmicos que se desenrolam ali. Até porque, o mais letal dos inimigos espirituais, anda ao nosso derredor, rugindo como um leão, buscando a quem devorar (I Pedro 5:8).

Em decorrência desta investida satânica, é necessária vigilância constante e irrestrita. Satanás é um adversário sutil, perspicaz e ardiloso, que embora não deva ser “temido”, jamais pode ser desmerecido, subestimado ou enfrentado sem a estratégia adequada. Caso contrário, ele tem a assustadora capacidade de “cirandar” com a alma do homem (Lucas 21:31). Neste texto, Jesus fez menção ao ato de cirandar o trigo, que consistem em “moer” e “peneirar” os grãos. Para bom entendedor, fica a mensagem clara e objetiva: o diabo não está de brincadeira.

O nome “Satanás” é uma transliteração do hebraico para Satan, que significa “ACUSADOR”, mas nem sempre foi assim. Em Ezequiel 28, ao falar da influência maligna sobre os grandes reinos da Terra, o profeta revela algumas nuances da origem de Satanás.  Ele foi criado pelo próprio Deus, sendo um sinete de perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Era um anjo de elevada glória (acima dos demais), ornado de ouro, sendo querubim de guarda, ungido e perfeito em seus caminhos. Habitava num tipo de “jardim mineral”, (“Éden – Jardim de Deus”), estabelecido no “Monte Santo do Senhor”, onde caminhava entre pedras “afogueadas” (sárdio, topázio, diamante, berilo, ônix, jaspe, safira, carbúnculo e esmeralda). Seu nome era “Lúcifer”, que quer dizer, “anjo de luz” (Isaías 14:12). 

Esta condição gloriosa se manteve por longas eras, até que Deus vislumbrou iniquidade no coração angelical. Ele se tornou arrogante em sua beleza e posição, decidindo  se assentar em um trono que fosse acima de Deus (Isaías 14:13-14 / Ezequiel 28:15 / I Timóteo 3:6). O orgulho de Lúcifer o levou à queda.  Ele subiu aos céus e usando de sua influência perspicaz, corrompeu a terça parte dos anjos, que devotaram lealdade ao insurgente. Por causa de seu pecado, Deus expulsou Satanás e seus asseclas do Paraíso. Com grande violência, ele caiu vertiginosamente em direção a terra, e como muitos teólogos acreditam, promoveu grande destruição, a ponto de o Criador precisar reformar o planeta (Gênesis 1:1-2). Quando questionado sobre a atuação de seu maior adversário, Jesus testificou de sua queda declarando que tinha o visto cair como um raio (Lucas 10:18). Desde então, Satanás, embora seja um ser espiritual, atua na atmosfera humana.

Satanás se tornou o governante dos reinos do mundo que se afastaram de Deus. É também o príncipe das potestades do ar (João 12:31 / II Coríntios 4:4 / Efésios 2:2). Como ele não é dotado de onipresença, onisciência e onipotência (que são atributos exclusivamente divinos), existe uma vasta estrutura muito bem organizada que converge para a liderança maléfica de Satanás, o grande arqui-inimigo da igreja (Efésios 6:12).

Porém a recomendação bíblica em relação a este adversário não é o enfrentamento, como muitos insistem em ensinar. Efésios 6:11-13 diz que devemos nos revestir da armadura de Deus para estar firmes contra as astutas ciladas do Diabo, revelando que nossa posição estratégica nesta guerra é a de defesa, enquanto o ataque pertence ao Senhor. A Bíblia nos ensina em Tiago 4:7, a “sujeitar” a Deus, “resistir” ao Diabo e então, "ele" fugirá. O homem que decide “enfrentar” a Satanás com suas próprias forças, será derrotado e consumido.

Efésios 6 é facilmente identificado como o texto que fala sobre a “Armadura de Deus”. Mas na verdade, é um grande tratado sobre a OBEDIÊNCIA. Nele, Paulo aconselha aos filhos que honrem seus pais, que os pais tenham bom senso nas tratativas educacionais, que servos sejam leais aos seus senhores e que trabalhadores se empenhem como se trabalhassem para o próprio Cristo. Em resumo, o apóstolo nos aconselha que todas as possíveis portas de entrada para o maligno sejam trancadas (lembre-se do calcanhar)

Somente a partir deste ponto, nos é revelada a famosa “ARMADURA DE DEUS”, disponibilizada ao cristão fiel e obediente aos princípios antes citados.  A ordem inicial é para se fortalecer em Cristo, na força de “seu” poder, deixando claro que não temos condições naturais para suportar tamanha batalha. Em seguida, é explicitado que a função prática desta armadura é a resistência, e não o ataque. Com ela, poderemos estar firmes contra as astutas ciladas do diabo, e não agir afim de “desarmá-las”, sendo esta uma atribuição do próprio Deus.

A primeira “peça” a ser revelada é um tipo de malha que deve cingir o lombo, funcionando como uma base de toda a armadura, e ela é a VERDADE. Sua importância se deve exatamente ao fato de Satanás ser repelido pela verdade, já que vive numa dimensão de engôdos e falsidades, sendo atribuída a ele a paternidade da mentira (João 8:44). A Bíblia também afirma que os mentirosos não herdarão o Reino dos Céus (Apocalipse 22:14:15). A verdade liberta e santifica. Sem ela, as demais peças da ARMADURA simplesmente deixam de ter qualquer funcionalidade.

O próximo passo é vestir a COURAÇA DA JUSTIÇA. A couraça era uma armadura feita de metal ou couro, usada por soldados sobre o peito e as costas para protegê-los de golpes inimigos em órgãos vitais. Aqui, estamos falando da Justiça de Cristo, imputada por Deus e recebida pela fé. Ela guarda os nossos corações contra as acusações de Satanás e protege o nosso ser interior contra seus ataques mortais. 

Dorso protegido, agora é a vez de proteger os pés. Segundo o apóstolo, os mesmos devem ser calçados na preparação de EVANGELHO DA PAZ. Numa zona de guerra, os pés sempre estarão expostos a perigos de armadilhas, irregularidades do terreno, tropeços e até fragmentos cortantes. Por muitas vezes, os pés estão desprotegidos pelo nosso raio de visão e vulneráveis aos perigos escondidos na estrada, sendo também uma porta de entrada para doenças, vírus e bactérias. O salmista Davi testifica que a Palavra de Deus é lâmpada para seus pés e luz em seu caminho (Salmo 119:105). Só conseguiremos avançar por territórios inóspitos com segurança, se nossos pés estiverem protegidos pelo Evangelho de graça, misericórdia e poder, guia fiel mesmo em veredas tortuosas e fonte de luz em rotas de escuridão. Proteção contra ferimentos no calcanhar.

Já nas mãos, é obrigatório o uso do ESCUDO DA FÉ. II Coríntios 5:7 revela que nossa caminhada é por Fé e não por vista, logo, cada passo que damos neste terreno espinhoso precisa sem primeiramente dado em fé e por fé. Esse escudo é nossa confiança total e irrestrita em Deus, tendo a certeza que ele é nosso guia protetor, socorro bem presente que não falta na tribulação. O CAPACETE DA SALVAÇÃO surge como a garantia de nossa justificação, o que protege nossa mente das possíveis duvidas lançadas por Satanás. É uma peça de suma importância, pois qualquer ferimento na cabeça, pode trazer danos irreversíveis.

O último elemento desta armadura é também o único item de ataque em toda a lista: A ESPADA DO ESPÍRITO. O apóstolo Paulo a identifica como sendo a Palavra de Deus. Esta é de fato, a única arma que o cristão está autorizado a usar contra Satanás. Quando foi tentado no deserto, o próprio Jesus se fez valer desta ferramenta, citando por três vezes o livro de Deuteronômio, repelindo com as escrituras, todos os ataques do maligno. (Mateus 4:1-10). Outro exemplo grandioso pode ser encontrado no verso 9 da epístola de Judas, onde nos é revelado que quando Moisés morreu, Satanás tentou usurpar seu corpo. Miguel, comandante dos exércitos angelicais foi enviado para intervir, porém se recusou a um confronto direto, usando como arma as palavras do próprio Deus: O Senhor te repreenda. Jó, ao ser tocado por Satanás, o venceu através da adoração (Jó 1:20, 2:10, 42:10).

Quem se atrever a enfrentar Satanás com armas alternativas que não seja a PALAVRA DE DEUS, não encontrará legalidade de ataque e estará espiritualmente desprotegido. A ordem é sujeitar a Deus em obediência, resistir ao diabo usando a armadura de Deus, e então “ELE”, fugirá de nós! (Tiago 4:7). Vença ao Inimigo, sem precisar encostar nele. Afinal, para que insistir na teimosia de pisar na cabeça da serpente, mesmo sabendo que Cristo já a esmagou!

2 comentários:

  1. Irmão o senhor poderia explicar o versículo Eu dei a vocês autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada lhes fará dano.
    Lucas 10:19 NVI

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  2. Que o Espírito Santo continue inspirando mensagens como esta. Amém.

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