Não levante a espada sobre a cabeça de quem te
pediu perdão.
(Machado de Assis)
Perdoar é antes
de mais nada um ato de Fé. Logo, meras palavras são insuficientes para explicar
a sua capacidade miraculosa. É preciso vivenciar na prática. Ação e Reação. Quem perdoa, inocenta o transgressor de sua
culpa, mesmo que a afronta sofrida tenha causado danos irreparáveis. E esta é
uma realidade que se opõem aos desejos humanos de vingança e justiça própria.
Por isso, perdoar requer muita fé.
Quando Jesus
revelou aos seus discípulos a necessidade de se perdoar uma mesma afronta 490
vezes ao dia, imediatamente eles pediram ao Senhor que a fé lhes fosse
aumentada (Lucas 17:3-5). Para se liberar o perdão é necessário romper com
vínculos perniciosos do passado, confrontar conceitos pré-estabelecidos e
renunciar as próprias convicções, tornando o ato de perdoar em uma atitude de
sacrifício e abnegação. Poderíamos comparar a afronta sofrida por alguém como
sendo um profundo corte na própria carne, uma ferida aberta e exposta, que não
se fecha em decorrência das impurezas que se alocam ali. O perdão é como um
bálsamo curador, que tem o poder de purificar e curar ao mesmo tempo,
cicatrizando a ferida.
Seria
utópico imaginar que após este processo, a afronta sofrida seja completamente
esquecida por quem a vivenciou, mas quando o perdão é genuíno, essa lembrança
não passa de uma mera cicatriz, que embora esteja ali, evidenciando que aquele
local específico foi ferido no passado, hoje já não causa desconforto e não
incomoda mais. Não dói e nem sangra.
Não perdoar,
é cometer um lento e doloroso suicídio espiritual, pois a mágoa guardada no
coração é uma semente produtiva que germina com rapidez e alastra suas
profundas raízes destruindo os alicerces da fé, da paz e da esperança. Segundo
o poeta e dramaturgo inglês Willian Shakespeare, guardar rancor é como beber
veneno esperando que outra pessoa morra. A mágoa pode ser descrita como uma
pedra incandescente que alguém segura em suas mãos esperando o momento de jogá-la
em seu desafeto.
Uma analogia
ainda mais impactante sobre esta questão, nos remete a um terrível castigo da
antiguidade. No antigo Egito, um assassino condenado era atado a sua vítima,
testa a testa, olho a olho, boca a boca, mão a mão, abdômen a abdômen, e assim,
deixado para morrer também. O mau cheiro, a carne putrefata e os vermes
passavam de um corpo para o outro, numa morte lenta, agonizante e
desesperadora. O mesmo processo acontece quando não conseguimos perdoar. Amarramo-nos a um defunto, nos alimentamos de
podridão e morremos espiritualmente. Muitos estão acariciando a própria mágoa,
amargurando os seus dias, desenvolvendo câncer de alma e alimentando maus espíritos
com seu rancor. Se autodenominam vítimas, mas estão voluntariamente amarradas a
um cadáver, onde já não é possível identificar quem está mais “podre” diante de
Deus e dos homens. Perdoar é libertar-se deste flagelo, respirar ar puro e
voltar a viver.
Perdão é um
gesto de grandeza, é um ato que exige riqueza de alma e caráter. Ao mesmo tempo
em que existe o sacrifício pelo mal perdoado, amontoa-se galardão pela decisão
espiritual tomada. Se Jesus Cristo é o médico que cura almas, ao liberarmos
perdão, nos tornamos instrumentos de sua honra e poder. Para perdoar verdadeiramente, primeiro é
preciso buscar uma força que só existe no amor do próprio Deus. Somente alguém
que se sente plenamente amado pelo Senhor tem condições de perdoar
voluntariamente, mesmo que não haja “justiça” humana nisto.
O perdão é
essencial para todos aqueles que desejam entrar no Reino dos Céus, pois nossos
pecados só são perdoados, mediante a nossa capacidade de perdoar (Mateus
18:23-35). Quando perdoamos as ofensas daqueles que nos tem ofendido, então
temos nossas ofensas também perdoadas, e o perdão provindo de Deus fecha um
ciclo glorioso de milagres, curando as feridas, sem nem ao mesmo, deixar
cicatrizes para trás.
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