A gratidão é
o único tesouro dos humildes.
(William Shakespeare)
Os
evangelhos narram duas histórias distintas que de tão semelhantes chegam a
confundir até mesmo leitores atentos. Ambas falam sobre mulheres que
demonstraram sua gratidão pelo amor do Cristo através do emblemático gesto de
“ungir” seus pés com perfumes caríssimos.
Mateus
26:2-13 e Marcos 14:3-9 registram a ação da mulher que durante um jantar
realizado em Betânia, na casa de Simão, o “Leproso” (possivelmente, o pai de Judas Iscariotes, e que fora curado por
Jesus de sua lepra), se aproxima de Jesus tendo nas mãos um vaso de
alabastro (material semelhante ao gesso). Ela se ajoelha em
frente a Jesus e começa a derramar em seus pés um caríssimo perfume feito de “nardo
puríssimo” para depois enxugar o precioso líquido com os próprios
cabelos. Os discípulos se indignaram com a cena, pois entendiam que aquela era
uma atitude dispendiosa, já que o dinheiro ali empregado, poderia ser doado aos
pobres. Segundo a avaliação de Judas, tesoureiro do grupo, o valor ali
desperdiçado era de aproximadamente 300 denários, cerca de R$ 15.000,00.
Ao ver a
postura reprobatória de seus seguidores, Jesus os exortou dizendo que aquele
era um gesto único de amor, acalentando seu coração para enfrentar a própria
morte, e que o mesmo, ecoaria pela posteridade. Além disto, Jesus lembrou os
discípulos que eles ainda teriam muito tempo para exercer a generosidade para
com necessitados, porém, muito brevemente seriam privados de sua
companhia. João 12:1-8 também registra esta mesma história, mas desta
vez, nos é revelado o nome da mulher generosa: Maria, irmã de Lázaro.
Lucas
7:36-50, nos conta uma história muito parecida, porém, em um cenário diferente.
Muito antes do famoso “Jantar de Betânia”, uma outra mulher também se lançou
aos pés de Jesus para ungi-lo com perfume. Não sabemos o seu nome e nem sua
origem, pois a única referência dada pelo evangelista é que se tratava de uma
“pecadora”. É provável que este fato específico tenha acontecido na Galileia,
enquanto Jesus participava de um jantar na casa de Simão, o “Fariseu”. Num
ambiente repleto de pessoas muito ligadas a religiosidade judaica, em nome do
amor e movida por íntima gratidão, uma mulher de péssima reputação social,
rompe com as conveniências, adentra a casa de um homem muito religioso, não se
detém diante de monções reprovadoras e caminha determinada, com os olhos fixos
em Jesus.
Humildemente,
ela se nega a ficar diante do Messias, e se colocando atrás de Jesus, abraça
seus pés e se põem a beija-los, para logo em seguida, começar a chorar. Ao
perceber que suas lágrimas estão molhando os pés do Senhor, ela passa e
enxugá-los com seu cabelo, e então, derrama sobre eles, sem nenhuma reserva, o
perfume de aroma delicioso que trazia consigo, ungindo os pés de Jesus.
O religioso
Simão, dono da casa, estava começando a ver Jesus com outros olhos. Seu
interesse em ouvir as palavras do Mestre nos leva a crer que a sementinha do
Reino de Deus dava sinais de brotar em seu coração. Mas ao assistir a cena da
pecadora ungindo os pés de Jesus, ficou tão abalado, que sua infante fé,
minguou como manteiga no fogo. Em seus pensamentos Simão conjecturava que não
havia qualquer possibilidade de Jesus ser de fato um profeta, pois um homem
dotado da revelação divina, teria discernimento para compreender o quão
pecadora aquela mulher era, e assim, jamais permitir que a mesma o tocasse.
Jesus, ciente dos pensamentos de seu anfitrião, educadamente pede que o mesmo
lhe de permissão para contar uma história.
O Mestre
discorre sobre dois homens endividados, cujos bens estão empenhorados ao mesmo
credor. Um deles está negativado em mais de R$ 25.000,00, e ele não tem a menor
condição de pagar. Já dívida do outro, embora também seja alta, e o pagamento
esteja muito atrasado, é dez vezes menor. O credor, porém, decide perdoar ambas
as dívidas, e manda notificar aos envolvidos, que nenhum deles lhe deve se quer
um centavo. Então, Jesus questiona a Simão sobre qual dos homens deveria
mostrar mais gratidão, e em resposta, ouve o obvio: - Aquele que devia mais! O Mestre, concorda com o raciocínio
de Simão e completa dizendo: - Desta
vez, seu julgamento está correto.... Mas deixe-me te explicar uma coisa...
É neste
ponto que fica explícito o abismo que separa a liberdade cristã encontrada na
graça e o legalismo pragmático implícito na religiosidade. Aquela mulher,
despida de moralidade hipócrita e desarmada das formalidades sociais, se torna
um exemplo a ser seguido por cada cristão. Simão é lembrado que no momento da
recepção de Jesus em sua casa, nem mesmo um beijo no rosto (tão inerente a
cultura da época) lhe foi dado pelo anfitrião, mas a mulher, desde o momento
que chegou, não parava de beijar seus pés. Simão também não tinha oferecido uma
vasilha com água para que seus convidados lavassem as mãos (outro ritual
relevante naquela sociedade), mas a “pecadora” lavou seus pés com lágrimas.
Simão não ofereceu um único pedaço de pano para que Jesus enxugasse o suor de
seu rosto, mas a mulher enxugava seus pés com os próprios cabelos. Simão, não
disponibilizou uma única gota de óleo para ungir a cabeça de Jesus... A
pecadora verteu o mais caro dos perfumes para ungir seus pés. E por que tamanha
diferença? Jesus é taxativo ao afirmar: - Quem
foi perdoado sabe amar...
Que verdade
reveladora. A posição social e religiosa de Simão, de nada valia para Jesus,
que enxergava o amago de seu coração, preconceituosos e carregado de pecados.
Simão se vestia de espiritualidade, mas dentro de si estava repleto de traumas
e culpas. Ele não se sentia amado, e com isso, não conseguia externar amor,
oferecendo as pessoas em sua volta um julgamento rancoroso e hospitalidade
omissa. Ele convidou Jesus para entrar em sua residência, mas não em sua vida,
recepcionando o “Salvador do Mundo” como apenas mais um dos muitos
frequentadores de sua casa.
A pecadora
encontrou em Jesus alívio para sua alma. O Mestre não entrou em sua casa, mas
se tornou “Senhor” da sua existência e tudo se fez novo. Jesus não era apenas
mais “um homem” em sua vida, Ele era o “único” capaz de transformar para sempre
sua história. E Jesus o fez. Ela se sentiu amada e perdoada, e isso a deu força
para amar em abundância: - Os seus
muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é
perdoado pouco ama (Lucas 7:47). Jesus passou uma borracha no passado
tão condenável daquela mulher, e lhe ofereceu uma página em branco para
recomeçar sua história, e a aconselha para “não” errar outra vez: - Vai e não peques mais... A tua fé te
salvou.
Duas
mulheres movidas por sentimentos muito parecidos, que testemunharam de forma
prática e incontestável o quão maravilhoso é mergulhar sem reservas no oceano
da Graça. Voluntariamente elas escolheram a melhor parte, e entenderam que não
existe lugar mais desejável para se estar, do que os pés de Jesus. A virtuosa
Maria de Betânia, tinha motivos explícitos para tamanha devoção. Movida pelo
amor que sentia por Jesus, seu mestre e amigo, ela aproveita a estadia do
Cristo em sua cidade, para através da entrega de seu bem mais precioso,
agradecer ao Messias por ter trazido seu irmão Lázaro de volta para vida, e
involuntariamente, entra para a história como a mulher que ungiu Jesus e o
preparou para enfrentar a cruz e o sepulcro.
A pecadora anônima não tinha motivos aparentes que justificasse sua atitude, e também não temos qualquer evidência que Jesus tenha curado alguém de sua família. Mas ali, naquele momento sublime, o Cristo olha além das aparências e descortina o coração daquela mulher. Ela estava grata pelo maior de todos os milagres... Tinha encontrado Salvação. Com seu gesto, Maria agradeceu a Jesus pelo dom da vida. A pecadora agradecia por ter encontrado a própria Vida e o perdão para seus pecados.
A pecadora anônima não tinha motivos aparentes que justificasse sua atitude, e também não temos qualquer evidência que Jesus tenha curado alguém de sua família. Mas ali, naquele momento sublime, o Cristo olha além das aparências e descortina o coração daquela mulher. Ela estava grata pelo maior de todos os milagres... Tinha encontrado Salvação. Com seu gesto, Maria agradeceu a Jesus pelo dom da vida. A pecadora agradecia por ter encontrado a própria Vida e o perdão para seus pecados.
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