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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Cara ou Coroa?

Somente aqueles que nada esperam do acaso são donos do destino.
(Matthew Arnold)


Em Gênesis 1:27-28 e 2:7, Moisés narra a origem do homem. Uma reunião celestial é convocada para projetar minuciosamente um ser capaz de dominar sobre as demais coisas criadas. Um designer é aprovado, um rascunho é elaborado, formas e texturas são pré-definidas. A matéria prima escolhida é palpável e tangível, e o processo de fabricação é artesanal.

Deus coloca a “mão na massa”, esculpe em argila o modelo projetado e sopra em sua narina o fôlego de vida. Seu nome agora é Adão, feito imagem e semelhança de seu criador, tendo dentro de si uma fagulha do próprio Elohim, um espírito dado por Deus e que deseja retornar para Deus.

Mas, a desobediência quebraria essa aliança. O homem passou a ter conhecimento do bem e do mal. O trabalho ficou cansativo. O parto se tornou doloroso. A terra produziu espinhos. A luz do dia revelou a vergonha humana e a escuridão da noite nos apresentou o medo. Deixaria o Senhor, que seu projeto mais bonito, permanecesse para sempre trancafiado numa gaveta fria e escura? Haveria uma oportunidade de reatar a comunhão entre terra e céus? Poderia o homem se aproximar novamente de Deus? 

É claro que sim. 

Basta querer...

O Salmo 42 é atribuído aos Filhos de Corá, remanescentes de uma família que foi engolida em vida pela terra, em decorrência de seu pecado (Números 27:11). Eles tinham experimentado em sua árvore genealógica, a fúria da justiça de Deus, bem como o beneplácito de seu amor. Erros e acertos são inerentes ao ato de viver. Sucessos e fracassos são faces opostas de uma mesma moeda que jogamos ao alto todos os dias. E basta uma leitura rápida do salmo, para perceber que o poeta não estava em seus melhores dias. No cara-ou-coroa da vida, ele tinha errado miseravelmente a mão. O escritor estava triste, e suas palavras revelam que naquele dia, a angústia tomava café em sua sala de estar.

A incredulidade que enegrece a alma dos homens fazia sangrar seu coração. Ele olhava a sua volta é só encontrava abismos. Verdadeiros buracos-negros surgiam voluptuosos nas pessoas a sua volta, retirando delas o temor, a fé e a caridade. O mundo parecia imerso em trevas, e qualquer facho de luz incomodava seus moradores. Dedos em ristes se voltavam para o escritor. Ele ouvia gargalhadas e palavras de afronta. Vozes obscuras e perniciosas invadiam seus ouvidos com uma indagação retórica carregada de sarcasmo e maldade: - Onde está o seu Deus? O poeta chorava angustiado. A tristeza era tamanha, que seus ossos chegavam a doer. Sua alma estava abatida, pois fora abraçada pelo medo, e agora se sentia sugada pelos abismos que a cercava. Desesperança, angustia e aflição. Seria ele vencido por este dia tenebroso?

Na sua famosa HQ “A Piada Mortal”, o quadrinista Alan Moore baseou todo o plano de seu vilão no seguinte conceito: - “Basta um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático”. A ideia do Coringa (sim, o palhaço criminoso de Gothan), era fazer com que o moralmente inabalável comissário Gordon, tivesse um dia tão terrível, ao ponto de enlouquece-lo por completo. Obviamente, com a intervenção providencial do Batman, o fragilizado policial manteve sua sanidade, apesar do caos vivenciado.

E no mundo real? Como podemos suportar os dias de turbulência, caos e desgostos, e mesmo assim nos mantermos centrados? Basta um dia ruim para roubar nossa fé? Com suportar com dignidade o implacável cara-ou-coroa da vida? Pois são estas as indagações que permeiam a mente do poeta. O encontramos em seu momento mais crítico. Ele está numa busca introspectiva por resposta. E a encontra, numa conversa franca com sua alma.

A origem da expressão “cara ou coroa” está nas antigas moedas portuguesas, que em um lado tinham gravada o rosto de uma personalidade importante, e no outro, o brasão conhecido como “armas da coroa”. Ainda hoje, para se tirar a sorte em relação a determinado assunto, joga-se uma moeda para cima, e as possibilidades são previamente definidas pela “cara” ou “coroa”. O lado da moeda que ficar exposto na queda, define a questão. Basicamente, se joga ao acaso o poder de uma decisão.
E não é isto que fazemos sempre? Conhecemos o certo, mas brincamos com o errado. Sabemos a resposta, e mesmo assim, nos arriscamos numa roleta russa com as incertezas. Existem questões que são simples de entender. A escuridão nada mais é do a ausência da luz. O desespero é a ausência de esperança. A aflição é a ausência da paz. O mal é a ausência do bem. A sede é a ausência de água.

Sede? 

Sim! O poeta percebe que a origem de sua aflição não estava no mundo que o cercava, mas na turbulência existente em seu interior. Uma alma distante de Deus, é uma alma infeliz. E você pode jogar mil moedas para o alto, que nenhuma lhe dará uma resposta alternativa satisfatória. Só existe um caminho. Esqueça a moeda, e foque-se apenas no “alto”.

No ponto exato entre o “agora” e a “ruína”, o salmista clamou por socorro. - “Assim como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede do Deus vivo” (Salmo 42:1-2).  A alma do salmista estava com sede. Sedenta por algo que não se encontra na Terra. Aliás, ainda que não queira aceitar, toda a humanidade tem sofrido da mesma sede desde os primórdios de sua história. Desde que saiu do Jardim.

O salmista sabia desta carência, conhecia sua necessidade. - A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo – Dizia ele. - Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus? E então, introspectivo, o poeta conversa consigo mesmo, e aconselha: - Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus. 

O homem só alcançará paz em seu espírito, quando Deus voltar a ser o centro de sua vida.

Queremos decidir o nosso destino no cara-ou-coroa da vida. Mas, esta nunca foi uma opção. Desde o Éden sabemos o que é preciso, e mesmo assim, jogamos com as possibilidades. Confiamos em nosso instinto, e ele sempre dá vazão a carne, sufocando nosso espírito. O resultado desta avalanche materialista é a inquietação da alma. Dias ruins. Dias sem paz. Tempos de caos e desesperança, que nos levam para a beira de um abismo chamado loucura. Neste caso, basta apenas um dia ruim, para o salto sem volta.

E se ao invés de jogarmos uma moeda para cima, entregando ao acaso nosso destino, confiássemos ao Senhor as grandes decisões da vida? Ele sabe mais do sabemos. Pode mais do que podemos. Antes de confirmar que a moeda deu “cara”, que tal olhar para a face de Deus, ouvir sua voz e confiar no seu querer? E para que escolher a “coroa” de uma moeda, se podemos aceitar sobre nós os desígnios de um rei? O Rei dos reis.

Dia ruins com Deus se tornam dias bons. Dias bons com Deus se tornam em dias perfeitos. Dias perfeitos sem Deus, se tornam em dias tenebrosos. Não é sábio procurar respostas que retirem o Senhor da equação. Não é prudente brincar com possibilidades, quando temos o Deus do impossível ao nosso lado. Não é viável matar a sede em fontes lamacentas, contaminadas e poluídas, quando existe água pura e cristalina a nossa disposição.

Se você está corroído pela ansiedade, soterrado pelas necessidades e desesperado pelo amanhã, ignore seus instintos.  Acalme seu coração em Deus. Siga o conselho de I Pedro 5:7, e faça desta atividade, uma rotina diária em sua vida: - Lançando sobre ele toda vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós!

Quanto a velha moeda da sorte, você pode joga-la na Fonte de Águas Vivas. Cristo. Lance a moeda nas águas, dobre os seus joelhos, feche os olhos e faça seu pedido na forma de uma prece. Depois, beba destas águas sem moderação. Mantenha sua alma hidratada de Deus. Neste caso, por mais desagradável que seja o dia, em seu interior haverá paz. 

Não acredita? 

Pergunte para sua alma!

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