É errôneo servir-se de meios imorais para alcançar objetivos morais.
(Martin Luther King)
John Bunyan era
um pregador inglês, que sabia como poucos, transformar palavras em
obras de arte. Entre 1678 e 1684, publicou os volumes de um livro tão
impactante, que ainda hoje, é o segundo maior best-seller cristão da história. “The
Pilgrim's Progress” (O Peregrino), desde a sua publicação original, nunca deixou de ser
impresso, e só perde em vendagens ao redor do mundo, para a Bíblia. Bunyan era
um artista. Sua visão sobre a vida cristã se tornou uma inspiração para
milhares de pessoas ao redor do planeta. Suas palavras ecoam pelos séculos acalentando
corações desesperados e ansiosos pelo céu.
Conta-se que
após um de seus magníficos sermões, Bunyan foi interpelado por seus ouvintes,
que o cobriam de elogios pela sua ministração esplendorosa. Um deles, estava deveras
impressionado com as palavras do pregador, e se dirigiu a Bunyan dizendo: - Você com certeza, é o melhor pregador deste
mundo!
John Bunyan olhou para seu admirador e disse: - Antes mesmo que eu descesse do altar, Satanás me soprou nos ouvidos estas mesmas palavras.
John Bunyan olhou para seu admirador e disse: - Antes mesmo que eu descesse do altar, Satanás me soprou nos ouvidos estas mesmas palavras.
Muitas
vezes, enquanto esperamos o inimigo nos atacar com paus e pedras, ele nos
derrota com palavras doces e elogios carinhosos. E cada vez mais, homens e
mulheres bem-intencionados, tem caído nesta sutil e tenebrosa armadilha. Descem do altar para subir no palco.
Infelizmente, somos uma geração que ama o palco e despreza o altar. Emolduramos o diploma antes de passarmos no vestibular. Discípulos se autodenominam apóstolos se esquecendo que o Mestre ainda é Jesus. Trocamos a seara pela prateleira de enlatados. Gostamos do palco porque nele somos “estrelas”. No altar, quem brilha é o cordeiro, enquanto o homem, se mantem em posição de serviçal. E não é exatamente para esta função que fomos chamados?
A luz do palco nos impede de enxergar com clareza o que vem de cima, e os aplausos insistentes nos impossibilitam de ouvir os gemidos inexprimíveis do Espírito Santo. Na solitude do altar, nossas ações visam atrair o céu, e na posição de servos, ouvimos e obedecemos a voz de quem nos comissionou. No famoso “Sermão da Montanha” Jesus instruiu os seus seguidores sobre a importância do anonimato: - Tu, porém, quando orares, vai para teu quarto e, após ter fechado a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará plenamente (Mateus 6:6 – King James).
É obvio que neste texto, Jesus não estava restringindo nosso período devocional de oração a um cômodo especifico de nossa casa, mas sim, ressaltando a “postura” com a qual devemos nos portar no momento de nossas preces. Quando estamos sozinhos, com as portas fechadas e sem ninguém para julgar nossas ações, relevamos nossa verdadeira identidade. No palco, interpretamos um personagem para agradar a plateia. Na solidão do altar, o único a nos assistir é Deus.
Infelizmente, somos uma geração que ama o palco e despreza o altar. Emolduramos o diploma antes de passarmos no vestibular. Discípulos se autodenominam apóstolos se esquecendo que o Mestre ainda é Jesus. Trocamos a seara pela prateleira de enlatados. Gostamos do palco porque nele somos “estrelas”. No altar, quem brilha é o cordeiro, enquanto o homem, se mantem em posição de serviçal. E não é exatamente para esta função que fomos chamados?
A luz do palco nos impede de enxergar com clareza o que vem de cima, e os aplausos insistentes nos impossibilitam de ouvir os gemidos inexprimíveis do Espírito Santo. Na solitude do altar, nossas ações visam atrair o céu, e na posição de servos, ouvimos e obedecemos a voz de quem nos comissionou. No famoso “Sermão da Montanha” Jesus instruiu os seus seguidores sobre a importância do anonimato: - Tu, porém, quando orares, vai para teu quarto e, após ter fechado a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará plenamente (Mateus 6:6 – King James).
É obvio que neste texto, Jesus não estava restringindo nosso período devocional de oração a um cômodo especifico de nossa casa, mas sim, ressaltando a “postura” com a qual devemos nos portar no momento de nossas preces. Quando estamos sozinhos, com as portas fechadas e sem ninguém para julgar nossas ações, relevamos nossa verdadeira identidade. No palco, interpretamos um personagem para agradar a plateia. Na solidão do altar, o único a nos assistir é Deus.
É ali que
tiramos a máscara, desmontamos o figurino social, rompemos a casca que nos
protege dos olhares alheios, podemos finalmente descortinar nosso coração e
revelar os sentimentos ocultos e escusos que trancafiamos no porão de nossa
alma. No oculto não há segredos, e é exatamente assim que devemos nos
apresentar diante de Deus. Com a cara limpa e desarmados de qualquer
hipocrisia.
Deus conhece
nosso íntimo, e deseja que ele seja exteriorizado em nossa face. E o melhor
lugar para que isto aconteça, é nos recôncavos da solidão. Fechar a porta, mais
do que uma ação em busca de sigilo e privacidade, é a atitude de ignorar o
mundo, remover as artificialidades que sustentamos, e revelar-se a Deus sem
reservas. Este é o cenário propício para o Senhor nos moldar segundo sua própria
imagem.
John Bunyan escreveu “O Peregrino” enquanto estava na prisão. Processado por “pregar sem licença”, ele amargou 12 anos em uma cela na cadeia municipal de Silver Street – Bedford. Atrás das grades, longe dos aplausos populares e dos elogios estimulantes, Bunyan pregou seu sermão mais famoso, que séculos depois, ainda tem causado um impacto poderoso em diversas gerações. Quando esteve preso em Roma, impossibilitado de pregar nas igrejas da Ásia, Paulo transformou seu anonimato em altar. Dali saíram as epístolas de Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom, fontes de inspiração e orientação para as comunidades cristãs de todo o planeta. Que exemplos gloriosos. Obras feitas em humildade, que só objetivavam a edificação de seus leitores, as quais o próprio Deus exaltou.
Longe do palco, Jesus é o astro de nossa vida. Nos tornamos trabalhadores na coxia, enquanto Cristo é ovacionado pela plateia.
Lucas 10:38-40, narra a história de duas irmãs que receberam Jesus em sua casa, mas escolhem prioridades diferentes. Marta procurou agradar ao ilustre visitante preparando lhe uma bela refeição, enquanto Maria se assentou aos seus pés para ouvir cada palavra. Muitos sermões têm se dedicado a censurar Marta por ter ficado na cozinha, sendo que a mensagem era pregada na sala. Mas, repare que não é esta a atitude censurada por Jesus. Ele recrimina Marta por tentar retirar Maria da sala e não por ela mesma (Marta) estar na cozinha. Isto porque se não houvesse alguém trabalhando, enquanto outros apenas ouviam, não haveria um jantar delicioso esperando por eles após o culto.
No Reino de Deus, para que muitas “MARIAS” possam desfrutar plenamente da ministração, algumas “MARTAS” precisam estar atarefadas na cozinha. Em nossa vida eclesiástica, às vezes somos como Maria, apenas apreciando e sendo servida na sala de jantar. Outras vezes (e muitas vezes) seremos Martas, suando a camisa na cozinha, preparando essa mesma janta.
No Velho Testamento, estes cozinheiros eram os levitas. Ainda hoje, a igreja precisa de pessoas com o mesmo dom, que não se esquivem da “cozinha”, e sirvam ao Senhor longe dos holofotes e aplausos. Mas, nosso atual contingente, tem preferido navegar em mares de modismo e popularidade. Exemplo. Muitos músicos evangélicos estão utilizando o termo “LEVITA” para identificar seu próprio ministério. Infelizmente, alguns destes “levitas modernos”, se quer, tem conhecimento sobre quem eram de fato os levitas, e a sua real função na Casa do Senhor.
Levi foi o terceiro filho de Jacó com sua primeira esposa, Léia (Gênesis 29:34). Algumas gerações depois, seus descendentes foram escolhidos para exercer o culto em Israel e zelar pela Casa do Senhor. “Levi”, então, se tornou uma tribo diferenciada, separada das demais, com tarefas especiais, mantendo em funcionamento os sacrifícios no templo de Jerusalém. Durante a peregrinação no deserto, eles trabalharam ativamente na construção da Casa de Deus, sob a supervisão de Itamar, um dos filhos de Arão (Sim, Arão e Moisés eram levitas). Depois deste trabalho concluído, passou a ser deles a incumbência de zelar pelo Tabernáculo, desmontando-o no momento da partida, para remontá-lo em outro lugar indicado pelo Senhor (Números 1:47-54).
Embora os levitas não fossem sacerdotes, eles eram auxiliares diretos do sacerdócio, com cada família desempenhando um trabalho específico na Casa do Senhor (Números 3 e 4). No caso do Tabernáculo; os filhos de Coate estavam incumbidos de transportar os móveis, depois que os mesmos fossem cuidadosamente cobertos pelos sacerdotes. Os filhos de Gérson cuidavam das cobertas, cortinas e véus. Os filhos de Merari tinham a tarefa de transportar e erguer a armação do Tabernáculo e seu átrio. Um levita iniciava suas atividades aos 21 anos de idade e se “aposentava” aos 50 (Números 8:24-26). Quando a Arca da Aliança passou a possuir um local permanente em Jerusalém, a idade inicial para o serviço passou a ser vinte e cinco anos. Os levitas não podiam ter posse de terras, e, portanto, eram sustentados pelo povo através do dízimo levítico (Números 18:2, Deuteronômio 18:1-4). Em Deuteronômio 12:12, é ressaltada a grande responsabilidade dos israelitas para com os filhos de Levi.
Apenas quando Davi ocupou o trono de Israel, sendo ele próprio um músico nato, compositor gabaritado e exímio instrumentista, os levitas Hemã, Asafe e Etã, bem como aos seus respectivos filhos, foram encarregados pela música da Casa do Senhor, onde a Arca da Aliança repousava (I Crônicas 6:31). Em outros textos, levitas são identificados exercendo ministério profético. Em II Crônicas 20:14, Jaaziel profetizou a vitória de Josafá. Em II Crônicas 35:15, Jedutum é chamado de “o vidente” do rei.
Levitas músicos e profetas eram exceções à regra. No geral, o ministério levítico estava inteiramente ligado ao sacrifício de animais do culto do Antigo Testamento (Números 3:1-39), ritual este completamente abolido no Novo Testamento (Hebreus 8:6-7). A função primordial de um levita não era e cantar ou tocar música, mas sim, auxiliar o sacerdote na ordem com os utensílios do santuário, funcionando como um ministério de “zeladoria” (Números 1:50-51).
Portanto, se alguém deseja rotular-se como “levita” apenas por cantar na igreja, incorre em um erro gritante. O levita era um serviçal da Casa do Senhor, um verdadeiro “faz tudo”, um apaixonado pelo templo, mantendo-o em perfeitas condições para a visitação pública, e acima de tudo, para receber a presença de Deus. Levitas não ficavam sob os refletores do palco. Em nossa realidade eclesiástica, num comparativo simbólico, podemos dizer que os zeladores, os porteiros, os faxineiros, os cooperadores e os diáconos estão muito mais próximos do ministério levítico do que propriamente os ministros de louvores. Quando você usar o banheiro da igreja, louve ao Senhor pela vida dos levitas. Foi um deles que abasteceu o refil de papel higiênico.
Romanos 12:6-8 nos dá uma dimensão desta realidade laboriosa. Neste texto escrito a igreja em Roma, Paulo ressalta que pela Graça, cada um dos integrantes desta grande família chamada Igreja, recebe um dom distinto. Esses dons só podem ser empregados para benefício do próximo e por isso são chamados de DONS DE SERVIÇO. Este tipo de dom tem boa funcionalidade quando posto em prática individualmente, mas é no ajuntamento das diversidades, quando cada um participa com seu próprio dom que contribuímos para o bom funcionamento do Corpo. Eles estão descritos em Romanos 12:3-8:
Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria.
Neste contexto, o termo "ministério" refere-se a serviço ou auxílio. São aquelas pessoas que sentem prazer em servir aos demais, visando a glória de Deus. Aqui, encontramos os voluntários que acordam cedo para dar plantão na igreja sem receber nada por isto, os que se mobilizam em faxinas ao templo, os que oferecem seus carros para o transporte dos irmãos, os que nas festas e eventos são sempre encontrados na coxia, na cozinha ou nas barracas. São os que nunca aparecem nas fotos, pois estão sempre atrás da máquina fotográfica. Não adiante procurá-los no palco. Estão sempre anônimos atrás do altar. Pessoas que mesmo sem remuneração alguma, se satisfazem em alegremente contribuir com mão de obra e boa vontade, ainda que seu trabalho se quer seja notado pela grande maioria.
Nesta categoria de dons concedidos a igreja, destacam-se pessoas que Deus capacita para o artesanato, para a música, para o entretenimento, para a gastronomia e tantas outras atividades que exigem emprego de tempo e habilidades, mas que por ser exercida em voluntariedade, não produz qualquer lucro. Como paga por revertem suas “aptidões” em prol da igreja na qual servem, recebem apenas o sorriso de uma criança, ou quem sabe, um simples “obrigado” de seu pastor. É o que basta. Servos que amam o altar vivem em prol de agradar a Deus. E com isso, se tornam um canal de bênçãos para a vida de toda uma comunidade.
Por isso preocupam-se mais com os outros do que consigo mesmo e vivem em prol dessas pessoas, não medindo esforços, para dentro de suas possibilidades (e até nas impossibilidades) salvar vidas através de gestos fraternais.Do palco, não se enxerga as necessidades do próximo ou as carências da Casa do Senhor. Espiritualmente falando, palco não é lugar de honra, mas sim de derrocada. O orgulho que floresce debaixo dos holofotes é o último degrau antes da queda (Provérbios 16:18). A honra no Reino de Deus consiste em servir.
Bunyan na prisão. Paulo no exílio em Roma. Marta atarefada na cozinha. Obreiros faxinando voluntariamente o templo. Você servindo no anonimato do altar. Pessoas com afabilidade e sensibilidade oriundas de uma devoção irrestrita a Casa de Deus, que dedicam suas vidas a cuidar dos necessitados, estendo a mão a quem esteja sofrendo ao seu redor. Doações anônimas. Trabalhos voluntários. Adoração no secreto. Estes sim são levitas modernos, que fazem jus a um honorável legado.
John Bunyan escreveu “O Peregrino” enquanto estava na prisão. Processado por “pregar sem licença”, ele amargou 12 anos em uma cela na cadeia municipal de Silver Street – Bedford. Atrás das grades, longe dos aplausos populares e dos elogios estimulantes, Bunyan pregou seu sermão mais famoso, que séculos depois, ainda tem causado um impacto poderoso em diversas gerações. Quando esteve preso em Roma, impossibilitado de pregar nas igrejas da Ásia, Paulo transformou seu anonimato em altar. Dali saíram as epístolas de Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom, fontes de inspiração e orientação para as comunidades cristãs de todo o planeta. Que exemplos gloriosos. Obras feitas em humildade, que só objetivavam a edificação de seus leitores, as quais o próprio Deus exaltou.
Longe do palco, Jesus é o astro de nossa vida. Nos tornamos trabalhadores na coxia, enquanto Cristo é ovacionado pela plateia.
Lucas 10:38-40, narra a história de duas irmãs que receberam Jesus em sua casa, mas escolhem prioridades diferentes. Marta procurou agradar ao ilustre visitante preparando lhe uma bela refeição, enquanto Maria se assentou aos seus pés para ouvir cada palavra. Muitos sermões têm se dedicado a censurar Marta por ter ficado na cozinha, sendo que a mensagem era pregada na sala. Mas, repare que não é esta a atitude censurada por Jesus. Ele recrimina Marta por tentar retirar Maria da sala e não por ela mesma (Marta) estar na cozinha. Isto porque se não houvesse alguém trabalhando, enquanto outros apenas ouviam, não haveria um jantar delicioso esperando por eles após o culto.
No Reino de Deus, para que muitas “MARIAS” possam desfrutar plenamente da ministração, algumas “MARTAS” precisam estar atarefadas na cozinha. Em nossa vida eclesiástica, às vezes somos como Maria, apenas apreciando e sendo servida na sala de jantar. Outras vezes (e muitas vezes) seremos Martas, suando a camisa na cozinha, preparando essa mesma janta.
No Velho Testamento, estes cozinheiros eram os levitas. Ainda hoje, a igreja precisa de pessoas com o mesmo dom, que não se esquivem da “cozinha”, e sirvam ao Senhor longe dos holofotes e aplausos. Mas, nosso atual contingente, tem preferido navegar em mares de modismo e popularidade. Exemplo. Muitos músicos evangélicos estão utilizando o termo “LEVITA” para identificar seu próprio ministério. Infelizmente, alguns destes “levitas modernos”, se quer, tem conhecimento sobre quem eram de fato os levitas, e a sua real função na Casa do Senhor.
Levi foi o terceiro filho de Jacó com sua primeira esposa, Léia (Gênesis 29:34). Algumas gerações depois, seus descendentes foram escolhidos para exercer o culto em Israel e zelar pela Casa do Senhor. “Levi”, então, se tornou uma tribo diferenciada, separada das demais, com tarefas especiais, mantendo em funcionamento os sacrifícios no templo de Jerusalém. Durante a peregrinação no deserto, eles trabalharam ativamente na construção da Casa de Deus, sob a supervisão de Itamar, um dos filhos de Arão (Sim, Arão e Moisés eram levitas). Depois deste trabalho concluído, passou a ser deles a incumbência de zelar pelo Tabernáculo, desmontando-o no momento da partida, para remontá-lo em outro lugar indicado pelo Senhor (Números 1:47-54).
Embora os levitas não fossem sacerdotes, eles eram auxiliares diretos do sacerdócio, com cada família desempenhando um trabalho específico na Casa do Senhor (Números 3 e 4). No caso do Tabernáculo; os filhos de Coate estavam incumbidos de transportar os móveis, depois que os mesmos fossem cuidadosamente cobertos pelos sacerdotes. Os filhos de Gérson cuidavam das cobertas, cortinas e véus. Os filhos de Merari tinham a tarefa de transportar e erguer a armação do Tabernáculo e seu átrio. Um levita iniciava suas atividades aos 21 anos de idade e se “aposentava” aos 50 (Números 8:24-26). Quando a Arca da Aliança passou a possuir um local permanente em Jerusalém, a idade inicial para o serviço passou a ser vinte e cinco anos. Os levitas não podiam ter posse de terras, e, portanto, eram sustentados pelo povo através do dízimo levítico (Números 18:2, Deuteronômio 18:1-4). Em Deuteronômio 12:12, é ressaltada a grande responsabilidade dos israelitas para com os filhos de Levi.
Apenas quando Davi ocupou o trono de Israel, sendo ele próprio um músico nato, compositor gabaritado e exímio instrumentista, os levitas Hemã, Asafe e Etã, bem como aos seus respectivos filhos, foram encarregados pela música da Casa do Senhor, onde a Arca da Aliança repousava (I Crônicas 6:31). Em outros textos, levitas são identificados exercendo ministério profético. Em II Crônicas 20:14, Jaaziel profetizou a vitória de Josafá. Em II Crônicas 35:15, Jedutum é chamado de “o vidente” do rei.
Levitas músicos e profetas eram exceções à regra. No geral, o ministério levítico estava inteiramente ligado ao sacrifício de animais do culto do Antigo Testamento (Números 3:1-39), ritual este completamente abolido no Novo Testamento (Hebreus 8:6-7). A função primordial de um levita não era e cantar ou tocar música, mas sim, auxiliar o sacerdote na ordem com os utensílios do santuário, funcionando como um ministério de “zeladoria” (Números 1:50-51).
Portanto, se alguém deseja rotular-se como “levita” apenas por cantar na igreja, incorre em um erro gritante. O levita era um serviçal da Casa do Senhor, um verdadeiro “faz tudo”, um apaixonado pelo templo, mantendo-o em perfeitas condições para a visitação pública, e acima de tudo, para receber a presença de Deus. Levitas não ficavam sob os refletores do palco. Em nossa realidade eclesiástica, num comparativo simbólico, podemos dizer que os zeladores, os porteiros, os faxineiros, os cooperadores e os diáconos estão muito mais próximos do ministério levítico do que propriamente os ministros de louvores. Quando você usar o banheiro da igreja, louve ao Senhor pela vida dos levitas. Foi um deles que abasteceu o refil de papel higiênico.
Romanos 12:6-8 nos dá uma dimensão desta realidade laboriosa. Neste texto escrito a igreja em Roma, Paulo ressalta que pela Graça, cada um dos integrantes desta grande família chamada Igreja, recebe um dom distinto. Esses dons só podem ser empregados para benefício do próximo e por isso são chamados de DONS DE SERVIÇO. Este tipo de dom tem boa funcionalidade quando posto em prática individualmente, mas é no ajuntamento das diversidades, quando cada um participa com seu próprio dom que contribuímos para o bom funcionamento do Corpo. Eles estão descritos em Romanos 12:3-8:
Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria.
Neste contexto, o termo "ministério" refere-se a serviço ou auxílio. São aquelas pessoas que sentem prazer em servir aos demais, visando a glória de Deus. Aqui, encontramos os voluntários que acordam cedo para dar plantão na igreja sem receber nada por isto, os que se mobilizam em faxinas ao templo, os que oferecem seus carros para o transporte dos irmãos, os que nas festas e eventos são sempre encontrados na coxia, na cozinha ou nas barracas. São os que nunca aparecem nas fotos, pois estão sempre atrás da máquina fotográfica. Não adiante procurá-los no palco. Estão sempre anônimos atrás do altar. Pessoas que mesmo sem remuneração alguma, se satisfazem em alegremente contribuir com mão de obra e boa vontade, ainda que seu trabalho se quer seja notado pela grande maioria.
Nesta categoria de dons concedidos a igreja, destacam-se pessoas que Deus capacita para o artesanato, para a música, para o entretenimento, para a gastronomia e tantas outras atividades que exigem emprego de tempo e habilidades, mas que por ser exercida em voluntariedade, não produz qualquer lucro. Como paga por revertem suas “aptidões” em prol da igreja na qual servem, recebem apenas o sorriso de uma criança, ou quem sabe, um simples “obrigado” de seu pastor. É o que basta. Servos que amam o altar vivem em prol de agradar a Deus. E com isso, se tornam um canal de bênçãos para a vida de toda uma comunidade.
Por isso preocupam-se mais com os outros do que consigo mesmo e vivem em prol dessas pessoas, não medindo esforços, para dentro de suas possibilidades (e até nas impossibilidades) salvar vidas através de gestos fraternais.Do palco, não se enxerga as necessidades do próximo ou as carências da Casa do Senhor. Espiritualmente falando, palco não é lugar de honra, mas sim de derrocada. O orgulho que floresce debaixo dos holofotes é o último degrau antes da queda (Provérbios 16:18). A honra no Reino de Deus consiste em servir.
Bunyan na prisão. Paulo no exílio em Roma. Marta atarefada na cozinha. Obreiros faxinando voluntariamente o templo. Você servindo no anonimato do altar. Pessoas com afabilidade e sensibilidade oriundas de uma devoção irrestrita a Casa de Deus, que dedicam suas vidas a cuidar dos necessitados, estendo a mão a quem esteja sofrendo ao seu redor. Doações anônimas. Trabalhos voluntários. Adoração no secreto. Estes sim são levitas modernos, que fazem jus a um honorável legado.
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