Arquivo do blog

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Uma luz para dias nebulosos

A esperança seria a maior das forças humanas,
se não existisse o desespero.
(Victor Hugo)


Em sua oração sacerdotal, a grande preocupação de Jesus era o futuro de seus discípulos, pois naquele instante, havia uma névoa densa e escura sobre as próximas semanas daqueles homens. Como eles reagiriam a ausência de seu grande mentor? (João 17)

Ao longo de três intensos anos, eles andaram com Cristo. Dormiram sobre o mesmo teto, comeram da mesma porção, caminharam os mesmos caminhos, conheceram as mesmas pessoas, frequentaram as mesmas festas. Olhavam para os olhos do próprio Mestre enquanto bebiam da fonte de seu inesgotável saber. Viram os lírios se vestirem com tal elegância que excedia aos reis. Contemplaram as aves se refestelando em seu banquete matinal. A visão de cada um se voltou para a cidade edificada sobre a rocha e sentiram seus olhos doerem com a ideia da lasca de uma madeira enterrada ali.

Descobriram que a felicidade está nas pequenas coisas, que ser é muito mais importante que ter. Quantos preconceitos tiveram que vencer para jantar junto aos pecadores. Aprenderam que o zelo é primordial, mas que o amor e a misericórdia suplantam as convenções e são as bases que sustentam a fé. Cada ensinamento, cada palavra de vida eterna chegou primeiro aos seus ouvidos. Receberam afago e carinho. Desfrutaram da beleza que há na correção feita em amor e da doçura existente numa severidade empática. 

Homens privilegiados com um chamado exclusivo e pessoal, testemunhas oculares de cada milagre, participantes de cada página da mais bela história já registrada. Tinham motivos de sobra para crer, mas por um instante duvidaram, pois aparentemente, seu Mestre tinha ido embora numa viagem sem retorno e agora eles estavam sozinhos, a mercê da própria sorte. O caminho fora interditado, a verdade tinha sido sepultada e a vida estava morta.

Mas o sepulcro frio e escuro só conteve Jesus por três dias. Um Cristo vivo e radiante aparece a Maria Madalena e ordena: - Vá e diga aos outros que eu ressuscitei! Mas chegando ao túmulo aqueles homens nada veem além de um lugar vazio. Tão vazio quanto seus lúgubres corações.

Um grupo desfalcado se reúne as portas fechadas, onde embora “juntos” sentem-se em total solidão. Medo, frustração e decepção são os sentimentos que imperam entre eles. Mas de repente, sem avisos prévios o Mestre se faz presente – A minha Paz vos dou!  Que momento de felicidade. Jesus estava de volta. Diferente, é verdade, mas ainda assim o mesmo Messias amável e benigno que conheciam tão bem. Outra vez Jesus os visita, quando todos, sem exceção, estão reunidos. Mas então, como alguém que já não se importa mais, Jesus parece ter se afastado de vez.

Embora fossem eles os escolhidos, ainda não estavam preparados. Criam, mas não confiavam. Foram devidamente instruídos, mas não estavam capacitados. Aqueles eram homens especiais, escolhidos pelo próprio Cristo, pois havia dentro de cada um potencial para pavimentar a estrada do evangelho que se estenderia pela posteridade, mas sem alguém para pegá-los pelas mãos e conduzi-los constantemente, com certeza, iriam errar o caminho.

Bastaram poucos dias sem uma manifestação corpórea do Jesus ressuscitado para que seus discípulos perdessem o foco prioritário de sua missão espiritual, tirassem da aposentadoria suas redes e se lançassem ao mar para uma boa noite de pescaria.  É comum ao homem que se sente longe de Deus seguir seus próprios instintos, confiar em suas habilidades naturais e tomar decisões por conta própria. Assim sendo, Pedro, Tomé, Natanael, Tiago, André, João e outro discípulo não identificado, decidem que é hora de voltar aos velhos hábitos, retornar as origens e se dedicarem a uma atividade mais prática, num mundo que eles conheciam muito bem. Ali na imensidão azul se sentiam grandes, importantes, senhores da situação, líderes de suas próprias vidas, e afinal de contas, para que se preocupar em pescar homens se existem tantos peixes disponíveis no mar?

É claro que nestas circunstâncias os resultados não seriam os melhores, e apesar dos seus muitos esforços, nenhum peixe se apanhou. Ao romper do dia, quando retornavam frustrados e decepcionados (pois até o mar os havia abandonado), avistaram junto à praia alguém que os perguntou se a pescaria tinha sido produtiva: - Quem dera... A noite foi difícil meu amigo. Na verdade, nem um único peixe conseguimos apanhar – Respondeu Pedro. - Por que vocês não jogam as redes novamente? Mas desta vez joguem para o lado direito do barco, e com certeza os peixes estarão lá – Orientou a homem que estava na praia.

Sem nada a perder, os discípulos jogaram as redes e milagrosamente os peixes começaram a aparecer às dezenas. Corações acelerados com uma grata sensação de “já vi isto antes”. João é o primeiro a entender o que está acontecendo e avisa aos demais: - É ele... É JesusPedro se lança nas águas e em largas braçadas chega à praia antes mesmo do barco.

Ali o Mestre os aguarda com pão e peixe assado. Como era seu costume, Jesus alimenta corpo e alma ao mesmo tempo, e enquanto come com eles, os encoraja a serem fortes e perseverantes, pois um novo tempo está para começar. Era chegada a hora dos alunos assumirem o lugar do professor, de discípulos se tornarem apóstolos.

Assim como aqueles homens, também viveremos tempos obscuros, de incertezas e questionamentos. Mas, nunca dias sem respostas. Em meio a escuridão dos sentimentos humanos surge a luz resplandecente do Evangelho. 

Hoje, Jesus não está presente de forma corpórea, mas a sua PALAVRA o releva tão perfeitamente, como foi conhecido em loco pelos próprios apóstolos. Em sua oração sacerdotal pelos discípulos, Jesus também se lembrou de nós, e pediu ao Pai para que em glória, estivéssemos unidos ao Cristo ressurreto. Hoje e sempre. Uma luz para dias nebulosos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário