Arquivo do blog

sábado, 27 de maio de 2017

A última trombeta

Se queres prever o futuro, estuda o passado.
(Confúcio)


Quando ainda era menino, ouvi boatos sobre o pastor que resolveu pregar uma peça em sua igreja. Num domingo à noite, quando a congregação estava repleta, ele abriu sua Bíblia em Tessalonicenses 4, e começou a ministrar sobre a volta de Jesus, mediante o som da “última trombeta”. Previamente, o pastor brincalhão, conseguiu emprestar com a fanfarra da cidade, trompetes e trombetas. Também combinou com alguns obreiros, que neste exato ponto da mensagem, todos deveriam tocar os instrumentos, causando um grande impacto emocional nos ouvintes.

Não é preciso dizer o tamanho do furdunço que se seguiu. Crentes desesperados se amontoavam nos corredores gritando por misericórdia. Nove em cada dez irmãos, ao ouvir o som da “trombeta”, imediatamente concluíram que tinham sido deixados para traz. O desespero foi geral. 

A grande verdade, é que a maioria dos cristãos daquela igreja, de fato, não estavam preparados para a “última trombeta”. E qualquer coincidência com a ficção, é mera realidade. Ou seria o contrário?

Mas, o que é de fato está tal “última trombeta”, que nos causa curiosidade e apreensão na mesma medida?

Antes de buscarmos uma resposta para está indagação, vamos primeiro esclarecer alguns pontos fundamentais. A Bíblia é simultaneamente um livro profético e um preciso registro histórico. Deus é atemporal, e sua Palavra abrange passado, presente e futuro com a mesma intensidade. Nós, estamos limitados a um tempo linear, onde os eventos proféticos vão acontecendo progressivamente. Pouco a pouco, todos se transformam em história.

Isaías predisse que os judeus seriam levados cativos para a Babilônia. Também deu detalhes sobre o nascimento do Messias. Em seu tempo, tudo não passava de predições futuras. Não havia contexto histórico que abalizasse os acontecimentos. Cem anos depois, o exílio de fato aconteceu. O nascimento de Jesus demorou um pouco mais. Sete séculos. Profecias quanto foram ditas. Registros históricos para nossa geração.

O profeta Daniel, previu a decadência da “ascendente” Babilônia, décadas antes da derrocada dos caldeus. Através de visões simbólicas e inquietantes, também vislumbrou o clico de reinos que dominariam o mundo nos séculos vindouros. Mas, para ele, tudo era muito confuso. Símbolos e metáforas indecifráveis. Leão alado, leopardo de quatro cabeças, ursos mancos, besta aquática cheia de chifres e bodes voadores. Que sentido havia nisto? As profecias de Daniel aparentemente eram caóticas. O profeta orou por longos dias, pedindo aos céus uma explicação. E o próprio anjo Gabriel foi incumbido de lhe dar aulas particulares. Mesmo assim, o sábio Daniel continuou com tantas dúvidas quanto tinha antes. É difícil entender o futuro antes de vivenciá-lo. (Daniel 12:8-13).

Hoje, basta uma simples consulta num bom livro de história antiga, para entender com clareza as profecias de Daniel. O futuro do profeta já é o nosso passado. Tudo faz sentido. Por outro lado, parte das visões de Daniel estão intrinsecamente ligadas aos eventos descritos em Apocalipse. Ainda não aconteceram. São o “nosso” futuro. E, portanto, estas profecias continuam nebulosas. Tentar entender com precisão o amanhã, é como querer detalhar um filme que ninguém assistiu ainda. Supomos mais do que explicamos. 

Mesmo assim, é preciso tentar.

Dito tudo isto, fica mais fácil a compreensão de que existem na Bíblia uma séria de “trombetas” históricas, e outras que ainda são “proféticas”. E assim, voltamos ao ponto de partida deste texto. O toque da última trombeta. O prenúncio das Bodas do Cordeiro. A consumação de nossa maior esperança.

Que trombeta é esta? 

Ela vem antes dos selos do Apocalipse? 

Ouviremos as seis trombetas anteriores?

Vamos por partes...

Em primeiro lugar é preciso entender que existe distinção entre a última trombeta citada por Paulo em I Coríntios 15:52 e I Tessalonicenses 4:16, e a sétima trombeta citada por João em Apocalipse 11:15. E qual a diferença? Simples. Uma encerra o tempo da Graça e a outra marca o início do apogeu do juízo divino sobre os homens ímpios.

Entenda.

Antes de ascender aos céus, após a sua ressurreição, Cristo institui a Igreja, outorgando a ela seu legado, a fim de que continuasse a sua obra na Terra. Porém, este “trabalho” tem que ser realizado em um espaço de tempo finito chamado “Dispensação da Graça”. O ponto final que marca a conclusão deste ciclo é exatamente o Arrebatamento da Igreja, conforme Paulo muito bem explicou:

- Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois, nós os que ficarmos vivos, seremos transformados, para encontrarmos com ele nos ares (I Tessalonicenses 4:16-17).

Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados (I Coríntios 15:51-52).

Mas, se Paulo menciona uma “última trombeta”, precisamos saber quando foi tocada a primeira delas. E é exatamente neste ponto, que nos deparamos com o que podemos chamar de “trombetas históricas”, pois cada uma delas já foi ouvida pelos homens. E nossa busca pelo primeiro sonar de uma trombeta divina aqui na Terra nos leva ao Velho Testamento. Mais precisamente, no livro de Êxodo.

Antes de prosseguir, é preciso entender que “buzinas” e “trombetas” são termos biblicamente similares. Os dois instrumentos eram usados para a anunciação de um fato importante, como por exemplo, uma sentença de juízo. Também eram tocadas quando havia a necessidade de convocar a nação para guerra. O som de uma trombeta (ou de uma buzina), evocava urgência e ajuntamento.

Após a saída do Egito, Deus ordenou a Moisés que santificasse o povo, afim de que eles estivessem prontos para sua chegada. Assim, durante dois dias, Israel se preparou para este encontro, retirando do arraial toda imundícia, purificando seus corpos e corações. Na manhã do terceiro dia, sob uma nuvem que podia ser vista por todos os israelitas, Deus desceu no Sinai, e ali anunciou a Moisés os dez mandamentos.

- E aconteceu que, ao terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina (trombeta) mui forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial. E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do monte. E todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente. E o sonido da buzina (trombeta) ia crescendo cada vez mais; Moisés falava, e Deus lhe respondia em voz alta.  (Êxodo 19:16-19)

No Sinai, Deus desceu sobre uma nuvem, ante o som da “primeira trombeta”. No arrebatamento, Jesus descerá sobre uma nuvem, ante o som da “última trombeta”. 

A revelação do decálogo registrado em Êxodo 20:3-17, foi a primeira trombeta de anunciação. Inúmeras trombetas estão tocando ao longo da história anunciando Deus aos homens.

- A Consciência
-  A Lei
- Os Profetas
- As Escrituras
- Os Sinais Apostólicos
- O Gemido da Natureza
- A Igreja

Todas estas, trombetas reverberam ao mundo os desígnios do Senhor. Convocação para o arrependimento, a justiça e a verdade. Trombetas reais, tangíveis, escutáveis. Algumas históricas, e outras ainda fazendo a história. Se existe um ouvido aberto para ouvir, certamente existirá uma trombeta a ecoar. 

Mas, ainda falta uma. A última. 
Qual seria?

É exatamente o Arrebatamento da Igreja que soará como a última convocação de Deus aos homens. A trombeta derradeira, que anunciará o fim do ciclo de aceitação, onde a graça foi entregue a humanidade. Um ponto final na decadência humana. O início do juízo divino.

Com a Igreja no céu, inicia-se na terra um período chamado de Grande Tribulação. Neste tempo, Deus executará seus juízos sobre os ímpios e o reino do anticristo. É neste período que as últimas profecias referentes a Israel irão se cumprir. Os simbolismos existentes no Apocalipse se tornaram claros como um cristal polido. As sombras do futuro se dissiparão quando o amanhã se tornar hoje.

O julgamento de Deus, que expurgará o mal de sobre a Terra para todo o sempre, se dará através de “sete selos”, “sete trombetas” e “sete taças”, conforme foi detalhado por João em Apocalipse 6 ao 12. Estas novas “sete trombetas” , nada tem a ver com a Igreja, que neste período já se encontra na Glória. São trombetas proféticas, que se transformarão em “trombetas históricas” aos que “ficarem” para trás no Arrebatamento da Igreja.

Estas trombetas são reveladas após a abertura do sétimo selo e anunciam um período de grande aflição sobre o reino do Anticristo, onde uma série de eventos catastróficos, tais como chuva de granizo incandescente, maremotos, contaminação das águas, anomalias no sistema solar e ataques de seres demoníacos, provocarão caos e desespero entre os homens.


A sétima e última trombeta deste ciclo, marca o início do apogeu do juízo divino, anunciando o derramamento das taças cheias da ira de Deus sobre os homens. Neste mesmo período de tempo, a Igreja já estará nos céus, desfrutando das Bodas do Cordeiro. Mas, esta é uma outra história, que certamente será contada e recontada num futuro muito próximo, que pode inclusive, ser hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário