O orgulho divide
os homens, a humildade une-os.
(Henri Lacordaire)
Em regra geral, filhos caçulas são bem mais mimados. Mais que a “joia” preciosa dos pais, eles chegam como a “cereja no bolo” de toda família. Cercados de mimos e regalias, os filhos caçulas desfrutam do privilégio de “pais experimentes”, que não repetem neles os erros cometidos com os mais velhos, e aprimoram todos os acertos que tiveram. Estes abençoados rebentos (também chamados de “a raspinha do tacho”, “o último biscoito do pacote”, “a produção derradeira da fábrica”, “filho da minha velhice”); ocupam de forma natural a posição de centralidade no seio de uma família. E esta condição, apesar de suas muitas vantagens, também traz em seu bojo, o ônus da exposição exagerada. Todos estão de olho.
José era o filho caçula de uma grande família. Seu pai Jacó, além de possuir duas esposas (Léia e Raquel), tomou para si outras duas "concubinas", que naquele tempo, era um amálgama de empregada doméstica e amante oficializada: Bila e Zilpa.
Logo, a casa se encheu de crianças. De Léia,
nasceram Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulum e Diná. De Bilá, nasceram
Dã e Naftali. De Zilpa, nasceram Gade e Aser. Porém, entre todas as mulheres
que possuía, Jacó amava somente Raquel, e ela, continuava estéril (Gêneses
30:1). Onze filhos enchiam o coração do velho Jacó de alegria, mas, ainda
existia um vazio a ser preenchido. Um herdeiro concebido em amor. Imagine a felicidade de Jacó enquanto Raquel
desfilava pela casa ostentando aquele barrigão. Deus tinha ouvido o clamor do
casal. Eles teriam um filho juntos. Amor e milagre numa única semente. E quando
a criança nasceu, recebeu o nome de José, que significa “Deus acrescenta”.
Desde o nascimento, Jacó dedicou um carinho
especial ao filho de Raquel. Enquanto os outros filhos trabalhavam nos campos,
José era mantido em casa, sendo cuidado e mimado pelos pais. Obviamente, os
demais herdeiros se sentiam um pouco desconfortáveis com as regalias ofertadas
somente ao caçula, o que, na prática, não perturbava a ordem da casa. Pelo
menos, até José ganhar um presente muito especial em seu 17º aniversário. Uma túnica
colorida.
Nenhum dos irmãos possuía roupa tão elegante.
Ela dava destaque e nobreza a José, que desfilava pela casa, orgulhoso do manto
especial. Para todos os outros, Rúben, o filho primogênito, era quem deveria receber
aquele presente, já que por direito, seria o próximo patriarca da família. A
tensão dentro da casa começou a aumentar. Nenhum dos irmãos, conseguia trocar
mais que duas palavras com José, sem se irritar profundamente com ele. E as
coisas iriam piorar muito.
Certa noite, José teve um sonho peculiar, no qual, colhia
trigo com seus irmãos. Então, misteriosamente, os feixes de todos eles se
curvavam em reverência, enquanto o seu, mantinha-se vigorosamente em pé. Ao amanhecer,
José fez questão de contar aos seus irmãos o enigmático sonho. Todos se
indignaram com as “pretensões” do caçula: -
Só nos faltava essa... Agora teremos que nos curvar a José.
A ira dos irmãos só aumentou, quando José lhes
contou sobre um novo sonho, ainda mais “megalomaníaco”. Desta vez, cada membro
da família era um astro celestial. Estrelas, sol e lua. E todos eles, se
curvavam reverenciando José. Desta vez, até mesmo Jacó aconselhou seu filho mais querido a ser cauteloso com as palavras. Embora ele não soubesse, Deus
estava lhe revelando o propósito de sua existência. Seu destino seria
grandioso, porém, José ainda não possuía a humildade necessária para vivê-lo. Sua promessa despertava a inveja de seus irmãos, mas era sua arrogância que despertava
naqueles homens grande fúria.
Cresci numa casa onde conviviam quatro irmãos. Se
dois deles se opusessem a mim, a possibilidade de estar certo, era de 50%.
Se fossem três contra um, esta porcentagem caia vertiginosamente. Imagine que
você está dirigindo por uma estrada, na qual todos os carros estão vindo na
direção oposta. Então, vem a pergunta: - Porque todos estão dirigindo contra mim?
Qual seria a resposta mais lógica?
A) Todos estão andando na direção
errada
B) Eu estou na contramão
B) Eu estou na contramão
No geral, criminalizamos as ações dos irmãos, e
inocentamos José de qualquer culpa. Mas será que o futuro governador do Egito,
era em sua adolescência, um garoto tão bom assim? Se uma pessoa gera atritos
com dez de seus irmãos, não seria ele o vilão da história? A grande verdade é
que José não era uma pobre ovelha no meio dos lobos. Aquela era briga de
alcateia.
Arrogante e presunçoso, José tinha por habito espionar seus irmãos para contar ao pai tudo que faziam de errado. O garoto mimado era também um grande fofoqueiro. E aí, temos um sério problema. Provérbios 6:16-19 é sem dúvidas um dos mais reveladores textos bíblicos para compreendermos o caráter de Deus. Ali, estão listadas uma série de ações (infelizmente, muito comuns entre os seres humanos), que simplesmente provocam sentimento de completa repulsa no “Todo Poderoso”. Salomão nos diz que há sete coisas que o Senhor detesta e uma delas, sua alma abomina.
Arrogante e presunçoso, José tinha por habito espionar seus irmãos para contar ao pai tudo que faziam de errado. O garoto mimado era também um grande fofoqueiro. E aí, temos um sério problema. Provérbios 6:16-19 é sem dúvidas um dos mais reveladores textos bíblicos para compreendermos o caráter de Deus. Ali, estão listadas uma série de ações (infelizmente, muito comuns entre os seres humanos), que simplesmente provocam sentimento de completa repulsa no “Todo Poderoso”. Salomão nos diz que há sete coisas que o Senhor detesta e uma delas, sua alma abomina.
“Detestar” conota a ideia de ter aversão e
antipatia, não poder “suportar” algo, alguém ou alguma coisa. Já “abominar” vai
além de uma “reprova”, sendo um sentimento de completa rejeição, capaz de gerar
horror quando se está diante daquilo que é abominável. Logo, quem pratica tais
ações não toma parte de Reino de Deus, a menos que se arrependa, confesse e
deixe de praticá-las (Provérbios 28:13).
Seis coisas o Senhor não suporta. Olhos altivos, reflexo de um
coração arrogante e vaidoso, orgulhoso de si mesmo e que menosprezam o seu
próximo. Língua mentirosa, que age sem lisura ou pudor, difamando,
ludibriando e enganando. Mãos que derramam sangue inocente, que praticam a
violência e se negam a semear a paz. Uma mente maliciosa que máquina
pensamentos perversos, enchendo o coração de maldade. Pés que correm rumo ao
pecado, desejando ardentemente a prática do mal. A testemunha falsa que com
suas palavras mentirosas prejudica o próximo.
A sétima, é também a mais perniciosa de todas elas, quando a análise é feita sob a óptica divina. Tiago 3:15 dá ênfase ao perigo de se incorrer neste erro, ao dizer que uma pequena faísca é capaz de incendiar a floresta. Deus não suporta aquele que semeia contenda entre seus irmãos.
E não é exatamente isso que José fazia? (Gêneses 37:13-14).
A sétima, é também a mais perniciosa de todas elas, quando a análise é feita sob a óptica divina. Tiago 3:15 dá ênfase ao perigo de se incorrer neste erro, ao dizer que uma pequena faísca é capaz de incendiar a floresta. Deus não suporta aquele que semeia contenda entre seus irmãos.
E não é exatamente isso que José fazia? (Gêneses 37:13-14).
Deus tinha um plano na vida de José. Ele seria o “Salvador”
de seu mundo. O homem responsável por salvar a terra da fome, e preservar a
linhagem do Messias. Mas, para esta missão, Deus precisava de um homem. E José,
ainda agia como menino. Ele teria que amadurecer.
Um dos grandes erros de José, foi enfrentar com
suas “armas”, uma batalha que deveria confiar a Deus. Ele era o menor na
casa, e ambicionou ser maior que seus irmãos através de túnicas coloridas e
sonhos enigmáticos. Tudo isto era desnecessário, já que o próprio Deus é quem o
engrandeceria. José era um filhote de lobo, enfrentando uma alcateia de dentes
afiados. Dificilmente, um amador pode vencer quem já é profissional. Quando somos chamados para fazer o bem, e mesmo assim enfrentamos o
mal com o mal, a derrota é inevitável.
Todos conhecem a história. Seus irmãos o lançaram
num poço vazio, de onde podia ouvir as confabulações que faziam contra ele. Que ironia! Dias atrás, José confabulava com seu pai contra os irmãos. Tirado do poço,
sua túnica foi rasgada e manchada de sangue. Simbolicamente, José estava sendo
despido de seu orgulho e altives. Ele já não tinha nenhum elemento humano que o
diferenciava dos demais. Agora, o filho mimado só contava com a promessa de
Deus.
É o que basta!
É o que basta!
Como um pedaço de carne barata, José foi vendido
aos ismaelitas, que o levaram ao Egito. Naquela terra pagã e agressiva, ele se
tornou escravo. Por dois anos esteve na casa de Potifar, trabalhando arduamente
em troca de comida. Ao olhar para suas mãos calejadas, compreendeu o valor do
trabalho diário de seus irmãos. O menino estava se tornando homem.
Mas, ainda era preciso corrigir o seu mais grave
defeito. Acusado por um crime que não cometeu, José foi levado a cadeia, onde
passou os próximos onze anos. Prisão. Lugar onde o silêncio vale ouro. Na
cadeia, caguetas morrem cedo. Na prisão, José domou sua língua, aprendeu a
falar somente o necessário. Palavras se tornaram joias, as quais não se podia desperdiçar.
Assim como planejado por Deus desde o princípio, um
dia, depois de treze anos no Egito, José acordou prisioneiro e foi dormir
governador. Basta apenas um dia, para o Senhor mudar completamente a história
do homem. Mas, por vezes, Deus precisa nos preparar para viver seus planos. E
este processo, em nada interfere no calendário dos céus, porém, consome alguns de
nossos anos na terra. Quanto mais arestas a serem aparadas, mas demorado o
processo será.
Deus poderia levar José do ponto “A” ao ponto “B”,
sem precisar de nenhuma escala. Para o Senhor, a sala de estar da casa de Jacó
e a sala do trono do palácio egípcio, eram o mesmo lugar. Bastava um estalar de
seus dedos, e o aprendiz de fazendeiro se tornaria num grande governador.
Deus sempre esteve pronto. José não. O lobo teria que aprender a ser ovelha.
As escalas no caminho aperfeiçoaram José. Ele
aprendeu. Amadureceu. Longe dos mimos de Jacó, se tornou no homem que nasceu
para ser. Longe dos atritos com os irmãos, aprendeu a lidar com as pessoas.
Longe dos privilégios da tenda, aprendeu a abaixar os olhos e se curvar aos
seus superiores. Longe da túnica colorida, aprendeu a usar farrapos de escravo,
uniformes de prisão e trajes reais.
Deus também tem um plano para nossa vida. Mas,
antes de olhar para o futuro, é preciso analisar o presente. Encontrar as
arestas, corrigir falhas e desvios de caráter. Cultivar a humildade e a obediência.
Semear a paz. Disciplinar nosso vocabulário. Respeitar nossos irmãos. É muito
bom estar em família, porém, é preciso “ser” família.
O desfecho da história de José é lindo. Ele salvou o mundo da fome, perdoou seus irmãos, levou a família para morar no Egito, pode abraçar o pai mais uma vez, e até descobriu que tinha um novo irmão chamado Benjamim. De fato, José já não era nem de longe, o caçulinha que Jacó tanto mimou.
O desfecho da história de José é lindo. Ele salvou o mundo da fome, perdoou seus irmãos, levou a família para morar no Egito, pode abraçar o pai mais uma vez, e até descobriu que tinha um novo irmão chamado Benjamim. De fato, José já não era nem de longe, o caçulinha que Jacó tanto mimou.
Deus abençoe você e sua família!!
ResponderExcluirVeio no momento certo em minha vida essas palavras.
Amém. Sábias palavras!
ResponderExcluir