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quinta-feira, 9 de março de 2017

Lado a Lado

A morte não é o fim, mas o começo de uma nova dimensão de vida:
A vida eterna.
(Billy Graham)


Cristo não usa atalhos. Ele segue caminhos planejados. Cada passo tem um propósito. Quando Jesus foi informado sobre a gravidade da situação de seu amigo Lázaro, estava a poucos quilômetros de Betânia, e num curto período de tempo, poderia chegar até o local onde estava o moribundo homem. Esta era exatamente a intenção de Marta e Maria quando clamaram por urgência, apelando ao “emocional” de Jesus: “Aquele a quem você tanto ama está muito doente” (João 11:3).

Os planos do Messias, porém, eram bem diferentes do planejamento idealizado pelas irmãs. Jesus demorou quatro dias para chegar, e neste espaço de tempo, Lázaro morreu. Segundo um velho ditado popular, “enquanto há vida, há esperança”, e partindo desta premissa, podemos conjecturar que o pensamento de Marta e Maria estava focado no “imediatismo”. Se não fosse naquela hora, não seria nunca mais. E elas não deixavam de ter razão.

Sob a ótica humana, a “morte” é a cortina que encerra o espetáculo. O ponto final definitivo na história da existência. Enquanto Lázaro respirava, ainda existiam possibilidades, e para as irmãs, Jesus era o “Senhor das Possibilidades”. Estavam completamente enganadas. O possível é entregue por Deus em nossas mãos, exigindo de nós empenho e dedicação. A transferência de nossa causa para as mãos divinas, se dá no exato instante em que as possibilidades humanas cessam.

Um Lázaro vivo poderia ter sua enfermidade tratada pela medicina. Mas, um cadáver de quatro dias só poderia ser “reavivado” por alguém detentor de um poder miraculoso nunca antes contemplado. Para que o milagre cumprisse o seu propósito, Jesus aparentemente “se atrasou”, quando na verdade chegou em Betânia na hora exata. O que aconteceu naquele cemitério, ecoa vigorosamente até os dias de dia.

Embora a ressurreição de Lázaro, seja de fato, o milagre realizado por Jesus com maior repercussão entre a comunidade de seu tempo, não foi a primeira (e nem a última) demonstração do poder divino sobre a morte. Muito antes, quando Jesus regressava para Cafarnaum após sua agitada passagem por Gadara, o Mestre foi recebido por uma multidão entusiasmada, desejosa por ouvir sua voz e ver com os próprios olhos seus sinais. Mas nem um deles estava tão aflito quanto um homem chamado Jairo. 

Este importante membro da sociedade judaica vinha acompanhando a muitos dias, o sofrimento crescente de sua filha, quadro que tinha se agravado vertiginosamente nas últimas horas. Desesperado, ele recorreu a única pessoa na terra que acreditava ter a capacidade de restabelecer a saúde de sua menina. Num ato de grande humildade, observado por centenas de pessoas, Jairo mal esperou Jesus descer do barco para se lançar aos pés do Senhor clamando por misericórdia.

Jesus, comovido pela fé daquele homem, caminhou ao seu lado para visitar a menina enferma. Porém, enquanto Jairo apenas esperava que o Messias restabelecesse a saúde de sua filha, Jesus tem planos muito maiores. Pela primeira vez em seu ministério, Cristo iria dar uma amostra de seu poder sobre a morte. Para isto, era preciso diminuir o passo da caminhada. Somente no tempo perfeito, a glória de Deus é manifestada.

O pai aflito caminhava apressadamente ao lado de Jesus, certamente tentando acelerar a marcha. Porém, o Mestre estava sereno, e seus passos moderados destoavam da urgência daquele momento. Aos olhos de um pai angustiado, o andar compassado de Jesus soava como displicente. Não era.

Cada vez que Jesus retardava o passo, uma certa mulher que sofria a doze anos com uma hemorragia constante ganhava alguns centímetros em sua direção. Cristo parou atender uma alma aflita que ansiava por tocar em suas vestes, e sem compreender as intenções do Messias, Jairo mais uma vez se inquietou. Ele tinha pressa, e Jesus não (Marcos 5:25-30).

Foi exatamente neste momento que os funcionários de Jairo chegaram com a triste notícia da morte da menina. Uma bomba de tristeza recaiu sobre todos que cercavam Jesus. E Jairo, com os olhos rasos d´agua, talvez tenha se lamentado sobre como aquela mulher atrasou a jornada, eliminando as possibilidades de ajudar sua filha. Todos se esqueceram que ali estava o “Senhor das Impossibilidades”. Onde as pessoas viam o fim, Jesus enxergava um recomeço. Cristo vai de encontro ao pessimismo da multidão, e olhando serenamente para Jairo, o convida a se agarrar em um último fiapo de fé:  – Não tenha medo... A menina apenas dormiu.

A expressão “NÃO TEMAS” e seus derivados, aparecem por 366 vezes no texto sagrado. Não é coincidência. A cada amanhecer, podemos ouvir a voz de nosso Deus nos encorajando a “não temer”. Todos os dias do ano (incluindo os bissextos), somos visitados com ternura pelo Senhor, que independentemente dos desafios propostos, nos acalma com sua doce voz: - Não tenha medo!  O mundo pode estar imerso em caos e desespero, mesmo assim, não tenha medo! (Mateus 25).

É bom poder ser acalentado pelo timbre suave do Salvador ecoando em nossos ouvidos. Mas, Jesus tem um modo de agir que excede a verborragia. Ele “age” em favor de seus “ouvintes”. Ao mesmo tempo em que nos encoraja para não temer, Cristo libera a virtude que cura nosso corpo e nossa alma dos medos e das fragilidades (foi assim com a mulher do fluxo de sangue). Como se isso não bastasse, Ele ainda caminha ao nosso lado, até que a obra seja finalizada em nós (Filipenses 1:6). 

Jairo é uma prova cabal desta verdade, pois após ouvir de Jesus que “não deveria ter medo”, foi ladeado pelo Salvador até o quarto onde jazia a menina. Lado a lado. Vida e Morte. Desespero e Paz.

É corriqueiro encontrarmos pessoas em situações desesperadoras e liberarmos para elas uma palavra de benção, um aconselhamento espiritual ou até mesmo oferecer uma prece em seu favor, para logo após, seguirmos nossas próprias vidas sem realmente se importar com o que será efetivamente do nosso próximo. No seu famoso sermão “A Casa na Montanha”, Martin Luther King falou sobre como os cristãos não devem agir como “termômetros”, medindo a temperatura do ambiente e se adequando a ela. Que deveriam ser como “termostatos”, agindo efetivamente para modificar o “clima” em sua volta. Por muitas vezes, palavras não bastam, é preciso ação. Exatamente, por ser um agente transformador, após acalmar verbalmente a Jairo, Jesus faz questão de andar lado a lado com ele, até chegar em sua residência.

Diante dos pais da menina, e na presença dos seus discípulos mais chegados, Jesus transforma o que era motivo de lágrimas em júbilos de alegria. Enfrentar a morte é algo terrivelmente doloroso, demandando desgosto e desesperança. Mas, quando Jesus entra na história, o trágico se torna em belo, e o final marca a entrada do início. - Talita Cume! Filhinha, ouça o que te digo. Levanta! E a menina acordou. 

Em Cristo, a morte é apenas a porta de entrada para vida.

O Mestre podia muito bem realizar um milagre a longa distância, ou simplesmente oferecer seus pêsames a família enlutada. Mas, não. Jesus se fez presente, caminhando ombro a ombro, passo a passo, partilhando da tristeza, para valorizar a alegria futura. Palavras tem um poder amortizador, e um efeito “placebo” sobre as dores da alma. Mas, o “alívio” oferecido por Jesus não visa refrigério imediatista e genérico. Ele é eficaz e permanente.

Em Mateus 11:29, Cristo convida aos cansados e oprimidos para tomarem sobre eles o seu jugo, o que equivale a dividir ao meio uma carga, andando lado a lado, no mesmo compasso. Quando Jesus nos diz para “NÃO TEMER”, mais do que nos encorajar a enfrentar uma adversidade, significa que Ele a enfrentará ao nosso lado. Então, não temas. Crê somente. Um passo de cada vez!


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