Arquivo do blog

quinta-feira, 8 de março de 2018

E se Gideão liderasse um Exército de Mulheres?

Para as mulheres: Estou sempre em TPM...
Terrivelmente Poderosa por ser Mulher.
(Alexandre Dahmer)


O Velho Testamento foi escrito no contexto de uma sociedade patriarcal, tendo o homem (gênero) em predominância absoluta. Isto não impediu que mulheres virtuosas tivessem seus nomes (e feitos) gravados a ferro e fogo nas páginas do cânone sagrado. E até mais do que isto. Rute e Ester, por exemplo, se destacam neste cenário, não apenas por suas ações memoráveis, mas também, por darem nomes próprios a dois livros bíblicos, ainda que não sejam autobiográficos.

A grande verdade, é que entre os quarenta autores reconhecidos da Bíblia Sagrada, não temos catalogado o nome de nenhuma mulher. Mesmo assim, é inegável que muitos textos possuem a assinatura com um “coraçãozinho” no “i”. Mulheres são caprichosas por essência. O louvor de Midiã. A profecia de Débora. O cântico de Ana. O poema da sunamita. A pregação da samaritana. São muitos os exemplos. O que nem todos sabem, é que um dos mais conhecidos versículos do Velho Testamento, embora seja comumente dedicado a Salomão, não foi escrito pelo “rei”, mas sim, por “uma rainha”: 

- Mulher cheia de virtudes. Quem a irá encontrar? Ela é mais valiosa que pedras preciosas (Provérbios 31:10).

Nenhuma grande história consegue ser contada sem a presença de suas personagens femininas. O que seria de Abraão sem Sara? Pense nos grandes juízes de Israel, e você certamente se lembrará de Débora antes de recordar o nome de setenta por cento deles. Dá pra descrever a encarnação do verbo e ignorar Maria? Imagine o “Cântico dos Cânticos” sem os versos da Sunamita. Certamente não seria uma canção de amor.

Mas, convenhamos. Em muitas narrativas, as mulheres são subestimadas, e por uma questão cultural, reduzidas a um contexto secundário, mesmo que esta coadjuvância não retire delas o imenso valor.  Leitores mais pragmáticos, tendem a interpretar o texto de Cantares como mera “liberdade poética”, onde um “homem” gasta seu vasto repertório de galanteios, para fins de acasalamento. Em outras palavras, mais uma vez, teríamos a mulher sendo objetificada. Teorias a parte, Provérbios 31 é de imensa relevância, porque foge completamente da conotação romantizada, e se desenvolve linearmente como uma conversa literal entre iguais. E um texto feminino, sem ser feminista. De mulher para mulher. Antes de ser escrito, o roteiro foi vivido. Exatamente por isso, a autora fala com propriedade, sobre comportamentos por ela já demostrados. Não sabemos ao certo o nome da mulher segurando a caneta, já que a informação se limita apenas ao fato que seus ensinamentos foram repassados ao filho (o rei Lemuel de Massá), e compilados por Salomão em seus provérbios. Esta sábia rainha árabe tinha excelentes conselhos aos príncipes, e instruiu seu herdeiro a ser respeitoso com as mulheres, prudente diante do vinho, benevolente com os desafortunados e justo em cada palavra dita (Provérbios 31:1-9).

Mas, haviam cuidados especiais a serem tomado. Para que um bom rei exerça a plenitude de seu reinado, ele precisa estar ladeado por uma rainha igualmente dotada de bondade. Exatamente por isto, a mãe de Lemuel, fazia questão de ressaltar as qualidades que transformariam até mesma a mais simples entre as plebeias, numa rainha amável e exuberante. Mulher virtuosa. Diamante de valor inestimável. Tesouro pelo qual vale gastar a vida na busca.

E qual o segredo?

Simples. Ela faz do coração de seu marido, um cofre particular. Ali, deposita seus bens mais preciosos. Amor. Respeito. Confiança. Não existe maldade em suas intenções, e cada gesto das mãos, é motivado por bondade. Filha amada. Esposa honrada. Mãe amorosa. É impossível não se encantar com seus trejeitos, ou deixar de enamorar-se por tamanha doçura. Senso de justiça ilibado. Sensibilidade que  domestica feras. Um rubi de rara beleza moldado em açúcar e leite de rosas. Ela é, e ela faz.

A mulher virtuosa é uma mistura de “ovelha” e “leoa”. Sabe se comportar de acordo com as necessidades. O toque suave e delicado, não se esquiva do trabalho pesaroso. Ela recolhe a lã e tece o linho. Sabe se vestir com elegância, e da mesma forma, veste seus cordeirinhos. Diante das dificuldades da vida, cinge-se de força e seus braços não desfalecem. Busca o pão pela manhã e o recheia de carinho durante a tarde. Quando o dinheiro lhe é confiado, sabe fazer bom uso de cada moeda, investindo com prudência, sensatez e empreendedorismo. Em sua mão direita, maneja com destreza agulha e linha, enquanto na esquerda, segura um castiçal ainda acesso...

Ufa.... Haja coordenação motora.... Duvido que um homem execute com tamanha desenvoltura tantas tarefas simultâneas. Considerando as minhas habilidades pessoais de concentração em multitarefas, provavelmente rechearia a lã, costuraria o pão e acenderia o castiçal com uma agulha. Temo em pensar na sorte das pobres crianças que estariam sob meus cuidado, e no destino insólito das ovelhas a serem tosquiadas. Seria uma catástrofe. Mulheres são seres dotados de braços adicionais invisíveis, visão extra-sensorial e pequenos cérebros nas pontas de cada dedo. O "jeito" suplantando a "força". Mesmo que a força seja notária e presente.

Marmanjos barbudos, não se deixem enganar pela testosterona. Em uma disputa de habilidades contra o “vaso mais frágil”, apenas se assentem sobre os próprios culhões e reconheçam a derrota acachapante. Não se compete contra a pró-atividade feminina. E fim de papo.

Sempre que me vejo as voltas com este tema, penso na história de “Jerubaal” e seu “Clube do Bolinha”. Não conhece? Deixe-me contextualizar. 

Quando os amalequitas começaram a saquear as tribos de Israel, Deus levantou um homem chamado Gideão para liderar a resistência contra os invasores. O corajoso comandante conclamou aos moradores da região a se apresentarem em armas para o combate, e prontamente foi atendido. Ao todo, mais de trinta e dois mil homens se voluntariaram para guerra. Deus considerou o contingente excessivo. Com tantos soldados, a vitória seria creditada a perícia militar israelita, e o Senhor não estava disposto a dividir sua glória com ninguém. Gideão (ou Jerubaal, se preferir), foi instruído a dispensar todos os homens que estivessem “temerosos”, “inseguros” e “despreparados”. Mais de vinte e dois mil soldados desertaram. Correram para casa sem ao menos dar baixa na reservista. Se bobear, alguns estão correndo até hoje. Forrest Gump certamente se encontrou com muitos deles em seus anos de corrida.  

Haviam sobrado dez mil homens. Gideão estava desesperado. Com uma infantaria tão reduzida, seria esmagado pelo inimigo. Deus, por outro lado, sentia-se incomodado com a quantidade de soldados. Seria preciso reduzir ainda mais. Todo o pelotão foi levado à beira do rio e ordenado a beber de suas águas. O comandante deveria observar a forma como cada um matava a sede. Somente os cautelosos, que tomassem a água na mão, enquanto vigiavam a retaguarda, seriam aprovados. Após o teste, nove mil e setecentos “afoitos”, “relapsos” e “descuidados” foram mandados para casa.

O final miraculoso desta história, você já conhece. Gideão e seus trezentos soldados venceram em nome do Senhor, uma batalha contra milhares. Um milagre perpetrado na história.

- Miquéias... Para de rodeios! Que raios a história de Gideão tem a ver com as mulheres virtuosas de Provérbios 31?

Nada. E tudo. Estou apenas exercendo meu direito de conjecturar. Deixar as ideias fluírem em cascata. E te convido a fazer esta introspecção comigo. Propor mentalmente uma hipótese, e desenvolver a tese baseado nas informações coletas por Salomão.

E se Gideão liderasse um exército de mulheres?

Primeira questão.
Quantas atenderiam o chamado?

Haviam milhares de homens em Israel, e apenas trinta e dois mil se voluntariaram para a guerra. Um número irrisório em proporcionalidade a população local. Penso (apenas penso), que se a convocação fosse estendida as mulheres virtuosas que lavoravam o trigo plantado por suas famílias, o exército inicial seria três vezes maior. Porém, fiquemos na casa dos trinta e dois mil, apenas para termos uma base matemática precisa.

Voltemos a conjectura. Por um instante, suspenda a descrença e deixe-se levar pela imaginação...

Gideão chama seu exército de mulheres e propõem que as “amedrontadas”, “acovardadas” e “temerosas” retornem para casa. Quantas desertariam? Seria preciso passar o contingente em diversos filtros antes da primeira centena abrir mão do combate. Lá estariam elas, empunhando espadas na mão direita, e trocando fraldas com a esquerda. Para cada continência, uma batidinha com pó de arroz do nariz. Charme e furor no mesmo olhar. E nenhuma intenção de abandonar a farda. Quando chegassem ao rio, não haveria entre elas, nenhuma mulher descuidada. Na mochila de cada uma, copos descartáveis e espelhos. Errar pelo excesso, as vezes. Por omissão, jamais! Guerreiras bebendo água com classe, com os olhos ávidos no retrovisor, atentos ao bater de asas da mais inofensiva mariposa.

Pobres amalequitas. Se não puderam resistir aos trezentos soldados de Gideão, que poderiam fazer diante de um exército formado por mais de trinta mil mulheres virtuosas? A guerra acabaria antes mesmo de começar. Penso que Deus escolheu homens para o combate, apenas para manter um certo equilíbrio entre as forças.

Mulher virtuosa. Quem a acha, encontra um tesouro. Ela é destemida e faz a neve derreter quando caminha por entre a nevasca vestida de vermelho. Os cidadãos da cidade parabenizam seu marido todos os dias, pela sorte que teve na vida. Ela estende as mãos a necessidade do próximo, é forte em tempos de crise e ninguém ousa macular a dignidade construída. Em sua mesa não é servida a preguiça, e as preocupações diárias não ofuscam o sorriso matinal. Quando fala, todos se calam para ouvir. O esposo compõe canções sobre ela nos intervalos do trabalho. Os filhos a elogiam na escola. Nas ruas, sua presença não passa desapercebida, e logo, alguém testifica a respeito dela: - Existem muitas mulheres virtuosas nesta cidade, mas nenhuma é igual é esta!

Provérbios 31:30 ressalta que o charme de uma mulher é enganoso, e que a beleza de seu rosto é apenas temporal. Nada disto dura muito tempo. Porém, quando a mulher virtuosa teme ao Senhor de todo coração, suas mãos se tornam permanentemente frutíferas, e todos em volta admiram sua vida, e louvam tais obras publicamente. Basicamente, ela é um arraso, e põem ao chão as estruturas que cerceiam os objetivos estabelecidos. Uma força da natureza imparável e avassaladora. Sem jamais perder a classe. 

E neste ponto, me vejo coagido a recalcular o contingente de meu perfumado exército imaginativo.

Seria um desperdício muito grande, enviar trinta e duas mil mulheres contra os amalequitas. Com tantas qualidades, atribuições, habilidades e destreza, podemos reduzir drasticamente este número. Se Gideão precisou de trezentos homens para vencer uma batalha impossível, se liderasse um exército de mulheres, creio que metade deste número seria mais que suficiente. Cento e cinquenta guerreiras, com espada na mão, nécessaire na cintura e blush no rosto. Não sobrariam nem lembranças sobre o inimigo. Vitória absoluta, limpa, justa e digna. Trombetas, cântaros, tochas acessas e salto alto! (Juízes 7:20)
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário