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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
O maior entre todos os pecadores
Toda vez
que penso no cristão que deveria ser,
sinto vergonha
deste que sou.
(Charles
Spurgeon)
Existe algo ainda mais difícil que compreender o
amor de Deus... Aceitá-lo! Não falo da
aceitação sobre a “minha vida”, pois sempre estou disposto a ser abraçado pelo
Senhor, clamando por misericórdia toda vez que o pecado me puxa ladeira abaixo ancorado
num carro desgovernado e sem freios. Se o perdão é destinado à mim, será
recebido sem contestações ou questionamentos. Não existe cotas ou limites para
a quantidade de vezes que posso recorrer ao amor divino, encontrando nova
chance de recomeço. Estou tranquilo quanto a minha relação com o Pai... Até
agora tudo tem funcionado muito bem... Eu estou sempre pecando e Deus continua
infalível, perdoando-me todas as vezes.
Até aí, perfeitamente compreensível. É que eu sou
passível de perdão... Tenho lá meus momentos negros, mas na maior parte do
tempo, o “Miquéinhas” aqui é gente boa. Boníssima, aliás... Daquele tipo que não
faz mal nem a uma mosca... Modéstia à parte, o Senhor deve até mesmo sentir-se
honrado em perdoar-me... Meus pecados nunca são imperdoáveis, e as boas ações
que prático, deixam um saldo tão positivo, que compensam com sobras as pequenas
falhas por mim cometidas... Esta relação amorosa entre “eu e Deus”, compreendo
perfeitamente e aceito de bom grado. Meu problema é com o fato Dele perdoar
quem “não é” digno de perdão. Pessoas más e inconsequentes, que propositalmente
abraçaram a iniquidade, e que apenas na hora do aperto, quando a luz de emergência
acende no corredor do Boeing, recorrem ao Senhor pedindo perdão, e infelizmente
acabam perdoadas. Sendo bem sincero, nestas horas, sinto-me profundamente
decepcionado com Deus e indignado com essa mania que Ele tem de amar criaturas
odiosas... Chega a embrulhar meu estômago...
Se você passou pelo parágrafo acima e não desistiu
da leitura, é possível que pense como eu. Talvez, com um pouco menos de
sarcasmo e extremismo, até mesmo poderia ter escrito as últimas frases. Vamos
lá... Seja sincero... Deixe os pensamentos escondidos por anos, finalmente
verem a luz do dia... O amor que Deus demostra para com “certas pessoas” também
te deixa desconfortável, né? Relaxa... Você não é um monstro por causa disto...
É apenas “humano”, norteado por um senso de justiça pessoal embasado em
conceitos e desejos individualistas. Não se angustie com isso... Todos nós
temos imensa dificuldades para compreender a extensão do amor divino, pois
ainda estamos revestidos de corruptibilidade, habitando numa esfera
“naturalmente artificial”, cercado por sentimentos interesseiros,
relacionamentos descartáveis e amores efêmeros. Deus, por outro lado é eterno,
incorruptível e incondicional. Ele “não” ama nossos melhores momentos...
Simplesmente “nos” ama... Ama o pecador, mesmo aborrecendo o pecado... Ama as
pessoas, sem se importar com nomes, raças ou gêneros... Acima de tudo...
Abrangendo a todos... Ao ponto de
doar-se por elas, entregando parte de si (a melhor parte) para absolvê-las de
crimes sabidamente cometidos. Não dá para assimilar tamanho altruísmo... Deus
entregou seu filho à morte, e Cristo aceitou à cruz por amor ao mundo, para que
“todo” aquele que nele crê seja salvo... Tipo assim, vagas ilimitadas... Sem
critérios prévios. Não existe processo seletivo... A única exigência é crer...
Não há prazo estimado e nem contribuição mínima. No final do dia, quem lavorou
o dia inteiro recebe o mesmo salário dos contratados na última hora. Parece
justo? Não. É justo? Absolutamente... O dono do amor é Deus... Ele escolhe como
reparti-lo... Quem perdoa com plenitude é Deus... Ele decide quem receberá o
perdão... Quem crê, será salvo. A salvação vem de Deus... Ele salva, eu não...
Que méritos posso ter para definir quem é digno ou deixa de ser?
Mesmo assim, o amor de Deus me deixa inquieto.
Imagine que minutos antes da morte, Adolf Hitler tenha tido um rompante de fé,
aceitando à Cristo de todo coração, crendo piamente no Filho de Deus como único
e suficiente salvador. Sabe o que aconteceria? Simples... O amor de Deus
invadiria sua alma, perdoando os pecados praticados e o nazista genocida seria
salvo. Como posso aceitar isto? Pensar na possibilidade de Hitler ter uma casa
no paraíso, na mesma quadra reservada aos judeus que morreram em Auschwtz
crendo em Jesus. É justo? É aceitável?
Pois é... Minha justiça não aceita que o amor de
Deus alcance determinadas pessoas, mas é exatamente a abrangência universal que
torna o amor de Deus tão justo. Nenhuma parede de pecados, por mais robusta que
seja, resiste a uma avalanche de arrependimento. O muro cai e Deus perdoa.
Fácil assim... O Senhor não faz pesquisa no SPC e nem pede antecedentes
criminais antes de liberar perdão. Se um coração está quebrantando, Deus é imediatamente
atraído e sua graça superabunda, onde abundava o pecado. Se não concorda com
este fato, rasgue sua Bíblia e procure outra divindade para servir. Uma menos
complacente com os crimes que “você” considera hediondos e imperdoáveis...
E aí está nosso problema. O tabelamento do pecado.
Particularmente, ainda não encontrei nenhum texto bíblico que defina claramente
em qual posição deve estar cada “iniquidade” nesta tabela, considerando sua
gravidade e consequência. Então, para ter uma base “legal” durante o
planilhamento, geralmente lanço mão do meu próprio senso de justiça, estabelecendo
quais serão as contravenções graves e inaceitáveis, bem como as brandas e
toleráveis. Meu achismo dita a regra e minha rotina determina as
consequências... Exortações benevolentes para o que faço, sanções implacáveis
com o que vejo outras pessoas fazendo. Exatamente por isso, o pecado do próximo
flerta com a “imperdoabilidade”, e meus “pequenos erros” carecem apenas de
ternas puxadas na orelha... Seguida de beijos e abraços.
Deus não é parcial. Meu pensamento em nada
influencia seu caráter. O Senhor estabeleceu o certo e o errado antes mesmo do
homem ser um rascunho no papel. Deus sabe de todas as coisas. Deus se compadece
de cada um de nós. De “sumidades pontifícias” a “pederastas estupradores”...
Ele ama. Seja a missionária abnegada fazendo caridade nas favelas de Mumbai ou
a prostituta desesperançando vendendo prazeres ilusórios nas ruas de Amsterdã.
Deus ama. Perdoa. Deseja salvar. Oferece Cristo como salvo-conduto. Não importa
o histórico de obras altruístas ou iniquidades libidinosas. A condição é a
mesma: - CRER! A fé trazendo vida para as boas obras e gerando arrependimento
pelos pecados consumados. Sem índices de maldade. Nada de tabelas tendenciosas.
Ninguém excluído com antecedência. Diante de Deus, pecado é pecado e o plano da
salvação se estende a todos que pecaram... E admita, você é um grande pecador. Eu também
sou. E nossos pecados divergem entre si... As tentações que não consigo evitar,
nem mesmo chamam sua atenção. E o contrário também é verdade. Podemos não
incorrer nos mesmos erros, e nem por isso deixamos de errar. Todos nós...
Errantes e pecadores. E se na lei humana existe um abismo distanciando as
infrações, Deus apenas enxerga o pecado. E pecadores... Carentes de graça e
desesperados pela misericórdia.
Digamos que você roube uma caneta do escritório e
no mesmo dia, eu assalte o Banco Central. Qual de nós cometeu o maior delito?
Quem obteve maior lucro ilícito? Em caso de flagrante, quem passará mais tempo
na cadeia? Dentro dos parâmetros legais e com base na convenção social, meu
crime certamente é muito maior, requerendo uma punição largamente mais severa.
Justo... O que é uma caneta comparada a milhões de reais? Um ladrãozinho de
ocasião é bem menos perigoso para a sociedade do que um assaltante de bancos. É
fácil entender e aceitar esta matemática. Porém, biblicamente falando, não
teríamos quebrado o mesmo preceito legislativo? Pelo que me lembro, em Êxodo
20:15, Deus é categórico ao anunciar o sétimo mandamento: - Não roubarás! E
isto inclui tanto malotes de dinheiro quanto canetas BIC. O que aqui na terra
classificamos como “assalto a mão armada” e “pequeno furto”, Deus identifica
como “roubo”. Roubar é pecado e pecado é pecado. Simples. E o Senhor está
disposto a perdoar o assaltante de banco e o cleptomaníaco do escritório com
base na mesma exigência. Crer em Jesus. Arrepender-se do pecado, seja qual for.
Não concordo com estas condições? Problema meu!
Nunca morri para salvar ninguém, logo não tenho prerrogativas para escolher
quem mereça ser salvo. Na verdade, se tivesse este poder, encheria o céu com “meus”
amigos e poria no inferno todos os “meus” desafetos. Não porque são maus...
Apenas por não concordarem comigo nas causas que julgo importante. No meu caso,
provavelmente abarrotaria o paraíso com palmeirenses eleitores de direita, e
trancaria no abismo corintianos politicamente inclinados para a esquerda. Eu
apenas me ateria as aparências e sequer consideraria a sinceridade do coração...
Ainda bem que Deus não pensa como eu. E
agindo exatamente na contramão do “meu” senso de justiça, o Senhor se revela
verdadeiramente justo. O céu está aberto a todos que creiam em Jesus,
aceitando-o como único e suficiente salvador, não importando em quem vota, qual
time torce, a qual tribo social pertence e menos ainda, a igreja que frequenta.
O paraíso não é assembleiano, metodista ou congregacional. É destino de
“salvos” mediante a fé. Simples, justo e perfeito. O contrário de tudo o que eu
costumo ser.
Por isto tenho dificuldades para aceitar o amor de
Deus, quando aplicado fora da minha “redoma da justiça”. Eu enxergo apenas
aparência e atitudes. O Senhor observa o coração e desvenda intenções. Eu
condiciono o presente aos acontecimentos do passado. Já Deus, avalia o hoje,
apaga o passado e reestrutura o futuro. Basta um gesto de fé, e o pecador que
já tocava a campainha do inferno, recebe convite VIP para o céu. Lembra do
ladrão no Gólgota? Criminoso confesso, que colhia no madeiro o amargo fruto de
sua vida perversa? Pois é... Sentindo o gosto na morte na ponta da língua, olhou
para o nazareno crucificado e reconheceu que o homem na cruz do meio era
realmente o Filho de Deus. No limiar da vida, creu em Jesus: - Senhor, lembra-te de mim quando estiveres
no teu Reino. Que absurdo! Um assassino sanguinário clamando por
misericórdia... Pedindo para que um fragmento da sua existência fosse mantido
no céu... Mesmo que somente uma lembrança.... JAMAIS! Eu apagaria cada traço da
existência deste homicida. Que ninguém no paraíso se recorde do rosto vil,
enquanto a alma carregada de culpas queima eternamente no inferno...
Jesus também não se conformaria em levar aos céus
uma lembrança daquele homem... Cristo enxergou seu coração. Testemunhou o
arrependimento. Sentiu a fé... Nesta mesma hora, o criminoso morreu e um
inocente nasceu... Justificação... Redenção... Libertação: - Filho, em breve estarás comigo no Paraíso!
Incontáveis vezes já presenciei a indignação de
certos indivíduos (quem serei?) com pessoas que por anos levam uma vida
irresponsável, libidinosa e imersa em pecados, e então, do dia para noite,
“viram” crentes e achando que tudo está bem. Pois é... Está bem mesmo! Para ser salvo, não é requerido um histórico
de bondade. Basta crer. O pecador estará justificado perante Deus. Se um
estuprador arrepende-se e abraça a fé, seus pecados estão perdoados e a alma
será salva, mesmo que pela lei da terra ainda seja necessária a aplicação da
condenação prevista na legislação vigente. O amor de Deus não tem como prioridade
abrir celas de prisão e nem derrubar paredes feitas de concreto e aço. Se há um
crime praticado, que se faça valer a lei. O perdão do Senhor liberta a alma.
Solta as amarras da escravidão eterna. Liberdade além das algemas... O amor de
Deus não prescreve crimes, mas perdoa pecados.
Quer mais ironia? Sabe aqueles pecados que
consideramos gravíssimos e temos dificuldade em aceitar o perdão concedido para
quem os pratica? Então... Também costumamos cometê-lo, apenas mudando a embalagem.
Na verdade, se analisarmos com um pouco mais de imparcialidade aquela TABELA DE
GRAVIDADE DOS PECADOS que guardamos na gaveta, usando apenas a Bíblia como
parâmetro, veremos que o primeiro item da lista (pecado gravíssimo cometidos
por outros) é equivalente ao último (pecado leve que cometo com regularidade).
Se não diante dos homens, certamente perante Deus.
Qual a diferença entre o estelionatário que
defrauda aposentadorias do INSS e o obreiro melindroso puxando o tapete de alguém
para crescer no ministério? Deus definiu que a cobiça é pecado... Seja pelo
dinheiro ou por posições ministeriais. Se é do teu próximo e você deseja para
si, não importa o “que” ou “onde”... Tudo é pecado...
E quanto a “roda” dos escarnecedores, tomando o
nome de Deus em vão com suas piadinhas desrespeitosas e temáticas banalizadas?
Qual a diferença para com o “nobre” círculo de pregadores que formam um
verdadeiro cartel da fé, propagando promessas ilusórias e inchando seus egos a
base da crença alheia... Se o nome de Deus é escarnecido, seja na mesa de
pôquer ou no altar dos grandes templos, o pecado é o mesmo...
E aqui vai a minha preferida...
Nada pode ser pior que tirar a vida de alguém.
Homicidas de fato, ficarão de fora do Reino dos Céus, a menos que um arrependimento
genuíno mude o rumo da história. Não dá para tolerar assassinos. No Velho Testamento,
a lei do olho por olho determinava que aquele que matasse, também deveria
morrer. Simples assim... Aí vem Jesus em Mateus 5:21-22, e ensina que diante de
Deus, a mesma sentença aplicada sobre os assassinos, também será destinada aos
caluniadores e maledicentes... Basicamente, quem “agride o próximo com
palavras” atira para matar e tem nas mãos sangue de um defunto ainda vivo. E
quer saber... Nunca matei ninguém, mas já falei bem mais do que devia... Muitas
vezes... E quantas pessoas já feri com minha verborragia? Tenho ideia de
quantos destes ferimentos foram mortais? Quantas almas assassinei? Quantos
corações fiz sangrar? Quando comparecer diante do tribunal divino, minhas
palavras estarão na mesa de evidências, ao lado de revolveres, punhais e
câmaras de gás?
Quando aceito a verdade que sou tão pecador quanto
o mais miserável dos pecadores, entendo por que Paulo comemorava o fato da
graça de Deus superabundar onde antes abundava o pecado. O apóstolo viveu na
mesma época de homens perversos como Nero, e mesmo assim, considerava-se mais
pecador que qualquer um deles... Ele entendeu a tabela. Compreendeu que todos
somos pecadores diante de Deus, mesmo que a manifestação do pecado seja
multifacetada. A alma que peca, morre. E todos pecamos. Todos estávamos
condenados a morte. Então, Cristo morreu
por nós, pagando a dívida do pecado. Entendendo ou não, concordando ou não,
preciso aceitar que o amor de Deus está disponível a todos os homens, bons ou
maus... Nobres ou tiranos... Executados e executores... Julgados e julgadores...
Estuprados e estupradores... Assassinos e assassinados... Deus não exclui nem
mesmo o mais pecador dos homens desta lista sempre aberta e nunca irrestrita.
Ainda bem... Caso contrário, provavelmente estaria entre os primeiros descartados.
Corrigindo... Meu nome jamais teria sido
escrito...
Estou tentando entender a profundidade do amor de
Deus, mas sei que vou fracassar... Mal consigo saber o que há abaixo da
superfície dos oceanos, e a capacidade de amar e perdoar do Senhor vai além das
profundezas. Preciso é aprender a aceitar o seu amor, perdoando até mesmo quem
não merece perdão, pois esta é exatamente a minha condição agora. O imperdoável
sendo perdoado. O inaceitável sendo aceito em amor. E tudo o que tenho feito é
crer.... Esta é uma palavra fiel e digna
de aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos
quais eu sou o principal (I Timóteo 1:15).
segunda-feira, 19 de novembro de 2018
Sonhos Alheios e Encontros Aleatórios
Deus é
isto: A beleza que se ouve no silêncio.
Na importância
de saber ouvir os outros, a beleza mora lá também.
(Rubem
Alves)
Sempre
entendi a estadia de José naquela prisão egípcia como parte de um longo e
doloroso processo de aprendizagem. O menino se tornando homem. Basta lembrar
que durante a adolescência, José sempre foi uma “boquinha nervosa” destilando
veneno contra os irmãos. Em bom português, o jovem sonhador era também um “exímio
fofoqueiro”, que apesar das inúmeras virtuosidades, precisava aprender a
dominar sua língua. Assim, Deus permitiu que José passasse alguns anos na
cadeia, lugar onde o “X-9” morre cedo e o silêncio vale ouro. Embora não
compreendesse, esquecido dentro de uma cela qualquer, José estava sendo
preparado para a grande tarefa que lhe seria confiada pelo Senhor... Salvar o
mundo da fome e, com uma gestão eficiente, garantir a sobrevivência da linhagem
messiânica, mesmo longe da terra pátria... No Egito, ele desenvolveu empatia
pela necessidade do próximo e compreensão para com a causa alheia, tudo o que
lhe faltava enquanto era mimado pelos pais nas tendas de Canaã.
Deus,
porém, não é unilateral como as vezes o enxergo. Até mesmo suas mais
“incompreensíveis” atitudes estão repletas de razão e calçadas num irretocável
planejamento. Ele poderia utilizar outras técnicas de ensino, que não deixem
marcas tão profundas e nem levem para a prisão alguém inocente... Mas, não... Tem
horas que o trabalhar do Senhor assemelha-se ao sadismo, aplicando castigos
terríveis para nos ensinar lições praticas que poderiam ser aprendidas apenas
com a leitura de um bom livro didático. É que para Deus, as mais complexas
questões humanas são tão simples quanto entender a diferença entre frio e
quente... Tudo é muito claro para Ele, mesmo que por décadas, permaneça
enevoado enquanto olhamos aqui de baixo... E sendo bem sincero, podemos até discordar do
método, porém não existe argumentos para contestar a eficiência.
José
era um moço de bom coração, dedicado em seus afazeres e temente ao Senhor desde
o berço. Bastava que Deus lhe aparecesse num sonho pedindo para que fosse mais
tolerante com seus irmãos, e certamente o problema estaria resolvido. Sem tráfico
humano, escravidão em terras estrangeiras ou condenações fraudulentas... Tudo
seria muito mais simples, agradável e nada traumático. Todos viveriam felizes
para sempre... Mas, existe um porém...
Se eliminarmos todos os eventos trágicos da vida de José, também vamos precisar
reescrever o final da história. A versão mais “justa/bondosa”, onde o
personagem continua mimado e criando conflitos com seus irmãos sem nunca
conhecer o fundo do poço, não termina tão bem assim... Na verdade, acaba com o
personagem principal morrendo de fome aos quarenta anos de idade. Não sem antes
presenciar seus entes queridos sucumbindo por desnutrição. Mãe, sobrinhos e
irmãos, sepultados as carreiras ao lado de túmulo de Jacó, que já velho, teria
sido a primeira vítima da gigantesca estiagem. Entre as covas espalhadas na
planície ressequida de Canaã, estão pareadas as lápides de “Judá” e seu filho
recém-nascido “Perez”. Com a morte de ambos, a descendência abraâmica é
interrompida, e alguns nomes são abortados da história humana, entre eles Boás,
Obede, Jésse, Davi, Salomão, Natã, Roboão, Asa, Josafá, Jorão, Uzias, Jotão,
Acaz, Ezequias, Manassés, Amon, Josias, Jeconias, Salatiel, Zorobabel, Eliude, Eli,
José, Maria, e finalmente... Jesus...
Isso
mesmo... Pode escolher qual genealogia preferir. A narrativa primária de Mateus
ou a possível aplicação da “lei do levirato” utilizada por Lucas... A linhagem de Maria ou a
descendência de José... Não importa... Você sempre acabará nas entranhas da
família de Jacó, salva da fome pelo plano de racionamento e redistribuição
elaborado por José quando ele foi governador do Egito... Sem um “Judá”, não
teríamos um “Leão da Tribo de Judá”... Simples assim... Toda a provação imposta
a José fazia parte de um plano maior
visando o bem de toda a humanidade através do nascimento de Cristo. E pensando
bem, a cadeia foi o exato ponto onde “sonhos e propósitos” se encontraram
definitivamente.
José
era mais que um sonhador. E mais do que isso... Tinha a capacidade de entender
o significado dos elementos aparentemente desconexos de um sonho. Foi assim com
as visões dos feixes de trigo e dos corpos celestiais. De imediato compreendeu a
mensagem recebida. Seu futuro seria grandioso, e toda a família lhe prestaria
reverência. Porém, seu dom nunca foi valorizado em casa. Pelo contrário, acabou
lhe dando o estigma de prepotente e orgulhoso. No Egito, tudo mudou. Entre os
pagãos, o Deus de Israel fez a diferença e José tornou-se o “Mestre dos
Sonhos”. A ferramenta correta na oficina em que era necessária. Hora de
acelerar os trabalhos, pois o relógio divino já entrava em contagem regressiva.
Quando
o poderoso Faraó se viu ameaçado por uma tentativa de envenenamento, tratou
logo de enviar os dois principais suspeitos para a cadeia, e “coincidentemente”
ambos acabaram na mesma cela que José. E enquanto a polícia egípcia concluía
suas investigações, o “padeiro do palácio” e “copeiro real” tinham uma noite
atribulada com sonhos perturbadores. Na manhã seguinte, José não apenas
interpretou os sonhos, como antecipou o futuro de seus colegas. O copeiro se
via espremendo três cachos de uva numa taça e a entregando para aprovação do
rei, o que significava que seria declarado inocente e em três dias voltaria a
trabalhar no palácio. O padeiro, por sua vez, tinha três cestos de pães sobre a
cabeça, enquanto as aves se refestelavam com a boa comida... Para ele, péssimas
notícias. Seria considerado culpado e condenado a morte. Restavam-lhe apenas
três dias de vida. Dito e feito! Quando o carcereiro abriu a cela, trazendo
liberdade ao copeiro, José lhe fez um pedido esperançoso: - Quando estiver diante do Faraó, lembre-se de mim e interceda pela
minha causa...
O
copeiro do rei se tornaria uma peça fundamental no desfecho desta história, já
que passados dois anos, o faraó é quem foi assolado por um sonho pavoroso que
perturbou profundamente seus dias. Ninguém conseguia encontrar uma resposta
satisfatória para as indagações do monarca. Conselheiros mudos e sacerdotes
calados. Um silêncio sepulcral na sala do trono somente quebrado pelos
rompantes de fúria o rei: - Inúteis...
Todos vocês! Estou cercado de incompetentes! E enquanto o faraó tomava nas mãos uma taça de
vinho afim de refrescar as ideias, o copeiro que lhe servia, finalmente se
lembrou de José: - Perdoe-me, Majestade,
mas acho que conheço alguém que pode ajudá-lo nesta questão...
E
aqui temos um conjunto de fatores que provam o trabalhar meticuloso de Deus. O
esquecimento do copeiro foi providencial, pois em qualquer outra circunstância,
faraó não se interessaria pela história de um prisioneiro cananita. O nome de
José só foi trazido à tona quando todos os recursos intelectuais e religiosos do
reino já tinham sido usados a exaustão sem qualquer resultado produtivo. O
desespero do rei era tamanho, que naquele momento, qualquer fio de esperança
apresentado seria agarrado sem maiores contestações, incluindo a “possível”
sabedoria “mística” de um estrangeiro oriundo de Canaã, onde nada havia além de
pastos, pomares e rebanhos... E assim, um presidiário desconhecido acabou sendo
convidado para uma visita solene ao palácio. Acordou prisioneiro e foi dormir
governador. Almoçou pão mofado e jantou manjares. Parece impossível? Acredite,
não é! Deus minuciosamente vai alinhando pequenas possibilidades, sem pressa ou
improvisos, até que de repente o impossível deixa de existir. Como somos imediatistas
por natureza, só enxergamos portas já escancaradas e ouvimos apenas discursos
feitos no megafone. Não paramos para ouvir o sussurrar de Deus pedindo
paciência, pois já está trabalhando nos detalhes que não conseguimos
percebemos. Pequenas possibilidades também são imensas oportunidades, e
enquanto o Senhor faz o grandioso plano seguir em frente, devemos aproveitar as
frestas que se abrem, por menores que possam parecer.
Veja
José... Quando chegou no Egito não passava de mercadoria barata. Vendido com
escravo, foi levado como serviçal para a casa do poderoso Potifar. Trabalhou
com afinco. Esmerou-se nos afazeres diários e encantou seu dono com tamanha
competência. Tornou-se chefe dos empregados. Quando teve a chance de
envolver-se com a “madame” dona da mansão, recusou a oferta e foi injustamente
acusado por uma inexistente tentativa de estupro. A confiança que adquiriu
junto à Potifar salvou sua vida, já que um escravo estuprador seria
sumariamente executado... O general, porém, sabia que o moço era inocente, mas
visando a preservação da honra que restava na família, enviou seu melhor servo
para a prisão... E na cadeia, José foi um detento diferenciado, demostrando um
comportamento tão irrefutável e exemplar, ao ponto de tornar-se guardião das chaves
da própria cela. Não se importando com os cenários e contextos, ele fez a
diferença na vida das pessoas em volta, mesmo sem saber que num futuro ainda
distante, seria recompensado pelas suas ações. E esta é uma lição valiosa para
mim... Deus me leva a lugares que nem sempre vou gostar, mas preciso estar ali
para que as possibilidades se alinhem. E neste interim de tempo, entre o “não estou entendo Senhor” e o “eu já entendi meu Pai”, preciso “ser”
quem nasci para “ser”... Fazer o melhor... Salgar uma terra insípida... Brilhar
nas trevas... Promover paz em meio à guerra... Chorar com quem chora e sorrir
junto aos alegres... Assim, torno-me agradável... Benção para um ambiente
amaldiçoado... E estabeleço bons relacionamentos... Relacionamentos produtivos e
duradouros. Provavelmente, uma destas muitas pessoas que cruzaram a minha
história (não importando onde, como ou
quando) será usada por Deus para um dia, mudar a minha vida... A sua
vida.
Pense...
Que
chances haveriam de “José” e o “copeiro de faraó” se encontrarem nas plantações
de trigo da casa de Jacó? Então, Deus levou José ao Egito.
Qual
a possibilidade de um encontro amigável entre o “escravo da casa do general” e
o “copeiro real do grande faraó” na fila do banco central de Mênfis ou no
mercado municipal de Tinis? Assim, Deus os uniu num espaço confinado, onde
poderiam se conhecer, dialogar e gerar empatia... A cela de uma prisão.
Até
o destino final, nossa viagem será cheia de escalas indesejadas. Pois bem... Gostando
ou não, elas fazem parte da viagem. Estão no itinerário... Não no seu... Nem no
meu... No de Deus. E até agora o cronograma não atrasou. Existem encontros casuais
no hoje, que redefinirão sua vida no amanhã. Quer exemplos? Você se lembra do
hora e local que conheceu seu cônjuge? E o melhor amigo(a), quando se viram
pela primeira vez? Será que naquele momento aleatório da existência, você tinha
ideia que sua vida estava sendo redefinida e o futuro moldado? Não sabemos os
planos de Deus para o amanhã, e nem mesmo porquê algumas pessoas são inseridas
em nosso cotidiano... Mas, não fuja da responsabilidade de fazer o melhor.
Ajudar no que for possível. Ser gentil com desconhecidos e cooperar na
realização dos sonhos alheios. Um dia, as peças do quebra cabeça se encaixam, o
desconhecido ganha nome e o impossível acontece a partir de possibilidades que
você não desperdiçou. Nunca se esqueça que Deus não junta pessoas... Ele une
propósitos...
Tudo
começou com os sonhos de José e terminou nos sonhos do Faraó. A ponte que uniu histórias
tão distintas e que nunca se cruzariam, foi o sonho do copeiro. Tenho a
impressão que Deus se regozija com esta atividade. Juntar sonhos individuais (individualistas?) e realizá-los de
forma coletiva. O sonho de “um”, tornando-se realização para “todos”. E somente
nesta hora, quando finalmente chegamos ao destino, compreendemos os percalços
da viagem. E enquanto a mente retrocede, trilhando inversamente do último ao
primeiro passo, a verdade irrompe a escuridão das incertezas.... Tudo fez
absoluto sentido! Por outros caminhos, seria impossível ter chegado até aqui.
Não inteiro. Não maduro. Não fortalecido.... Por isto, estou tentando fazer da
confiança na sabedoria divina, o meu cinto de segurança enquanto o avião
atravessa esta sucessão infindável de turbulências, mesmo o céu estando de
brigadeiro bem aqui ao lado...
Muita
coisa que Deus faz, não consigo entender, só sei que é melhor quando deixo Ele
fazer... O que Ele faz agora, não consigo entender, e não me desespero, porque aprendi
a crer, que o futuro sempre explica, o que no passado fez, e o que faço é
confiar no que Deus faz, e fica tudo bem! ” (Leandro Borges)
Postagens relacionadas ao tema:
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
Retrato de Família
A beleza
é o acordo entre o conteúdo e a forma
(Henrik
Kipling)
Começo este texto com uma pergunta retórica formulada por Willian Shakespeare: - Ó beleza! Onde está a tua verdade? É difícil encontrar uma resposta definitiva para tão inquietante indagação, considerando que “gostos” são essencialmente particulares e a "moda" obrigatoriamente se revela passageira, mas, encontro um excelente indicativo na ponderação de David Hume, que resume perfeitamente toda a mensagem que transmitirei aqui: “A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla”. De antemão, peço desculpas por qualquer liberdade intimista tomada sem consentimento prévio, porém não posso me abster de uma abordagem muito pessoal nos próximos parágrafos. Se partilhar emoções e traumas alheios não for um problema para você, então, sente-se junto ao divã, e destranquemos a Caixa de Pandora.
Dias atrás, meu filho Nicolas me deixou bem preocupado, e um tanto
chateado. E não foi por nenhuma das inúmeras peraltices, tão comuns em sua
faixa etária. Longe disto... Por algum destes motivos que nunca são simples de
entender, ele parou em frente ao espelho, e analisando o reflexo projetado,
baixou os olhos em profunda decepção e melancolicamente externou uma errônea
constatação: -
Como eu sou feio! Eu sou muito feio! Confesso que ainda estou tentando
descobrir quais foram as vozes que sussurraram estas palavras maldosas, mas
tenho certeza absoluta que mentiram descaradamente. Há incoerências gritantes
nesta temerária análise, mesmo que o observador ainda não possa identificá-las.
O primeiro ponto de fragilidade deste argumento está no fato
pragmático que a leitura feita pelo Nicolas sobre sua aparência não condiz em
nada com a realidade. Meu filhotinho é absolutamente lindo. Cada
particularidade de seu rostinho faz dele único e especial. A pintinha próxima
ao olho direito... A cicatriz de catapora entre a bochecha rosada e o nariz de
batatinha... Os lábios carnudos e salientes herdados da mamãe... Os dentinhos
ainda se acomodando nos espaços vagos da gengiva... Simples assim... Cada
nuance da sua personalidade e os traços marcantes da fisionomia lhe asseguram
status de “exclusividade”, peça única esculpida a mão, onde até mesmo as
aparentes falhas são detalhes inseridos propositalmente pelo artista, que nunca
termina uma obra sem deixar no rodapé a assinatura característica. O que
chamados de “defeito”, “anormalidade” ou “aberração”, Deus considera poesia.
Acorde... Música... Soneto... A mais pura manifestação de arte...
Segundo ponto. O Nicolas é uma extensão de mim. Doei metade dos
genes. Por vezes, temos movimentos sincronizados e comportamentos idênticos,
incluindo (e
não se limitando) a mesma "teimosia teimosa" e o excesso de
argumentos para explicar questões simplistas. Mesmo que ele tenha sido
agraciado com muitos traços homogêneos e delicados da mamãe, me vejo claramente
refletido em meu filho. Logo, se o Nicolas enxerga-se feio, feio também devo me
sentir. Mas, com a graça de Deus, já passei desta fase! A beleza está além dos
parâmetros estabelecidos pela sociedade, que se especializou em inverter
valores. A beleza verdadeira e duradoura reside na essência, nunca na
aparência. O conteúdo tem que secundarizar a capa, jamais o contrário. Belo por
aquilo que sou, e não pelo que acham ou dizem de mim. Se a fachada não tem
designer arrojado, que o interior seja arejado, confortável e convidativo.
Estar bem. Sentir-se bem. Enxergar-se bonito, independente do julgamento feito pela
plateia mundana. Entender que o toque especial do Criador não se limita a olhos
azuis e covinha no queixo, revelando-se em cada pequena imperfeição exclusiva,
propositalmente deixada na composição da obra completa e perfeita.
É a beleza dos detalhes únicos e preciosos que torna cada
indivíduo incomparável e belo. Confesso, porém, que por muito tempo tive
dificuldades em aceitar estes “detalhes” especiais que Deus conferiu a mim.
Sempre fui o patinho feio da turma com meu nariz dessimétrico “embicado” para a
esquerda, e o lábio superior repuxado por uma cicatriz grosseira... E o que
dizer da minha arcada dentária fora de lugar, fazendo que caninos nascessem
quase no céu da boca, molares ocupassem posição central e no espaço deixado
livre, nada mais que um vazio constrangedor? Pois é... Nunca gostei de
espelhos, filmagens ou fotografias... Não encontrava motivações para perpetuar
momentos vergonhosos. Sempre me senti anormal, grotesco e repulsivo,
sentando-me sozinho á mesa, por receio de estragar a refeição alheia pela forma
como mastigava os alimentos. O último na fila de interesses das garotas... E
elas, tinha toda razão... Estive feio muito tempo, mesmo sendo essencialmente
belo. Hoje entendo que não preciso de “opiniões” condicionadas me dizendo o quanto
sou lindo. A Bíblia me assegura esta condição. E nem preciso de estudos
teológicos aprofundados para encontrar a verdade. Basta pegar o livro, passar
pela contracapa e ler alguns versos do primeiro capítulo... Vinte e seis
versículos, sendo mais preciso.
Permita-me, por favor, transcrever os acontecimentos narrados no
Gêneses da forma que os interpreto...
Após criar os céus e a terra, estabelecer limites para o mar e
pintar de verde as florestas, Deus decidiu criar um ser que fosse superior aos
animais que corriam nas campinas, aos pássaros que revoavam nos céus e aos
peixes que nadavam nos rios. Alguém que pudesse dominar sobre toda criação.
Deu-se, então, início ao projeto “HOMEM”. Ele seria feito de barro e receberia
sopro de vida pela boca do próprio Elohim. Composto de corpo, alma e espírito,
governaria sobre as feras do campo e cultivaria o suntuoso jardim. Um adorador
por excelência, munido de sabedoria, consciência e livre arbítrio. Mas, como
ele seria? Que aparência teria? Então, Deus (o Pai), olhou para seu filho
unigênito e propôs algo inusitado: - Que tal fazê-lo
parecido com a gente? Nossa imagem e semelhança?
Guarde este conceito. Imagem e semelhança do Deus que é Pai do
Cristo, com quem é um só. O homem foi criado como um protótipo físico do
Messias pré-encarnado (isto é ser "imagem"), recebendo em seu âmago
uma centelha reluzente soprada pelo próprio Criador. Um espírito que vem de
Deus, testifica com Deus e voltará para Deus, nos fazendo assim íntimos
de Deus na origem e na essência (isto é semelhança).
Quando o Nicolas sentiu-se feio diante do espelho, meu coração
apertou. Ele é minha imagem e semelhança, e para mim, perfeito em cada detalhe.
Uma extensão da minha existência. A continuidade da minha história. Pode
existir no meu universo particular uma beleza mais sublime? Foi exatamente por
isso que deixei minhas neuroses escoarem pelo ralo durante um banho no chuveiro
da graça. Deus também espelhou-me sua própria imagem, projetando cada detalhe
do meu rosto, todas as células do meu corpo, a totalidade dos fios de cabelo
que tenho na cabeça. Tudo precisamente calculado. Nem um desvio do projeto
original. O nariz não é bem delineado? Não era mesmo para ser... Ganho peso com
facilidade? Ok! Borá engordar... Os olhos são castanhos opacos sem destaque na
multidão? Que bom! Não foram projetados para serem verdes... Louve a sabedoria
do Criador, negando a tornar-se parecido com outras pessoas, pois foi Deus que
nos fez diferentes... E todos, igualmente, lindos!
Tempos atrás, estava ministrando louvor no templo, quando
começamos a entoar a canção “Lindo És”.
Deus me visitou naquela hora. Em espírito me transportei aos céus, e num
rompante de ousadia, me atrevi a vislumbrar a face do meu Cristo... “Lindo, lindo, lindo
és... Glórias, glórias, eu te dou... Jesus... Jesus”... E mesmo tendo uma
imaginação limitada, humana e natural, tive relances de uma beleza que não
tenho palavras para descrever... “Lindo, lindo, lindo
és... Glórias, glórias, eu te dou... Jesus... Jesus”... Comecei a chorar
emocionado, sentindo-me maravilhado por estar na presença de alguém tão belo... “Lindo, lindo, lindo
és... Glórias, glórias, eu te dou... Jesus... Jesus”... Nada neste mundo
ofusca a beleza desta glória! João viu o Cristo e caiu com o rosto em terra,
trêmulo de assombro e admiração... “Lindo, lindo, lindo
és... Glórias, glórias, eu te dou... Jesus... Jesus”... Estevão contemplou
o Filho de Deus enquanto era apedrejado, e o torpor desta visão o fez ignorar a
dor e a morte... “Lindo, lindo, lindo
és... Glórias, glórias, eu te dou... Jesus... Jesus”... Paulo olhou nos
olhos de Messias e se calou. Não tinha palavras para descrever tamanha
fascinação. Apenas redigiu uma nota simples... "Ele está além do sonhamos,
pensamos e acreditamos"... “Lindo, lindo, lindo
és... Glórias, glórias, eu te dou... Jesus... Jesus”... Os discípulos
privilegiados que testemunharam a transfiguração no Monte das Oliveiras
desejaram ficar para sempre ali, em contemplação. Uma casa para o glorioso
Senhor, e outra para os profetas. Para eles, apenas o relento. Valia mais
aquele único momento, que toda uma vida em outro lugar ... “Lindo, lindo, lindo
és... Glórias, glórias, eu te dou... Jesus... Jesus”....
Enquanto eu me embebecia com a beleza de Cristo, o texto de
Gêneses 1:26 foi abruptamente trazido a memória. Este mesmo Jesus, lindo, lindo
e cheio de glória, estava presente quando Deus pegou papel e nanquim para fazer
o primeiro esboço do projeto “MIQUÉIAS”. E antes do pincel tocar a tela, o Criador
olhou para seu filho, admirado com tamanha beleza e sacramentou: - Vou fazê-lo
parecido com você.... Nossa imagem e semelhança! E se tenho tanta
certeza que Deus é lindo, assim com lindo Cristo é, que lógica existe em
olhar-me no espelho e enxergar nada mais que o “feio”? Não sou imagem e
semelhança daquele que é a essência de toda beleza? Não sou um filho refletindo
a glória do meu Pai?
Quando digo que o Nicolas é lindo, não estou sob efeitos da
“síndrome de coruja”. Longe disto... Apenas constato a verdade, mesmo que o
mundo grite mentiras. Ele espelha quem eu sou, e eu espelho quem Deus é. Ambos,
pai e filho, criados a imagem e semelhança do Senhor, absolutamente perfeito em
tudo que criou. Quando Deus criou a luz, avaliou se o trabalho estava bom. O
mesmo procedimento se repetiu em cada estágio da criação. Acha mesmo que Elohim
afrouxaria o controle de qualidade justo na minha vez? Sem chances! Minhas
imperfeições ressaltam a perfeição divina trabalhando em mim... Nenhum motivo
de vergonha... Apenas propósito, testemunho e honra...
E no retrato da família, Cristo é de fato, o centro de toda
atenção. Não dá para competir com a beleza Dele. E nem é preciso, pois estamos
deveras satisfeitos com a fotografia. Afinal de contas, eu e o Nicolas também estamos
muito bem na foto. Assim como todo o restante da casa... Lindos...
Lindos... Lindos... Para que toda glória pertença ao Criador... O artista, o
molde e o conteúdo!
sexta-feira, 9 de novembro de 2018
O Mérito do Vazio
O melhor vaso para se encher é o vaso vazio.
(Paulo Sérgio Krajewski)
Terra, água, compostos orgânicos, alguns minérios
e nada mais... Não existe muita nobreza em quem sou... Apenas um vaso de barro
como outros bilhares em exposição nas prateleiras do mundo... Ausência total de
meritocracia. E mesmo assim, olhem no que me tornei... Receptáculo de uma
glória que excede o entendimento humano. Sou depósito de uma riqueza
inestimável que nem mesmo a junção das maiores fortunas existentes no planeta
poderia avalizar. E tudo o que fiz, foi aceitar de bom grado tamanho investimento.
Minha pequinês atraiu a grandeza de Deus.
O Todo Poderoso habita numa esfera de glórias
indescritíveis. Ele é o dono do ouro e da prata. Nos céus, elementos que
consideremos símbolos de status e poderio, não passam de calçamentos e rodapés
de muros. Deus nunca se mostrou interessado naquilo que possuo, pois todos os
meus bens são efêmeros e irrisórios. Absolutamente nada, diante daquele que
tudo tem. O Senhor está mais interessado em minhas carências. O que não tenho
chama a atenção de Deus. Desde sempre, o Espírito Santo paira sobre a terra,
procurando espaços vazios. A ausência atrai a presença. O Senhor não invade territórios ocupados. Ele
não esvazia recipientes para enche-los de forma arbitrária. É a carência
assumida que estende o tapete de boas-vindas para a provisão.
Temos falhado exatamente no esvaziamento. Estamos
sempre cheios de qualquer coisa, enquanto a essência de Deus é mantida do lado
de fora. E o erro tende a se agravar, quanto revestimos o barro em papel
celofane dourado. Ostentamos uma falsa realeza, esquecendo-se que somente os
pobres de espírito herdarão os céus.
Em sua segunda carta enviada a igreja em Corinto,
o apóstolo Paulo ensinou que Deus escolheu depositar seu mais precioso tesouro
em vasos de barro, para que a excelência do poder pertença somente a Ele, e não
aos homens (II Coríntios 4:7). Pela imensa graça do Pai das Luzes, eu que não passo de
água e pó, me tornei peça valiosa, cobiçada por demônios e protegida pelos
anjos, sem que nenhum mérito pessoal fosse detectado em mim... Apenas aceitei o
cheque assinado e o Senhor fez todo o investimento. A única qualidade que tinha
para oferecer, era exatamente estar vazio...
Deus não procura vasos de ouro ou cravejados de
diamante. Onde a glória humana busca ser exaltada, a glória divina jamais se
manifestará. O Senhor também não se interessa em vasos de grifes oriundos de
dinastias longínquas. O nome do “Eterno” jamais será secundário em qualquer
lista, por mais VIP que seja. Exatamente por isto, Deus tem preferência por
vasos ordinários, fabricados com argila ribeirinha e queimados nas fornalhas da
existência. Na verdade, mais que ocupar o vaso que se mantém vazio de
efemeridades, o Senhor é quem o fabrica. Quando o processo já está completo e me
olho no espelho, posso visualizar a glória de Deus transbordando em mim... E
isto é maravilhoso... Nada diz sobre meus talentos e tudo revela sobre a misericórdia
do Senhor... Tenho dois grandiosos
motivos para me orgulhar do vaso em que me tornei...
1-) Estar vazio aguardando ser cheio.
2-) As marcas que ganhei na olaria.
1-) Estar vazio aguardando ser cheio.
2-) As marcas que ganhei na olaria.
Lá estava eu, argila bruta esquecida nas margens
de um rio qualquer. Depósito de resíduos. Cafofo de parasitas. Dormitório de
sanguessugas. E não é que Deus me encontrou? E fez mais que isso.... Desceu até
o lamaçal por mim... Nunca fui a matéria prima mais adequada e o primor jamais
foi meu forte... Exatamente por isso, Ele me escolheu... Nunca houve busca por
perfeição. A característica que atraiu o escultor foi minha maleabilidade. Eu
poderia ser trabalhado. Moldado. Transformado... E Deus ama estas possibilidades.
Criar do nada... Fazer arte usando lodo e esgoto. Construir tabernáculos
imperfeitos para depois habitá-los com a glória perfeita... Que sorte tenho eu!
Existem tantas imperfeições na minha existência, que tornei-me um desafio para
o Senhor... E Ele não resistiu... Teve que descer dos céus, chafurdar-se na
lama e tomar-me para si... Justamente “eu”...
Barro sem valor.... Imperceptível nas margens do universo...
Deus, o arquiteto das galáxias, cujo projeto mais
ambicioso sempre foi construir lugares onde pudesse habitar... Os céus já não
eram o bastante e Ele escolheu morar entre os homens... Em casa de barro.
Alvenaria sem valor sendo preparada para hospedar a nobreza suprema... Eu sou o
barro... O vaso... A casa... Ele foi quem me construiu... Modelou... Na verdade,
ainda esculpe, modela e reforma... Todo dia... A cada hora...
O processo é bem artesanal. O barro recolhido nas
encostas do mundo é levado para o ateliê do oleiro, sendo depositado sobre a
maromba. Não sem antes ser limpo e refinado.... Ter as impurezas removidas até
só restar terra e umidade. É pouco... É preciso dar textura para a massa
ainda informe... Então, Deus amassa... Sova... Empurra... Puxa... Espreme... É
exatamente este processo repetitivo castigando o barro que lhe confere liga e
flexibilidade. Não é possível ser moldado antes de ganhar consistência...
Assim, Deus pesa a mão... Não tem outro jeito... É verdade que Ele poderia
apenas dizer “haja vaso”, e um vaso surgia do nada... Mas Deus não deixa um
trabalho deste tipo sem impressões digitais. Sua marca pessoal... Logo, esqueça
a pressa... Barro trabalhado as carreiras não resulta em objetos bem
esculpidos. Por muito tempo o oleiro observa sua matéria prima antes de
“literalmente” por a mão da massa. O silêncio contemplativo não é
inoperância... O Senhor tem predileção por trabalhar na quietude... Assim, não
existe interferência externa... O planejamento é seguido com esmero e o barro
marombado sem atropelos... Chegará o dia em trabalharemos para Deus enquanto
Deus trabalha por nós... Não é agora... Neste estágio, Deus está trabalhando em
nós enquanto somos trabalhados por Ele... A redundância intrínseca não agrada,
mas funciona... Na hora certa, chegaremos ao próximo nível...
Na mesa de modelagem, consistência é pré-requisito.
O toque é mais sutil, ainda que o trauma continue intenso. Ali, o barro toma
forma. Não o que deseja ser, e sim o designer pensado pelo oleiro. E enquanto é
moldado, o barro precisa ter umidade na medida certa. Seco demais, torna-se quebradiço,
impossibilitando a escultura... Molhado demais, acaba pastoso, inconsistente e impassível
de modelagem. Em ambos os casos, inevitavelmente, o vaso se desfará na mão do
oleiro...
Por isto Deus é rigoroso no controle da umidade. O
Senhor jamais permitirá que nossos olhos se sequem por completo. Lágrimas
umidificam o barro. Chorar me deixa maleável, suscetível ao toque daquele que
desenhou minha vida. E nada de birras, manhas ou mi-mi-mi... Choradeira sobejada
só prejudica o trabalhar de Deus.... Lágrimas produtivas nascem na sinceridade,
do reconhecimento das próprias misérias e limitações... E sempre que algum
excesso é identificado pelo oleiro, o processo de modelagem entra em stand-by,
e voltamos para a maromba. E lá vamos nós, aprender moderação com a dor e o
sofrimento.
Gosto muito do texto de Filipenses 1:6 – “ Aquele
que começou a boa obra, a aperfeiçoará até o dia do Senhor Jesus”. Esta
afirmação sempre me faz lembrar das promessas que ainda não se cumpriram, mas
certamente estão a caminho... Porém, preciso ter consciência que a mesma persistência
divina se aplica na modelagem do vaso... Deus não para no meio do processo e
abandona sua obra. Ele repetirá as etapas quantas vezes forem necessárias, até
que a casa esteja edificada e o vaso disponível para uso... De novo, de novo e
outra vez... Sovando o barro... Esculpindo a argila... Queimando o vaso no fogo
para lhe dar resistência...
E mesmo quando um vaso pronto (e hospedeiro de
tesouros inefáveis) apresenta trincas ou rachaduras, não há intenção de
descarte. Deus jamais abandona projetos. Um trabalho concluído ainda é obra
inacabada, sempre necessitando de melhorias. Enquanto houver imperfeição, existe trabalho a
se fazer. Somos mortais, corruptíveis e falhos... Deus vem, faz morada e inunda
de paz a casa... E mesmo assim, expelimos sua presença por entre as frestas da
parede. A glória se esvaindo lentamente, mesmo querendo ficar.... Assim, o
oleiro terá muito trabalho pela frente...É mais difícil modelar a partir de
objetos solidificados, estabelecidos e seguros de si. Pouco importa... Quem
disse que Deus gosta de facilidades ou se apressa para obter resultados insatisfatórios?
E lá vai Ele... Por amor (e com amor) o oleiro
quebra o vaso rachado até que sobrem apenas cacos... Os pedaços são triturados
até restar somente pó... E enquanto as lágrimas umidificam a terra, Deus vai
marombando lentamente o barro, visualizando o vaso, caixa forte de tesouros...
Um começo após cada final... História que jamais seria protagonizada por um
punhado de barro esquecido, mas que Deus fez questão de presentear-me o papel principal...
Que eu seja moldado a imagem do oleiro, até que em mim não reste qualquer outra
marca que não seja as impressões digitais do meu Deus!
Um vaso de barro não briga com quem o fez. O barro
não pergunta ao oleiro: “O que é que você está fazendo?”, nem diz: “Você não
sabe trabalhar.” E um filho não se atreve a dizer aos seus pais: “Por que vocês
fizeram com que eu viesse ao mundo?” O Senhor, o Santo Deus de Israel, o seu
Criador, diz: Por acaso, vocês vão exigir que eu explique como cuido dos meus
filhos? Vocês querem me ensinar a fazer as coisas? (Isaías 45:9-11)
terça-feira, 30 de outubro de 2018
Eu já fiz o universo tremer!
A oração é o encontro da sede de Deus e da sede do
homem.
(Agostinho)
Confesso
que sinto mais "necessidade de orar", do que "oro" de
verdade. Estou sempre com vontade, porém, na maioria das vezes, indisposto.
Como Max Lucado definiu em seu livro “Antes de dizer Amém”, posso me
declarar “um banana da oração em recuperação”. Admiro pessoas
próximas a mim que passam horas ajoelhadas falando com Deus, e quando se
levantam, continuam em comunhão dialogando mentalmente com o Pai, já que para elas, encerrar o ciclo
devocional é doloroso demais... Eu, por outro lado, estou sempre olhando o
relógio, contanto os minutos para que o tempo pré-determinado (por mim mesmo) se encerre logo,
e finalmente possa voltar para os afazeres triviais... Também não estou dizendo
que nego-me a períodos de oração. Falo com Deus de forma íntima e sou visitado
pelo seu Espírito constantemente... A inspiração para qualquer texto passa
primeiro por experiências profundas com o sobrenatural... Entretanto,
reconheço, é pouco... Muito pouco... Poderia ser mais... Deveria ser muito
mais... O que tenho feito não passa de gotas, e existe um oceano a ser
desbravado.... E nesta jornada (tão obrigatória quanto prazerosa) a
oração é o navio, a bússola e o farol...
Ninguém ora em excesso. Na verdade, estamos mais perto da reserva, que de atingir os limites do tanque cheio. Tratamos a oração como uma necessidade diária, comparada a idas ao banheiro, ingestão de líquidos e refeições regulares. Não é... A oração está para a vida cristã, na mesma proporção que o ar para o organismo humano. Se faltar, mesmo que por um curto período, coloca em cheque toda existência... Como alguém muito sábio ponderou, "orar não deve ser a última solução, e sim, a primeira atitude". Jamais deve correr o risco da falta. Posso até não saber orar como convém, mas preciso saber que me convêm orar em todo tempo... Sem a oração, o crente se torna uma lembrança esquecida, uma lágrima perdida no meio da tempestade, cinzas de um holocausto nuclear. A falta da intimidade com Deus é um passaporte para a escuridão eterna, pois se não desejamos estar próximos ao Senhor nestes breves anos terrenos, é paradoxal desejar estar ao seu lado por toda a eternidade. Assim, é preciso entender a oração como um “teste” que demonstra a intenção de nossos corações para com Deus, e um “exercício espiritual”, que nos mantém preparados para uma maratona eterna de louvor e adoração. E esta constância não é fácil, porém necessária...
Ninguém ora em excesso. Na verdade, estamos mais perto da reserva, que de atingir os limites do tanque cheio. Tratamos a oração como uma necessidade diária, comparada a idas ao banheiro, ingestão de líquidos e refeições regulares. Não é... A oração está para a vida cristã, na mesma proporção que o ar para o organismo humano. Se faltar, mesmo que por um curto período, coloca em cheque toda existência... Como alguém muito sábio ponderou, "orar não deve ser a última solução, e sim, a primeira atitude". Jamais deve correr o risco da falta. Posso até não saber orar como convém, mas preciso saber que me convêm orar em todo tempo... Sem a oração, o crente se torna uma lembrança esquecida, uma lágrima perdida no meio da tempestade, cinzas de um holocausto nuclear. A falta da intimidade com Deus é um passaporte para a escuridão eterna, pois se não desejamos estar próximos ao Senhor nestes breves anos terrenos, é paradoxal desejar estar ao seu lado por toda a eternidade. Assim, é preciso entender a oração como um “teste” que demonstra a intenção de nossos corações para com Deus, e um “exercício espiritual”, que nos mantém preparados para uma maratona eterna de louvor e adoração. E esta constância não é fácil, porém necessária...
Podemos dizer que a prática diária da oração exige abnegação, sacrifícios e renúncias, sendo por vezes uma rotina cansativa e até pesarosa. Martin Lutero descrevia a oração como sendo o “suor da alma”. Porém, uma vida dedicada a oração se torna prazerosa, pois nada pode trazer mais paz e felicidade ao coração humano do que desfrutar de intimidade com Deus. A rotina da oração pode sim ser pesarosa, já que traz em seu bojo a questão da sobrevivência. É preciso orar para “não” morrer no sentido espiritual. Porém, o tempo e a persistência vão deixando esta prática cada vez mais agradável. O homem que faz da sua oração um hino de louvor, passa a orar não por uma necessidade mesquinha, mas, sim, porque deseja estar perto de seu Deus, conversar com seu melhor amigo, desabafar e ser aconselhado por seu Pai. Quando a verdadeira essência da oração é compreendida, nenhum dia será completo sem a comunhão irrestrita com os céus. Neste ponto, a oração se torna uma atividade tão prazerosa, que já não é mais possível deixar de praticá-la. Quando o evangelista inglês Smith Wigglesworth, famoso por realizar obras portentosas em nome de Jesus, foi questionado sobre sua vida de oração, prontamente respondeu: - "Eu nunca oro mais do que cinco minutos, e eu nunca fico mais do que dez minutos sem orar".
Segundo
os relatos de pessoas que acompanharam o ministério de Wigglesworth, este homem
era dotado de tamanha comunhão com Deus, que sua oração foi capaz de
ressuscitar mortos. Como isto é possível? Gosto imaginar que cada prece sincera
tem o mesmo poder de uma bomba atômica, que lança ao
lar pétalas de rosas e perfume... Aromatiza a alma, perfuma
o espírito e aquieta o coração... Ao mesmo tempo, tem a capacidade de
"pulverizar" impérios e principados... Tiago 5:16 é categórico
em afirmar que a oração de um justo pode muito em seus efeitos. Ela é poderosa
e eficaz... E como Max Lucado bem definiu, "o poder da oração não está
naquele que faz, e sim em quem escuta".
A
oração é o único elemento produzido na Terra que consegue a proeza de
atravessar por entre as potestades e legiões celestiais, e literalmente, rasgar
os céus. E ali, onde reina pureza e perfeição, as orações realizadas pelos
Servos de Deus, são recebidas com júbilo e alegria, pois tem a capacidade
incompreendida de perfumar o próprio paraíso. João testemunhou em loco esta
realidade, e a descreveu em suas revelações:
-
E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos
prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos (Apocalipse 5:8).
Um
pouco mais a frente, João se aproxima do Trono do próprio Deus, e avista diante
dele um altar de ouro. Então um anjo imponente se apresenta, tendo em suas mãos
um incensário de ouro. Em seu interior uma grande quantidade de incenso, que
será usado para manter a chama do altar acessa. Para que tal “combustão”
aconteça, primeiro é necessário agregar um novo componente a esta
mistura:
-
E foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos
sobre o altar de ouro, que está diante do trono. E a fumaça do incenso subiu
com as orações dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus (Apocalipse
8:3-4).
Que linda revelação. São as nossas orações que mantem acessa a chama do altar que está diante do Trono de Deus. Pode haver privilégio maior? Nenhuma arma fere Deus. Nenhuma tecnologia consegue alcançá-lo. Nenhum exército pode confrontá-lo. Mesmo assim, a mais singela oração feita aqui na terra, tem o poder de fazê-lo se levantar de seu Trono, para simplesmente, sentir o cheiro suave que emana de uma prece. E o que acontece depois é absolutamente poderoso. A imensidão celeste é tomada por fogo, trovões, relâmpagos e terremotos (Apocalipse 8:5). A oração que implode o inferno, também estremece os céus...
Se
não bastasse tamanho poder, a oração ainda tem a capacidade ímpar de comover o
coração de Deus em "nosso" favor, fazendo-o mover suas mãos em
"nosso" auxilio, bradando dos céus em "nosso" socorro. Deus
ouve todas as nossas orações, já que seus ouvidos nunca se fecham ao
"nosso clamor" (Isaías 51:1). E o Senhor responde a cada uma delas: -
Porque todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que
bate, a porta se abre” (Mateus 7:8). E como é agradável a
promessa de termos nossas orações atendidas, seja com "sim" ou
"não". Pai e Filho se olhando nos olhos e enxergando a alma um do
outro... Poder e ternura. Um joelho que toca o o solo, provoca frisson na
eternidade... Explosão de Glória e Amor...
Continuo
sendo um "banana da oração em recuperação", mas posso seguramente
dizer, que cada vez que me disponho a orar com sinceridade de alma e
entrega de coração, faço o universo inteiro tremer! E acredite... No céu,
terremotos sempre serão motivos de festa, jubilo e celebração...
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
A Língua Incendiária
(William Shakespeare)
Dizem os antigos que por muito falar,
acaba-se dando bom dia a cavalos. E de fato, na sabedoria brejeira existe
grande verdade. No excesso das palavras reside uma multidão de erros.... Alguns imperceptíveis
e rapidamente esquecidos, outros crassos e calamitosos, que nem mesmo com o passar dos anos, é possível esquecer... Quem muito
fala, pouco escuta e quase nunca aprende. Assim, continua errando, falando cada vez mais
e chafurdando-se num lamaçal de boçalidades. Reflexão, introspecção e silêncio precavido
sempre pavimentaram o caminho da sabedoria. Não é sem motivos que Tiago foi categórico
ao afirmar em sua epístola: - Que todo homem esteja apto a ouvir e seja tardio
no falar... Deus nos deu uma clara evidência quando projetou o corpo humano e
incluiu no pacote “dois” ouvidos e apenas “uma” boca... A proporção não deixa dúvidas...
Se a capacidade para ouvir não for o dobro da necessidade de falar, alguma
coisa está terrivelmente errada na equação (Tiago 1:15).
E quando se refere a "ouvir", Tiago não fala
da capacidade auditiva que transforma a vibração do ar em sons.... Isto, a
maioria de nós faz... E muito bem.... Ouvimos até o que não deveria ser ouvido....
Na verdade, por vezes nossa audição capta palavras que sequer foram ditas ou
toma como verdade, mentiras que o vento espalhou a esmo... A capacidade humana
de assimilar vozes corrompidas e notas pervertidas sempre foi apuradíssima. Frases
descartáveis e discursos contagiosos entram pelos ouvidos em debalde e
toneladas... Grande parte deste material é alocado para o subconsciente, de
onde influencia efetivamente nas tomadas de decisões, e uma outra generosa quantia
escorrega até os recônditos do coração, onde o solo é tão fértil, que até mesmo
nacos de fezes se transformam em sementes produtivas... Sabe-se lá exatamente “do
que”...
Tiago na verdade, faz alusão a escolha consciente e criteriosa dos motes que irão pautar os debates acalorados nos saguões da alma. Por estes corredores enevoados, a Exma. Srª Carne (presidente vitalícia do comitê para conselhos temporais e externos) e Exmo. Srº Espírito (relator do conselho de ética para assuntos internos e eternos), dialogam anos a fio sobre os temas mais relevantes da existência, obviamente considerando o código legislativo da consciência humana, em constante revisão. Membros de ambos os partidos (liderados por Srª Carne e Srº Espírito) podem opinar, inquirir e até mesmo promover mudanças constitucionais, desde que o argumento apresentado seja convincente, e pelo menos uma das bancadas aprove por unanimidade. Geralmente, alguém pertencente ao outro lado, é sumariamente contrário a nova emenda, mas acaba aceitando a vontade da maioria... Lei é lei, e não deve ser questionada... Regra válida apenas para a legislação que o homem lavra em suas entranhas, com base em critérios hedonistas (e falíveis) sobre o certo e o errado.
No corpo humano existe uma grande biblioteca chamada MENTE, na qual a Srª Carne e Srº Espírito realizam pesquisas diárias. Toda a informação que tramita na alma, obrigatoriamente passa por esta jurisdição, onde é analisada e filtrada, seguindo para descarte ou arquivamento. A Biblioteca não gera conteúdo próprio, mas recebe diariamente um número incontáveis de malotes que entram por duas grandes portas chamadas “OUVIDOS”, além de possuir um sistema complexo de monitoramento externo por onde são obtidas imagens (em tempo real) do mundo exterior. Este sistema eficiente de vigilância recebe o nome de OLHOS. Todo material considerado “útil” é enviado ao CORAÇÃO, onde numa pré-sala, argumentos partidários são debatidos e avalizados, seja em agendas “internistas” ou “exterdistas”. Só entra no Coração, ou autos aprovados conforme as regras supracitadas... A partir daí, uma “tese” vira “lei” e a "opinião" se torna "fato". Sempre que a legislação da alma sofre emendas, ou algum julgamento convocado pelo CORAÇÃO é concluído, existe um departamento que torna pública a decisão, reportando para outras “bibliotecas” as resoluções da alma: A BOCA. Repartição fundamental para o corpo, a Boca é responsável pela "entradas" de suprimentos e "saída" de valores. Por vezes, em casos extremos, divide com outro departamento (localizado mais ao sul), o descarte de dejetos... O porta voz da Boca, imponente e afiado, é ninguém menos que o Ilmo. Srº Língua, sempre cercado por sua guarda uniformizada num branco amarelado. E aí está o perigo... Srº Língua exerce grande influência sobre toda a instituição. É temido e admirado até mesmo pelos figurações da casa. Logo, "A Boca" tem priori sobre as demais instâncias, já que é a ligação direta da instituição privada com o mundo externo. Logo, precisa estar sempre em evidência, municiada de informações e pronta para os holofotes.
Quem fala demais, não permite tempo hábil para a análise de informações. Afim de manter A BOCA funcionando, a MENTE da Alma contorna o regimento estabelecido pela ALMA, e despacha sem maiores analises todo o conteúdo que recebe via "ouvidos e olhos". Tudo passa a ser creditado incorretamente, e mesmo o mais inverídico malote, é identificado com o selo da verdade. As cargas são enviadas as pressas para o CORAÇÃO, e arquivadas sem qualquer debate democrático. Pilhas de Pastas... Documentos de inveracidades, enganos, mentiras, engôdos, falsificações e leviandades, abarrotando as estantes e prateleiras... Leis fictícias escritas num quadro negro com giz úmido e esfarelado... E a cada novo requerimento do Srº Língua, A Boca fala sobre aquilo que o coração está cheio.
Metáforas a parte, o coração humano é alimentado por fast-food. Mal sabemos a procedência e comemos sem moderação. Muitas caixas que trazem “Deus” no rótulo são enlatados a base de ego humano... E esfomeados, engolimos esta gororoba sem ao menos mastigar... Sucos que se dizem “feitos com a polpa do fruto espiritual”, são apenas líquidos inodoros aromatizados artificialmente por interesses melindrosos. Mesmo assim, tomados em goladas generosas, o que impedem a percepção do verdadeiro sabor... Em pouco tempo, coração e estômago estão empanturrados de tanta porcaria, que a única opção é vomitar imundícias... Exatamente por isto, Jesus disse que a contaminação mais perniciosa não está no que entra pela “boca” (o alimento), mas sim naquilo que dela sai... Palavras cozidas em dejetos borbulhantes nas caldeiras do coração.
Tiago na verdade, faz alusão a escolha consciente e criteriosa dos motes que irão pautar os debates acalorados nos saguões da alma. Por estes corredores enevoados, a Exma. Srª Carne (presidente vitalícia do comitê para conselhos temporais e externos) e Exmo. Srº Espírito (relator do conselho de ética para assuntos internos e eternos), dialogam anos a fio sobre os temas mais relevantes da existência, obviamente considerando o código legislativo da consciência humana, em constante revisão. Membros de ambos os partidos (liderados por Srª Carne e Srº Espírito) podem opinar, inquirir e até mesmo promover mudanças constitucionais, desde que o argumento apresentado seja convincente, e pelo menos uma das bancadas aprove por unanimidade. Geralmente, alguém pertencente ao outro lado, é sumariamente contrário a nova emenda, mas acaba aceitando a vontade da maioria... Lei é lei, e não deve ser questionada... Regra válida apenas para a legislação que o homem lavra em suas entranhas, com base em critérios hedonistas (e falíveis) sobre o certo e o errado.
No corpo humano existe uma grande biblioteca chamada MENTE, na qual a Srª Carne e Srº Espírito realizam pesquisas diárias. Toda a informação que tramita na alma, obrigatoriamente passa por esta jurisdição, onde é analisada e filtrada, seguindo para descarte ou arquivamento. A Biblioteca não gera conteúdo próprio, mas recebe diariamente um número incontáveis de malotes que entram por duas grandes portas chamadas “OUVIDOS”, além de possuir um sistema complexo de monitoramento externo por onde são obtidas imagens (em tempo real) do mundo exterior. Este sistema eficiente de vigilância recebe o nome de OLHOS. Todo material considerado “útil” é enviado ao CORAÇÃO, onde numa pré-sala, argumentos partidários são debatidos e avalizados, seja em agendas “internistas” ou “exterdistas”. Só entra no Coração, ou autos aprovados conforme as regras supracitadas... A partir daí, uma “tese” vira “lei” e a "opinião" se torna "fato". Sempre que a legislação da alma sofre emendas, ou algum julgamento convocado pelo CORAÇÃO é concluído, existe um departamento que torna pública a decisão, reportando para outras “bibliotecas” as resoluções da alma: A BOCA. Repartição fundamental para o corpo, a Boca é responsável pela "entradas" de suprimentos e "saída" de valores. Por vezes, em casos extremos, divide com outro departamento (localizado mais ao sul), o descarte de dejetos... O porta voz da Boca, imponente e afiado, é ninguém menos que o Ilmo. Srº Língua, sempre cercado por sua guarda uniformizada num branco amarelado. E aí está o perigo... Srº Língua exerce grande influência sobre toda a instituição. É temido e admirado até mesmo pelos figurações da casa. Logo, "A Boca" tem priori sobre as demais instâncias, já que é a ligação direta da instituição privada com o mundo externo. Logo, precisa estar sempre em evidência, municiada de informações e pronta para os holofotes.
Quem fala demais, não permite tempo hábil para a análise de informações. Afim de manter A BOCA funcionando, a MENTE da Alma contorna o regimento estabelecido pela ALMA, e despacha sem maiores analises todo o conteúdo que recebe via "ouvidos e olhos". Tudo passa a ser creditado incorretamente, e mesmo o mais inverídico malote, é identificado com o selo da verdade. As cargas são enviadas as pressas para o CORAÇÃO, e arquivadas sem qualquer debate democrático. Pilhas de Pastas... Documentos de inveracidades, enganos, mentiras, engôdos, falsificações e leviandades, abarrotando as estantes e prateleiras... Leis fictícias escritas num quadro negro com giz úmido e esfarelado... E a cada novo requerimento do Srº Língua, A Boca fala sobre aquilo que o coração está cheio.
Metáforas a parte, o coração humano é alimentado por fast-food. Mal sabemos a procedência e comemos sem moderação. Muitas caixas que trazem “Deus” no rótulo são enlatados a base de ego humano... E esfomeados, engolimos esta gororoba sem ao menos mastigar... Sucos que se dizem “feitos com a polpa do fruto espiritual”, são apenas líquidos inodoros aromatizados artificialmente por interesses melindrosos. Mesmo assim, tomados em goladas generosas, o que impedem a percepção do verdadeiro sabor... Em pouco tempo, coração e estômago estão empanturrados de tanta porcaria, que a única opção é vomitar imundícias... Exatamente por isto, Jesus disse que a contaminação mais perniciosa não está no que entra pela “boca” (o alimento), mas sim naquilo que dela sai... Palavras cozidas em dejetos borbulhantes nas caldeiras do coração.
É preciso ouvir com mais atenção.... Deixar
que a grande biblioteca da alma faça seu trabalho. Filtrar as informações,
retendo o que é bom e jogando na latrina toda palavra perniciosa. Quem escuta
pacientemente antes de emitir opinião, não queima etapas. Permite que a verdade
se revele naturalmente, sem tirar conclusões precipitadas sobre pessoas,
lugares e situações. Não espalha boatos e nem perjúrios, e com isso se protege
contra retaliações. Afinal de contas, calúnia, difamação e injúria, além de
pecado contra o próximo, também é crime contra a honra, tipificados nos artigos
138, 139 e 140 do código penal. Existem sanções previstas na lei do homem e na
legislação dos céus.... Assim, quem fala demais, realmente corre o risco de dar
bom dia a cavalos, podendo o equino ser parte da polícia montada ou, quem sabe, uma das montarias descritas em Apocalipse 6.
Palavras são espadas de dois gumes. Podem abençoar ou amaldiçoar... Pregamos o evangelho... Murmuramos contra Deus.... Cantamos ao Senhor... Contamos Piadas.... Oramos por algumas pessoas.... Caluniamos outras... Dá para entender? A origem desta dubiedade está exatamente na captação de informações que sustentam os argumentos. Se dermos maior atenção as palavras do Senhor e menos crédito as vozes do mundo, o Srº Espírito terá maior respaldo para aprovar pautas espirituais.... Porém, se voltarmos os ouvidos para o auto-falante de Satanás, com suas lorotas, prevaricações e mentiras, sempre semeando caos, contenta e discórdia, então a Srª Carne transformará a alma num antro de iniquidades avalizadas. E independente de quem fala mais alto no interior do coração, é o Srº Língua quem compartilhará este conteúdo com as pessoas. E como avaliar a qualidade? Fácil... Imagine que ao final do dia, suas palavras lhe sejam servidas numa bandeja de prata.... Terás coragem de comer? Seu organismo seria alimentado ou envenenado pelas frases que saem de tua boca? E aqui vale lembrar que até mesmo comida boa, quando consumida em excesso pode causar mal-estar, e por vezes, óbito. Tiago foi categórico ao afirmar que, mesmo um religioso exemplar, quando não refreia a língua, torna nula sua devoção (Tiago 1:26).
Palavras são espadas de dois gumes. Podem abençoar ou amaldiçoar... Pregamos o evangelho... Murmuramos contra Deus.... Cantamos ao Senhor... Contamos Piadas.... Oramos por algumas pessoas.... Caluniamos outras... Dá para entender? A origem desta dubiedade está exatamente na captação de informações que sustentam os argumentos. Se dermos maior atenção as palavras do Senhor e menos crédito as vozes do mundo, o Srº Espírito terá maior respaldo para aprovar pautas espirituais.... Porém, se voltarmos os ouvidos para o auto-falante de Satanás, com suas lorotas, prevaricações e mentiras, sempre semeando caos, contenta e discórdia, então a Srª Carne transformará a alma num antro de iniquidades avalizadas. E independente de quem fala mais alto no interior do coração, é o Srº Língua quem compartilhará este conteúdo com as pessoas. E como avaliar a qualidade? Fácil... Imagine que ao final do dia, suas palavras lhe sejam servidas numa bandeja de prata.... Terás coragem de comer? Seu organismo seria alimentado ou envenenado pelas frases que saem de tua boca? E aqui vale lembrar que até mesmo comida boa, quando consumida em excesso pode causar mal-estar, e por vezes, óbito. Tiago foi categórico ao afirmar que, mesmo um religioso exemplar, quando não refreia a língua, torna nula sua devoção (Tiago 1:26).
Aliás,
o escritor da epístola de Tiago se preocupava bastante com este tema. Mais à
frente, ele compara a língua ao leme de um navio, que mesmo sendo uma pequena
parte da embarcação, controla a direção de todos que estão a bordo. E de forma
ainda mais incisiva, equipara a língua humana com uma fogueira na floresta.
Pode parecer inofensiva, mas o potencial para estragos é incalculável. Uma língua
irrequieta está sempre encharcada de veneno, e quando pela falta de controle
entra em combustão, contamina o corpo e incendeia o curso da vida....
Literalmente, provoca o inferno na terra (Tiago 3:4-7).
A Língua... Com ela bendizemos o Senhor, nosso Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede a bênção e a maldição. Não convém, meus irmãos, que seja assim. Porventura lança uma fonte por uma mesma bica água doce e água amargosa? Acaso, meus irmãos, pode a figueira dar azeitonas ou a videira dar figos? Do mesmo modo a fonte de água salobra não pode dar água doce. Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre com um bom proceder as suas obras repassadas de doçura e de sabedoria. Mas, se tendes no coração um ciúme amargo e gosto pelas contendas, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade (Tiago 3:9-14).
A Língua... Com ela bendizemos o Senhor, nosso Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede a bênção e a maldição. Não convém, meus irmãos, que seja assim. Porventura lança uma fonte por uma mesma bica água doce e água amargosa? Acaso, meus irmãos, pode a figueira dar azeitonas ou a videira dar figos? Do mesmo modo a fonte de água salobra não pode dar água doce. Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre com um bom proceder as suas obras repassadas de doçura e de sabedoria. Mas, se tendes no coração um ciúme amargo e gosto pelas contendas, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade (Tiago 3:9-14).
Há séculos conta-se a história de um
rico mercador grego que tinha um escravo chamado Esopo, do qual se diz que era
corcunda e feio, mas de uma grande sabedoria. Certa vez, para provar as
qualidades de seu escravo, o mercador lhe deu algumas moedas, ordenando que fosse ao mercado a fim de comprar o melhor ingrediente para um banquete. E
ressaltou: - Hoje quero comer o que há de
melhor no mundo! Pouco tempo depois, Esopo voltou do mercado e colocou
sobre a mesa um prato coberto por fino pano de linho. O mercador levantou o
paninho e ficou surpreso com a escolha do criado:
– Língua? Ah! Eu
adoro língua! Nada como a boa língua que somente os gregos sabem tão bem
preparar. Mas por que escolheste exatamente a língua como a melhor comida do
mundo?
O escravo explicou sua
escolha:
– O que há de melhor do
que a língua, senhor? A língua é que nos une a todos, quando falamos. Sem a
língua não poderíamos nos entender. A língua é a chave das ciências, o órgão da
verdade e da razão. Graças à língua é que se constroem as cidades, graças à
língua podemos dizer o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura,
do amor, da compreensão. É a língua que torna eterno os versos dos grandes
poetas, as ideias dos grandes escritores, a filosofia dos nossos filósofos. Com a
língua se ensina, se persuade, se instrui, se ora, se explica, se canta, se
descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua dizemos “mãe”,
“querida” e “Deus”. Com a língua dizemos “sim”. Com a língua dizemos “eu te
amo”! O que pode haver de melhor do que a língua, senhor?
O mercador concordou
plenamente com a escolha do escravo. Uma semana depois, chamou Esopo outra vez,
lhe deu a mesma quantia de moedas e propôs um novo desafio. Ir ao mercado, e
desta vez trazer para o jantar, o que havia de pior para se comer... De ervas
amargas a insetos nojentos... Não importava... Quanto pior fosse, melhor
seria... Em pouco tempo Esopo voltou do
mercado trazendo um prato coberto por um pano. O mercador recebeu-o com um
sorriso... Estava curioso... Descobriu o prato, e indignado esbravejou:
– O quê? Língua? Língua outra vez? Não disseste que a língua era o que havia de melhor, Esopo? Que brincadeira é esta?
– O quê? Língua? Língua outra vez? Não disseste que a língua era o que havia de melhor, Esopo? Que brincadeira é esta?
E Esopo, sabiamente,
respondeu:
– A língua, senhor, é o
que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os
processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade,
que divide os povos. É a língua que usam os maus políticos quando querem nos
enganar com suas falsas promessas. É a língua que usam os vigaristas quando
querem trapacear. A língua é o órgão da mentira, da discórdia, dos
desentendimentos, das guerras, da exploração. É a língua que mente, que
esconde, que engana, que explora, que blasfema, que insulta, que se acovarda,
que mendiga, que xinga, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que
seduz, que corrompe. Com a língua dizemos “morre”, “canalha” e “demônio”. Com a
língua dizemos “não”. Com a língua dizemos “eu te odeio”! Sim, senhor... Completou
Esopo: - A língua é a pior e a melhor de todas as coisas!
Srº Língua... Persona piromaníaca de grande influência, que faz da Boca seu altar. E as mensagens que prega percorrem um
longo caminho antes de virar esboço. Passam pelo concílio da alma, verificadas a exaustão por Srª Carne e Srº Espírito. O que agrada a um, desagrada
o outro, e a disputa parece nunca ter fim... Mas, ao final, alguém acaba sempre cedendo. Se a pauta for favorável ao Srº Espírito, seus colegas de bancada
(Amor, Paciência, Bondade, Fidelidade, Mansidão, Domínio Próprio, Verdade,
Pureza, Esperança e Fé) farão exames minuciosos em cada parágrafo, permitindo
que a lei gravada no coração seja pura, agradável e eficaz... Porém, se não
refrearmos o fluxo de informações, ouvindo atentamente cada palavra, retendo o
que é bom e eliminando o que é mal, Srª Carne será absoluta na casa, validando os preceitos perniciosos que contaminarão toda a alma... Enquanto isso, o Srº Língua estará em chamas, destilando veneno por todos os lados, sem perceber que desta maneira, gera contra si, provas irrefutáveis que a promotoria divina certamente usará no julgamento das obras...
Então...
Então...
Evite transtornos... Hoje e sempre... Ouça mais... Fale menos...
Pense mais... Discurse menos... Como alguém sabiamente já aconselhou, “sejamos senhores da nossa língua para não
sermos escravos das nossas palavras”. Pesquise mais...
Compartilhe menos... Delete mais... Reencaminhe menos... Como Andson de Souza
ponderou, “o homem sábio cria novas tecnologias e as novas tecnologias criam
homens estúpidos”. O controle absoluto sobre os discursos mais importantes que
faremos na vida concentra-se nos ouvidos, não na língua. A palavra lançada, não
volta... A sentença proferida é irrefreável... A boca do homem é como o cano de
um revólver, cujo tambor localiza-se no coração... A sabedoria nos permite
carregá-lo com as munições corretas (respeito, verdade, afabilidade, ternura,
evangelho... silêncio), já que uma vez disparado o gatilho, não há como voltar atrás. Caso o projetil tenha propriedades mortais, um assassinato já foi moralmente executado... E diante de Deus, ações e intenções tem peso, valor e consequências equivalentes... E pode ter certeza... Ainda hoje, vários disparos serão efetuados...
Quem acender as fornalhas do inferno com a própria língua, não terá tempo hábil para fugir das chamas...
Quem acender as fornalhas do inferno com a própria língua, não terá tempo hábil para fugir das chamas...
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