O que te torna
incapaz de ser feliz são as dúvidas. Se vai dar certo?
Bom, só irá saber
quando o “se” deixar de existir.
(Beatriz Borges)
As histórias
de José e Moisés, são ao mesmo tempo, paradoxal no desenvolvimento e
semelhantes nos propósitos. Enquanto José ascendeu da escravidão ao governo,
Moisés parece fazer exatamente o caminho contrário, deixando para traz o legado
dos faraós e assumindo a causa de um povo escravizado.
Entretanto,
quando visualizadas numa única perspectiva, estas histórias paralelas revelam
um grandioso projeto divino, minucioso em seus detalhes.
José ainda
era um adolescente de 17 anos quando foi vendido por seus irmãos, e chegou ao
Egito junto a caravana de mercadores ismaelitas. Negociado como escravo, logo
se tornou o mais exemplar serviçal da casa de um militar egípcio chamado
Potifar, que o promoveu a mordomo. Porém, a esposa de Potifar, via qualidades
em José que iam muito além de seu primoroso serviço, e tentou, sem sucesso,
seduzir o jovem hebreu. Frustrada pela negativa de José, aquela mulher lhe
acusou de assédio e tentativa de estupro. Assim, vitimado por esta enorme
injustiça, José é conduzido a prisão, onde passará os próximos anos de sua
vida.
No cárcere,
José tem a oportunidade de conhecer dois funcionários do palácio de faraó,
suspeitos por intentar contra a vida do rei. Através da interpretação dos
sonhos de seus companheiros de cela, José revela que o padeiro será condenado a
morte e o copeiro será libertado e retornará aos seus afazeres. Em três dias, a
previsão se realiza piamente.
Os anos
seguintes foram arrastados, porém, mesmo numa situação adversa, José
impressionava a todos por sua postura e nobreza, tanto que foi promovido a
“auxiliar” de carcereiro.
Alguns anos
depois, quando o poderoso faraó se viu às voltas com um sonho perturbador e
indecifrável, que lhe tirava completamente a paz, o seu copeiro se lembrou do
companheiro de cela visionário. Então, José é retirado da prisão e conduzido a
presença do monarca. Ali, o jovem hebreu (já na casa dos 30 anos), não apenas
revela o significado do sonho real (sete anos de fartura seguidos por sete anos
de fome e escassez), como também apresenta o plano perfeito para evitar um
desastre nacional. Sem pensar duas vezes, faraó ascende José ao cargo de “governador”,
o que em nossa república equivaleria a um amálgama de “Ministro da Fazenda” com
“Vice-Presidente”.
Agora, o
antes escravo e prisioneiro, é o segundo em comando no poderoso Egito.
Quando seus
irmãos se apresentam a fim de comprar alimentos, José enfrenta uma intensa
batalha contra seus próprios sentimentos. Depois de uma série de provas
impostas, ele perdoa seus irmãos, e pede que Jacó seja trazido para o Egito.
Gênesis
46:27 revela que 70 hebreus chegaram ao Egito, onde foram regiamente recebidos,
e acomodados na terra de Gosén, afim de apascentar em calmaria os seus
rebanhos. José sabia que o Egito não era a terra que Deus prometera a seu
bisavô Abraão, tanto que fez jurar os seus descendentes, que quando retornassem
para casa, seus ossos deveriam ser levados dali (Êxodo 13:19).
Em
determinado momento da história egípcia, a elite religiosa e administrativa da
nação, entrou em rota de colisão com o faraó, e para enfraquecer seu domínio,
facilitou a entrada de estrangeiros no país. Foi neste contexto que os Hicsos,
povo em constante desenvolvimento, viu a oportunidade de “invadir” o Egito e
ocupar suas férteis planícies.
Esta
ocupação foi até certo ponto pacífica, mas, o desgaste inevitável veio com o
tempo, e o Egito se viu esfacelado em culturas distintas por quase 150 anos.
Para recuperar a hegemonia, os egípcios precisaram enfrentar duas grandes
batalhas contra os hicsos. Foi apenas entre os anos de 1570-1546 a.C, que o
Egito foi unificado e os invasores hicsos (semitas como os hebreus), foram
expulsos sob o comando de Amósis. Segundo alguns historiadores,
este teria sido o Faraó que não “conhecia” a José.
Aqui, o
termo “conhecer” remete ao fato de que este governante não tinha qualquer
empatia por José e seus descendentes, vendo-os como um “inimigo íntimo”, que
poderia sim, virar uma nova “pedra em sua sandália”.
Amósis
inicia então, uma pesada campanha publicitária afim de convencer a opinião
pública da nocividade representada pela presença dos hebreus:
- O
qual disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais
poderoso do que nós. Eia, usemos de sabedoria para com eles, para que não se
multipliquem, e aconteça que, vindo guerra, eles também se ajuntem com os
nossos inimigos, e pelejem contra nós, e subam da terra (Êxodo 1:9-10).
A estratégia
funcionou, e com o apoio popular, o Faraó passou para a próxima fase de seu
plano, isolando os israelitas em sua terra e elevando drasticamente os impostos
cobrados, o que obrigou aos hebreus a trabalharem exaustivamente afim de pagar
seus tributos. O texto original usa a palavra “bepharech”, que remete a ideia
de “trabalho forçado, capaz de quebrar o corpo”
- E
puseram sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com suas cargas
(Êxodo 1:11).
Mesmo com
tamanha opressão, o povo de Israel continuava a crescer e multiplicar,
tornando-se mais forte a cada dia. A linhagem dos faraós, temerosa que uma
nova “invasão estrangeira” minasse seu poder, passou a tomar medidas cada
vez mais drásticas. Entre elas, ordenou para as parteiras que atendiam as
gestantes hebreias, que assassinassem os meninos hebreus recém-nascidos, ordem
esta, que não foi obedecida.
Alguns
estudiosos (entre eles Flavio Josefo), acreditam que existia um tipo de
“profecia” oriunda dos magos egípcios, sobre um menino que nasceria e
desafiaria o poder do Faraó. Mas, que este guerreiro, teria na água o seu ponto
fraco.
Isto
justificaria a próxima ação arbitrária e cruel do Faraó, que baixou um terrível
decreto sobre toda a terra do Egito:
- Então
ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem
lançareis no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida. (Êxodo 1:22).
É exatamente
neste tempo de densas trevas, que nasce Moisés, um libertador para seu povo.
A história
de Moisés revela um engendrado plano traçado antes mesmo de seu nascimento, que
culmina com o retorno de Israel para a Terra Prometida. Porém, quando
analisamos alguns detalhes bem específicos, podemos, de fato, constatar como
nosso Deus é minucioso em seus propósitos. O nome Moisés, provavelmente tem sua
origem na palavra egípcia “Mes”, que significa “filho ou criança”, mas quando
pronunciado na língua hebraica, ele tem a fonética alterada para “Mosheh”, que
pode ser interpretado como “tirado”. Neste caso, tirado das águas.
Mais que
apenas um nome, a nomenclatura “Moisés” é uma síntese perfeita do projeto
divino. Quando Joquebede decide construir uma cesta de junco, para colocar seu
filho de três meses dentro dela, e depois depositá-la no Rio Nilo, certamente
nem fazia ideia que era direcionada pelo próprio Deus. O Nilo é até os dias de
hoje considerado “sagrado” dentro da cultura egípcia, e esta veneração pelo rio
era ainda mais extremada no tempo dos faraós.
Quando a
princesa do Egito se banhava no Nilo, avistou a pequena cesta que flutuava pela
correnteza, e ordenou que suas damas a buscassem. Ali dentro estava um menino
hebreu sentenciado a morte, porém, ela se recusou a matá-lo, afinal, aquele era
um presente do “Nilo”, enviado pelos próprios deuses. Nem mesmo a casa real se opôs
a criação da criança, pois não ousava questionar suas divindades. Ou seja, Deus
usou a crença pagã da família real, para salvar a vida de Moisés e colocá-lo no
palácio, afim de criar o vínculo familiar necessário, para que anos mais tarde,
ele tivesse acesso irrestrito ao dialogar com o Faraó.
Outro fato
interessante, é que enquanto a cestinha boiava no rio, Miriam, a irmã de Moisés
a acompanhava veladamente. Quando percebeu que a princesa se vislumbrará com a
criança, se aproximou e disse conhecer uma excelente ama de leite, já que o
menino precisaria ser alimentado. A filha de Faraó imediatamente ficou
interessada na proposta, pois conhecia a fama das hebreias. Quando as parteiras
se negaram a matar os meninos hebreus, alegaram ao Faraó que as mulheres de
Israel davam à luz com muita facilidade e sem precisar de amparo médico.
Assim,
dentro do palácio, correu a notícia que as mães hebreias eram mui prendadas e
exímias parideiras. Miriam indicou Joquebede para cuidar do menino, e a
princesa imediatamente aceitou, pois o curriculum materno de uma hebreia a
gabaritava para amamentar um príncipe do Egito.
Certamente
Joquebede aproveitou cada minuto ao lado de seu filho para ensina-lo acerca de
seu Deus e de seu povo, semeando em seu coração a devoção ao “GRANDE EU SOU”,
que se revelaria anos depois.
Como um dia
disse o seu antepassado José – “Deus transformou o mal em bem"
(Gênesis 50:20).
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