Viva como se você fosse morrer amanhã.
(Isidoro de Sevilha)
A
vida é um exercício de sobrevivência. Matar um leão por dia, enfrentando todo o
bando vez ou outra. Nas horas vagas, passamos mais tempo cuidando dos
ferimentos da guerra, que nos preparando para o próximo conflito. Assim, mesmo
antevendo as batalhas futuras, somos sempre surpreendidos com a intensidade de
cada uma delas. Viver, com certeza, não é uma aventura para os fracos. Nem
poderia ser.
Então, meu amigo, qual seu nível de força? Ainda tem disposição para encarar a vida de frente apesar dos olhares ameaçadores que recebe de volta?
Então, meu amigo, qual seu nível de força? Ainda tem disposição para encarar a vida de frente apesar dos olhares ameaçadores que recebe de volta?
Um
dos meus versículos bíblicos favoritos é Eclesiastes 4:2-3. Talvez seja uma das
ponderações mais pessimistas registradas nas escrituras, mas reflete com
perfeição o ápice da crise existencialista. Salomão já observava o mundo por
olhos cansados, e sob esta óptica, só conseguia enxergar a escuridão da alma
humana. Homens cruéis e opressores levando vantagem sobre o próximo, disseminando
maldade pela terra. O poder estava nas mãos dos maus, e não havia consolo e
conforto para o justo. Ninguém ousava militar pela causa dos oprimidos. A
conclusão do sábio pregador é um banho de água fria para os otimistas de
plantão:
- Felizes são os mortos!
Pois é melhor morrer do que estar vivo. Ainda mais feliz é aquele que nunca
nasceu, e jamais viu as iniquidades que se praticam neste mundo!
Forte,
não é? Exatamente o mesmo discurso que tanto vomitamos em tempos de crise.
Pedimos pela morte. Questionamos à Deus por “recolher” nossos entes queridos e
nos deixar para trás. Velórios são frequentados por pessoas que preferiam estar
no lugar do defunto. Pelo menos, na teoria.... Afinal, apenas os vivos costumam
reclamar da vida...
- Eu não pedi para nascer!
Se
você nunca disse esta frase, certamente conhece alguém que a proferiu. Mesmo
não sendo a verdade. Indistintamente, todo ser humano desejou muito passar
pelas portas da vida. Lutou por este direito. Milhares de espermatozoides
ficaram pelo caminho, enquanto apenas “um” deles continuou superando todos os
obstáculos da jornada, até finalmente fecundar o óvulo e dar origem a um novo
indivíduo, com suas próprias particularidades e percepções. Só está vivo quem
se esforçou muito para nascer, e portanto, “viver” não é uma recompensa a ser
menosprezada. Por mais desagradável que esteja sendo a sua vida, você já é um
vencedor por estar vivendo-a. Logo, não seja perdulário. Aproveite-a com sabedoria.
Se não der para “viver com folga”, engula o choro, caminhe para frente, olhe
para cima e insista em sobreviver!
No
aclamado filme “Náufrago”, o personagem Chuck Noland (brilhantemente interpretado por Tom Hanks), após sofrer um
acidente aéreo, se vê isolado numa ilha deserta, longe da civilização e
afastado das pessoas que amava. Anos depois, quando já era oficialmente
considerado morto até mesmo pela esposa, ele retorna para casa após ser resgato
com vida no meio do oceano. Questionado sobre como conseguiu manter a sanidade
durante os anos de sua provação, deu uma resposta “poética” que pode muito bem
ser usada para descrever a “veracidade” da própria existência humana:
- Todos os dias eu só
pensava em sobreviver, até que o mar me trouxesse uma vela...
Quem
disse que viver é fácil? Nossos dias são abarrotados de preocupações, cobranças
e ansiedades. Trabalhamos horas a fio por salários que raramente nos asseguram
alguma possibilidade de descanso. Somos sobretaxados ao nascer, e ao morrer,
geramos novas dívidas para aqueles que deixamos enlutados. Desilusões amorosas.
Frustrações Acadêmicas. Decepções religiosas. A vida é um bate-estaca imparável
que nos empurra cada vez mais para baixo, até literalmente estarmos à sete palmos
do chão. Certa vez, alguém muito perspicaz descreveu a “vida” como “uma encomenda que a parteira envia para o
coveiro”. Não poderia haver melhor metáfora.
Nosso
tempo é ínfimo, não passando de um pixel num minúsculo ponto incrustado na
eternidade. Entre milhares de galáxias que compõem o cosmo, temos alguma relevância?
Qual o real impacto da ausência de um único indivíduo no planeta? A vida é
transitória, efêmera e sazonal; mesmo assim, não deixa de ser valiosíssima. Um bem único, pessoal e intransferível, que
nos leva a extremos para preservá-la, ainda que no “caminhemos” maldizendo a
própria existência. Dias atrás, durante uma ministração, perguntei ao quórum presente quantos deles desejavam ver Jesus face a face. Todos levantaram suas mãos. Então
acrescentei: - Quem deseja ter este
encontro ainda hoje? No puro reflexo, praticamente todas as mãos foram
abaixadas. É verdade que queremos morar no céu... Mas, para que ter pressa?
A
vida é difícil? Sim. Complicada? Muito. Mas, gostamos de estar vivos (esta é verdade), mesmo que a existência
nos traga dor. Portadores de câncer se submetem ao desagradabilíssimo
tratamento com quimioterapia porque desejam viver. Pessoas com atrofia nos rins
passam pelo doloroso processo da hemodiálise porque almejam prolongar sua vida.
A minha existência pode não ter qualquer relevância cósmica, mas para mim,
significa absolutamente tudo. Assim como tem imenso valor para Deus. É durante
o pouco espaço de tempo entre a “maternidade” e o “cemitério” que tenho a
possibilidade de sonhar e realizar, amar e ser amado, honrar meus pais e educar
meus filhos. E o mais importante é que durante a minha existência terrena, construo
as edificações da eternidade. Calibro a distância que manterei de Deus quando todas
as coisas encontrarem seu fim. Onde estarei na “não existência”, depende
daquilo que faço enquanto eu “existir”.
Em
resumo, viver é maravilhoso, mesmo que seja necessário sobreviver a própria
vida. Suportar dias infindáveis de tristeza por raros momentos de alegria. Mas,
tudo bem. Se fossemos felizes o tempo inteiro, a felicidade não seria medíocre,
insossa e banalizada? Então, como saberíamos de fato o que é ser feliz? Só sabe
a beatitude de uma cura, quem enfrentou a doença. Só entende o sorriso de um
sol nascente, aquele que vivenciou uma intensa noite de choro. Apenas alguém
que nada teve, consegue ser grato pelo pouco que tem. Quando o bafo gélido da
morte nos sopra o cangote arrepiando a espinha, compreendemos o valor da vida,
e passamos a apreciar cada nuance deste “presente maravilhoso” que tanto nos
faz sofrer. Irônico? Paradoxal? Simplesmente, humano...
Somos
competitivos, paramentados e comparativos. Gostamos de avaliar posições,
elaborar conclusões precipitadas e rotular pessoas. Então, o Senhor, em sua
infinita sabedoria usa todos estes fatores em nosso amadurecimento pessoal. O
amor nos chama para Deus, mas é a dor que nos atrai. Se os freios do carro falham,
por quem chamamos? Se o laudo médico é positivo, para quem recorremos? Puxe
pela memória quais foram as suas experiências mais intensas com Deus. Tenho
certeza que envolvem lágrimas, orações quebrantadas e coração ferido. Só
descobrimos o real valor das coisas quando as perdemos, e por vezes, somos
levados a vivenciar percas terríveis, apenas para nos lembrar do que realmente
importa.
Dias
atrás estava conversando com meu amigo Ronaldo Campos sobre as "reboots" que a
vida nos impõem. Recomeços não planejados, sem recursos ou garantias. E como estas
transições são assustadoras. Tudo é muito difícil e o próximo passo pode te catapultar
para o fundo de um abismo sem fim. Então, em certo ponto da conversa, deixei de
lado o discurso vitimistas e cravei com confiança: - Apesar dos pesares, a vitória será grande! E ele, com muita sabedoria, ponderou: - Não existe grande vitória depois de uma
luta pequena. A vitória será grandiosa sim, mas se prepare porque a batalha
terá o mesmo tamanho!
Perfeito.
Almejamos grandes conquistas, então, o empenho tem que ser grandioso. Para que
grandes decisões sejam tomadas, renúncias grandiosas precisam ser feitas. Certa
vez ouvi uma frase que dizia: - “Sei que Deus
reserva as maiores batalhas para os seus melhores soldados, mas acredito que
Ele esteja me confundindo com o Rambo!” Confesso que por vezes também tenho esta sensação. Olho a minha volta e me vejo cercado por campos minados e aranhas
voadoras. Logo penso: - Deus! Desta vez
eu não vou aguentar! É demais para mim! E
não é que no fim, eu acabo sobrevivendo! Ferido, sangrando e esbaforido. Porém,
vivo. Grato pela vida. Honrado por ter sido escolhido para enfrentar tamanha
batalha em nome de Deus. Com a sensação de dever cumprido, em saber que através
de mim, pessoas puderam testemunhar o poderio do meu Redentor.
Sobrevivi.
E neste processo, me aproximei de Deus. Compreendi com exatidão que as
prioridades estabelecidas por mim não me levam a lugar algum se a vontade do
Senhor não for soberana no meu viver. Parafraseando a cantora Sara Farias, posso
dizer que ganhei enquanto perdia, subi enquanto descia, cresci enquanto diminuía,
apareci enquanto desaparecia e na minha fraqueza, o poder de Deus se
aperfeiçoou.
Que
lindo isso. Lembra do “Chuck Noland” sobrevivendo todos os dias na ilha deserta
na expectativa que o mar lhe trouxesse uma embarcação? Pois é. Temos mais
sorte. Nossa ilha é Deus. Nosso mar é Deus. Nosso barco de volta para casa é
Deus. Nossa vida é Dele e é por Ele que sobrevivemos todos os dias. Levados aos
extremos para ultrapassarmos os limites estabelecidos diante do espelho. Superando
as expectativas da sociedade através de transformações miraculosos. A glória de
Deus se refletindo em nós. Sorrisos brilhantes em meio a lágrimas. Palavras de
conforto ministradas por um coração em pedaços. O amor sendo compartilhado por
aqueles que sentiram na pele a dor da rejeição.
Quer
um conselho? Nunca permita que a frustração por sonhos não realizados lhe
impeça de ajudar que outros realizem seus sonhos. O projeto pessoal fracassou?
Invista nos projetos de alguém. Não deixe de acreditar no potencial existente
em teu ministério, mas se realize no sucesso das pessoas a sua volta. Seja
menos egoísta. Frustre-se menos. Não murmure das tuas lutas. Lembre-se que ninguém
é ovacionado por se recuperar da gripe, mas sempre iremos admirar alguém
que venceu o câncer. E ao longo da vida, você estará em lados opostos desta
corda. Travará batalhas secretas que edificará apenas tua vida. Lutará em
guerras públicas que edificará a vida de todo o exército. Nenhuma delas é
aleatória ou desnecessária. Cada combate será colossal. Grandes vitórias sucedem embates grandiosos.
Então, lute! Se esforce! Não desista! Viva a vida! Sobreviva as tragédias!
Fique de pé! A perseverança não é uma
longa corrida. Ela é muitas corridas
curtas, uma depois da outra. (Walter
Elliott)
Pensa
na vida como um pugilista profissional. Peso Pesado. Campeão Absoluto. Você é
apenas uma pessoa comum, desprovida de treinamento e porte físico, que sem
maiores explicações se candidatou à subir ao ringue para enfrentá-lo. E desde
que o gongo soou para o primeiro round, tudo o que você fez foi apanhar.
Gancho. Jab. Cruzado. Uppercut. Um alvo em sua testa, e o oponente soma cem por
cento de aproveitamento. Os anos se passaram, e até agora nenhum de seus golpes
encaixou-se com perfeição. Mas, não se engane com sangue no rosto e os
hematomas no corpo. Você não é um fracasso, um erro de divino ou um aborto
pretérito. Você é um Campeão de Deus, que apesar de levar tantos golpes, é
forte o suficiente para ainda está de pé, sem beijar a lona, enquanto outros espadaúdos
já foram nocauteados com muita facilidade.
Continue
firme. Sobreviva. Faça valer a vida. Use a dor como uma ponte para Deus. Samuel Johnson certa vez disse que "os grandes
feitos são conseguidos não pela força, mas pela perseverança". Logo,
persevere em Deus. Ele é quem nos fortalece. Dele procedem as saídas da vida. O
Senhor é teu amparo e teu guia. Desde do tempo em que o “escolhido” não passava
de um “bichinho” (Isaías 41:14). E mesmo que tenha
se esquecido, no quesito “sobreviver a jornada” e "viver uma história co propósito eternal" você já tem muita experiência!
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