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quarta-feira, 30 de maio de 2018

De quem é a culpa?

Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil.
(Mário de Andrade)


Brasil! O gigante que acreditávamos ter acordado, mas que na verdade, só estava tendo uma crise de sonambulismo. Um país indiferente as mazelas vividas, que faz piada das próprias desgraças e se acomodou a ser surrado por um sistema tributário escravizador. Pouco importa! Temos cinco copas do mundo e lideramos as estatísticas sobre produção de “memes” para redes sociais. Desde que o "WhatsApp" esteja em pleno funcionamento, todo o restante estará bem. 

Que pena! 

Tanto potencial desperdiçado! 

Poderíamos ser a maior potencial econômica do planeta, mas, desde o início fomos “pilhados” pelos colonizadores europeus. Deveríamos ser uma potência espiritual, porém, estamos sendo saqueados por uma horda de mercenários da fé. E de novo, tudo bem! Já estamos acostumados a aceitar pacificamente qualquer forma de exploração. É reconfortante terceirizar a culpa e sentir-se vitimizado pelos poderosos. Este tipo de sentimento valida a omissão diante das lutas sociais e regulamenta a “Lei de Gerson": - Sempre que possível, levar vantagem em tudo!

Como bem dizem por aí, o melhor do Brasil é o brasileiro. E o pior também...

Enquanto os caminhoneiros ocupavam estradas reivindicando a redução no preço do óleo diesel, grande parte da população se sujeitava as filas quilométricas nos postos de gasolina, pagando valores cada vez mais arbitrários para ter o “tanque cheio”. Farinha pouca, meu pirão primeiro! Mesmo que eu tenha que vender o pirão, para comprar a farinha. O resultado disto tudo? Quem explora o petróleo está cada vez mais rico e o cidadão ainda mais pobre. O governo arrecadando impostos as custas do indivíduo, enquanto este mesmo indivíduo fica no Facebook postando frases de ordem contra o presidente. Adianta alguma coisa? Desde que os impostos estejam em dia, os políticos de Brasília não se importam nem um pouco com a sua “insignificante” vida digital. Sabe o que realmente faz um governo se mexer? O povo nas ruas. O grito popular. Mas, infelizmente, a temperatura caiu e é mais cômodo reclamar dos políticos ao lado da esposa tomando chocolate quente embaixo do edredom. No máximo, vociferar indignação com o motorista do carro da frente na imensa fila de automóveis que serão abastecidos com combustível aditivado a base de H2O, mesmo tendo preço de vinho francês. As vozes que mais se elevam neste país são as dos "polêmicos anônimos". Sem rosto. Sem credibilidade. 

Sou da tese que o “povo” sempre terá o governo que fizer por merecer. A própria Constituição Brasileira de 1988, em seu primeiro artigo, determina que “o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente. É difícil de entender que somos nós quem elegemos os corruptos que inflam os “palacetes” da nação e se esbaldam com o dinheiro público?

Quem votou neles?  

Eu. 
Você. 
O povo. 

A escolha foi nossa. 

E qual critérios usamos? 

Grande parte da população escolhe seu candidato com base em algum benefício que possa ter, seja pessoal, corporativo, assistencialista ou até mesmo religioso. Não são poucos os que votam no candidato indicado por uma denominação eclesiástica, sem ao menos conhecer o indivíduo, ou ouvir suas propostas. E o discurso ensaiado é sempre o mesmo: - Quando o justo governa o povo se alegra, e quando o ímpio domina o povo geme. Vamos com calma, aí...  A Bíblia não é uma coletânea de frases de efeito. Ela precisa ser vivida. Contextualizada com as ações de quem a verbaliza. Agora, faça as contas. Quantos homens “justos” governam este país?

Com este mantra retirado de Provérbios 29:2, líderes religiosos manobram massas para delegar “poder” a verdadeiros bandidos que se escondem atrás da Bíblia. Gente preocupada em defender apenas os próprios interesses, empregando esforços para “viabilizar” recursos para a instituição “X” ou livrar a “barra” dos grandes evangelistas “televisivos” que os apadrinharam. Sempre que um líder cristão der a cara para bater na defesa de algum governante, desconfie da generosidade. Tem caroço no angu. O brasileiro já está bem grandinho para ainda acreditar no discurso espiritualizado desta corja de “homens justos” que retiram seu lucro da iniquidade.

Sabe o que mais favorece a corrupção na esfera política? O poder do voto. Deputados, senadores e vereadores precisam ser convencidos a votar em projetos de lei. Nem sempre o argumento é convincente pois na maioria das vezes, o próprio projeto é pernicioso. Então, nada melhor que um “agradinho” para faze-los mudar de ideia. Propinoduto. Mensalão. Dinheiro público descendo pelo ralo para favorecer os membros da panelinha milionária. E para “garantir” que ele também coma uma bela fatia deste “bolo”, o político em questão, simplesmente vota contra a própria ideologia. Ignora os interesses do povo que o elegeu. Se corrompe. 

E como ficamos indignados com isso! 
Como pode um político se vender tão facilmente?

- O político se vende com facilidade?

Que nada! Eles barganham. Negociam. Fecham contratos milionários. São mimados com carros importados e maletas repletas de dinheiro. Quem se vende fácil é o eleitor. Cota de Gás. Cesta Básica. Caixinha de remédio. Carona para o hospital.  Promessa de emprego. Garantias de casa própria. - Aceita R$ 50,00? – Se me pagar R$ 100,00, consigo mais cinco votos na família! É demais pedir para que o cidadão faço um rápido exercício de consciência?  Se um político se propõem a comprar seu voto, fica evidente que enxerga a política como um mercado financeiro. Jogo de barganha. Investimento, geração de receita e lucro. Hoje ele compra seu voto, amanhã irá vender o dele. E enquanto o gás por você recebido acaba em poucos dias, o político vai tirar dinheiro do seu bolso por vários anos. 

E tem mais lógica envolvida. 

Se o candidato oferece garantias que irá te contemplar com uma casa própria num sistema onde as moradias são distribuídas através de sorteios, está dizendo com todas as letras: - Minha gestão será marcada por cambalachos, irregularidades e barganhas políticas. E mesmo assim, eles são eleitos!!!!! Somos cegos, mudos ou simplesmente, burros?

Políticos corruptos se elegem através de um eleitorado corrompido. Conseguimos “alguma” vantagem sobre eles no ano eleitoral, e depois ficamos indignados que eles levem vantagens sobre nós pelos “longos” anos de mandato. O brasileiro gosta muito de um perfuminho mequetrefe chamado hipocrisia.

Em países mais “conscientizados”, um político teme que algum erro de sua vida pessoal seja exposto ao público, porque isto acabaria com sua carreira política. Se o cidadão "trai a mulher" ou é "pego dirigindo embriagado", não serve mais para representar a população. Simples assim. No Brasil, dezenas de parlamentares, mesmo atrelados a corrupção, continuam se reelegendo com o nosso voto. Clamamos para que os corruptos sejam julgados, mas, lhes presentemos a cada quatro anos com um “salvo-conduto” chamado reeleição, cujo laço vermelho na caixa de presente é o famigerado “foro privilegiado”. E quando achamos que não dá para piorar, somos surpreendido com “pesquisas” apontando que um dos poucos corruptos condenados (exatamente por ter perdido o "foro"), mesmo de dentro da cela, lidera a corrida presidencial. Nada faz sentido neste país.

A  culpa é do governo? Sim. 
Quem elegeu o governo? Nós!

O poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente. Então, a culpa também é nossa. E não me venha com esta historinha de “golpe”, pois todo mundo sabe muito bem como as coisas funcionam por aqui. O mesmo voto que elege um presidente também elege seu vice. Aliás, em menos de três décadas escolhendo nossos presidentes, já vivenciamos dois impeachments. É muito erro para tão pouco tempo. Já está na hora de aprender, começando por uma reeducação cultural. Um povo ético, íntegro e moralmente inabalável, consequentemente  terá sobre si um governo justo.

Mas estamos longe disto. Como bem disse Jô Soares, no Brasil, se o feriado é religioso, até ateu comemora.

Em 2011, quando a costa leste do Japão foi atingida por um tsunami que matou mais de quinze mil pessoas, os japoneses passaram a comprar apenas os itens necessário para o consumo pessoal, afim de que os recursos fossem distribuídos igualitariamente entre a população atingida. Alguns anos antes, em agosto de 2005, o estado americano da Florida foi atingido pelo furacão Katrina. Para ajudar as famílias vitimadas pelos ventos, os comerciantes passaram a vender bens essenciais como comida, roupa e água a preço de custo. Recentemente, em novembro de 2015, enquanto Paris era assolada por uma série de atentados terroristas, os taxistas franceses realizavam corridas gratuitas, para que os compatriotas chegassem em segurança nas suas casas. Você consegue imaginar atos de cidadania coletivos no Brasil? Veja o exemplo da tragédia de Mariana. Enquanto parte da população se mobilizava no envio de ajuda humanitária aos moradores atingidos pelos rompimento da barragem, outros se empenhavam em desviar as doações. Quer outro exemplo? Um mais familiar?  Vá até um posto de gasolina. No momento onde todos deveriam repartir, quem pode mais, chora menos. Paga-se o que for preciso por alguns litros de um "etanol" capaz de apagar incêndio. Se um seguimento da sociedade toma a iniciativa de lutar por direitos cívicos, os outros cruzam os braços. Ou pior. Lucram! O que fizemos diante da paralisação dos caminhoneiros? Aumentamos o preço de tudo, exploramos o desespero do próximo e aceitamos pacificamente qualquer imposição arbitrária.

A culpa é do governo? Sim. 
Os governantes estão no poder para gerir com equilíbrio os recursos do país. 

Fazem isto? Não! 

Reclamamos? Mais ou menos. 

E em outubro, o que faremos? 

A menos que uma catarse de consciência decaia sobre os brasileiros, provavelmente, iremos reeleger os mesmos políticos para mais quatro anos de descaso e exploração. O colunista Gilberto Dimenstein, certa vez explicou o Brasil da seguinte maneira: - Uma nação de espertos que reunidos formam uma multidão de idiotas.

Triste. Mas não deixa de fazer sentido... Parafraseando Mario Covas, por aqui, quem tem ética parece anormal...

Quer um governo justo. Comece praticando a justiça em seu dia a dia. Deseja se livrar de políticos corruptos? Não se corrompa durante as eleições.  E não adianta ficar apenas na oração pela pátria, recitando II Crônicas 7:14. Joelhos dobrados é só o primeiro passo. Deus não orienta que o povo comece a clamar por socorro em períodos de crise. Ele conclama "a" um “povo” que invoca “seu nome” em todo tempo, para uma mudança de comportamento. Se o "povo" que se "auto-intitula" “Povo de Deus” realmente passar a agir como Deus deseja, então a mudança virá sobre a terra.

- E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra

O poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente. Deus pede para que “seu povo” tenha um coração quebrantado, desejo ardente pela presença divina e facilidade em reconhecer os próprios erros. Um povo que assim procede, será governado por homens realmente justos, e consequentemente terá motivos para sorrir. É preciso deixar de ser “gigante pela própria natureza” e se tornar pequeno debaixo das grandiosas mãos de Deus. Posicionamento cívico em conformidade com a legislação celeste e oração contristada em todo tempo, são ferramentas que podemos usar para consertar o Brasil, que no momento se encontra despedaçado em partes totalmente desiguais.

Difícil mesmo é atender estes pré-requisitos numa terra onde qualquer um é dono da verdade, e todos se negam a girar um grau da posição de conforto que já foi estabelecida. Sem renúncia. Sem empatia.  Sem humilhação. Sem arrependimentos. Sem cura. E isso inclui o “povo” que se chama pelo “nome de Deus”, que por estar tão focado nos próprios interesses e cego pelas ambições, ao invés de ser um antídoto contra esta doença que se alastra pela nação, tem se juntado as fileiras das bactérias infecciosas que corroem o Brasil de dentro para fora e de fora para dentro. O Brasil precisa explorar com urgência a sua riqueza, porque a pobreza não aguenta mais ser explorada (Max Nunes). 

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