Quando
abro a porta de uma nova descoberta já encontro Deus lá dentro.
(Albert
Einstein)
Às vezes me ponho a pensar
em minha própria inutilidade. No que poderia ter sido, e naquilo que de fato me
tornei. Sem maiores contextualizações, lá estou repetindo o poeta francês Paul
Claudel: - Será que o objetivo da vida é
viver? E esta introspecção é uma atividade pesarosa, pois geralmente me
coloca em rota de colisão com as resoluções de “ano novo” que o tempo encobriu
sob as areias da frustração. Nada saiu como o planejado.
- Nasci para ser martelo, e a acabei me tornando prego!
Mas, então, me vejo as
voltas com indagações mais relevantes. - E
se na verdade, todo o meu planejamento estiver completamente equivocado desde o
princípio e as prioridades invertidas na própria origem? O coração do homem
é enganoso, e costuma se esquivar da vontade divina, mesmo o desejo de Deus
sendo historicamente soberano. E desta “rebeldia” (ainda
que inconsciente), nasce o sentimento de inutilidade que tanto aflige a
alma humana. Não viver os planos do “Supremo Criador” é o mais retumbante entre
todos os fracassos, mesmo que a legenda no rótulo seja “sucesso”. Neste caso, o
recipiente encontra-se vazio de consistência, ou cheio de algo que não deveria estar ali.
- Retire os pregos do mundo, e o martelo não terá muito o que
fazer...
O lado bom de tudo isso, é
que exatamente no atrito existente entre o “anseio” e a “decepção”, surge a
primeira fagulha de esperança. Afinal, para que um “martelo” encontre
propósito, muitos “pregos” também precisam existir. Eles trabalham em conjunto
visando causas maiores. Nas mãos
corretas, ambos possuem valor, serventia e eficácia. E engana-se quem pensa que
o martelo somente bate enquanto o prego se conforma em apenas apanhar... Eles
se complementam em força. A ação do martelo impulsiona o prego para o centro de
seu propósito. Não há violência inconsequente, mas sim, incentivo mutuo. O
martelo é forte, porém, facilmente bloqueável. O prego é mais frágil? Sim. E
isto o torna esguio. Com a impulsão correta, poucas superfícies conseguem freá-lo.
Que dupla! Alguém sabia muito bem o que estava fazendo quando uniu estes dois...
Cada um tem seu prazer e sua dor. Fraquezas e atributos. A “ajuda” e a “necessidade”. Basta que estejam juntos,
na "Caixa de Ferramentas" de um bom profissional.
E isto me leva a novas introspecções.
- Sou martelo, prego ou outra ferramenta
qualquer? E a resposta conclusiva aponta para uma conjectura reconfortante: - Que diferença faz?
Queremos avaliar nossa
utilidade no Reino de Deus com base na ferramenta que "somos". E nesta tola
avaliação, tendemos a classificar “esta” como melhor que “aquela”. Ou
vice-versa. Meio caminho andado para a
frustração. O que realmente faz diferença, não é modelo, marca, cor ou
praticidade de uma ferramenta, mas sim, as mãos que a empunha. Um bom
profissional consegue tirar coisas boas de péssimas ferramentas, enquanto
profissionais ruins pouco produzem, tendo a disposição ferramentas excelentes. Mesmo
equipamentos rudimentares ou deferidos, reencontram seu potencial quando são
manejados com destreza e competência. E se existe alguém mais capacitado que o
próprio Deus, eu desconheço.
Somos humanos e
imperfeitos. Isso é algo que não podemos mudar. Mas, Deus pode. Ele quer. E Ele
vai.
Deus é
o oleiro. O ourives. O artesão. O marceneiro. O torneiro mecânico. O
caldeireiro. O forjador. O carpinteiro. Ele é bom. Não se cansa. Não erra. Não gera
refugos. Nós, somos ferramentas (daquelas
não muito boas), que pelo uso inadequado (geralmente em mãos inadequadas) - ou em decorrência da rispidez laboriosa - vai se desgastando lentamente, chegando ao ponto da inutilidade (tem gente que chega a este estágio, antes
mesmo de sair da caixa). E então, no galpão errado, o destino destas
ferramentas é o abandono. Descartadas num canto qualquer da oficina. Ali, no
ostracismo, nada de produtivo podem ofertar. Seja aos homens ou a Deus. Alguém que nasceu para ser útil, perdeu a
utilidade, e fim. Depósito de poeira. Pasto de ferrugem.
Mas, tudo muda quando o “Ferreiro”
intervém. Não “um” ferreiro. O “Ferreiro”. Aquele cuja forja já estava acessa
antes mesmo do fogo existir.
Primeiro Ele pega esta
ferramenta imperfeita e realiza uma análise da situação, identificando o que
precisa ser consertado e o método a ser usado na manutenção. Às vezes (raras vezes), um rápido polimento e a
aplicação de um novo fio para o corte, já são suficientes. Em regra geral, a
tratativa é bem mais drástica. Não por
capricho. Pela necessidade.
Então, o Ferreiro prende a
ferramenta em um grampo, a fim de que não escape mais de suas mãos (estas ferramentas costumam ser
escorregadias). Ela é levada ao braseiro, onde recebe enorme quantidade de
calor. As moléculas se realinham. A maleabilidade retorna, e agora já é
possível moldar a matéria. Transformá-la fisicamente e modificá-la
quimicamente. Catarse Espiritual. Em
seguida, ao perceber que a ferramenta está “trabalhável”, Ele (o Ferreiro) a coloca sobre uma bigorna,
e usando seu martelo (o mesmo que esmiúça a
penha), golpeia incansavelmente, deixando-a no formato planejado antes
mesmo que o mundo fosse chamado a existência.
Esta ferramenta (eu/você) ainda incandescente e se
adaptando a nova forma, é mergulhada em água e óleo, num processo chamado
“tempera”. O refrigério depois do fogo, testando nossas convicções e crenças.
Não pode haver trincas e descontinuidades. O resultado será minuciosamente
avaliado pelo Ferreiro, que percebendo qualquer inadequação do material,
repetirá todo o processo (pacientemente)
até alcançar nada menos que a perfeição. E não se engane, serão incontáveis ciclos até a aprovação.
A “provação” é o processo
pelo qual “Deus” nos molda, a fim de retirar de nós (suas ferramentas na Terra), a melhor produtividade possível. Por
isso, quando apresentamos algum defeito (sendo a falta de funcionalidade o mais grave deles), o Senhor nos leva para a sua
oficina (forja), e ali recebemos uma tratativa especial, afim de recuperar a melhor
forma. A original. Ferramenta, utilidade e propósito num único receptáculo
humano. Neste caminho agridoce, conhecemos a fornalha e dialogamos com o
martelo. Ganhamos corpo e robustez. A fornalha purifica. A forja qualifica. A
prensa dignifica. E após todo este severo tratamento, finalmente somos
refrigerados pelo Espírito. Renascidos no fogo. Regenerados na água. Revestidos
com óleo.
Etapa após etapa, sem a inconveniência
do tempo. Deus não para até que o trabalho seja concluído. E o Senhor não se
contenta no pouco. Não se satisfaz com a mediocridade. E espera que aceitemos seu
padrão. Uma entrega sem reservas à forja, confiantes em sua sabedoria, que
em muito excede o entendimento humano, pois é grandiosa, altíssima, pura, pacífica, amável, compreensiva,
misericordiosa, frutífera, sincera e sem parcialidades (Tiago 3:17).
Sem o trabalhar de Deus em
cada nuance da existência humana, nossas habilidades são como “olho mágico” em
porta de vidro. - Qual a real utilidade?
Beleza, influência, sucesso, riqueza, poder, status... Tudo se torna efêmero e transitório,
sem relevância para o Reino Eternal. O resultado, é uma vida datada, limitada e
infeliz, mesmo que a maquiagem da alegria insista em dizer o contrário. Como bem disse o pastor chinês T.S Watchman
Nee: - Aqueles que não permitem que Deus
trabalhe neles, nunca poderão trabalhar para Ele. E se o servir a Deus não
for a motivação da minha vida, para que foi que eu nasci?
Deus fez a terra com o seu
poder. Firmou o mundo com sua sabedoria. Estendeu os céus com seu entendimento. Este não é o curriculum de um engenheiro de coisas inúteis. Acha mesmo que Ele te faria prego, se você tivesse nascido para ser martelo?
(Jeremias 10:12).
É bom ler um material deste nível, mormente com os olhos do coração. É uma pena que a leitura, em geral, seja rara e cara - e para muitos não tenha tantos atrativos. Mas Deus molda quem se deixa ser moldado.
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