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quarta-feira, 2 de maio de 2018

Martelos, Pregos e outras Ferramentas


Quando abro a porta de uma nova descoberta já encontro Deus lá dentro.
(Albert Einstein)


Às vezes me ponho a pensar em minha própria inutilidade. No que poderia ter sido, e naquilo que de fato me tornei. Sem maiores contextualizações, lá estou repetindo o poeta francês Paul Claudel: - Será que o objetivo da vida é viver? E esta introspecção é uma atividade pesarosa, pois geralmente me coloca em rota de colisão com as resoluções de “ano novo” que o tempo encobriu sob as areias da frustração. Nada saiu como o planejado.

- Nasci para ser martelo, e a acabei me tornando prego!

Mas, então, me vejo as voltas com indagações mais relevantes. - E se na verdade, todo o meu planejamento estiver completamente equivocado desde o princípio e as prioridades invertidas na própria origem? O coração do homem é enganoso, e costuma se esquivar da vontade divina, mesmo o desejo de Deus sendo historicamente soberano. E desta “rebeldia” (ainda que inconsciente), nasce o sentimento de inutilidade que tanto aflige a alma humana. Não viver os planos do “Supremo Criador” é o mais retumbante entre todos os fracassos, mesmo que a legenda no rótulo seja “sucesso”. Neste caso, o recipiente encontra-se vazio de consistência, ou cheio de algo que não deveria estar ali.

- Retire os pregos do mundo, e o martelo não terá muito o que fazer...

O lado bom de tudo isso, é que exatamente no atrito existente entre o “anseio” e a “decepção”, surge a primeira fagulha de esperança. Afinal, para que um “martelo” encontre propósito, muitos “pregos” também precisam existir. Eles trabalham em conjunto visando causas maiores. Nas mãos corretas, ambos possuem valor, serventia e eficácia. E engana-se quem pensa que o martelo somente bate enquanto o prego se conforma em apenas apanhar... Eles se complementam em força. A ação do martelo impulsiona o prego para o centro de seu propósito. Não há violência inconsequente, mas sim, incentivo mutuo. O martelo é forte, porém, facilmente bloqueável. O prego é mais frágil? Sim. E isto o torna esguio. Com a impulsão correta, poucas superfícies conseguem freá-lo. Que dupla! Alguém sabia muito bem o que estava fazendo quando uniu estes dois... Cada um tem seu prazer e sua dor. Fraquezas e atributos. A “ajuda” e a “necessidade”. Basta que estejam juntos, na "Caixa de Ferramentas" de um bom profissional.

E isto me leva a novas introspecções. - Sou martelo, prego ou outra ferramenta qualquer? E a resposta conclusiva aponta para uma conjectura reconfortante: - Que diferença faz?

Queremos avaliar nossa utilidade no Reino de Deus com base na ferramenta que "somos". E nesta tola avaliação, tendemos a classificar “esta” como melhor que “aquela”. Ou vice-versa. Meio caminho andado para a frustração. O que realmente faz diferença, não é modelo, marca, cor ou praticidade de uma ferramenta, mas sim, as mãos que a empunha. Um bom profissional consegue tirar coisas boas de péssimas ferramentas, enquanto profissionais ruins pouco produzem, tendo a disposição ferramentas excelentes. Mesmo equipamentos rudimentares ou deferidos, reencontram seu potencial quando são manejados com destreza e competência. E se existe alguém mais capacitado que o próprio Deus, eu desconheço.

Somos humanos e imperfeitos. Isso é algo que não podemos mudar. Mas, Deus pode. Ele quer. E Ele vai.

Deus é o oleiro. O ourives. O artesão. O marceneiro. O torneiro mecânico. O caldeireiro. O forjador. O carpinteiro. Ele é bom. Não se cansa. Não erra. Não gera refugos. Nós, somos ferramentas (daquelas não muito boas), que pelo uso inadequado (geralmente em mãos inadequadas) - ou em decorrência da rispidez laboriosa - vai se desgastando lentamente, chegando ao ponto da inutilidade (tem gente que chega a este estágio, antes mesmo de sair da caixa). E então, no galpão errado, o destino destas ferramentas é o abandono. Descartadas num canto qualquer da oficina. Ali, no ostracismo, nada de produtivo podem ofertar. Seja aos homens ou a Deus.  Alguém que nasceu para ser útil, perdeu a utilidade, e fim. Depósito de poeira. Pasto de ferrugem.

Mas, tudo muda quando o “Ferreiro” intervém. Não “um” ferreiro. O “Ferreiro”. Aquele cuja forja já estava acessa antes mesmo do fogo existir.

Primeiro Ele pega esta ferramenta imperfeita e realiza uma análise da situação, identificando o que precisa ser consertado e o método a ser usado na manutenção. Às vezes (raras vezes), um rápido polimento e a aplicação de um novo fio para o corte, já são suficientes. Em regra geral, a tratativa é bem mais drástica. Não por capricho. Pela necessidade.

Então, o Ferreiro prende a ferramenta em um grampo, a fim de que não escape mais de suas mãos (estas ferramentas costumam ser escorregadias). Ela é levada ao braseiro, onde recebe enorme quantidade de calor. As moléculas se realinham. A maleabilidade retorna, e agora já é possível moldar a matéria. Transformá-la fisicamente e modificá-la quimicamente. Catarse Espiritual. Em seguida, ao perceber que a ferramenta está  “trabalhável”, Ele (o Ferreiro) a coloca sobre uma bigorna, e usando seu martelo (o mesmo que esmiúça a penha), golpeia incansavelmente, deixando-a no formato planejado antes mesmo que o mundo fosse chamado a existência.

Esta ferramenta (eu/você) ainda incandescente e se adaptando a nova forma, é mergulhada em água e óleo, num processo chamado “tempera”. O refrigério depois do fogo, testando nossas convicções e crenças. Não pode haver trincas e descontinuidades. O resultado será minuciosamente avaliado pelo Ferreiro, que percebendo qualquer inadequação do material, repetirá todo o processo (pacientemente) até alcançar nada menos que a perfeição. E não se engane, serão incontáveis ciclos até a aprovação.

A “provação” é o processo pelo qual “Deus” nos molda, a fim de retirar de nós (suas ferramentas na Terra), a melhor produtividade possível. Por isso, quando apresentamos algum defeito (sendo a falta de funcionalidade o mais grave deles), o Senhor nos leva para a sua oficina (forja), e ali recebemos uma tratativa especial, afim de recuperar a melhor forma. A original. Ferramenta, utilidade e propósito num único receptáculo humano. Neste caminho agridoce, conhecemos a fornalha e dialogamos com o martelo. Ganhamos corpo e robustez. A fornalha purifica. A forja qualifica. A prensa dignifica. E após todo este severo tratamento, finalmente somos refrigerados pelo Espírito. Renascidos no fogo. Regenerados na água. Revestidos com óleo.  

Etapa após etapa, sem a inconveniência do tempo. Deus não para até que o trabalho seja concluído. E o Senhor não se contenta no pouco. Não se satisfaz com a mediocridade. E espera que aceitemos seu padrão. Uma entrega sem reservas à forja, confiantes em sua sabedoria, que em muito excede o entendimento humano, pois é grandiosa, altíssima, pura, pacífica, amável, compreensiva, misericordiosa, frutífera, sincera e sem parcialidades (Tiago 3:17).

Sem o trabalhar de Deus em cada nuance da existência humana, nossas habilidades são como “olho mágico” em porta de vidro. - Qual a real utilidade? Beleza, influência, sucesso, riqueza, poder, status... Tudo se torna efêmero e transitório, sem relevância para o Reino Eternal. O resultado, é uma vida datada, limitada e infeliz, mesmo que a maquiagem da alegria insista em dizer o contrário. Como bem disse o pastor chinês T.S Watchman Nee: - Aqueles que não permitem que Deus trabalhe neles, nunca poderão trabalhar para Ele. E se o servir a Deus não for a motivação da minha vida, para que foi que eu nasci?

Deus fez a terra com o seu poder. Firmou o mundo com sua sabedoria. Estendeu os céus com seu entendimento. Este não é o curriculum  de um engenheiro de coisas inúteis. Acha mesmo que Ele te faria prego, se você tivesse nascido para ser martelo? (Jeremias 10:12).  


Um comentário:

  1. É bom ler um material deste nível, mormente com os olhos do coração. É uma pena que a leitura, em geral, seja rara e cara - e para muitos não tenha tantos atrativos. Mas Deus molda quem se deixa ser moldado.

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