Mães judiciosas sempre têm consciência de que são
o primeiro livro lido
e o último posto de lado, na biblioteca dos filhos.
(Charles Lenox Remond)
Meu coração se alegra no Senhor, é Ele quem
me fortalece. Tenho mais motivos para sorrir que os meus inimigos, pois Deus
retirou de mim as tristezas. Estou livre! Em sua sabedoria, o Senhor julga os
feitos do homem e abate os orgulhosos. Todas as palavras revestidas de
arrogância não podem resistir a presença do meu Deus!
Com estes versos
confiantes, Ana iniciou sua canção. Uma mulher vibrante e cheia de vida, cujo
coração transbordava de contentamento. Gratidão. Reverência. Louvor. Ana tinha motivos de sobra para cantar. No culto em Ações de Graças pelo "Dia
das Mães", fazia questão de assentar-se no primeiro banco da congregação. Cercada e amada por
sua numerosa família.
Mas, nem sempre foi assim...
Mas, nem sempre foi assim...
A ordem dada por Deus ao
primeiro casal (Adão e Eva), foi “crescer
e multiplicar”. Desde então (contradizendo
o histórico de desobediência aos preceitos divinos), esta ordenança tem
sido obedecida regiamente em cada geração (oito
bilhões de pessoas no planeta é uma prova irrefutável de tamanho
“comprometimento”). A necessidade de reprodução, alias, é latente no ser humano,
tanto em sua biologia, quanto na cultura que o cerca. Somente assim perpetuamos
a espécie e podemos nos “prolongar” nos filhos e netos, que irão dar
continuidade ao nosso nome e carregar o legado familiar rumo a posteridade.
A mulher sente esta
necessidade biologia de forma ainda mais acentuada, pois seu corpo é projetado para
gerar vida. Numa análise bem pragmática, basta relembrar que a mulher produz
“óvulos” num ciclo repetitivo, cuja única finalidade é a fecundação. Na
ausência dela, tudo é sumariamente descartado. Em regra geral, o organismo feminino “clama”
pela maternidade, e o desejo de “ser mãe” é um sentimento instintivo e primal.
Assim, a incapacidade de gerar filhos, tende a uma frustração imensurável.
Durante muito tempo,
difundiu-se o pensamento de que se um casal não tivesse filhos, a culpa certamente seria da
mulher. Diagnostico cultural, que lançava sobre os ombros femininos o
fardo da improdutividade. Hoje, com o avanço da ciência,é
possível diagnosticar inúmeras causas da infertilidade (geralmente ligadas a alguma
deficiência do organismo), bem como realizar tratamentos que contornem o
problema. E já descobrimos a muito tempo que distúrbios genéticos também ocorrem
no gênero masculino. Homens e mulheres carregando juntos o ônus pela ausência
de prole.
Ana, porém, viveu num
período onde a infertilidade era interpretada como uma “maldição” em decorrência de pecados cometidos pela “mulher”. Uma esposa
que não gerava filhos, envergonhava sua família e era descriminalizada pela
sociedade. Na maioria das vezes, a “mulher estéril” também era desprezada pelo
marido, e relegada ao posto de esposa secundária, já que a poligamia era usual
na antiguidade.
Não era o caso de Ana, que
desfrutava de um privilégio que poucas mulheres obtiveram naqueles tempos
patriarcais. Mesmo sendo estéril, e seu marido tendo uma segunda esposa que lhe
dava filhos, Elcana - o esposo, amava Ana intensamente, dando-lhe prioridades em tudo. Mesmo assim, aquela mulher sentia-se profundamente
angustiada e externava incisivamente esta tristeza, pelo fato do direito à
maternidade lhe ter sido negado. A constante debilidade emocional de Ana,
começou a criar um certo desgaste no casamento, ao ponto de Elcana a inquiriu ressentidamente
dizendo: - Meu amor não te vale mais do que dez filhos?
Outro fator agravante para
a avanço depressivo de Ana, foi a atuação deliberada de Penina (a segunda esposa de Elcana), que se
aproveitando do fato de gerar filhos, buscava constantemente posição de
destaque dentro da casa, utilizando a infertilidade de Ana como uma arma
ofensiva. Em outras palavras, Penina
“enfiava a faca na ferida que ainda sangrava”. Sentia-se poderosa com esta atitude,
pois sempre que o tema era evocado na família, a esposa “mais” amada ficava em posição de inferioridade, enfraquecida e profundamente fragilizada.
Mulheres são bem mais suscetíveis a estes ataques emocionais, e Elcana, turrão desprovido de sensibilidade, não conseguia entender a frustração da esposa. Penina, possuidora dos mesmos anseios e instintos maternos, poderia muito bem ser sua melhor amiga e confidente. Entretanto, acabava usando a dor de Ana como uma poderosa ferramenta de insultos contra ela. Em níveis diferentes e escalas variadas, Ana era incompreendida por todos a sua volta. Diante de tal realidade, sem perspectiva para a realização de seu maior sonho, a pobre mulher não encontrava mais motivos para continuar viva, e assim concluiu que não valia a pena insistir em suas ambições, e simplesmente parou de se alimentar, definhando lentamente enquanto esperava a morte.
Mulheres são bem mais suscetíveis a estes ataques emocionais, e Elcana, turrão desprovido de sensibilidade, não conseguia entender a frustração da esposa. Penina, possuidora dos mesmos anseios e instintos maternos, poderia muito bem ser sua melhor amiga e confidente. Entretanto, acabava usando a dor de Ana como uma poderosa ferramenta de insultos contra ela. Em níveis diferentes e escalas variadas, Ana era incompreendida por todos a sua volta. Diante de tal realidade, sem perspectiva para a realização de seu maior sonho, a pobre mulher não encontrava mais motivos para continuar viva, e assim concluiu que não valia a pena insistir em suas ambições, e simplesmente parou de se alimentar, definhando lentamente enquanto esperava a morte.
Deus quebra o arco dos fortes e reveste de força
os braços dos fracos. Quem esbanjava manjares, agora trabalha por comida, enquanto os famintos são saciados com pão. A mulher estéril se tornou alegre mãe de sete
filhos, e a parideira se fragilizou. O Senhor mata e preserva a vida. Ele faz o
homem descer a sepultura e também o retira de lá. O Senhor é quem distribui a
pobreza e a riqueza. Deus tem propósitos na humilhação e detém o poder para
exaltar o humilhado.
Uma vez por ano, Elcana
subia à Siloé para ofertar ao Senhor. Fazia questão de ter Ana ao seu lado.
Sentia-se envaidecido ao caminhar pelas ruas da cidade de mãos dadas com uma
mulher tão virtuosa. Ana, porém, estava quebrada. De todas as maneiras
possíveis. A beira do colapso, a única opção encontrada foi recorrer ao Deus
que transforma o caos em ordem. Uma conversa franca e definitiva, sem rodeios ou intermediários. A atitude de Ana pode até parecer simplista, mas estava revestida de muita vanguarda . Um ato de coragem motivado pelo desespero. Mulheres não faziam votos e nem dialogavam abertamente com Deus. Toda instrução religiosa passava primeiro pelo marido. Toda oferta era oferecida pelo chefe da família.
Ana não tinha nada para ofertar, muito menos garantias que seria ouvida. Talvez, como castigo por sua petulância, fosse incinerada antes do "amém". Sem parâmetros. Sem precedentes. Mesmo assim, ela tinha que tentar. Conhecia as histórias de Sara, Rebeca e Raquel. As matriarcas da nação não foram esquecidas pelo Deus dos hebreus. Teria ela alguma chance? Agarrada neste fiapo de esperança, Ana adentrou no templo, e se ajoelhou diante do altar, chorando copiosamente enquanto realizava uma oração que não necessitava de palavras. Apenas lágrimas, gemidos inexprimíveis e um coração liquefeito.
Ana não tinha nada para ofertar, muito menos garantias que seria ouvida. Talvez, como castigo por sua petulância, fosse incinerada antes do "amém". Sem parâmetros. Sem precedentes. Mesmo assim, ela tinha que tentar. Conhecia as histórias de Sara, Rebeca e Raquel. As matriarcas da nação não foram esquecidas pelo Deus dos hebreus. Teria ela alguma chance? Agarrada neste fiapo de esperança, Ana adentrou no templo, e se ajoelhou diante do altar, chorando copiosamente enquanto realizava uma oração que não necessitava de palavras. Apenas lágrimas, gemidos inexprimíveis e um coração liquefeito.
Enquanto orava, Ana era observada
pelo sacerdote Eli. Velho e bonachão, o decadente religioso assistia a bucólica
cena esparramado numa cadeira de acácia. Em decorrência da tristeza em sua alma,
aquela mulher se jogou ao solo como se fosse um pano de chão recentemente usado, e sua boca apenas balbuciava palavras, sem que
sons audíveis fossem emitidos. E lá vai Ana, mais uma vez, ser incompreendida
por quem deveria compreende-la com perfeição. Seu líder espiritual, cego pelo preconceito, confundiu quebrantamento com embriaguez. E ainda a
recriminou por isso:
- Você não tem vergonha de estar embriaga a esta hora da
manhã, mulher? Não tem respeito pela Casa de Deus?
Tenha vergonha você, Eli! Ana
não está afrontado Deus. Ela está se entregando à Ele. Devolvendo ao Senhor
aquilo que não tinha recebido. Um tipo de oração sacrificial que poucos ainda tem a
coragem de fazer:
- Ah, Senhor dos
Exércitos! Se puderes me ouvir e compreender a humilhação da tua serva... Por
favor... Não se esqueça de mim... Não despreze a minha aflição... Se te
lembrares de mim, e me deres um filho de presente, eu o irei dedicar ao Senhor,
para que ele seja Teu. Meu filho será teu servo... Teu favor será a minha oferta! Uma vida por
outra vida!
Ao tomar conhecimento da
história de Ana, imediatamente o sacerdote Eli abandonou sua posição
inquiridora, e agiu como um verdadeiro homem de Deus precisa agir. Cuidando de
pessoas. Semeando esperança em corações despedaçados. Edificando pilares entre as ruínas.
- “Vá em paz, e que o Deus
de Israel lhe conceda o que você pediu"
Bastaram estas palavras de ânimo, para que Ana tivesse suas forças revigoradas. A partir deste momento, as
lágrimas cessaram e a tristeza foi embora. Seu semblante se transformou. A barriga imediatamente rugiu. Ana “convidou” seu marido para almoçar no melhor restaurante selv-service da cidade e não se importou em caminhar pelas mesas da casa tendo nas mãos um prato abarrotado.
Na prática, Ana saiu do templo
da mesma forma que entrou. Sem nenhum filho em seu ventre e ainda estéril. Mas
agora, ancorada nas palavras de Eli, ela tinha certeza que Deus atenderia o
pedido feito em oração. Promessa resultante de promessa, se torna certeza de realização.
Ana não teve seu filho nos braços imediatamente, mas isso não a fez perder a
esperança readquirida. Sabia que agora, tudo era uma questão de tempo. O Tempo
de Deus.
E neste caso, Deus tinha
pressa, propósito e recompensa. O sofrimento de Ana nunca foi casual. Era a cola unindo uma mulher problemática e o Deus que pode resolver todos os problemas. O Senhor a atraiu pela dor e foi atraído à ela pelo quebrantamento.
Na manhã seguinte ao seu
voto, marido e mulher voltaram para casa ainda mais apaixonados. Uma nova lua
de mel. Quando a noite caiu sobre Ramá, e a luz da lua irrompeu a janela do
quarto, Ana e Elcana se entregaram sem reservas a uma enebriante paixão. Furor e doçura. E como resultado, ela engravidou.
Nove meses após a ápice da desesperança, a esperança de toda uma nação era
renovada pelo nascimento de uma única criança. Milagre com propósito!
A mulher estéril agora era
uma alegre mãe. I Samuel 2:1-10 registra uma das mais belas passagens bíblicas,
popularmente conhecida como o “CÂNTICO DE ANA”. Uma
oração de agradecimento realizada por Ana, após desfrutar plenamente a benção
da maternidade. Ela não somente louvou ao Senhor por sua fidelidade, como
também ressaltou que a justiça vem de Deus, e que no tempo oportuno,
Ele sempre age contra os maus, em favor dos bons.
Deus levanta do pó o necessitado e das cinzas reabilita
o pobre, para fazê-lo assentar-se junto aos príncipes em suntuosos palácios. O
Senhor honra o humilhado! Foi Ele quem firmou os alicerces do mundo! O Senhor
guarda os pés de seus justos enquanto os ímpios são devorados pelas trevas. O
sucesso vem pelas mãos de Deus e jamais pela força dos homens. Como um trovão, sua voz brada a justiça desde os céus, e
julga até os confins da Terra, e quem se opõem ao Senhor é despedaçado. Feliz são aqueles que se sujeitam a sua vontade, pois é Deus quem estabelece o rei e fortalece seu
ungido.
Um louvor. Uma profecia. Ana
tinha em seus braços um bebezinho. Deus tinha nas mãos uma ferramenta multifuncional. Juiz. Profeta.
Sacerdote.
Outra revelação inserida
neste contexto, é que após entregar seu pequeno Samuel no templo, (onde o menino cresceu para se tornar o
maior e último juiz de Israel, um sacerdote reformador e o homem responsável
por ungir os dois primeiros reis de Israel - Saul e Davi); Ana ainda
desfrutou da companhia de mais seis filhos. E Penina degustou longos jantares onde o "orgulho próprio" foi servido em bandejas de prata, com molho agridoce (mais "agri" do que "doce"):
- A mulher estéril se tornou alegre mãe de sete filhos, e a parideira se fragilizou.
- A mulher estéril se tornou alegre mãe de sete filhos, e a parideira se fragilizou.
A mulher infrutífera agora era
uma árvore frutífera, cuja vida se encheu de alegria com muitas crianças
correndo pela casa. Para quem se dava por satisfeita com apenas um único filho, “sete herdeiros”
parece-me um número muito além das expectativas. Mas é exatamente assim que Deus trabalha: - Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito
mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que
em nós opera (Efésios 3:20-21).
E não para por aí...
Além de Ana, a Bíblia
apresenta uma vasta gama de mulheres que padeceram deste mesmo mal. Sara, Rebeca, Raquel, Léia, Mical, Isabel e ainda outras que não tiveram seus
nomes revelados, como a mulher de Suném e a esposa e Manoá. Ventres
improdutivos que não impediram o crescimento de toda uma nação. A grande
maioria delas, geraram vida por intermédio da intervenção milagrosa de Deus,
tendo filhos que impactaram profundamente a história da humanidade.
Quer exemplos?
- Isaque
- Jacó
- Judá
- José
- Sansão
- Samuel
- João Batista
A infertilidade momentânea
da terra, pode muito bem ser uma estratégia de Deus, preservando intacto o solo
para a grande plantação que Ele mesmo vai realizar no futuro! Apenas entregue previamente à Ele o seu Samuel, e começa a compor sua própria canção!
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