O medo tem
alguma utilidade, mas a covardia não.
(Mahatma
Gandhi)
Pense numa criança nascida na década de oitenta e dotada de imensa
coragem. Certamente, não sou eu. Na minha infância, curiosidade aguçada e
imaginação fértil, foram combustíveis para dias maravilhosos e noites
tenebrosas. Assistir “Gremlins”, “Edward, Mãos de Tesoura” e “Convenção das
Bruxas” na “Sessão da Tarde” era uma excelente diversão vespertina, que
certamente provocaria inquietantes pesadelos noturnos. Isso, obviamente, se
houvesse alguma condição psicológica para dormir.
Sempre que ia a uma vídeo-locadora (faz tempo) tinha
tanto medo da seção identificada como “terror”, que minha “autodefesa” era
justamente ficar lendo as sinopses no verso das caixas dos filmes de ...
terror. O efeito colateral desta “curiosidade” era a “imaginação” preenchendo lacunas
quando as luzes se apagavam. As imagens ilustrativas da capa de “Presente
Macabro” ou “Colheita Maldita” ganhando vida, enquanto as descrições vagas de
publicidade se tornavam histórias fragmentadas na minha cabeça. Frio. Suor.
Tremedeira. Olhos secos. Insônia. Medo imaginário provocando efeitos físicos
reais.
E nada apavorou mais a minha infância que o “serial killer” usando
uma máscara de hóquei para massacrar jovens “inocentes” numa sexta feira
qualquer. Ou melhor. Numa Sexta Feira - 13. Nem precisava assistir à
película. Bastava saber que a “Tela Quente” exibiria o novo filme da franquia,
para passar a noite em claro, com os olhos vidrados no teto, enquanto “ouvia”
sons inexistentes embaixo da cama. Já era homem feito quando tive coragem para realmente
assistir o “tenebroso” filme, e então, devidamente encabulado, descobrir que a
origem do meu medo era ridícula. – Como é que alguém pode ficar tão
amedrontado diante de tanta bobagem?
Por mais incrível que possa parecer, todos somos crianças apavoradas
por medos tolos e infantis. Na verdade, a grande maioria dos nossos temores,
não passam de projeções pessimistas da própria imaginação. O famoso
“sofrimento” antecipado. Ou retroativo. Tempos atrás, uma aluna de teologia que
passava maus bocados com o comportamento dos filhos me procurou aflita,
dizendo que finalmente tinha descoberto a causa raiz dos males que atingiam sua
família: - somos descendentes de espanhóis!
Segundo sua interpretação, na época das grandes navegações, quando
a Espanha expandiu as fronteiras conquistando territórios na América, os
colonizadores espanhóis escravizaram diversas civilizações nativas, promovendo
assassinatos e estupros massivos. Era muita iniquidade entranhada na genética
dos descendentes, cujas mãos ainda estavam manchadas de sangue. Assim, em pleno
século XXI, Deus estava punindo aquela família pelas atrocidades cometidas
pelos colonizadores em meado de 1492. Ao final da explicação, ela estava
em lágrimas, apavorada, pedindo que orasse por ela, pois precisava urgentemente
ser perdoada pelo extermínio dos índios americanos. Não pude negar um
pedido de oração, mas não sem antes, trazer a pauta algumas observações
pontuadas em perguntas meramente retóricas:
- Qual o tamanho do Deus que você serve?
- Que valia tem o sacrifício de Cristo no Calvário?
- A sua Bíblia não fala sobre “Novo Nascimento”, “coisas antigas
ficando para trás” e “a Verdade que promove libertação?”
Medo do passado. Medo do presente. Medo do futuro. Estão mais para
exercícios de imaginação, do que para provas científicas conclusivas. Podem até
ter origem palpável, mas geralmente, não possuem propósito efetivo. E nesta
curiosidade pelo “desconhecido”, nos esquecemos que Deus propositalmente mantem
alguns aspectos da existência sob um manto de mistério. Enigmas a serem
decifrados apenas na eternidade (I Coríntios 13:12). E mesmo assim, lá vamos
nós, movidos pela curiosidade (ou seria teimosia?) escavar em
terrenos minados na busca de respostas fantasiosas, que ao invés de esclarecer,
nos lançam ainda vez mais fundo no abismo do desconhecimento. E o desconhecido,
sempre provoca medo. Uma nova Sexta Feira -13 a cada amanhecer.
Incontáveis são as pessoas que possuem verdadeira aversão ao "13", dando ao pobre algarismo a alcunha de "número do azar". Outros tantos consideram a "sexta feira" como o dia da semana mais propício aos maus agouros. Neste contexto, quando ambas teorias se entrelaçam, está formado o pandemônio. Não é exagero dizer que alguns indivíduos caminham na fronteira da loucura, apavorados com tamanho pressagio de uma "possível" falta de sorte. Tem gente que até cita as Escrituras Sagradas como argumento, claramente confundindo fé e superstição.
- Quando o décimo terceiro dia do mês coincidir
com a noite enluarada da sexta feira, melhor para ti é trancar-se em casa, pois
as portas do inferno se levantarão com tamanha fúria, que em números
incontáveis, as almas serão devoradas pelas trevas, e de nada valerá a tua fé ou o teu deus.
(Livro do Profeta Babaquias 13:6)
Elevando o nível de suspensão da descrença ao máximo, me ponho a
perguntar se existe algum subsídio bíblico para a má fama desta data, temida,
inclusive, por muitos cristãos.
A conjectura mais plausível (imagine a menos plausível) para
justificar o teórico infortúnio da "sexta feira- 13" num contexto
neo-testamentário, remonta a famosa ceia que Jesus realizou com os discípulos
antes de sua paixão. Nela, treze homens se assentaram juntos na mesma mesa.
Todos amigos. Porém, entre eles, havia um traidor, Judas Iscariotes. Portanto,
o homem Nº 13, era na verdade, um agente do maligno infiltrado na família de
Cristo. E agora pasmem (!?!)... em qual dia da semana tudo isto aconteceu? Na
noite de quinta para sexta. Somados os fatores, a superstição enraizada
na cristandade encontra seu epicentro. Tudo
tem a ver com a “Maldição da Cruz”.
Mas, será que esta sucessão de eventos fatídicos realmente
respalda biblicamente o temor por uma data aleatória circulada de vermelho no
calendário da sociedade ocidental?
A resposta, obviamente, é NÃO!
A morte de Jesus não está ligada a nenhum tipo de maldição. Muito
pelo contrário. Isaías 53:5 é revelador quanto a essência do sacrifício vicário
de Cristo, quando poeticamente profetiza: - "O castigo que
nos trouxe a paz estava sobre Ele, e pelo seu sofrimento na cruz, nós fomos
sarados."
O problema, é que alguns eruditos do achismo, não se contentam com
a simplicidade das respostas bíblicas. Acham sempre que existe algo mais
sombrio por trás das intempéries. Precisam justificar fracassos pessoais com
argumentos cósmicos. E aí, recorrem a qualquer fonte que jorre algum tipo de
líquido. Mesmo que não seja água potável. E quem procura chifre na cabeça de
cavalo, acaba galopando nos lombos de unicórnios imaginários.
Um fato histórico que pode “justificar” o tom sombrio de uma
"Sexta Feira - 13" teria acontecido em 13 de outubro de 1307, e está
descrito no livro "Tales of the Knights Templar". Nesta data, o rei
francês Philip IV, invadiu as casas dos Cavaleiros Templários (os
monges guerreiros que atuaram durante as cruzadas realizadas em nome de "Cristo"),
aprisionando milhares de pessoas sob acusações que nunca foram comprovadas.
Centenas de homens foram barbaramente assassinados e tantos outros sofreram
torturas inenarráveis, gerando um grande pesar cada vez que a data se repetia.
Historicamente, um dia negro sob nuvens densas de amargas lembranças.
Já segundo alguns pesquisadores, o mito da "Sexta-Feira -
13" teria sua origem em duas lendas nórdicas (ou
escandinavas). A primeira conta que houve um banquete em
Valhalla (o palácio para onde iam os guerreiros mortos em batalha),
para o qual foram convidadas 12 divindades. Loki, o “deus do fogo”, a mais
controversa figura daquele panteão, não foi convidado. Cheio de ciúmes, ele
apareceu sem ser chamado e armou uma cilada mortífera para Baldur (deus
do sol ou da luz), o preferido de Odin, deus dos deuses. Deste conto
mitológico, nasceu a ideia que ter treze pessoas à mesa para um jantar, é
conclamar a desgraça para dentro de casa. A outra história está mais associada
com a malignidade da sexta-feira, e tem origem na lenda nórdica de Frigga (ou
Freya), a deusa escandinava da paixão e da fertilidade. Segundo a crença
local, quando as tribos nórdicas e germânicas foram obrigadas a se converterem
ao cristianismo, as narrativas passaram a descrevê-la como uma bruxa exilada no
alto de uma montanha. Dizia-se, então, que buscando vingança, ela reunia todas
as sextas-feiras um grupo de doze bruxas, que juntamente com um demônio (perfazendo
treze entidades), rogavam pragas sobre os humanos.
E neste ponto, é bem possível que algum leitor já esteja clamando
o “Sangue de Jesus”, por estar sentindo calafrios na espinha. Ainda mais se a
leitura estiver acontecendo numa sexta feira. Treze. Graças aos Céus, servimos
a um Deus absoluto que não divide sua mesa com “senhores do trovão” ou
“comensais da morte”. Tudo está em suas mãos. Ele é Dono do Poder. A matemática
se dobra em reverência. O tempo se curva para adorá-lo. O maior de todos os
números (ainda desconhecido ao homem), é apenas mais um algoritmo
incrustado na engenharia do universo, que o Criador projetou e construí tendo o "nada absoluto" como matéria-prima, usando como ferramenta, nada mais que sua Palavra. Viva, ativa e eficaz.
Enfim, a superstição com a “Sexta Feira- 13” ou com “A Maldição
dos Espanhóis” são meros fenômenos equivocadamente
espiritualizados. Não que Satanás deixe de aproveitar as brechas que lhe são
dadas, mas sim, porque muitos parecem se esquecer que basta sujeitar-se a
Deus (e resistir ao Diabo), para que o inimigo bata em retirada.
Independentemente do dia que seja. Não importando a nacionalidade do nome que
invoca o nome de Jesus.
Quem deve sentir medo de "Jason Voorhees", são os
personagens caricatos e desprovidos de inteligência que Hollywood produz em
larga escala. E, é claro, crianças incautas como eu já fui, suscetíveis aos
medos mais efêmeros, decorrentes da curiosidade desenfreada e de imaginação
fervilhante. Não é mais o caso. Há tempos perdi este direito. Minha experiência
com Deus precisa levar-me ao amadurecimento. A maturidade, por sua vez,
potencializa em nós a fé, a esperança e o amor. E o verdadeiro amor, lança fora
todos os medos (I João 4:18).
Para o cristão, a "Sexta Feira - 13" é um dia como outro
qualquer, e deve ser vivenciada em santidade e adoração, tendo como lema o
texto do Salmo 118:24. Aliás, adote o mesmo tema para todos os outros
dias do ano:
- "Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele!".
Alegre-se no Senhor que renova todas as coisas. Que transforma em benção as maiores maldições. Que redime o homem de sua perdição. Cuja graça superabundante soterra a abundância do pecado. Viva sem medo o “hoje”, ciente que no ontem, Deus já reservou o amanhã para si.
- "Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele!".
Alegre-se no Senhor que renova todas as coisas. Que transforma em benção as maiores maldições. Que redime o homem de sua perdição. Cuja graça superabundante soterra a abundância do pecado. Viva sem medo o “hoje”, ciente que no ontem, Deus já reservou o amanhã para si.
Cresça. Amadureça. Deixa para trás as coisas de menino. Não perca
noites de sono por causa de filmes da TV. Não seja assombrado por fantasmas que
você mesmo projetou ou atormentado pelos demônios que povoam apenas tua mente.
A Sombra do Altíssimo é seu refúgio contra os perigos da escuridão, e tua
maturidade espiritual é a senha que garante acesso ao bunker que nem mesmo um
ataque massivo do inferno consegue invadir. Carpe Diem, sem se perder na noite!
- Porque Deus não te deu um espírito de temor, mas de coragem, e de
amor, e de equilíbrio! (II Timóteo 1:7)
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