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sexta-feira, 13 de abril de 2018

Quem tem medo da Sexta-Feira?


O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não.
(Mahatma Gandhi)



Pense numa criança nascida na década de oitenta e dotada de imensa coragem. Certamente, não sou eu. Na minha infância, curiosidade aguçada e imaginação fértil, foram combustíveis para dias maravilhosos e noites tenebrosas. Assistir “Gremlins”, “Edward, Mãos de Tesoura” e “Convenção das Bruxas” na “Sessão da Tarde” era uma excelente diversão vespertina, que certamente provocaria inquietantes pesadelos noturnos. Isso, obviamente, se houvesse alguma condição psicológica para dormir. 

Sempre que ia a uma vídeo-locadora (faz tempo) tinha tanto medo da seção identificada como “terror”, que minha “autodefesa” era justamente ficar lendo as sinopses no verso das caixas dos filmes de ... terror. O efeito colateral desta “curiosidade” era a “imaginação” preenchendo lacunas quando as luzes se apagavam. As imagens ilustrativas da capa de “Presente Macabro” ou “Colheita Maldita” ganhando vida, enquanto as descrições vagas de publicidade se tornavam histórias fragmentadas na minha cabeça. Frio. Suor. Tremedeira. Olhos secos. Insônia. Medo imaginário provocando efeitos físicos reais.

E nada apavorou mais a minha infância que o “serial killer” usando uma máscara de hóquei para massacrar jovens “inocentes” numa sexta feira qualquer. Ou melhor. Numa Sexta Feira - 13.  Nem precisava assistir à película. Bastava saber que a “Tela Quente” exibiria o novo filme da franquia, para passar a noite em claro, com os olhos vidrados no teto, enquanto “ouvia” sons inexistentes embaixo da cama. Já era homem feito quando tive coragem para realmente assistir o “tenebroso” filme, e então, devidamente encabulado, descobrir que a origem do meu medo era ridícula. – Como é que alguém pode ficar tão amedrontado diante de tanta bobagem?

Por mais incrível que possa parecer, todos somos crianças apavoradas por medos tolos e infantis. Na verdade, a grande maioria dos nossos temores, não passam de projeções pessimistas da própria imaginação. O famoso “sofrimento” antecipado. Ou retroativo. Tempos atrás, uma aluna de teologia que passava maus bocados com o comportamento dos filhos me procurou aflita, dizendo que finalmente tinha descoberto a causa raiz dos males que atingiam sua família: - somos descendentes de espanhóis!

Segundo sua interpretação, na época das grandes navegações, quando a Espanha expandiu as fronteiras conquistando territórios na América, os colonizadores espanhóis escravizaram diversas civilizações nativas, promovendo assassinatos e estupros massivos. Era muita iniquidade entranhada na genética dos descendentes, cujas mãos ainda estavam manchadas de sangue. Assim, em pleno século XXI, Deus estava punindo aquela família pelas atrocidades cometidas pelos colonizadores em meado de 1492.  Ao final da explicação, ela estava em lágrimas, apavorada, pedindo que orasse por ela, pois precisava urgentemente ser perdoada pelo extermínio dos índios americanos.  Não pude negar um pedido de oração, mas não sem antes, trazer a pauta algumas observações pontuadas em perguntas meramente retóricas:

- Qual o tamanho do Deus que você serve?

- Que valia tem o sacrifício de Cristo no Calvário?

- A sua Bíblia não fala sobre “Novo Nascimento”, “coisas antigas ficando para trás” e “a Verdade que promove libertação?”

Medo do passado. Medo do presente. Medo do futuro. Estão mais para exercícios de imaginação, do que para provas científicas conclusivas. Podem até ter origem palpável, mas geralmente, não possuem propósito efetivo. E nesta curiosidade pelo “desconhecido”, nos esquecemos que Deus propositalmente mantem alguns aspectos da existência sob um manto de mistério. Enigmas a serem decifrados apenas na eternidade (I Coríntios 13:12). E mesmo assim, lá vamos nós, movidos pela curiosidade (ou seria teimosia?) escavar em terrenos minados na busca de respostas fantasiosas, que ao invés de esclarecer, nos lançam ainda vez mais fundo no abismo do desconhecimento. E o desconhecido, sempre provoca medo. Uma nova Sexta Feira -13 a cada amanhecer. 

Incontáveis são as pessoas que possuem verdadeira aversão ao "13", dando ao pobre algarismo a alcunha de "número do azar". Outros tantos consideram a "sexta feira" como o dia da semana mais propício aos maus agouros. Neste contexto, quando ambas teorias se entrelaçam, está formado o pandemônio. Não é exagero dizer que alguns indivíduos  caminham na fronteira da loucura, apavorados com tamanho pressagio de uma "possível" falta de sorte. Tem gente que até cita as Escrituras Sagradas como argumento, claramente confundindo fé e superstição.

- Quando o décimo terceiro dia do mês coincidir com a noite enluarada da sexta feira, melhor para ti é trancar-se em casa, pois as portas do inferno se levantarão com tamanha fúria, que em números incontáveis, as almas serão devoradas pelas trevas, e de nada valerá a tua fé ou o teu deus.  (Livro do Profeta Babaquias 13:6)

Elevando o nível de suspensão da descrença ao máximo, me ponho a perguntar se existe algum subsídio bíblico para a má fama desta data, temida, inclusive, por muitos cristãos.

A conjectura mais plausível (imagine a menos plausível) para justificar o teórico infortúnio da "sexta feira- 13" num contexto neo-testamentário, remonta a famosa ceia que Jesus realizou com os discípulos antes de sua paixão. Nela, treze homens se assentaram juntos na mesma mesa. Todos amigos. Porém, entre eles, havia um traidor, Judas Iscariotes. Portanto, o homem Nº 13, era na verdade, um agente do maligno infiltrado na família de Cristo. E agora pasmem (!?!)... em qual dia da semana tudo isto aconteceu? Na noite de quinta para sexta.  Somados os fatores, a superstição enraizada na cristandade encontra seu epicentro. Tudo tem a ver com a “Maldição da Cruz”.

Mas, será que esta sucessão de eventos fatídicos realmente respalda biblicamente o temor por uma data aleatória circulada de vermelho no calendário da sociedade ocidental?

A resposta, obviamente, é NÃO!  

A morte de Jesus não está ligada a nenhum tipo de maldição. Muito pelo contrário. Isaías 53:5 é revelador quanto a essência do sacrifício vicário de Cristo, quando poeticamente profetiza:  - "O castigo que nos trouxe a paz estava sobre Ele, e pelo seu sofrimento na cruz, nós fomos sarados."

O problema, é que alguns eruditos do achismo, não se contentam com a simplicidade das respostas bíblicas. Acham sempre que existe algo mais sombrio por trás das intempéries. Precisam justificar fracassos pessoais com argumentos cósmicos. E aí, recorrem a qualquer fonte que jorre algum tipo de líquido. Mesmo que não seja água potável.  E quem procura chifre na cabeça de cavalo, acaba galopando nos lombos de unicórnios imaginários.

Um fato histórico que pode “justificar” o tom sombrio de uma "Sexta Feira - 13" teria acontecido em 13 de outubro de 1307, e está descrito no livro "Tales of the Knights Templar". Nesta data, o rei francês Philip IV, invadiu as casas dos Cavaleiros Templários (os monges guerreiros que atuaram durante as cruzadas realizadas em nome de "Cristo"), aprisionando milhares de pessoas sob acusações que nunca foram comprovadas. Centenas de homens foram barbaramente assassinados e tantos outros sofreram torturas inenarráveis, gerando um grande pesar cada vez que a data se repetia. Historicamente, um dia negro sob nuvens densas de amargas lembranças.

Já segundo alguns pesquisadores, o mito da "Sexta-Feira - 13" teria sua origem em duas lendas nórdicas (ou escandinavas). A primeira conta que houve um banquete em Valhalla (o palácio para onde iam os guerreiros mortos em batalha), para o qual foram convidadas 12 divindades. Loki, o “deus do fogo”, a mais controversa figura daquele panteão, não foi convidado. Cheio de ciúmes, ele apareceu sem ser chamado e armou uma cilada mortífera para Baldur (deus do sol ou da luz), o preferido de Odin, deus dos deuses. Deste conto mitológico, nasceu a ideia que ter treze pessoas à mesa para um jantar, é conclamar a desgraça para dentro de casa. A outra história está mais associada com a malignidade da sexta-feira, e tem origem na lenda nórdica de Frigga (ou Freya), a deusa escandinava da paixão e da fertilidade. Segundo a crença local, quando as tribos nórdicas e germânicas foram obrigadas a se converterem ao cristianismo, as narrativas passaram a descrevê-la como uma bruxa exilada no alto de uma montanha. Dizia-se, então, que buscando vingança, ela reunia todas as sextas-feiras um grupo de doze bruxas, que juntamente com um demônio (perfazendo treze entidades), rogavam pragas sobre os humanos.

E neste ponto, é bem possível que algum leitor já esteja clamando o “Sangue de Jesus”, por estar sentindo calafrios na espinha. Ainda mais se a leitura estiver acontecendo numa sexta feira. Treze. Graças aos Céus, servimos a um Deus absoluto que não divide sua mesa com “senhores do trovão” ou “comensais da morte”. Tudo está em suas mãos. Ele é Dono do Poder. A matemática se dobra em reverência. O tempo se curva para adorá-lo. O maior de todos os números (ainda desconhecido ao homem), é apenas mais um algoritmo incrustado na engenharia do universo, que o Criador projetou e construí tendo o "nada absoluto" como matéria-prima, usando como ferramenta, nada mais que sua Palavra. Viva, ativa e eficaz.

Enfim, a superstição com a “Sexta Feira- 13” ou com “A Maldição dos Espanhóis” são meros fenômenos equivocadamente espiritualizados. Não que Satanás deixe de aproveitar as brechas que lhe são dadas, mas sim, porque muitos parecem se esquecer que basta sujeitar-se a Deus (e resistir ao Diabo), para que o inimigo bata em retirada. Independentemente do dia que seja. Não importando a nacionalidade do nome que invoca o nome de Jesus.

Quem deve sentir medo de "Jason Voorhees", são os personagens caricatos e desprovidos de inteligência que Hollywood produz em larga escala. E, é claro, crianças incautas como eu já fui, suscetíveis aos medos mais efêmeros, decorrentes da curiosidade desenfreada e de imaginação fervilhante. Não é mais o caso. Há tempos perdi este direito. Minha experiência com Deus precisa levar-me ao amadurecimento. A maturidade, por sua vez, potencializa em nós a fé, a esperança e o amor. E o verdadeiro amor, lança fora todos os medos (I João 4:18).

Para o cristão, a "Sexta Feira - 13" é um dia como outro qualquer, e deve ser vivenciada em santidade e adoração, tendo como lema o texto do Salmo 118:24. Aliás, adote o mesmo tema para todos os outros dias do ano: 

- "Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele!". 

Alegre-se no Senhor que renova todas as coisas. Que transforma em benção as maiores maldições. Que redime o homem de sua perdição. Cuja graça superabundante soterra a abundância do pecado. Viva sem medo o “hoje”, ciente que no ontem, Deus já reservou o amanhã para si.  

Cresça. Amadureça. Deixa para trás as coisas de menino. Não perca noites de sono por causa de filmes da TV. Não seja assombrado por fantasmas que você mesmo projetou ou atormentado pelos demônios que povoam apenas tua mente. A Sombra do Altíssimo é seu refúgio contra os perigos da escuridão, e tua maturidade espiritual é a senha que garante acesso ao bunker que nem mesmo um ataque massivo do inferno consegue invadir. Carpe Diem, sem se perder na noite!


- Porque Deus não te deu um espírito de temor, mas de coragem, e de amor, e de equilíbrio! (II Timóteo 1:7)

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