Viver é
isso: ficar se equilibrando o tempo todo,
entre
escolhas e consequências!
(Jean
Paul Sartre)
Como diz o velho ditado, “a beleza está nos olhos de quem vê”. Pois é. Nada é feio (ou bonito), até que padrões prévios sejam estabelecidos. No Brasil, gasta-se horas sob o sol afim de bronzear a pele. Em países como a
Coréia do Sul, a regra é abrigar-se na sombra, para manter a cútis branqueada.
As magérrimas e longilíneas modelos que fazem sucesso nas passarelas europeias,
seriam um fracasso retumbante em qualquer desfile na Mauritânia, onde o “acúmulo
de tecido adiposo” caracteriza as mulheres mais belas. Em algumas regiões da Etiópia, as
adolescentes passam por um processo cirúrgico no qual tem o lábio inferior
cortado, para ali, usarem um tipo de disco
esculpido em madeira ou porcelana, cujo diâmetro vai ficando maior a cada
inserção. Quanto mais esticado for o lábio, mais “bela” e “sexy” é considerada
a mulher. Em Kaian, na Tailândia, a moda é usar bobinas de bronze no entorno do
pescoço para esticá-lo ao máximo possível. Quanto mais “pescoçuda”, maior é o
glamour.
Algo considerado “feio”, “estranho” ou
“deselegante” numa cultura, se revela “belo”, “exuberante” e “luxuoso” em
outra. Tudo é questão de parâmetro. Se achamos anormal que mulheres tenham
pescoço de “girafa”, em alguma parte do mundo, alguém estará ridicularizando as
mulheres com pescoço de "tartaruga" que povoam nossas cidades.
Socialmente falando, a questão mais interessante é
entender quem determina os padrões. Em algum ponto da história, uma mente “brilhante”
com capacidade de influenciar a opinião pública, baseado em critérios e gostos
estritamente pessoais, determinou que “azul” é coisa de menino, sendo o “rosa” uma
cor exclusiva para uso de meninas. E assim foi por anos a fio, até que uma nova
tendência emergiu, miscigenando cores e gêneros. A mídia dita a moda e a moda dita a regra. E
a grande maioria, simplesmente segue a regra sem ao menos entendê-la ou
questioná-la. Se todos dizem que é “belo”, realmente, “belo” deve ser.
Mas, este tipo de consciência coletiva absoluta,
sem confrontamento consistentes, é deveras perigoso. O fato de todos "acreditarem" não é prova cabal de veracidade. Joseph Goebbels, ministro de propaganda
na Alemanha Nazista de Adolf Hittler, defendia o conceito que “uma mentira repetida mil vezes torna-se
verdade”. Infelizmente, mesmo sem perceber, também acreditamos nisto.
Afinal de contas, o que é mais “humano” que valer-se da mentira para alcançar
seus objetos? Seja em busca de benefício pessoal ou meramente por autopreservação.
E se o tempo for capaz de banalizar o objeto da crença nebulosa, escondendo nos
arquivos históricos os mais falíveis argumentos, não há realmente motivos para
se preocupar com a falência da tola ideologia hedonista.
Toda beleza é uma verdade momentânea, com
localização geográfica muito bem definida. Meias verdades, e nada mais.
Efêmeras. Passageiras. Transitórias. Metamorfose em constante evolução. A
verdade suprema e absoluta, mesmo diante de contestações eloquentes, permanece
inalterada. “Sim é sim. Não é não”. E se nossos parâmetros estão suscetíveis ao
tempo e ao multiculturalismo, jamais poderão ser tomadas por “verdades”. Logo,
são mentiras.
Se os padrões sociais e culturais carecem de
confiabilidade, o cristão precisa buscar parâmetros que não se corrompam com o
passar dos anos. Nosso objetivo é uma eternidade que apenas refletirá os
efeitos das escolhas realizadas no presente. Não podemos ser levados por ondas
de modismos ou nos deixar vislumbrarmos com belezas pré moldadas. É preciso
manter o pé calçado em bases bem mais sólidas, estabelecidas antes da criação
do mundo, e que permanecerão inalteráveis, mesmo depois que toda existência
conhecida encontrar seu fim. Este parâmetro definitivo, a prova de variações e
perpétuo por essência, é o próprio Deus. Sua Palavra. Sua Vontade.
O Senhor deseja que nos enquadremos em seus
princípios. Ele almeja ser a referência norteando comportamentos, pensamentos e
intenções:
- Anda ao meu lado e seja perfeito! (Gêneses 17:1)
- Seja santo, porque Eu Sou Santo! (I Pedro 1:16)
Mais do que uma exigência autocrática e impossível
de ser executada à risca, esta ordenança divina é um estabelecimento de meta. Deus colocou um alvo de perfeição e santidade, para que homens pecadores e
imperfeitos tenham uma direção na qual olhar. E lá está ele (o alvo), desde os dias de
Adão. Imóvel. Imutável. Intransgressível. Um norte. Um porto. Uma direção
segura. Se há alguma moda a ser seguida, é a ditada por Deus. Ela se mantém
usual ao longo das eras. Atual em cada dispensação. Moda Eternidade/Eternidade. Um padrão pleno e absoluto que confronta a
falácia (e a falência) das mais
consistentes verdades humanas cheias de virtudes e defeitos condicionados
apenas ao olho (e ao gosto) do
observador. Quando a Palavra de Deus é o parâmetro adotado, logo, todos somos
nivelados pela condição humana, e começamos a busca por uma excelência
sistêmica, que só é alcançada mediante a proximidade com o divino.
O mais crasso dos erros cometidos neste processo,
é a insistência na comparação entre iguais. Absoluta perca de tempo. De nada
adianta empregar força e talento para superar o irmão “A” ou “B” e usar o
“fulano de tal” para paramentar minha espiritualidade. Qual é a proficuidade de sentir-se
mais “santo” que as demais pessoas, se o objetivo estabelecido é chegar ao
patamar de santidade do próprio Deus?
Não estamos numa disputa por canonização, e sim, na busca de aprimoramento individual, visando intimidade
com o Senhor. Neste processo, somos lapidados, corrigidos, exortados,
redarguidos, purificados, justificados e santificados, ainda que a perfeição
esteja longe de ser uma realidade terrena. Estamos nos aperfeiçoando, e esta é
uma batalha pessoal e intransferível. Quem se rotula "acima da média" no
quesito santidade, apenas por se sentir mais próximo de Deus que os outros,
geralmente é quem de fato, está mais longe do Senhor.
Particularmente, não gosto de usar roupas brancas.
Tenho meus motivos para isto. Mesmo
assim, sinto-me obrigado a manter no guarda roupa, algumas peças alabastrinas. Branco
mais alvo que a branca neve. Ou pelo menos, era isso que eu pensava. Dias atrás,
todos os obreiros da igreja foram convocados à padronização. Camisa branca era
um dos itens escolhidos. Vesti minha indumentária e orgulhosamente me dirigi à
congregação. Durante o cerimonial da Santa Ceia, no exato momento em que todos se perfilaram
lado a lado, tive a clara revelação. Quando comparado ao branco da vestimenta
alheia, o meu branco (ou aquilo que eu
julgava branco absoluto) se transformou em "amarelo". Ou quase isso. Basicamente, o padrão exigido subiu e a
qualidade individual se precipitou. Toda comparação é uma faca de gume duplo. E o corte pode ser profundo.
Quem se equipara ao próximo, com a intenção de
valorizar a pureza das próprias vestes, tende a interpretar incorretamente a
paleta de cores. Uma conclusão viciada e comprometida.
Quer ter parâmetros corretos? Se aproxime de Deus!
Quanto mais perto eu estou do Senhor, mais pecador
me sinto. Se a proximidade com Deus me faz ter overdoses de santidade, tem algo
estranhamente errado neste sentimento. Afinal, “Ele” é tão puro e perfeito, que
minhas impurezas e perfeições saltam as vistas quando estou ao seu lado. Como
se fossem pipocas recheadas de nanquim numa panela de cerâmica branca. Deus é
santo, e sua presença revela o quão pecador me tornei.
Aproximar-se de Deus evidência minhas falhas de
caráter, meus pensamentos perniciosos e minhas intenções escusas. Meu pecado
mais obscuro é descortinado pelos olhos de fogo daquele que tudo sabe e tudo
vê. Logo, não me sinto santo. Me descubro miserável. Imundo. Desgraçado. E se isto acontece, tudo
esta indo muito bem. Reconhecer a própria condição pecaminosa é o requisito básico para que a
Graça encontre propósito, e a Misericórdia seja validada em nós. Famintos de
justiça são fartos. Mendigos espirituais são recolhidos ao albergue do
amor.
Imagine que a escravidão do pecado seja o ponto
inicial da paleta. Escuro. Negro. “Preto Vantablack”. Uma cor tão escura que
pode ser entendida apenas como "ausência". Carência de luz. Aposto a este negror,
está o padrão estabelecido por Deus. O alvo. A meta. Um branco límpido e
cristalino. Imaculado. Incontaminável. A “santificação” é uma jornada que passa
por cada tom entre eles. São muitos cinzas pelo caminho. E por vezes nos
iludimos achando que o “cinza níquel”
de um, revela mais santidade que o “cinza
elgengrau” do outro. Ledo engano. Tudo é cinza. Mais próximo do preto que
do branco.
Só existe um tipo de branco para Deus. E ainda
estamos longe na escala de cores. São muitos degraus cinzas para percorrer. E a
subida, obrigatoriamente, precisa ser realizada com os olhos voltados para cima. Na direção de Deus. A beleza da santificação revelada. Cada vez mais claro. A
escuridão ficando para trás. Foco no alvo que é Cristo. Ele
é o padrão. O parâmetro. Sua Palavra confronta nossa arrogância. A Bíblia expõe
as fraquezas. Joga no rosto a sujeira escondida embaixo do tapete. Revela que
meias verdades são mentiras absolutas. Prova que nenhum cinza é branco, mesmo
que reverberemos ao mundo está discromatopsia espiritual.
A Bíblia confronta o avarento, o luxurioso, o
soberbo, o hipócrita, o vaidoso, o idolatra, o arrogante, o glutão, o perverso,
o sodomita, o adúltero, o homicida, o bêbado, o invejoso, o maledicente, o lamurioso,
o blasfemo, o herege, o apostata e o contencioso (a lista é imensa e sua paciência é curta). Mas, também confronta o
pai de família, o pastor das ovelhas, o evangelista, o mestre, a mulher
virtuosa, o discípulo abnegado, e até mesmo, o ganhador de almas. Eu não tenho
argumentos para confrontar alguém que dedica sua vida a resgatar almas das mãos
de Satanás. A Bíblia tem.
- O que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e no fim perder sua alma? (Mateus
16:26).
Todos precisam de confrontamento. De parâmetros
que determinem com minúcias de detalhes nossa real condição: Náufragos num mar tingindo de cinza. Fugitivos
de um buraco negro infernal e insaciável, que almejam chegar a margem ao norte,
de onde um farol resplandecente emite a mais branca entre todas as luzes
brancas.
É nesta direção que devemos seguir. O tamanho do
pescoço não importa. A flexibilidade dos lábios é irrelevante. A cor da pele
não tem influência. A quantidade de gordura no corpo é irrelevante. Durante a
jornada, todos somos iguais. Desesperados por Misericórdia. Dependentes da
Graça. Pecadores nas mãos de um Deus irado, que em seu infinito amor, insiste
em se compadecer por aqueles a quem deveria exterminar. Esta sim, uma "tendência" ousada e corajosa. O tipo de “moda” que todas as culturas do mundo deveriam
incorporar.
Então, é isso.
A única beleza perfeita reside em contemplar a
face de Deus. Ainda não estamos preparados para isso. Mas, estamos nos
preparando. Um pecado a menos por dia. Uma tentação negada por vez. Passo a
passo. O objetivo não é superar meu irmão no que tange a santidade. O que
preciso é melhorar sempre. “Eu, superando
a mim mesmo”. Sendo hoje, um pouco melhor do que fui ontem, e um "pouquinho" pior do que serei amanhã. Que minha maior alegria seja olhar no espelho e
perceber que, pelo menos, o branco do meu olho já se assemelha ao de Cristo. Em
breve, meu sorriso será parecido com o Dele também. Branco. Verdadeiro. Eterno.
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