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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O Poder da Simplicidade


Deus não vive numa igreja, Deus vive em você.
(Billy Graham)


Vivemos em um tempo de sermões personalizados, mas sem personalidade. O “mercado pregadologico” está abarrotado de pregadores, seminaristas e itinerantes. Com tamanha concorrência, faz-se necessária a busca por um diferencial. Assim, nossos ouvidos são bombardeados com mensagens rebuscadas, exegéticas mirabolantes e apuradas técnicas de comunicação.

O lado positivo de tudo isto, é que cada vez mais, os ministros estão se dedicando ao estudo teológico, buscando se aprimorar no texto sagrado e compreender com maior profundidade o contexto bíblico. Por outro lado, o evangelho moderno, deixou de escanteio a simplicidade, e com isso, seu impacto sobre as almas tem se limitado cada vez mais aos templos. Pregamos para nós mesmos, e nos esquecemos das pessoas que precisam urgentemente, ouvir uma mensagem direta, simplificada, e que não se baseie apenas em “mistérios”, “mantos” e “núbrias”, enquanto palavras evangelísticas são engolidas por um turbilhão de línguas estranhas.

Não me entenda mal. Minha genética é pentecostal. Acredito piamente na atualidade dos dons espirituais, e me renovo sempre que posso falar com Deus numa língua somente por Ele compreendida, tendo em resposta, sua visitação  plena e pessoal. Só não posso perder a consciência que o “fogo” edifica, mas, dificilmente evangeliza. É benéfico para mim, porém, quase nada agrega aos outros. Então, por vezes (na maioria das vezes), é preciso conter a explosão, para não fazer em pedaços, a compreensão daqueles que ainda desconhecem os mistérios de Deus. O que impressionou a multidão gentílica que testemunhou a descida do Espírito Santo no último dia do Pentecostes, não foram as línguas de fogo sobre a cabeça dos apóstolos, e sim, as palavras "compreensíveis" que saiam de seus lábios, inflamados de poder e unção (Atos 2:6-12).

E antes que você me lembre que o “poder de Deus” é “loucura” aos que perecem, deixe-me lembrá-lo de citar corretamente o texto:

- A “mensagem da cruz” é “loucura” para os que perecem, mas, para nós que somos salvos, é poder de Deus! (I Coríntios 1:18)

O poder de Deus se revela à nós em sua própria Palavra. Na mensagem de amor que provem da cruz. Dela emana o poder. O homem natural não entende o sacrifício de Cristo ou a generosidade de Deus ao entregar seu único filho para a morte, afim de salvar assassinos, traficantes e estupradores.

Um amor capaz de perdoar Hitler´s, Mussoline´s e Nero´s?
Intolerável!


Um pecador compulsivo sendo salvo no último segundo da vida? 
Inaceitável.

O ladrão na cruz recebendo um convite “VIP” para o Paraíso?
Inadmissível!

A mensagem é simples, mas entendê-la é um desafio complexo. Sem a revelação do Espírito Santo, tudo se resume a uma loucura inconsequente que banaliza a justiça e afronta a memória de cada pessoa vitimizada pela maldade humana. E cabe a nós, absorver, assimilar e retransmitir,  tornando a mensagem da cruz acessível aos homens.

Infelizmente, ao invés de simplificar, complicamos.

Longe de mim criticar sermões elaborados, requintados e polidos. Também sou um exegeta por vocação, e me regozijo cada vez que as entrelinhas de um texto são transformadas num esboço de rara iluminação. Mas, percebo que a grande maioria dos pregadores, buscando massagear o próprio ego (ou o ego de seus ouvintes), tem exagerado na retórica. Fazem uso de uma verborragia recheada por jargões, frases de efeito e apelos emocionais, que até podem envolver a congregação numa névoa de “poder e glória”, mas na prática, pouco produz no coração daqueles que não participam do dia-a-dia da cristandade. Nestes casos, um simples “JESUS TE AMA”, é uma mensagem muito mais impactante, do que um sermão composto por 500.000 palavras.

O problema, é que somos uma geração midiática, propensa a inverter prioridades. Mesmo movidos pelas mais nobres intenções. 

Sempre me deparo com postagens de jovens pregadores, que após uma ministração repleta de "glórias e aleluias", vislumbrados por esta sensação de “poder” resultante da “Palavra”, legendam suas imagens “photoshopadas” com a celebre frase: - “O céu desceu na terra”. Sem desmerecer a mensagem, o pregador ou a igreja, quando pensamos além das emoções, tem algo estranhamente errado neste conceito. A função do Evangelho de Cristo não é perpetrar o céu entre os homens, e sim, elevar o homem aos céus. Quando clamamos para que o Reino de Deus venha até nós, não devemos ter em mente uma vivencia em atmosfera celeste enquanto ainda somos pecadores, mas sim, viver uma vida de modo a se enquadrar na legislação dos céus, onde o pecado, definitivamente não entra. 

Se o céu descer à terra, para que abrir mão da terra para morar no céu? Estamos  ignobilmente, moldando a geração do conformismo. Entendeu a sutil armadilha criada por "inocentes" jargões emocionalistas? Nestas horas, prefiro reverberar a simplicidade do discurso repetido a exaustão pelo saudoso Billy Grahan: - Minha casa é nos céus, eu estou apenas viajando pelo mundo. Viajante inconformado e com saudade de casa. E o "transporte" que me leva ao lar é o sacrifício de Cristo. A mensagem da cruz.  

Então, é preciso menos foco no "esboço" e mais concentração na mensagem. Na simplicidade do mais poderoso sermão. O objetivo não é impressionar outros pregadores, e sim, impactar as vidas que ainda não reagem as nossas ministrações com "glórias" e "aleluias" engessados.

O homem foi criado um pouco menor que os anjos (Salmo 8:5). Apesar de também termos a possibilidade de sermos revestidos de glória e honra através da submissão a vontade de Deus, temos algumas limitações se comparados aos seres celestiais. Não voamos, e nem temos agilidade para alcançarmos os opostos do mundo na velocidade de um relâmpago. Mesmo assim, temos um privilégio que os anjos gostariam de ter. Somos anunciadores do evangelho, continuadores da obra de Cristo na Terra, enquanto as miríades celestiais apenas nos auxiliam nesta missão como ministros de Deus a nosso favor (I Pedro 1:12 / Salmo 91:11). 

Uma honra a nós confiada. Uma responsabilidade que será requerida. Um ide que abrange o mundo inteiro, cada morador deste planeta. O tempo urgindo veloz. E aqui estamos nós, preocupados com a "nota" que o pastor vai dar para o "sermão"... 

- Porque deturpamos a essência do Evangelho pregando fogo e glória em templos lotados, mas esquecendo de anunciar o fundamento do Reino de Deus, que visa alargar suas fronteiras trazendo ao redil as ovelhas perdidas?

O erro não está no clamor pelo fogo, e sim, na omissão do amor. 

Amor. Amor que emana da cruz. Amor que nos constrange a amar. Amor tão intenso que parece irracional. Pois, não é. A simplicidade frustra os garimpeiros de “mistérios” e “enigmas” espirituais. Amor. Simples assim. Tudo se resume em apenas quatro letras.

Deus não tem amor. Ele é a própria personificação do amor.

Graça, misericórdia, justiça, verdade, fidelidade e tantas outras virtudes louváveis estão inseridas em seu caráter. E quando o Deus Criador, investiu seu talento na criação do homem, destinou para ele, o “crème de la crème” de seus atributos. Somos amados pelo nosso Deus, com um amor perfeito que excede o entendimento das mentes mais promissoras da humanidade. Desde os primórdios do tempo, quando o homem traiu a confiança de seu Criador e cedeu a tentação da serpente, Deus tem se dedicado em tempo integral, buscando se reaproximar da humanidade. Do Gêneses ao Apocalipse, enxergamos o mover do Senhor em prol desta ambição sagrada. Os patriarcas, juízes, profetas, apóstolos, ministros, pastores, evangelistas e mestres, só existem para transmitir a mensagem do Senhor, que em resumo, nada mais é que um convite ao arrependimento, que por sua vez, é a chave que abre as portas dos céus para o homem.

Nada faz o coração de Deus pulsar tão forte quanto um pecador que se arrepende. O universo ainda existe, para testemunhar este evento miraculoso. Deus não move uma única peça no tabuleiro da existência, sem que a motivação seja aproximar-se da humanidade e restaurar o homem para si. A encarnação do Verbo entre nós, teve como objetivo principal expiar os pecados de "todos"na cruz, reconciliando os pecadores e salvando os que se haviam se perdido (João 1.14). A submissão de Jesus em concretizar o plano de salvação designado por Deus, implicou-o a tornar-se humano. Deus entre os homens, para que os homens se achegassem a Deus.

Jesus submeteu-se à vontade do Pai, carregando sobre Si mesmo os pecados da humanidade para que pudesse redimi-la e reconciliá-la com o Pai. Dessa forma, Jesus foi enviado voluntariamente, como um sacrifício perfeito, imaculado, realizando um ato de expiação na cruz, reconciliando o homem com o Criador (II Coríntios 5:18,19).

E hoje, a Igreja é a ferramenta máster da vontade de Deus. Somos continuadores da obra de Cristo, apregoando a Salvação pela fé no sacrifício vicário do Filho do Homem. Deus moveu céus e terra para nós dar esta oportunidade. Jesus, por sua vez, trocou a glória pela cruz, deixando a morte tripudiar da vida, afim de nos dar condições para sermos salvos. Fomos agraciados pela misericórdia, eabraçados por esta graça. Deus nos revelou seu amor de maneiras inquestionáveis e profundas. O Senhor se sacrificou para corrigir erros que nós cometemos. Ele nos reabriu as portas do paraíso, as quais fechamos com as próprias mãos no jardim.

E cabe a cada um de nós, como Igreja do Senhor, sermos respeitosos a vontade de Deus. Ele nos deu os meios, e as condições, para sermos sua voz na terra, convidando todas as pessoas deste mundo, a também experimentar de seu amor. Que sejamos leais a este propósito, pois somente assim, a vida de fato, terá um sentido pleno para existir.

Quer realmente ser um pregador admirado nos céus e não apenas bajulado na terra? Vá até o portão da sua casa e espere o primeiro transeunte cruzar a rua. Não importa quem seja. Conhecido ou não. Se aproxime dele e pregue a mais poderosa das mensagens. Aquela que faz o céu festejar e o inferno implodir nas próprias bases. Olhe nos olhos deste alguém, e diga com toda a convicção de sua alma.

- Jesus te ama! Cristo te salva! Ele te leva para o céu!

Amor que não se explica com palavras. Se experimenta na própria vida. E não se perde nenhuma oportunidade para compartilhá-lo. 

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