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sábado, 17 de fevereiro de 2018

Sua Majestade, Rei Umbigo I

A arrogância é o reino - sem a coroa.
(Provérbio Judaico)


Se existe um mandamento difícil de cumprir, é o registrado em Mateus 16:24: - Se alguém quiser vir após mim, renuncie-a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.

Seguir à Jesus não é nenhum sacrífico. Ele alimenta a alma do homem com Palavras de Vida Eterna, e ainda abastasse o estômago humano com peixe e pão. Em volta de Cristo vivenciamos milagres. A cegueira irradia luz, a surdes ouve a voz do Pai e a paralisia saltita com elegância. Não existe melhor lugar para se estar. Tomar a cruz sobre os ombros não é tão difícil assim (mesmo não sendo fácil também). Carregamos tantas bagagens nas costas, que trocá-las por um vigamento de madeira é até acalentador. A grande dificuldade encontrada neste ensinamento de Jesus é a “renúncia”.

Como Cristo ousa pedir para que “eu” deixe de seu “eu” mesmo?
Que tipo de doutrinamento autocentrado é este?

Se tal ordenança já era demasiadamente pesarosa nos dias de Jesus, imagine seu peso em tempos modernos. Somos filhos de uma cultura individualista que apregoa o amor próprio inconsequente e a felicidade pessoal acima de todas as coisas.

- Seja você mesmo!
- Viva sua vida sem moderações!
- Brilhe! Lacre! Ouse! Impacte! Questione! Afronte! Aconteça!

Como já cantava Raul Seixas há algumas décadas atrás, “faz o que tú queres, pois é tudo da lei!”

Em resumo, somos orgulhosos demais para abrirmos mão de quem “somos” e viver a vida que Deus deseja. Se “eu” não gosto, certamente não é bom para “mim”. Estamos tão acostumados a ser o centro do universo, que quando Jesus chega para ressuscitar o “Lázaro” que matamos com as próprias mãos, ordenamos que Ele mesmo remova a pedra. E ainda chamamos tamanha prepotência de louvor! Nossa presunção é tão gritante, que NOS negamos a sujar as mãos ou empregar esforços, mesmo que o trabalho braçal seja parte de um grandioso milagre. E lançamos os fundamentos desta estagnação espiritual para justificar todo tipo de anomalia teológica. Deus passa a ser um personagem secundário da história, acionado apenas para atender os desejos mesquinhos de homens arrogantes.

Está tudo errado. Muito errado. Perigosamente errado.

A sensação de grandeza provocada por um ego inchado, infla as pálpebras dos olhos espirituais, impedido nossa visão. Não enxergamos a espada de Deus se movendo na direção das ambições mudanças. Uma bariátrica emergencial agindo em nossa imprudente enfatuação. Cirurgia agressiva para evitar a morte definitiva.

Existe inúmeros exemplos históricos de homens, mulheres e impérios que se consolidaram sobre bases de arrogância, e despencaram como jacas apodrecidas. Herodes, Acabe, Nabucodonozor, Jezabel... Grécia, Roma, Assíria, Egito... Mas, encontro uma lição valiosa no livro do profeta Jeremias, que evidencia o quanto a renúncia do próprio querer é revestida de “inconveniências”, mas pode ser o único meio de sobrevivência num cenário de crise.

Hum... Tempos de crise! Isso me faz lembrar que aprender com lições do passado, é a melhor forma de, no presente, garantir um futuro de paz. Então, meu Brasil, entenda que agora é a hora do aprendizado.

Jeremias viveu num período de grande instabilidade política, com uma sucessão sistêmica de governantes e conchavos internacionais. Ao todo, o profeta vivenciou cinco governos distintos, sendo a maioria destes reis, dotados de arrogância e presunção. A mensagem de Jeremias apontava para um caminho “menos” doloroso, já que a sentença divina sobre nação estava lavrada. Fatalmente, Judá seria subjugada pela Babilônia, sendo o poderoso Nabucodonosor uma ferramenta do próprio Deus na lapidação de seu povo. Ciente que este era um processo irreversível, o profeta clamava aos seus governantes para que se rendessem aos caldeus, evitando assim o conflito armado com milhares de baixas civis e militares.  Nas palavras de Jeremias, era preciso aceitar o castigo divino, aprender com os próprios erros e se voltar para Deus, na busca por um futuro de esperança. O presente estava comprometido por uma tragédia anunciada com muita antecedência (Lamentações 3:29).

Este discurso “pessimista” do profeta foi encarado como uma “afronta ao orgulho nacional”, já que o “governo” ludibriava o povo com falsas expectativas de sucesso (Jeremias poderia muito bem, ser um profeta brasileiro em plena atividade ministerial).

Uma série de estratégias políticas malfadadas puseram Judá na rota do fracasso. Subjugados pela Babilônia, e taxados com altos impostos pela corte de Nabucodonosor, os judeus ainda preservaram sua elevada estima. Afinal, eles eram os “Filhos de Abraão”, a nação que tinha ao seu lado “O Senhor dos Exércitos”. Seus pais haviam atravessado o mar, se alimentado de pão do céu e vencido guerras improváveis. Porém, o passado de Israel não os isentava do castigo vindouro. Com a boca eles evocavam a memória de um Deus libertador e poderoso nas batalhas, mas, em seus corações, estava acessa a chama do hedonismo e do orgulho próprio. Os judeus se achavam auto-suficientes, e este sentimento mesquinho, os levaria a ruína total.

O último rei de Judá foi Zedequias, contrariando as orientações do profeta, costurou um acordo de cooperação militar com os egípcios, e assim, conquistou apoio nacional para insurgir contra a Babilônia. Ele acreditava que a união dos dois exércitos seria suficiente para derrotar as forças bélicas dos caldeus. Em seu orgulho, o prepotente monarca, se esqueceu que os egípcios priorizavam os próprios interesses, e que através de diversos profetas, o Senhor já havia alertado seu povo a não confiar no Egito para acordos políticos e militares. Usar o “Egito” como um apoio, equivalia a usar uma “vara de pesca muito fina” no lugar de uma muleta. Além de se quebrar com facilidade, ainda rasgaria a carne de quem se apoiasse nela (II Reis 18:21, Isaías 36:6 e Jeremias 2:16).

Judá preferiu confiar em quem lhes trairia a confiança com facilidade, e ignorou a voz de se Deus, que lhes fora fiel desde a antiguidade. Soberba humana atraindo o fracasso.

E neste contexto histórico, onde Judá se assemelha as nações pagãs da terra, que o profeta discursa sobre o destino insólito de Moabe (Jeremias 48). A intenção era lembrar aos judeus, que eles estavam seguindo os mesmos passos de seus vizinhos, caminhando rapidamente para o abismo da derrocada espiritual. O Deus que abominava os pecados de Moabe, também abominava os pecados de Judá. Os atos pecaminosos de ambas as nações, atraia sobre os povos a fúria do Senhor, e consequentemente, seus juízos. Quem age como quer, provoca reações que pode não querer. O orgulho aciona a roda gigante da história, e faz do altivo, o esteio onde até mesmo os débeis, caminham com sapatos de ferro.

A grande verdade, é que Deus não “mima” os seus filhos e nem “põe panos quentes” sobre as contravenções de seu povo. O Senhor corrige e açoita a quem ama. Deus prefere uma ovelha com as patas quebradas sobre seu ombro, do que uma ovelhinha saltitante longe do redil. Sendo assim, sempre que preciso, Ele quebrará nossos pés, visando nos manter próximos de seu cuidado. Neste ponto, a obediência ao Senhor, e a humildade de estar debaixo de sua vontade, evita fraturas. Judá não entendia que está era a mensagem de Jeremias, assim como diversas nações também não entenderam a voz dos profetas ao longo dos séculos. E o resultado desta arrogância, que nos faz surdos ao clamor divino, é tragédia, decadência e ruína. Ignorar a voz de Deus é acionar o “botãozinho” da autodestruição. Nínive sucumbiu pelas palavras de Naum. Edom encontrou seu fim na mensagem de Obadias. A Babilônia ruiu após a revelação de Daniel.

Israel e Judá, mesmo sendo o povo escolhido do Senhor, também ignoraram a voz de Deus, e muitas vezes, tentaram calar seus profetas. Elias, Jeremias, Ezequiel, Ageu, Miquéias, Habacuque. Tantas mensagens conclamando ao arrependimento, e por vezes, faladas como que ao vento. O orgulho humano é um protetor auricular potente, com selo de aprovação do inferno. Cada palavra ignorada, é um passo em direção ao abismo. O orgulho precede a ruína, e Judá – o povo de Deus, se tornou um ratinho indefeso, nas garras de um leão poderoso e cruel. Quem investe num projeto pessoal, descartando Deus de toda equação, deixa um ponto de ruptura que o inimigo não está propenso a ignorar.

Em Cristo, somos feitos povo de Deus. Um novo Israel, descendentes de Abraão pela fé. Filhos amados, e consequentemente, castigados em amor, quando a disciplina verbal não surte efeito. Não são profetas que erguem a voz revelando a vontade do Senhor a nossa geração. É Jesus:

 - Renunciem aos próprios desejos. Vivam uma vida que agrade a Deus e não aos homens.

Seremos obedientes a esta voz, escondendo o próprio ego atrás de cruz, ou seguindo o exemplo de Israel, Judá e Moabe, permaneceremos leais ao próprio umbigo, caminhando a passos largos rumo a um abismo escuro e com profundezas inimagináveis?

O umbigo do homem é um vórtex atraindo destruição e ruína. Um rei sem coroa declarando guerra contra o próprio Deus, condenando seu reino a uma derrocada definitiva. Rei Umbigo I. Monarca ganancioso, voraz e intolerante. Nada sabe, mas tudo quer. Quando mais de “MIM”, eu desejo ter, mais próximo da destruição escolho estar. Até porque, o "homem" que confia no próprio "homem" se auto condena a uma vida de maldição, e neste caso, o menos confiável entre todos os homens da terra, sou exatamente “eu”. Então, que a sentença da turba seja o brado: - Morte ao rei!

A prudência (e o bom senso) me apontam apenas uma direção. Menos o que quero, e mais do que Deus deseja. Menos do que acho, e mais do que Deus já sabe. Menos do que eu busco, e mais do Deus tem para oferecer. Que morra eu (e ninguém chore), e Cristo viva eternamente em meu lugar.



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