Arquivo do blog

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O Final e o Começo

Eis um teste para saber se você terminou sua missão na Terra:
Se você está vivo, não terminou.
(Richard Bach)


Qual a diferença entre finais e começos?

Esta indagação pode até soar estapafúrdia quando analisada sob a perspectiva da finitude humana. Mas, faz todo o sentido no contexto da eternidade onde Deus habita. É o Senhor que delimita o tempo, para depois invertê-lo ao avesso, e transformar “inícios” em “finais”, ou vice-versa. Ele é o Ancião de Dias. O Primeiro e o Derradeiro. O Princípio e o Fim. O Alfa e o Ômega. Soberano de “A” até “Z”. Deus está sempre reescrevendo sem precisar reescrever. Recontando histórias que já estão contadas antes mesmo do mundo existir. Escolhas realizadas pela presciência daquele que tudo sabe, tudo pode e tudo vê.

Nós, por outro lado, nada sabemos, pouco podemos e mal enxergamos. Vivemos em uma realidade de começos e finais bem delineados, e temos imensa dificuldades para compreender o inexplicável. Exatamente por isso, Deus usa o tempo (e suas inversões) para nos ensinar a depender e confiar em sua sabedoria. Confuso? É claro que não. A Bíblia está repleta de exemplos práticos desta sistemática, assim como provavelmente, sua vida também esteja.

Em muitos sermões que ouvimos (e outros tantos que pregamos), a travessia do Mar Vermelho é o “final feliz” para uma grande história de aventura, ação e mistérios. Assim que chegaram a margem oposta, e as águas sepultaram a armada egípcia definitivamente, os israelitas promoveram uma grande festa de júbilo e celebração. E tinham motivos para isso. Poucas horas antes, seus corações estavam tomados pelo medo, enquanto se viam encurralados em Pi Hairote, impotentes diante do oceano, e indefesos contra o exército de Faraó. Sem perspectivas ou esperanças. 

Mas, agora, o mar era um obstáculo vencido e as ondas traziam para a praia, os corpos desfalecidos dos egípcios, que a esta altura, já não apresentavam perigo algum. Deus havia somado duas situações impossíveis, e como resultado, entregado ao seu povo uma possibilidade. Vida. Futuro. Páginas em branco à serem preenchidas nos próximos séculos. Haviam sim motivos para comemorar. Este é, com certeza, um momento épico que fecharia com chave de ouro a mais apoteótica das produções cinematográficas. - Pode subir os créditos, que o filme teve um final à altura de sua grandiosidade!

O que Israel ainda não sabia, é que aquele era apenas o primeiro passo de uma jornada longa e extremamente difícil, que se estenderia por, pelo menos, quatro décadas. Para chegar até ali, eles tiveram que confiar no socorro divino e atravessar a pé, muitos metros por entre as águas espumantes. Agora, haveriam centenas de quilômetros sobre a areia escaldante do deserto, e o segredo da sobrevivência para o “Bichinho de Jacó”, passava primeiro pela total dependência da provisão (sempre presente) do Deus de Abraão.

Israel estava prestes a descobrir os mesmos ciclos que vivemos em nossa caminhada cristã. Vitórias que edificam. Derrotas que ensinam.  O Egito opressor daria lugar a dezenas de povos bárbaros e nações agressivas, estrategicamente localizadas entre os israelitas e a terra da promessa. Tudo até ali, era na verdade, uma preparação para coisas ainda maiores. Batalhas mais acirradas. Momentos de imensa tensão, jamais vividos pelos descendentes de Isaque.

A verdade é que, antes do mar, todo trabalho foi feito apenas por Deus, e os hebreus assistiram ao próprio livramento de camarote. Foi o Senhor quem escolheu e preparou Moisés, e também quem enviou as pragas sobre o Egito. Foram as mãos do GRANDE EU SOU que abriram as águas e decretaram a ruína do exército inimigo. Deus lidou com a libertação de seu povo, como se fosse uma questão de honra pessoal. E era. Promessas estavam sendo cumpridas. Pactos honrados. O concerto perpetuo renovado mais uma vez. Deus estendeu o braço forte, desembainhou sua espada de corte afiado, e lutou bravamente pelos hebreus, enquanto seu povo apenas aguardava o momento da vitória (Êxodo 14:10-20). 

Mas, o deserto lhes reservava suas próprias batalhas. E Israel precisava estar pronto para isso. O livramento miraculoso, a escapada maravilhosa e a celebração incontida, eram provas valiosas e inquestionáveis do comprometimento de Deus com seus escolhidos. Porém, não lhes garantia imunidade contra dias de angústia e provações intensas. Mero detalhe. É se lembrando de quem Deus “É”, e de tudo que Ele “JÁ NOS FEZ”, que podemos caminhar destemidos na direção de um futuro nebuloso. O histórico de provisões e livramentos no passado, nos assegura a presença de Deus no amanhã. E sua intervenção miraculosa. Por piores que sejam as condições agendadas, temos agora uma garantia para a eternidade: “ELE FARÁ”.

Para entenderemos este mecanismo usado por Deus (afim de aperfeiçoar seu povo), podemos olhar alguns séculos a frente e fecharmos o foco em um único homem chamado Davi. Mesmo após ser ungido rei de Israel ele retornou ao ostracismo das pastagens e continuou apascentando as ovelhas de seu pai (I Samuel 16:12-13). Porém, foi dado o “start” de seu treinamento.

O primeiro teste foi enfrentar um leão. Davi venceu a fera e ganhou experiência para lidar com um adversário bem maior, “a ursa”. Foram estas batalhas individuais travadas no anonimato que credenciaram Davi como o representante da nação contra o gigante Golias (I Samuel 17:33-51). Mas, se você acha que enfrentar o filisteu de proporções avantajadas seria o derradeiro desafio do belemita, está equivocado. Pouco tempo depois, Davi se viu perseguido por um exército inteiro, liderados por um ensandecido Saul que desejava ardentemente exterminá-lo (I Samuel 23:8). Apenas passados todos os estágios, é que finalmente Davi ascendeu ao trono de Israel, mais forte e preparado do que nunca. E apto a enfrentar seu mais perigoso adversário. Ele mesmo.

Voltemos os hebreus...

No deserto Deus cuidaria do seu povo como sempre fez, provendo, intervindo, ensinando e corrigindo. A diferença é, que agora, eles precisariam se mover, caminhar com as próprias pernas, enfrentar um desafio se preparando para o próximo. Somente assim estariam devidamente capacitados para a retomada de Canaã. Deus trabalha por nós quando mais precisamos, porém, trabalha em nós, quando julga necessário.

Pense em Deus como um pai que está ensinando seu filho a andar de bicicleta. Ele está do lado, amparando, escoltando e sustentando. O filho se sente confiante, e nem percebe que pouco a pouco está se equilibrando sozinho, dando suas próprias pedaladas rumo ao desconhecido. Mas, como tudo é novo, o aprendizado reserva algumas dificuldades e reprovas. Os primeiros passos sempre se intercalam com quedas doloridas. Exatamente por isso, o pai se mantem caminhando ao lado do filho, observando atentamente, pronto a agir caso a queda seja inevitável. Sim, Deus está ali para levantar qualquer filho que perca o equilíbrio e abrace o chão. E pacientemente repetirá este processo quantas vezes forem necessárias.

O Senhor testemunha este cuidar paternal e presente em Oséias 11:1-4: 

Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho. Mas, como os chamavam, assim se iam da sua face; sacrificavam a baalins, e queimavam incenso às imagens de escultura. Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento.  

Ali, as margens do Mar Vermelho, Israel deixou de engatinhar e começou a dar seus primeiros passos. Um fim e um começo. Um começo e um fim. Eles nunca deixaram de ser amparados pelo Senhor, e orientados por Moisés, um líder previamente escolhido e que já acumulava mais de 700.800 horas na escola preparatória de Deus. O período letivo estava inaugurado para descendência abraâmica. O problema, é que nem todos estavam interessados em aprender, e a inaptidão decorrente da ignorância desejada, foi a lápide que cerrou o túmulo de uma geração inteira.

O fim?  

Nada disto! 

Apenas o começo.

Que ao contrário destes muitos hebreus, tenhamos a humildade de sermos alunos aplicados e filhos obedientes. Neste caso, o deserto será somente uma ponte, ligando a livramento do mar, com o descanso permanente em Canaã. Alfa e Ômega se fundindo do Princípio ao Fim. O começo de um novo começo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário