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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A Casa Vazia

Se você quer fugir de Deus,
o diabo lhe emprestará tanto as esporas como o cavalo.
(Thomas Adams)

Se Jesus Cristo voltasse ao mundo nos dias de hoje, escolhendo o continente europeu como lar, certamente seria confundido com um “lorde inglês”. Não por usar ternos estilizados e bebericar chá no cair da tarde ao lado de pares esnobes, mas sim, pelo senso de urgência aguçado e a precisa pontualidade de suas ações. Isso sem contar com a fineza no trato e no cuidado esmerado com as relações pessoais. Em resumo, Jesus personificaria os bons modos e a educação refinada. Ele redefiniria os padrões de elegância e galhardia, fazendo até mesmo o mais nobre integrante da realeza britânica parecer um boçal ignóbil e desprovido de modos. E este comportamento elegantíssimo não seria uma novidade se tratando do Cristo, já que tal atribuição lhe é pertinente desde as eternidades passadas, seja na condição de homem, ou no exercício pleno de sua divindade,  quando é detentor de todo poder nos céus e na terra.

- Assim que chego na sua casa; eu toco a campainha e espero que a porta seja aberta. Se você me convidar para entrar, eu entro. Se me convidar para jantar, eu janto com sua família. Se me convidar para pousar, eu passo a noite no seu quarto de hospedes. Se fechar a porta, eu fico do lado de fora, triste e decepcionado, mas ainda esperançoso que você mude de ideia, e finalmente me faça um convite. (Livremente adaptado de Apocalipse 3:20)

Cristo é insistente, mas não impertinente. Enquanto a porta se mantiver fechada, Ele estará do lado de fora, insistindo no chamado. E mesmo assim, nenhum transtorno será sentido pelo morador, se o mesmo, assim desejar. Desde o princípio, foi nos dado a opção “mute”, que uma vez acionada, reduz à zero o som provocado pelas batidas na porta ou o sonido estridente da campainha. É possível se fazer de surdo as investidas de Jesus. E quando deixamos de ouvir sua voz chamando nosso nome, ou ignoramos a persistência do chamado, de modo algum significa que Cristo abandonou seu posto ou desistiu de seu maior intento. A "surdes" seletiva é apenas o resultado imediato de nossas escolhas. Enquanto houver um coração pulsando, Cristo estará na soleira, aguardando pacientemente sobre o tapete de “Boas Vindas”, que o homem permita sua entrada.

Não espere que Jesus arrombe as portas e se instale ao bel prazer em sua casa. Esta nunca foi uma opção a ser considerada. Por mais que deseje fazer parte da vida de seus filhos, Deus jamais se impõem sobre a vontade humana. O Eterno respeita o nosso tempo. O intangível se limita a espaços demarcados por nós.  Os ventos o obedecem e o mar atende seus comandos, e mesmo assim, Deus aguarda o meu posicionamento. O Senhor tem nas a chave que abre os abismos e trancafia em seus próprios vórtices as mais expansivas nebulosas, e apesar de tanto poderio, o Senhor espera até que você gire a maçaneta no sentido anti-horário. A decisão precisa ser tomada no interior da casa, nunca no quintal. Até porque, a dúvida reside apenas em um dos lados do umbral.

E os céus jubilam em alegria, quando a porta é finalmente destrancada. E Jesus sorri amavelmente ao morador da casa que o recepciona. Seu amor é notório na atmosfera que o cerca. Sua doçura é perceptível como um perfume borrifado no ar. Mesmo assim, Cristo não se move. Ele apenas ergue as mãos e acena. A ansiedade não corrompe sua calmaria.

- Posso entrar em sua casa?

O próximo passo de Jesus depende da resposta que sairá da "minha" boca. Da frase pronunciada pelos "teus" lábios. O universo se silencia enquanto as palavras se formam em "nossa" mente. 

- Entre Jesus. Fique à vontade. A casa é sua!

Esta é a resposta que faz os céus explodirem em celebração. Quando recebemos Jesus em nossas vidas, as comportas da eternidade irradiam luz. A primeira coisa que Cristo faz quando recebe o convite, é construir uma fonte na sala de estar, jorrando águas cristalinas e abundantes de descanso, prosperidade e paz. Se dermos um passo na direção do Cristo, Ele faz o restante do trajeto na nossa direção. Todo “sim” é valido, toda aceitação é bem-vinda. Maria o recebeu com a devoção. Zaqueu o recebeu com um abraço. Mateus o recebeu com um jantar. A samaritana o recebeu com a sinceridade. E como é bom desfrutar da presença de Jesus. A ordem domesticando o caos. A fé sobrepujando o medo. O impossível se rendendo as possibilidades. Enquanto Cristo está na casa, o mal permanece do lado de fora. A doença não resiste ao embate com o Médico dos Médicos. A necessidade conhece o Deus da provisão. A tristeza sorri diante da força avassaladora da alegria...

Mas, infelizmente, tendemos a nos acomodar com a ilustre presença de Cristo. As conversas diárias se tornam menos frequentes. Preferimos passar o tempo entre livros, celulares e séries de TV. Já não há “bons dias” carinhoso antes do café matinal. As risadas jocosas em volta da mesa são engolidas por um silêncio constrangedor. Jesus se vê rejeitado. Sente-se inconveniente. Um estranho no ninho. Indesejável. Ele fica desconfortável na casa onde sonhou morar permanentemente. Percebe que está atrapalhando a rotina doméstica. Há um entra e sai desenfreado pela porta, roubando a serenidade que permeava os cômodo. Entristecido, Jesus se retira do recinto. Nunca foi sua intenção incomodar. Ele sofre com a despedida, mas respeita a vontade do dono da casa. Sabe que não é mais bem-vindo ali.

Jesus, então, volta ao ponto original. Ele se posiciona do lado de fora da porta outra vez. Respira. Enxuga a lágrima. Toca a campainha. E insiste, enquanto espera um convite para entrar novamente na casa que recusou sua presença.

O método de Satanás é bem diferente. Invasão. Vandalismo. Depredação. O Inimigo não entra pela porta da sala, porque Jesus está ali, mesmo que do lado de fora. Isso não o impede de arrombar alguma janela desprotegida, arrancar partes do telhado ou forçar os trincos da cozinha. O Diabo é posseiro. Não tem nada em seu nome, nem mesmo o inferno. Por isso não hesita em romper as brechas encontradas. Entrar na casa pelas tangentes. Limpar o pé sujo de esterco no tapete da sala. Ligar os alto falantes na calada da noite. Comer direto da panela usando como talher suas mãos imundas. Deitar em lençóis limpos após tomar um banho de chorume. Satanás não tem modos, e muito menos princípios. Apenas objetivos bem definidos para cumprir. Roubar. Matar. Destruir. E este comportamento anárquico tem propósito. A Loucura da Mente. A Fragmentação da Alma. A Corrupção do Corpo. A condenação eterna. Um ciclo de morte cujo final já está estabelecido desde o começo. Uma tragédia anunciada com muita antecedência, e que pode ser facilmente evitada. Basta um gesto. Uma unica ação. Um só convite.

A solução para todas as mazelas que circundam os quartos, as câmaras e recamaras da nossa existência, está ali, na porta da frente, tocando insistentemente a campainha. Ele não precisaria estar pedindo abrigo na minha casa, pois habita desde as eras mais remotas, entre as glórias e maravilhas do Paraíso. Mas, eu preciso Dele para sobreviver ao caos, e por me amar, Jesus não desiste de mim. Sua voz ecoa implorando para que “eu” o deixe “me” ajudar. - Como é possível que continue a dizer “não”? E a questão mais intrigante nem é esta, mas sim: -  Como pode alguém receber Jesus em sua casa, e depois o convidar a se retirar dela, mesmo tendo visto e vivido tantos benefícios e desfrutado de tão maravilhosa companhia?

Quando Jesus entra, o inimigo sai. Sem apelações ou recursos. Não importa qual o nome fantasia utilizado por ele, e nem a hierarquia infernal que ocupe. Belzebu. Satanás. Asmodeus. Coisa Ruim. Capiroto. Encosto. Zé Pilintra. Asag. Tranca Rua. Mefistofelis. Damballa. Baal. Pazuzú. Pomba Gira. Malak. Legião. Diabo. Pouco importa. Nada importa. Nenhum demônio pode ficar numa casa onde Jesus é convidado a entrar e fazer morada. As trevas fogem da luz. 

Mas, o que acontece quando nossas atitudes convidam Jesus a se retirar do recinto?

A casa fica vazia.

E aí está o perigo.

Ao ver sua antiga moradia desocupada, sem a presença protetora de Jesus, o "posseiro" imediatamente investe numa nova invasão. Porém, desta vez, ele traz reforços consigo. Pelo menos mais sete companheiros de anarquia. Demônios são precavidos. Arruaceiros com estratégias bem delineadas. E agora, o império do mal lança seu contra ataque. Existe uma força tarefa satânica dominando o ambiente. Uma orgia espiritual é instaurada. O som de uma música infernal alcança tons cada vez mais agudos, e se funde aos gritos desesperados de um espírito coagido e sufocado pela carne. E com isso, a batida na porta, mesmo existente, já não é percebida. Escolhe-se, não a ouvir mais (Mateus 12:25).

O homem neste estado, é semelhante ao porquinho que tomou um banho refrescante, foi borrifado com perfume francês e adornado com uma bela gravatinha de seda. Porém, na primeira oportunidade que teve, não hesitou em se chafurdar na lama outra vez. Ou então, podemos compará-lo a um cachorro que comeu o que não devia. Seu organismo reagiu rápido e expeliu todo o conteúdo danoso. E ele, faminto pelo que não prestava, simplesmente se alimentou do próprio vomito. Consegue no agora, estar em pior situação que no passado (II Pedro 2:20-22).

Ao ouvir as batidas na porta, não se faça surdo a voz de Deus. Jamais permita que seu coração ignore o chamado da vida. Não se arrisque a uma casa vazia. (Hebreus 3:15). Deixe Jesus entrar, e nunca o permita sair. Tem gente muito mal-intencionada de olho no imóvel. E como bem disse Billy Grahan: - Toda vez que o homem pensa em navegar para longe de Deus, o diabo tem sempre um barco pronto.


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