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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Pequenos Grandes Milagres

Com fé em Deus, o impossível e só questão de opinião.
(Francisco Djair)


Entre 1999 e 2015, trabalhei em uma rádio evangélica da cidade de Mogi Guaçu, no interior de São Paulo. Neste período, vi todo tipo de marketing e estratégia para se atrair a atenção do “público alvo”, numa época onde as redes sociais eram apenas embriões sendo gerados. E haja criatividade. Campanhas mirabolantes, nomes inventivos e promessas singulares. Dentre todas, destaco aqui a febre do “dente de ouro”. Não foram poucos os pregadores que atraíram multidões para templos de diversas denominações cristãs com a promissão de transformar partes da arcada dentária das pessoas em peças de ouro. E tem gente que jura que vivenciou este milagre na própria "boca". Ou seria mágica?

Sempre pensei no propósito destes eventos miraculosos. O "porque" de existirem e se popularizarem. Dentes de ouro são sinônimos de provisão ou ostentação? Edificam ou envaidecem? Não seria mais produtivo campanhas onde os dentes dos idosos voltassem a nascer? E se ao invés de dentes de ouro, o milagre consistisse na restauração do esmalte, na eliminação de cáries ou no fortalecimento do cálcio dentário? Estes são apenas alguns questionamentos particulares (se tornaram públicos agora), que circundam minha mente enquanto penso no quão poderoso é o meu Deus, e no poder que Ele confiou nas mãos de sua igreja. É triste perceber que pouco o “usamos”, e quando “usamos”, “usamos” para os fins equivocados (aqui a redundância tem propósito, ao contrário de alguns destes “milagres” que eclodem por aí).

Vamos aos fatos. 

Em I Coríntios 12:8-9, quando Paulo listou os dons espirituais de poder (tais como profecias, revelações, curas e conhecimento além do entendimento), descreveu um tipo de habilidade espiritual doada pelo próprio Deus à meros mortais, que abala as leis geológicas, químicas, físicas e biológicas que regem nosso mundo: A “Operação de Maravilhas”  - (também chamada de “Operação de Milagres”, “Operação de Poderes” ou como é descrita no texto grego original, “Operação de Onipotência”). O propósito desta dádiva espiritual concedida aos homens, é demonstrar o poder e a grandeza de Deus entre nós, de forma inquestionável e ao ponto de “estontear” suas testemunhas. Quem recebe este dom, tem em suas mãos uma pequenina faísca do poder de Deus, o mesmo poderio usado na criação do mundo. Moisés abrindo o Mar Vermelho. Elizeu fazendo metal flutuar. Jovens hebreus caminhando sem sequelas físicas pelo fogo. Josué impedindo o movimento de rotação da terra. A natureza se submetendo ao comando de homens notáveis, que com ousadia e autoridade, reverberaram a voz de Deus sobre os elementos naturais. Se isto não impressionar alguém, nada mais o impressionará.

Porém, milagres também são realizados nas escalas menores, em situações mais localizadas, e por vezes (muitas vezes), chegam até mesmo a passar despercebidos pela imensa. Você já louvou ao Senhor pelo ar circulando em seus pulmões ou o sangue correndo pelas veias do corpo? Já ponderou sobre o milagre da vida e as inúmeras perniciosidades que não atingiram você por interferência sobrenatural?

Infelizmente, nossa megalomania religiosa só valoriza a atuação divina em obras portentosas ou sinais de abrangência cósmica. Mas, é preciso uma atenção especial para perceber o trabalhar cuidadoso de Deus até mesmo na mais micra das questões. Somente quando nos atentarmos a esse cuidar diário por parte de nosso Criador, passaremos a desenvolver o senso da gratidão, e com isso atrairemos sobre nossas vidas, bênçãos cada vez maiores.

Leitores atentos dos evangelhos irão notar que Jesus revelou seu aspecto divino progressivamente, operando milagres discretos antes dos mais retumbantes, afim de seus seguidores o reconhecessem como Filho de Deus, primeiramente nas coisas pequenas. Essa é a prova de fogo do cristianismo. Desenvolver a fidelidade no pouco, para só então ser introduzido no muito (Mateus 25:21). Até mesmo o mais impactante milagre de Jesus, a “ressurreição dos mortos”, se deu de forma estratégica, aumentando a intensidade dos efeitos paulatinamente. 

Primeiro, num quarto fechado, Jesus ressuscitou a filha de Jairo, tendo como testemunhas, nada mais que uma meia dúzia de pessoas (Mateus 9:18-26). Depois, diante de uma cidade inteira, Jesus chamou de volta para a vida, o filho morto de uma pobre viúva (Lucas 7:11-15). Posteriormente, a nação de Israel foi impactada com a espantosa história de Lázaro, um homem que após quatro dias, foi retirado com vida da sepultura, por intervenção de seu amigo Jesus (João 11:1-46). Finalmente, Cristo dividiu definitivamente a história da humanidade quando ressurgiu vivo, após três dias no seio da terra, provando de forma irrefutável seu poder sobre a morte (Lucas 24:5). Num futuro próximo, o ciclo se fechará com uma ressurreição massiva trará de volta todos os que dormiram em Cristo (I Tessalonicenses 4:13-17).

Portanto, independentemente do tamanho da intervenção divina, ou do impacto que ela cause, é preciso sabedoria para entender que milagre é sempre milagre, mesmo que receba nomes ou conotações diferenciadas.

Quando Moisés foi convocado por Deus para resgatar o povo de Israel do Egito, ele lançou mão de uma série de argumentos, a fim de justificar sua incapacidade de concluir tão árdua missão. Em determinado momento, Moisés disse ao Senhor que o povo não acreditaria em suas palavras, mesmo elas sendo as PALAVRAS do próprio “EU SOU”. Deus, então, concedeu à Moisés uma capacitação espiritual poderosíssima, afim de que ele operasse sinais e maravilhas (Êxodo 4:1-9). Uma vez diante de seus incrédulos ouvintes, que relutavam em aceitar e crer nas palavras do enviado de Deus, Moisés pode usar deste recurso especial, que definitivamente atraiu a atenção de toda aquela gente para si, o catapultando a um status de popularidade sem precedentes.

É verdade que a palavra falada é que trouxe toda a diretriz do plano libertador traçado por Deus, mas foram os atos miraculosos promovidos por Moisés (transformar um cajado em serpente, promover uma doença infecciosa no seu próprio corpo e a curar imediatamente, e ainda transformar água em sangue), que lhe trouxe credibilidade junto aos hebreus e provocou temor nos egípcios. A capacidade de realizar proezas sobre humana é uma das maiores ferramentas que Deus disponibilizou aos seus servos ao longo de toda a história. Patriarcas, juízes e profetas utilizaram em larga escala deste recurso para os fins mais diversos, como livrar Israel de um inimigo, prover sustento ao povo, ajudar pessoas desesperadas, humilhar deuses pagãos e desafiar reinados ditatoriais, visando sempre, a glória de Deus e a oblação do nome poderoso do Senhor.

Com a IGREJA essa realidade não é diferente. Embora muitas acreditem que os milagres não são para os nossos dias, a Bíblia nos diz exatamente o contrário. João registra uma promessa maravilhosa feita pelo próprio Jesus, onde o Messias enfatiza que aqueles que crêem nEle, podem sim realizar as mesmas obras por Ele realizadas, e ainda avançar para coisas maiores (João 14:12). Considerando que em sua passagem sobre a Terra, Jesus curou cegos, aleijados, mudos e leprosos, expulsou demônios promovendo libertação, andou sobre o mar, transformou água em vinho e ressuscitou mortos, então, podemos concluir que o potencial miraculoso que reside no cristão é extraordinário.

Quando comissionou seus discípulos a continuarem a obra por ele iniciada, Jesus concedeu a aqueles homens poder e autoridade, além do respaldo de sua presença divina. Com essa legalidade espiritual e fazendo do nome de Jesus sua "arma", os seguidores de Cristo tornam-se capazes de curar enfermos, expulsar demônios, falar idiomas específicos e sobreviver a investidas mortais de possíveis inimigos (Marcos 16:17-18 / Lucas 10:19). Se toda a nossa fé está centrada em Jesus e abalizada pelas suas palavras, temos também que crer na atualidade dos milagres, pois a verdadeira igreja não teve mudanças em sua essência, a obra que lhe foi confiada ainda é a mesma, e as ferramentas disponibilizadas aos primeiros cristãos para viabilizar este trabalho, ainda estão em perfeito estado de conservação.

A diferença é que pela incredulidade latente nos dias de hoje, preferimos uma zona de conforto, e assim, embora nossa mensagem diga que Jesus opera grandes milagres, na pratica, pouco trabalhamos para que os mesmos acontecem, e com isso perdemos a chance de mudar o pensamento desta geração incrédula, que talvez, se presenciassem a teórica do milagre se tornando em um “fato” tateável, seria realmente impactada pelo evangelho. Pois se contra a PALAVRA, muitos intelectuais e religiosos tecem teorias e levantam dúvidas, contra um milagre, fica difícil pautar em contrapartida. E esta é sem dúvida, é a principal contribuição que a realização de obras miraculosas pela igreja, traz para o Evangelho de Jesus.

Mas, mantenha os pés no chão, mesmo que a cabeça já esteja em órbita. Milagre não é mágica. O evangelho não é abracadabra. A Bíblia não é varinha de condão. O Espírito Santo nem de longe se parece com a fada dos dentes. Alguns cuidados devem ser tomados para que este poder concedido a nós, seja usado com sabedoria. Impreterivelmente, o cristão deve usar as Sagradas Escrituras como seu referencial de vida e guia de sobrevivência aqui na terra. É nela que se inicia e se encerra as ordenanças de Deus aos homens, e os preceitos que norteiam nossa fé. I Coríntios 1:18-25, evidencia que a origem do poder que em nós opera está na PALAVRA DO EVANGELHO, e qualquer operação miraculosa que não seja embasada por ela, é passível de descrédito.

Também não podemos esquecer que um milagre genuíno, está intrinsecamente ligado a um propósito específico. Milagre sem propósito não passa de show de mágica. Obviamente, todo milagre, de alguma forma é espetacular. Mas este espetáculo precisa promover mudanças profundas na espiritualidade do indivíduo, caso contrário, soará banal. 

Um belo exemplo está registrado no livro apócrifo chamado “Evangelho da Infância de Jesus”, onde é possível encontrar algumas bizarras histórias de milagres sem nenhum propósito. Uma das mais interessantes, narra um “milagre” curioso “realizado” pelo pequeno Jesus. Segunda a “lenda” o menino modelou caprichosamente um pássaro de barro, e depois lhe deu vida, e ficou ali impassível, observando a ave sair voando desengonçadamente rumo ao céu.

Embora seja uma bela história, a mesma não é aceita no cânon sagrado, pois vai na direção oposta de tudo que sabemos sobre Jesus. O Mestre, embora fosse um Deus entre os homens, nunca se utilizou de seus poderes divinos para outros meios, se não abençoar vidas e engrandecer o nome do Pai. Logo é difícil imaginá-lo dando vida a um pássaro de barro, para simplesmente “testar o seu poder". Isso não passaria de um grande número de mágica, ou "espetáculo pelo espetáculo". Em contrapartida, o capítulo sete do evangelho de Lucas, nos conta que ao entrar na cidade de Naim, Jesus se deparou com o cortejo fúnebre, do filho de uma viúva. Ele parou a multidão, dirigiu-se ao menino e o trouxe de volta à vida. Este fato, além de devolver a alegria (e o sustendo) a uma pobre mulher que estava fadada a amargar um imenso sofrimento, ajudou a espalhar o evangelho por toda a Judéia. Um milagre com propósito. Jesus restauraria a arcada dentária de mil desdentados, antes de transformar em ouro um único dente.

Outro cuidado de imprescindível relevância, são as prioridades da igreja em sua atuação através da capacitação espiritual. A PALAVRA DE DEUS é superior a qualquer tipo de milagres. Embora curas, sinais e prodígios devam acontecer com frequência em nosso ministério, devemos tomar muito cuidado para não supervalorizarmos o milagre e usá-lo como bússola para nortear vidas. Sinais e maravilhas são meios que o Senhor usa para se manifestar ao seu povo, tendo como ferramenta, as mãos e a boca de alguns indivíduos agraciados. Mas não são eles os parâmetros indicativos para o desejo de Deus sobre nós. Logo, não podemos nos tornar “reféns” dos milagres, buscando desesperadamente alguém que os realize, e nem mudar nossa postura cristã quando um milagre não acontece.

Nossa vida deve ser lapidada, regida e conduzida pela “PALAVRA” e não por manifestações megalomaníacas de poder. A revista “Ensinador Cristão”, em sua 45º edição, fez um brilhante resumo desta verdade absoluta: “Os sinais seguem aqueles que creem e seguem a Palavra de Deus, e não os que creem e seguem os milagres”.

Os que vivem puramente atrás dos milagres e se esquecem de quem os opera, pode se deparar com operações enganosas e fraudulentas, já que Satanás também tem a capacidade de realizar grandes obras. Tomados os devidos cuidados, a Igreja, precisa urgentemente recolocar em prática a operação de maravilhas em larga escala, pois o tempo urge, a volta do Senhor está próxima e ainda há muitas almas para serem alcançadas. Portanto, “todas” as ferramentas disponibilizadas pelo Espírito Santo à Igreja, devem ser usadas com esmero, e se possível, até a exaustão. 


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