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domingo, 3 de setembro de 2017

Tudo vai fazer sentido

Será que o objetivo da vida é viver?
(Paul Claudel)


Se a tua vida está navegando tranquilamente por um belíssimo mar cor de rosa, acredito que os próximos parágrafos lhe serão perda de tempo. Porém, se alguns questionamentos sabatinam sua mente, e as respostas parecem se esconder na total escuridão, é possível que algum raio de luz possa emergir das linhas que seguem.

Em primeiro lugar, é preciso entender uma verdade imutável. Deus é eterno, mas, trabalha de forma cíclica. A Bíblia nos assegura que existem tempos pré-determinados para as estações que se sucedem abaixo do sol. Sorrir e chorar. Plantar e colher. Nascer e morrer. Espalhar e ajuntar. Abraçar e afastar. Matar e reviver. E todos estes ciclos, estão submetidos, incondicionalmente, a soberania de Deus. Ele é o Senhor que acompanha as atividades diurnas, e vela o descanso noturno. Ou vice-versa. Nenhum dia pode emancipar-se. Nenhuma noite é soberana. Por mais escura, tenebrosa e infindável, ela jamais terá autonomia para impedir o nascer do sol. E mesmo que ainda continuemos alienados durante o processo, dia e noite se submetem a Deus em reverência e temor. O Todo Poderoso nunca deixou (ou deixará) de ter absoluto controle sobre tudo.

Quando Davi escreveu o Salmo 139, reconheceu sua dificuldade em entender os pensamentos de Deus. Para o salmista, a sabedoria do Senhor era tão abrangente e profunda, que simplesmente seria impossível a qualquer humano, compreende-la com perfeição. E, por vezes, em nossas limitações, sequer conseguimos arranhar a superfície do pensamento divino. É difícil aceitar aquilo que não entendemos muito bem. E então, colapsamos.

Para nossa sorte, o Senhor não se influência por neuras e traumas. Ele tem um plano, e nada pode alterar seus desígnios. Apesar de nossas neuroses, o Senhor não deixará de ser um professor rigoroso e metódico, que visando o aprendizado perfeito, testa seus alunos quase ao limite da insanidade. Quase. Ele jamais perde a mão. Quando tudo saí do nosso controle, Ele continua no controle de absolutamente tudo.

Deus produz feridas, para nos ensinar que Dele provem a cura. Mas, enquanto ainda estamos sangrando, é complicado assimilar o “amor” de Deus. Buscamos respostas praticas para questões imateriais. Tentamos entender o espiritual, aplicando as regras científicas do mundo natural. O resultado lógico, é a incompreensão. E logo a mente produz redarguições errantes: - Deus falhou comigo. - As promessas não passavam de enganação. É incrível como nos respaldamos em argumentos covardes. Torna-se quase um ato banal, sentir certa “antipatia” por Deus, que aos olhos humanos, por vezes, se mostra um sádico impiedoso que nos mantem reféns em seu laboratório soturno.

E como Deus reage ao nosso pensamento?

Ele não se move. Nem se abala. Se mantém imutável. Soberano no Santo Trono. Seu plano é linear, por mais que pareça um novelo de lã. Esta complexidade aparente, reside na perspectiva por nós adotada. E, infelizmente, tendemos a ser guiados por vista, e não pela fé. Buscamos satisfação imediata, enquanto para Deus, o momento é irrelevante. Alguns propósitos só serão compreendidos na eternidade. Então, a soma dos fatores é exatamente esta: - Não entendemos Deus. A conta não fecha.

Será que Deus, em sua infinita bondade, não poderia deixar as coisas menos complicadas?

Por que tantas implicações? Qual o sentido de tantos paradoxos?

Por que para me ver feliz, Deus só tem me feito chorar?

Por que para me honrar, Deus tem me afogado num mar de vergonhas e humilhações?

Por que para me dar abastança, Deus me priva de tudo o que é bom?

Tem se visto às voltas com indagações semelhantes? Saiba que não está sozinho. Este sentimento de “escória do mundo” não é exclusividade sua. Nem minha. Aliás, diversos profetas bíblicos passaram por estes mesmos ciclos de crises e ausência de confiança num propósito maior. E a conclusão que todos chegaram ao final deste doloroso processo, é a mesma. Quando não entendemos Deus, Ele continua sendo o Senhor da razão. Nenhum erro divino apontado. 

E, porque, insistimos em achar que Deus está errando justamente na nossa vez?

Se analisar os pensamentos de Deus pela perspectiva divina é humanamente impossível, pense no Senhor como um roteirista excêntrico, surreal e ilógico. As falas não fazem sentido. As cenas não se encaixam no contexto geral. Uma tragédia em todos os sentidos. Mas, não! Segure as pontas. Respire fundo, relaxe e lembre-se: - Você ainda não assistiu o filme.  Não sabe nada sobre o final. Sequer, faz ideia do grande “plot twist”. A virada surpreendente que só o roteirista sabe como será. Logo, não tenha a tola pretensão de elaborar uma crítica prévia...

Não se mantenha do lado errado da tela. Deus não te quer sentado numa escrivaninha, tecendo comentários sobre o que desconhece. Ele escreveu o papel principal com exclusividade para você. Protagonismo numa história divina, cujo final feliz, excede as páginas de uma ficção. Charles Chaplin dizia que a vida é ao mesmo tempo um drama e uma comédia. Drama na perspectiva do hoje, quando choramos e nos afligimos. Comédia no amanhã, quando lembraremos destas coisas e daremos boas risadas. Guardadas as proporções, Deus também pensa assim..

E sabe o que é mais irônico? Se você puxar pela memória, vai se lembrar de já ter visto filmes semelhantes em outras ocasiões. Vivido situações parecidas. Um futuro incerto que já se tornou passado. Lágrimas pretéritas gerando sorrisos inspiradores no agora. Aquela sensação familiar de quando estamos indefesos diante da tela, pensando que não existe mais saída para o mocinho da história, e surge do nada a mente brilhante do idealizador daquela obra... BUM! Tudo se resolve em poucos minutos. 

Pois é.... Deus tem uma predileção por finais surpreendentes. E exatamente por isso, não hesita em levar suas histórias a limites extremos. O final faz todo o contexto ter valido a pena. Viradas espetaculares. O inexistente sendo chamado a existência. Mortos sendo devolvidos para a vida. E vida em abundância!

Não se acanhe na presença do Senhor. Seja sincero com ele e revele seu coração. Você pode chamá-lo de excêntrico, maluco, procrastinador, complicado, cruel, insensível.... Vamos lá.... Exerça a criatividade. Só não deixe de chamá-lo de Pai. Deus. Meu Deus. O Grande EU SOU! O artista talentoso que nos lapida até o estágio da arte. E tudo tem propósito. Significado.

Pense em Jó. Quando lemos sua história, já sabemos os motivos que o levaram a vivenciar tantas tragédias. Conhecemos os personagens, o contexto e as motivações. Fomos apresentados ao grande embate entre Deus e Satanás, onde o patriarca é o fiel da balança. Jó, por outro lado, não sabe de nada. Ele não entende. Perguntas sem respostas. Sofrimento imputados sem razões aparentes. E o que ele fez? Louvou ao Senhor, mesmo não o entendendo. São quarenta e dois capítulos de angústias, dores e lamentos. Mas, basta um único verso, para o drama nos fazer sorrir: 

E depois que Jó intercedeu pelos seus amigos, o SENHOR o tornou novamente próspero e lhe concedeu em dobro tudo o que possuía antes (Jó 42:10). 

Então, supere o arco dramático. Entregue-se nas mãos do roteirista supremo. Ele escreve o hoje com total ciência do amanhã. Nossos finais são apenas transições de capítulos. O “gran finale” só cabe ao Senhor! A história acontecendo dentro da história. No final, tudo vai fazer sentido!

Texto inspirado (e em alguns parágrafos, simplesmente transcrito) de uma carta de recebi de meu pai, Pr. Wilson Gomes.

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