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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Pra nunca mais chorar

Apresso-me a rir de tudo, com medo de ser obrigado a chorar.
(Pierre Beaumarchais)


É difícil lidar com o luto. Os nossos, e os das pessoas que nos cercam. A tristeza mareja os olhos e embarga a voz. É como se um amarrado de arame farpado estivesse entalado na garganta. Pensamentos turvos e palavras escassas.

Me recordo da tragédia que assolou a igreja que frequentava quando criança. Dois irmãos, ambos com menos de dez anos de idade, saíram bem cedinho para comprar pão, e aquela família nunca mais pode partilhar de um café da manhã juntos. No meio do caminho, a bicicleta na qual estavam, acabou atingida por um veículo que trafegava em alta velocidade. O impacto foi tão intenso, que os meninos morreram no local. Como explicar para a mãe das crianças, o glorioso propósito existente naquelas mortes? Impossível!  Sepultar um filho vai contra a lógica da vida. Um tipo de situação que não se consegue aceitar.

Durante o culto fúnebre, a irmandade não se acovardou na hora de revelar seus sentimentos. Frases como “Deus sabe o que faz” e “eles estão num lugar melhor agora”, eram repetidas as carreiras. Como sempre fui uma criança observadora, percebia que a cada nova inserção de consolo, aquela mãe enlutada, gradualmente aumentava seu lamento. Palavras não conseguem confortar um coração dilacerado.

Foi então, que nosso pastor chegou. As atenções se voltaram para aquele homem sábio. Certamente, seu discurso teológico responderia a todos os inúmeros “porquês” que se multiplicavam naquela sala.  Mas, para a surpresa geral, ele ministrou um sermão sem palavras. Simplesmente, abraçou os pais, e por muitos minutos, chorou copiosamente com eles.

Sabemos que Deus tem propósito em tudo o que faz. Mas, não é esta a mensagem que conforta um coração enlutado. Não adianta dizer a uma mãe que acabou de perder seus filhos, que eles estão em um lugar melhor. Lugar de filhos são ao lado de seus pais, e não em caixões velados por eles. Nestes casos, o melhor que podemos fazer é exatamente aquilo que a Bíblia ensina:

- Chorai com aqueles que choram (Romanos 12:15).

A grande verdade, é que até podemos enxugar as lágrimas de alguém, mas, jamais conseguiremos inserir a mão dentro dos corações, para de lá, retiramos a tristeza. Então, choramos juntos, afim de partilhar da dor, e aliviar o sofrimento daqueles com os quais nos importamos. Quando Jesus visitou o túmulo de Lázaro, foi recepcionado em lágrimas por Marta e Maria. Cristo sabia o que estava para acontecer. Ele entendia completamente o propósito daquela morte. E mesmo assim, Jesus chorou. Terapia das lágrimas, aplicada em grupo. Se como homem, Cristo compartilhava da tristeza de seus amigos, como Deus, tinha um belíssimo plano de contingência.

A experiência do choro, impactou profundamente o Emanuel. Cristo fez a promessa a seus discípulos, que iria pessoalmente aos céus, construir um lugar especial para eles. Habitação eternal. Quando tudo estivesse preparado, Ele os levaria para lá, onde viveriam em paz e felicidade para todo o sempre. Um dos discípulos, não só teve a oportunidade de visitar este paraíso, como ainda nos deixou um relato detalhado da visita.

Nas palavras de João, a Nova Jerusalém se assemelhava a uma noiva enfeitada para o casamento. O apogeu da beleza. Ele olhou para as ruas, e as descreveu como sendo feita de uma mistura a base de ouro e cristal. Os muros, estavam adornados de pedras preciosas. Tudo era iluminado pela presença de Deus. Do trono divino, descia o Rio, tão cristalino, que mais se parecia com um mar de vidro. Nas margens, uma vegetação exuberante, tendo como destaque a árvore da vida. Certamente, não existe um lugar melhor para estar pela eternidade.

Mais, há uma informação sobre a cidade, que nos remete a experiência de Jesus com as lágrimas. Ele sabe o que é sentir-se enlutado. Cristo compreende a dor latente de um coração ferido. E nosso Salvador, cuidou de reverter este cenário. Na Cidade Santa, cada um de nós seremos abraçados pelo próprio Deus, e Ele, pessoalmente, “limpará dos nossos olhos toda lágrima”. E não para por aí.

E lá não haverá mais morte, nem haverá pranto, nem lamento, nem dor. (Apocalipse 21:4)

O que mais me impressiona, é exatamente a redundância proposital do texto. Primeiro, a promessa é que as lágrimas já existentes serão enxugadas. Mas, até aí, Deus está fazendo o que qualquer um de nós pode fazer. A grande beleza reside no fato de que, o Senhor, eliminará de nossa existência, qualquer motivo que nos faça chorar... E isso, é glorioso!

Travesseiros molhados pela madrugada? Nunca mais!
Esperança comprometida? Nunca mais!
Solidão vespertina no campus da faculdade? Nunca mais!
Quebra de confiança? Nunca mais!
Ligação de credores? Nunca mais!
Sentimentos desafiados? Nunca mais!
Olhos marejados no vestiário da empresa? Nunca mais!
Luto por aqueles que amamos? Nunca mais!
Currículos rejeitados?  Nunca mais!
Diagnósticos médicos? Nunca mais!
Batalhas espirituais? Nunca mais!
Amores não correspondidos? Nunca mais!
Linchamentos emocionais? Nunca mais!
Expectativas frustradas? Nunca mais
Noites em claro? Nunca mais!
Promessas vazias? Nunca mais!
Desesperos precoces e imaturos? Nunca mais!
Incertezas com o amanhã? Nunca mais! 

Uma eternidade sem dor... Uma eternidade sem sofrimentos... Uma eternidade sem choro...  Lágrimas nos céus não passam de lembranças esquecidas. E já não teremos nenhum motivo para delas se recordar.

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