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sábado, 16 de setembro de 2017

A cruz valeu

É melhor carregar o peso da própria cruz pela decisão que tomou, 
a sofrer eternamente na ponta da espada do arrependimento.
(Mario Franco)


Pesa. E como pesa. O peso do mundo não é o tipo de carga que nossos ombros consigam suportar. E na tola insistência, residem consequências totalmente previsíveis. Hematomas, lacerações, fraturas expostas e dores crônicas. Não no corpo. Na alma. Onde a cicatrização é bem mais lenta, e o processo de cura se revela tão penoso quanto a própria doença. Carregar o peso do mundo sobre os ombros é se auto-condenar a morte por esmagamento. E se quer, damos conta que pouco a pouco, toda existência vai se transformando numa massa cinza, até se liquefazer num chorume com cheiro de aniquilamento.

Mesmo assim, sentimos a necessidade de nunca abandonarmos a carga, retirá-la das costas e simplesmente a deixar na beira do caminho. Há uma compulsão por seguirmos caminhando sob a égide da opressão. Concordo que alguns quilos são necessários, pois nos deixam alertas quanto as responsabilidades que permeiam a jornada, e os perigos existentes no trajeto. Mas, toneladas? Porque insistimos em carregar o globo terrestre, quando na verdade, só precisamos de uma valise, com algumas roupas e produtos de higiene pessoal?

Alguém recorre a Bíblia em busca da resposta. E provavelmente a encontra em Mateus 16:24 ou Lucas 9:23: - Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga....

Esta é a chave. A grande verdade, é que temos uma cruz para carregar. Não podemos abandoná-la, rejeitá-la ou ignorá-la. Há um nome gravado nela. Pessoal e intransferível. Na nota fiscal, constam o CPF e o RG do portador. Não existe qualquer possibilidade de troca, revenda ou devolução. Até podemos ajudar alguém a carregar a “carga” que a vida nos impõem, e em troca, ser ajudado também. Porém,  esta possibilidade não se aplica a cruz pessoal de cada um. E nem há necessidade disto.

A cruz foi feita sob medida. Milimetricamente projetada. Seu designer não é padronizado.  Cada raio e curva, planejados para o encaixe perfeito nos ombros de um único indivíduo no planeta. As formas não se repetem, mesmo após o encerramento das eras. Tamanha minúcia de detalhes, porém, não há torna mais leve. Ela sempre terá o peso de uma... cruz.

Sua cruz não é mais pesada que a minha. E a recíproca também é verdadeira. Tudo está magistralmente equilibrado. Balanceamento primoroso. O peso de uma cruz é proporcional a força de quem a irá carregar. O cisco nas costas do elefante, equivale a um caixote de chumbo no lombo da formiguinha. Deus considera todos os fatores em seu cálculo perfeito. Não dá para sentir inveja da cruz de ninguém. Cada um tem a cruz que “precisa” para fortalecer o “tônus muscular” da alma, sem danificar os músculos. A balança de Deus continua precisa, mesmo após milhares de casas decimais. E a cruz é exatamente isto. Uma cruz. Provação na medida exata de cada recipiente humano. A cota precisa de nossas medidas. Nenhuma grama além de nossa capacidade de suportar.

Esta é a cruz que Jesus nos instruiu a carregar. Ela não é um halter onde se acrescenta massa de acordo com prognósticos humanos. E aí está o problema. Recheamos a cruz com mágoas. Prendemos em seu dorso uma caixa de culpas. Apoiamos a cruz em um dos ombros, e no outro, engatamos uma carreta de eixos incontáveis chamada “PASSADO”. Tudo esta errado. Desproporcional. Fora de propósito. A cruz não é encargo. É custo benefício. Quando escolhe-se carregá-la, imediatamente abre-se mão de todas as demais cargas. É preciso se desapegar daquilo que já não precisamos.

No dia de sua morte, Jesus fez um trajeto de aproximadamente 500 metros carregando a cruz na qual seria crucificado. Com o corpo já debilitado pelos açoites romanos, e deixando uma poça de sangue sob cada passo dado, em algum ponto do caminho, Cristo arqueou-se para frente, enquanto a viga do madeiro escorregava pelo dorso despido. Seus joelhos se chocaram violentamente com as pedras do caminho, enquanto a cruz tocava suavemente o solo. O centurião que acompanhava a via crucis, escolheu entre os transeuntes curiosos, um homem forte o bastante para carregar a cruz, enquanto o “réu” se recompunha e lutava contra o desiquilíbrio provocado pela dor. Simão era um trabalhador braçal, natural de Cirene, e que se destacava na multidão por sua pele escura, castigada pelo sol escaldante daquela terra. Ele não teve qualquer dificuldade para erguer o madeiro do chão, como se fosse um amontado de gravetos. O vigamento não pesava mais que quarenta quilos, e levantá-lo não seria desafiador a qualquer homem adulto. E pelos próximos metros, Simão carregou a cruz de Jesus, enquanto Jesus, carregava os pecados de Simão. Os pecados de toda a humanidade. A "verdadeira" cruz. A mais pesada. O peso do mundo sobre os únicos ombros que o podiam suportar.

Somos todos como Simão. Talvez nos sintamos indignados com a obrigatoriedade da cruz na caminhada cristã. Dúvidas pairam sobre a mente e enrijecem o coração.  Ficamos cegos. A dor que flagela o ombro, não provém do peso da cruz. Cristo nunca colocaria uma tonelada sobre estruturas frágeis. Seu fardo é leve.

Jesus fez um convite a todos os cansados e aos de ombros feridos. Ele olhou para a humanidade e se compadeceu dos homens, que vagavam errantes, como se fossem burros de carga, com enormes engradados em seus lombos. Toneladas de culpas, medos, traumas, angústias, vergonhas, mágoas, desesperança e tristezas. E para todos eles, ofereceu uma oportunidade de refrigério. 

Eis a proposta:

- Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mateus 11:28-30)

Jesus deseja trocar nossas bagagens repletas de “ununséptio” (elemento químico com massa 40% mais pesado que o chumbo) por uma valise contendo apenas plumas. O peso do mundo pelo peso da cruz. Só madeiro. Sem culpas, medos ou pecados embutidos. É uma troca irrecusável. Cristo já fez o trabalho pesado.

Mesmo assim, a grande maioria dos homens (incluindo uma altíssima porcentagem de “cristãos”), ainda se recusa em aceitar este convite da Graça.

Que eu não seja mais um a endossar as estatísticas. Nem você. O mundo está a nossa volta, cruel e irrefreável. Sua boca escancarada empesteia a atmosfera com o cheiro desagradável da desesperança. O ar fica denso. O céu entumecido. E uma mão invisível nos esmaga a cada toque do despertador. Peso. O peso do mundo não é o tipo de carga que nossos ombros consigam suportar. E na tola insistência, residem consequências totalmente previsíveis. Hematomas, lacerações, fraturas expostas e dores crônicas. Não no corpo. Na alma. Onde a cicatrização é bem mais lenta e o processo de cura se revela tão penoso quanta a própria doença.

Cristo nos propõem um alívio imediato e duradouro. – Livrem-se desta carga pesada. Tomem sobre si o meu fardo. Ele é leve. Apenas uma cruz. Nada mais que madeira. Eu levo as dores sobre meu ombro. As culpas também. E as vergonhas. Mágoas. Ansiedade. Tudo... Tudo que esmaga, fere e oprime. Eu levo sobre mim.

Tomar a própria cruz sobre os ombros e seguir a Cristo, é a expressão máxima da fé no Filho de Deus. Esta, por sua vez, é a chave que abre as portas do céu. E Jesus ainda vai além. Ele promete fazer por você, o que Simão fez por Ele. Te ajuda a carregar o madeiro. – O meu jugo é suave – Ecoa sua doce voz.

Jugo, ou canga, é um aparato de madeira, que se divide ao meio no sentido transversal. Entalhes embutidos, permite que o equipamento seja fixado, simultaneamente, no pescoço de dois bois. Uma vez que o jugo é travado, os animais passam a andar lado a lado. Trabalhando juntos.  Jesus, o Filho de Deus, aquele que domina o tempo-espaço, se submete a um jugo, afim de caminhar junto com você. Dividir a carga. Meio a meio. Isto deixa a nossa cruz mais leve. E, aqui, só estou falando de um pedaço de madeira, já que todo o resto, ficou no Gólgota. Jesus deixou nossas transgressões e pecados ali. As cargas foram lançadas sobre Ele. Tiradas de nós. Seu sangue nos livrou. O sacrifício supremo assegurou redenção. Descanso. Liberdade.

Isaías 53:11 nos revela que ao olhar para a cruz no alto do Cálvario, Cristo se sente realizado. Ele contempla sua obra, se lembra de quão penoso foi o trabalho, e sorri. Confere o livro da vida, e encontra o seu nome escrito nele com letras douradas. O meu nome. Nossos nomes.

Avelino.
Leonildes.
Marcia.
Miquéias.
Nicolas.
Valquíria.
Wilson.

Sim. Todos estão ali. Este era o propósito. O objetivo a ser alcançado. A jornada tinha este destino. Deus está realizado. Jesus sente aquele bem-estar produzido por um trabalho  feito com esmero. A cruz valeu. E continua valendo.

Aprenda esta lição com o moço de Nazaré. Solte o mundo e pegue nas mãos sua cruz. A carregue orgulhosamente por ruas forradas de pedras e espinhos. A leve e momentânea tribulação do presente, está produzindo uma recompensa de glória. A cruz, é na verdade, um vale presente. Vamos trocá-la por um galardão, que sequer, conseguimos dimensionar. Uma coroa de honra tornará a “vergonha” do agora numa lembrança esquecida. E neste dia, também poderemos olhar para as vigas de madeira no chão, massagear demoradamente os ombros cansados, e se ver as voltas com a mesma conclusão do Cristo ressuscitado. A cruz valeu muito a pena!


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