O que falta às
pessoas não é força, e sim, vontade.
(Victor Hugo)
Há um
conhecido ditado popular que diz: - “Cavalo
dado, não se olha os dentes”.
Este jargão,
se baseia no fato que para comprar um equino, faz-se necessária uma minuciosa
inspeção no animal, e de acordo com especialistas, a arcada dentária tem muito
a revelar, principalmente sobre a idade do alazão. Mas, se o cavalo for um
presente, então é melhor ignorar os detalhes, e simplesmente aceitar a oferta.
Ouvimos este
tipo de aconselhamento todos os dias, quando nossos líderes, amigos e
familiares nos incentivam a “não perdermos" as oportunidades que a vida
nos dá, ou voltando à metáfora inicial, “se o cavalo passar selado, não ter receio de montá-lo”.
Mas, será
que todo presente deve ser aceito de bom grado?
Será que
todo cavalo selado está indo na direção correta?
Moisés é um
dos maiores exemplos no que tange a critérios para aceitar ou não as dádivas
oferecidas. O hebreu que nasceu condenado a morte, viu sua vida dar uma guinada
completa quando foi encontrado pela filha de Faraó. O até então moribundo
escravo, seria alçado imediatamente ao posto de príncipe do Egito, antes mesmo
que aquele dia com início fatídico chegasse ao fim.
Criado no
palácio, desfrutando das regalias e comodidades destinadas apenas para a
realeza, Moisés teve a oportunidade de crescer sobre a égide do império mais
poderoso de sua época, recebendo treinamento político e militar, sendo
preparado para assumir um lugar na linha de sucessão do trono. O que segundo
alguns estudiosos, poderia ter acontecido antes mesmo dos eventos que o levaram
ao exílio.
O cavalo
dado a Moisés era simplesmente o "Trono do Egito", com todo o poderio
e privilégios pertencentes apenas aos chamados “Filhos de Rah”. Para olhos
pragmáticos, aquela era uma oportunidade irrecusável, destas que acontecem uma
única vez na história, e, portanto, isenta de qualquer ação avaliativa. Moisés
não pensava assim. No pouco tempo que esteve ao lado de sua mãe biológica, ele
absorveu valores maiores que qualquer ambição terrena, e esta bagagem
espiritual adquirida foi determinante para uma decisão surpreendente:
- Pela
fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó...
O cavalo era
imponente. Mas, seus dentes estavam pobres. A tradição egípcia determinava que
qualquer aspirante a Faraó, deveria também ingressar na casta sacerdotal do
Egito, imergindo de corpo e alma em sua religiosidade politeísta, repleta de
misticismo e rituais pagãos. Esta, sem dúvida, seria uma viagem sem volta a
obscuridade espiritual, que por fé, Moisés se negou a fazer. Mesmo que para
isso, tivesse que abrir mão de seu “futuro” glorioso nas fartas planícies do
Nilo.
Embora não
seja possível precisar a qual dinastia Moisés pertenceu, a história egípcia
registra alguns atritos ente uma certa rainha regente com os líderes religiosos
de seu tempo, já que seu “filho adotivo”, se negava a ingressar na casta
sacerdotal. Seria Moisés? É muito provável que sim.
Fato é, que
a decisão de Moisés foi baseada em convicção, e não barganha. Até seria
conveniente abrir mão de governar uma nação para liderar outra de maior
relevância. Mas, o chamado de Moisés se deu décadas após sua renúncia. E a
história escrita por Deus para sua vida, extrapolava os hieróglifos dos templos
egípcios.
Moisés foi
um homem notável e de atos memoráveis. Venceu batalhas épicas, atravessou o Mar
Vermelho, tirou água da rocha, falou com Deus face a face. Porém, foi sua
abnegação que o fez gigante. O escritor da carta aos hebreus, na antológica
galeria de Heróis da Fé (Hebreus 11), ressalta os grandes feitos de homens e
mulheres que transformaram o mundo. Quando fala sobre Moisés, embora cite
alguns elementos de sua liderança, ele ressaltou o que fez do simples levita, um verdadeiro herói: Sua fidelidade
– “Pela
fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó,
escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de
tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas o vitupério de Cristo
do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. ” (Hebreus 11:24-16)
E que
recompensa seria está?
Certamente
trocar o Egito por Canãa seria um negócio lucrativo.
É uma ideia
agradável abrir mão de uma citação história na vasta galeria de faraós, pelo
posto de maior líder da história de uma gigantesca nação.
Mas, e se
depois de tanta renúncia, esforço e dedicação, o único prêmio recebido fosse
uma morte solitária a poucos metros da terra prometida?
Muito se
debate sobre os méritos e deméritos que convergiram para Moisés não ter o
“privilégio” de entrar em Canaã. Porém, não encontramos no próprio Moisés,
qualquer sombra duvidosa em relação a justiça divina. Ele não questionou a
ordenança do Senhor para que subisse pelo caminho Pisga, e ali, no alto da
montanha, ter seu derradeiro e definitivo encontro com Deus.
Moisés
morreu, e isto é um fato. Pode até ser indigesta a ideia de um dos maiores
heróis da fé ter “sucumbido” sem vivenciar em “loco” a grande promessa feita
para sua gente. Israel não lidou bem com esta notícia, pranteando por mais de
um mês. Seu sucessor imediato, Josué, precisou ser intimado por Deus a se
posicionar como líder, pois certamente, ainda nutria uma esperança pelo retorno
de seu mentor. Porém, Moisés jamais desceu a montanha.
Foi dali que
ele pode contemplar toda a extensão da terra prometida e vislumbrar pelos olhos
da fé a posição geográfica ocupada por cada tribo. No chamamento específico de
Josué, a promessa de conquista feita por Deus se estendia até o poente do sol
(Josué 1:4). O sol se põe exatamente na linha do horizonte, que por sua vez,
pode ser definida como o limite do campo visual de uma pessoa. Em outras
palavras, Deus estava dizendo ao jovem líder que sua capacidade de conquistar
estava atrelada com o alcance de sua visão. Quanto mais longe se
enxergar, mas território há para se expandir.
Neste ponto,
Moisés tem como última missão de vida, “visualizar” toda a terra, legalizando
previamente a tomada daquele território pelos hebreus.
No alto da
montanha, Deus recolhe Moisés para seu merecido descanso. Judas 9 descreve a
disputa verbal entre o arcanjo Miguel e Lúcifer, que se rivalizavam por causa
do “corpo” de Moisés. Então, o próprio Deus, valendo-se da distração do
inimigo, sepultou pessoalmente o corpo de Moisés em um dos vales de Moabe,
guardado em sigilo perpétuo.
Porém, a
morte não finalizou a grande missão mosaica, pois sua última aparição
cronológica está registrada alguns séculos depois, em Mateus 17:1-9.
Neste evento,
que também é mencionado em Marcos 9:2-8, Lucas 9:28-36 e II Pedro 1:16-18, Jesus
convida seus três discípulos mais próximos para acompanhá-lo até o cume de um
monte. Ali, diante de seus olhos, o Messias se transfigura em glória. De
repente, duas figuras também glorificadas aparecem e passam a dialogar
amigavelmente com Jesus.
Um deles é
Elias.
O outro,
Moisés.
Elias não
experimentou a morte, mas foi arrebatado aos céus ainda em vida por um
redemoinho (II Reis 2:11). Ele é um tipo da igreja, que ao som da última
trombeta será transformada, e então arrebatada para encontrar com Jesus nos
ares. Já Moisés, ali se faz presente representado as miríades de servos fieis
que embora tenham encontrado a morte física, estão hoje repousando na glória,
esperando o momento da ressurreição (I Tessalonicenses 4: 13-17).
Assim, este
grande herói que tanto nos ensinou em vida, com a sua morte, planta em nossos
corações, uma semente de esperança na glória, e a certeza que o melhor de Deus
não se manifesta nesta terra, e sim na eternidade.
E como se
toda esta riqueza espiritual não bastasse, ainda existe um aspecto pratico de
grande relevância. Moisés nasceu no Egito, constituiu família em Midiã e peregrinou
pelo deserto do Sinai. Morreu e foi sepultado em Moabe. Ele nunca conheceu a
terra de seus antepassados, e jamais sentiu sobre seus pés o solo amado de
Canaã.
Agora, séculos após sua morte, ali está ele, muito bem acompanhado e pés firmados sobre uma montanha fincada vigorosamente no coração de Israel. Finalmente estava na terra prometida. A morte não matou a esperança. Uma promessa de Deus não se intimida com a advertência de uma lápide. Mesmo morto e sepultado, Moisés entrou em Canaã. Os planos do Senhor para nós, vão muito além dos limites da vida.
Agora, séculos após sua morte, ali está ele, muito bem acompanhado e pés firmados sobre uma montanha fincada vigorosamente no coração de Israel. Finalmente estava na terra prometida. A morte não matou a esperança. Uma promessa de Deus não se intimida com a advertência de uma lápide. Mesmo morto e sepultado, Moisés entrou em Canaã. Os planos do Senhor para nós, vão muito além dos limites da vida.
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