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sábado, 17 de junho de 2017

Prazo de Validade

Não há melhor aprendizado do que a adversidade.
(Benjamin Disraeli)


Nossa vida nesta Terra é extremamente curta, sendo chamada pela Bíblia de brisa, sopro e comparada a uma pequena planta que nasce e rapidamente morre. Na prática, temos pouquíssimo tempo para realizar a missão que nos foi confiada, e por mais que consigamos avanços consideráveis, infelizmente, alguma coisa sempre fica para traz. 

É inegável que nossos dias estão relativamente mais curtos, e nossas “horas” se tornaram artigo de luxo. São tantas as ocupações e preocupações que fica praticamente impossível administrar o tempo disponível para atender tamanha demanda. Atividades diárias se acumulam sobre nossas costas, e nos obrigam a estabelecer prioridades, o que fatalmente fará com que momentos importantes e decisivos sejam sublimados pelo cruel carrasco cronológico. 

A modernidade impõe um julgo desumano sobre o indivíduo, e essa imposição é aumentada sobre todo homem que precisa mensurar em poucas horas o teórico e o prático, a ação e a reação, o planejamento e a execução, o material e o espiritual, a vida secular e o ministério.  Devido à necessidade de se fazer mil coisas em um período relativamente escasso, é que muitas vezes, atividades importantes não são feitas. Em suma, toda esta realidade se encerra na mais pragmática das revelações: é impossível fazer tudo sozinho.  

Mas, esta não é uma verdade pertinente apenas aos nossos dias. Desde a antiguidade, os textos sagrados explicitam a necessidade do trabalho em equipe, em referências como as encontradas em Provérbios 24:6, Eclesiastes 4:9-10, Isaías 41:6 e Lucas 10:1. Já no Éden, a existência da vida humana foi drasticamente reduzida em decorrência do pecado, e mais nenhum homem conseguiu ser pleno em realizações. Nossa vida se finda antes de nossas ambições.

Assim, cada pessoa aproveita o “gancho” deixado por outros, para a partir deste ponto começar a desenvolver algo pessoal e possivelmente relevante, que chamará a atenção da próxima geração, que usará este novo “gancho” para suas próprias inovações. Tem se então a verdade por traz do jargão: - Neste mundo nada se inventa, mas se copia. 

A grande preocupação que devemos ter, se divide em duas etapas. Na primeira avaliamos se nossas ações honram o que foi construído pelos patriarcas que sucedemos, e também, se estamos construindo algo realmente sólido para a posteridade. Ninguém é pleno sozinho.

A palavra “geração” vem do latim “generatĭo”, e entre seus diversos significados e aplicações, faz referência a uma coletânea de seres vivos de mesma idade. Em sentido parecido, também se refere ao conjunto de pessoas que por nascerem num mesmo período histórico, recebem ensinamentos e estímulos culturais e sociais similares, e assim, em teoria, possuem comportamentos e interesses em comum. Pode referir-se também a um grupo de descendentes quando se trata de parentesco, tal como filhos e netos.

Podemos dizer que GERAÇÃO é aquele grupo de pessoas, que em decorrência de uma ideologia comum, é responsável por moldar a identidade cultural e espiritual de seu tempo, preparando-a para a posteridade. Assim, a responsabilidade de uma geração para com a outra é "real" e "vital" na evolução e sobrevivência da espécie.

Apesar de sua importância social, cultural e espiritual, é muito difícil especificar a duração histórica de uma geração, já que a vida humana não tem prazo de validade definido.

Por exemplo, a Bíblia cita a idade de 120 anos como uma média razoável de vida (Gêneses 6:3). Porém, esta expectativa é reduzida drasticamente para 70 anos no Salmo 90:10.

Mesmo assim, é possível encontrar no texto de Gêneses 5, personagens com nove séculos acumulados de vida, casos de Enos (905 anos), Cainã (910 anos), Sete (912 anos), Adão (930 anos), Jarede (932 anos) e Matusalém (979 anos). Exceções à regra.  

Atualmente, a expectativa de vida em países de terceiro mundo como República do Chade e Guiné-Bissau, não passa dos cinquenta anos. Além disso, diariamente, milhares de crianças e adolescentes morrem prematuramente pelos mais diversos motivos. Essa inconstância da vida, aliada ao avanço tecnológico sem precedentes da pós-modernidade, dificultam cada vez mais, a datação exata de um grupo humano igualitário em suas demandas e aspirações. Assim, sociólogos e historiadores se debruçam sobre estatísticas para encontrar a duração exata de uma geração, e os resultados destes cálculos estão sempre mudando.

Durante muitas décadas, definiu-se geração como sendo aquela que sucedeu a seus pais. Portanto, calculava-se como sendo uma geração o tempo de 25 anos. Na última metade de século, com o aumento considerável nos avanços tecnológicos, a maior facilidade de conexão com culturas diferenciadas e o bombardeio diário de informações, o intervalo entre uma geração e outra ficou mais curto. Hoje, já se pode falar em uma nova geração a cada dez anos.

Na pratica, o real resultado deste metabolismo social acelerado, é que pessoas de diferentes ideologias estão convivendo simultaneamente, em casa, na escola e no mercado de trabalho. Isso tem seu lado positivo, já que a experiência e a maturidade dos "mais velhos", aliada a expertise dos "mais novos" no manejo das tecnologias, aumenta exponencialmente a capacidade de inovação de uma civilização. Porém, a aceleração não e deixa de ter seu contraponto. Se a sinergia entre gerações não for alcançada, insta-se o conflito ideológico entre pessoas que, em teoria, deveriam formar um mesmo consciente coletivo. Isso nos leva a um legado fragmentado, que migra paulatinamente a uma falta de identidade social. 

E isso se reflete na espiritualidade do indivíduo, já que as mudanças constantes no pensamento teológico e religioso dentro de uma mesma instituição, não deixa marcas permanentes nas gerações futuras. Cada geração que se afasta de Deus, também empurra a próxima geração para o limbo da apostasia.

É preciso entender que, como igreja, apesar de convivermos com o conflito social de gerações em nossas comunidades, é preciso manter a consciência coletiva sobre Deus e seus desígnios fora do rol das transformações do mundo.

Deus não muda, e nossa forma de enxergá-lo também não pode mudar, independentemente da duração da vida ou das mudanças culturais de cada tempo. 

Nenhuma geração é plena. Precisamos trabalhar em conjunto com os que foram e com os que serão, afim de construir uma história e perpetrar um legado. Muitos acreditam que um exército de ovelhas lideradas por um leão, venceriam facilmente um exército de leões liderados por uma ovelha. Isto porque o "formador de opiniões" tem a capacidade de moldar seus influenciados de acordo com sua própria mentalidade. Esta dádiva é uma faca de dois gumes, pois quando não usada com sabedoria se torna em maldição.

Líderes fracos fatalmente forjarão grupos fracos, e líderes fortes, fortaleceram seus liderados, por mais fracos que sejam. Uma geração sempre irá ditar os passos da próxima geração. A grande questão é: - Para onde?

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