Deve-se deixar a vaidade aos que não têm outra
coisa para exibir.
(Honoré de Balzac)
Sou um
colecionador compulsivo em tratamento permanente. Amo quinquilharias. Para mim,
qualquer anotação deve ser arquivada. Me acho numa montanha de papeis e me perco
em escrivaninhas vazias. E esta mania vem de muito tempo. Desde que me entendo
por gente, gosto de manter por perto tudo que considero “colecionável”. Álbuns
de figurinhas, cédulas antigas, moedas, selos, tazos, card´s, figuras de ação,
revistas em quadrinho, latinhas, brinquedos seriados. Com a juventude, vieram
os cd´s dos cantores e bandas favoritos, os livros dos autores prediletos e um
gosto eclético pela sétima arte. Devo ter uns cinco mil filmes num arquivo de lógica pouco compreensível. São tantos objetos guardados, que por
vezes, minha esposa me “pede gentilmente” para que jogue alguns itens fora.
E nestas
décadas, muitas coisas foram para o limbo. Tesouros que se tornaram lixo.
Os card´s de dinossauros que valiam uma vida. Lixo.
O álbum de figurinhas com as “Maravilhas do Mundo”, preservado como relíquia. Lixo.
Os bonequinhos pintados à mão da Turma do Arrepio, mantidos a sete chaves. Lixo.
Os card´s de dinossauros que valiam uma vida. Lixo.
O álbum de figurinhas com as “Maravilhas do Mundo”, preservado como relíquia. Lixo.
Os bonequinhos pintados à mão da Turma do Arrepio, mantidos a sete chaves. Lixo.
Engraçado
como algumas coisas tem valor inestimável durante uma fase da vida, para depois
se tornarem frivolidades dispensáveis. Contínuo sendo um colecionador. Mas, meu
gosto tem mudado com muita frequência. Objetos de paixão devotada se transferem
para a galeria das “baboseiras esquecidas” com muita regularidade.
Como pode mudança tão drástica?
Simples. Abandonados aquilo que já não é importante. Mesmo não esquecendo, deixamos para trás e seguimos em frente. Alguns itens que consideramos vitais no hoje, amanhã se provam supérfluos e descartáveis.
Como pode mudança tão drástica?
Simples. Abandonados aquilo que já não é importante. Mesmo não esquecendo, deixamos para trás e seguimos em frente. Alguns itens que consideramos vitais no hoje, amanhã se provam supérfluos e descartáveis.
A Bíblia tem
um nome para estes hábitos sazonais: VAIDADE.
Quando
pensamos em “vaidade”, logo nos vem a imagem de alguém trajando roupas caras,
cabelo hidratado e maquiagem requintada. Porém, é preciso ir muito além da
aparência. Vaidade é sinônimo de “vazio”, a definição suprema de tudo que é
ilusório, vago, desnecessário e excessivo. São bagagens que carregamos, mesmo
sabendo que nada do que está dentro dela, terá qualquer serventia prática no
destino almejado.
Romances juvenis? Vaidade!
Paixão por uma agremiação esportiva? Vaidade!
Títulos eclesiásticos rebuscados? Vaidade!
Popularidade em redes sociais? Vaidade!
Coleções datadas? Vaidade!
Não pecado. Vaidade. Desperdício de energia e tempo. Por alguns meses (ou anos), até achamos que nossa vida dependa destas coisas. Quem nunca chorou por uma decepção amorosa? E não sofreu com a derrota de seu time numa final de campeonato? Lutamos por posições privilegiadas e pela aprovação popular, porém, quando as temos, descobrimos que, de fato, nada de produtivo foi agregado. Vaidades. Coleções as quais nos dedicamos, e que um dia, serão arquivadas na letra “L”. Lixo.
Romances juvenis? Vaidade!
Paixão por uma agremiação esportiva? Vaidade!
Títulos eclesiásticos rebuscados? Vaidade!
Popularidade em redes sociais? Vaidade!
Coleções datadas? Vaidade!
Não pecado. Vaidade. Desperdício de energia e tempo. Por alguns meses (ou anos), até achamos que nossa vida dependa destas coisas. Quem nunca chorou por uma decepção amorosa? E não sofreu com a derrota de seu time numa final de campeonato? Lutamos por posições privilegiadas e pela aprovação popular, porém, quando as temos, descobrimos que, de fato, nada de produtivo foi agregado. Vaidades. Coleções as quais nos dedicamos, e que um dia, serão arquivadas na letra “L”. Lixo.
E este não é
um mal do homem moderno. A história está repleta de personagens que se
dedicaram a coleções descartáveis. Alguns, até foram “soterrados” por elas. A
vaidade está intrinsecamente ligada ao “excesso”, e tudo que é “demais”, deixa
de ser bom. E aí sim, pode virar pecado.
Comer não é
pecado. A glutonaria é.
Beber não é pecado. A bebedice é.
Amar não é pecado. A luxuria é.
Elementos que sozinhos são sinônimos de benção, quando acumulados em série, podem redundar em maldição. Inclusive, encontramos registros de alguns acervos perniciosos, nas páginas das sagradas escrituras.
Vamos aos fatos...
Beber não é pecado. A bebedice é.
Amar não é pecado. A luxuria é.
Elementos que sozinhos são sinônimos de benção, quando acumulados em série, podem redundar em maldição. Inclusive, encontramos registros de alguns acervos perniciosos, nas páginas das sagradas escrituras.
Vamos aos fatos...
Se existe
alguma coisa aparentemente contraditória na Bíblia Sagrada, é o fato de
Provérbios e Eclesiastes coexistirem. Provérbios nos revela uma visão
otimista da vida, onde o homem bom irá prosperar e o mal encontrará a ruína. O esforço
será sempre recompensado e todo o trabalho bem executado, certamente trará
resultados positivos. Já Eclesiastes, parece desmentir tudo isso.
Suas palavras são amargas e recheadas de desesperança: - Por mais que se esforce, ao final de sua
jornada, o que sobra para o homem honesto é apenas enfado e canseira; pois tudo
na vida é efêmero e ilusório.
Mas, afinal,
qual dos livros traz uma visão correta sobre a vida? Seria nossa jornada
o caminho florido descrito em Provérbios ou a estrada obscura
relatada em Eclesiastes? Ambos. Afinal, podemos fazer este caminho como
quisermos.
Provérbios foi
escrito por um jovem rei chamado Salomão. Sonhos, planos e projetos audaciosos
povoavam a mente e coração do sábio monarca. Havia uma vida pela frente. O
reino era próspero. Seu templo, absolutamente suntuoso. O palácio por ele
governado deixava sem palavras quem o vi-a pela primeira vez. Seus servos mais
humildes exalavam nobreza. As mulheres mais lindas da terra se acumulavam em
seu harém. Os estábulos abrigavam caríssimos cavalos egípcios. Pavões
ornamentavam os jardins. Carregamentos de ouro fluíam de Ofir para os cofres
reais. A cada novo sucesso, Salomão,
vislumbrava um amanhã ainda melhor. Um trabalho concluído com primor era apenas
o início de um outro ainda mais ousado. Ele vivia de desafios vencidos. Tudo ia
bem com o corte e seu rei. A vida era linda, bela e com promessas de melhorias
contínuas.
A inspiração,
portanto, era permanente. Ao todo, credita-se a ele, cerca de 1005 cânticos e
mais de 3000 provérbios. Em seus escritos, Salomão dissertou sobre a vida, a
morte, o comportamento humano, a sabedoria, a tolice, relacionamentos pessoais
e interpessoais. Em cada texto escrito, uma faceta de seu caráter era revelada.
O erudito da lei.
O psicólogo competente.
O conselheiro matrimonial.
O sociólogo especializado.
Entre idas e vindas, conselhos, poemas e dissertações, inegavelmente, o Livro de Provérbios tem uma visão realisticamente positiva sobre ações e reações, enaltecendo a honestidade, a sabedoria, a fidelidade e o trabalho, todos eles apontados como caminhos que conduzem a uma vida plena e feliz.
O erudito da lei.
O psicólogo competente.
O conselheiro matrimonial.
O sociólogo especializado.
Entre idas e vindas, conselhos, poemas e dissertações, inegavelmente, o Livro de Provérbios tem uma visão realisticamente positiva sobre ações e reações, enaltecendo a honestidade, a sabedoria, a fidelidade e o trabalho, todos eles apontados como caminhos que conduzem a uma vida plena e feliz.
Porém, os
gigantes também caem. E Salomão se deixou cair em armadilhas que ele mesmo
construiu, desobedecendo duas normas a respeito dos reis:
1ª Norma – Deuteronômio 17:17
O rei não deverá ter muitas mulheres, pois
isso o levaria a abandonar a Deus. E nem ajuntar muita prata e ouro para
si.
2º Norma – Deuteronômio 7:3 / II Reis 11:12
Não contrair matrimônio com os filhos de nações
pagãs.
E é
exatamente aqui, que Salomão se mostra um colecionador inveterado. E ele tem
predileção por dois itens em especial: Ouro e Mulheres. Ele excede exatamente
onde deveria se conter.
Para manter a paz em seu reinado, sela pactos de cooperação com reis pagãos. Como garantia que os acordos seriam cumpridos, sempre toma como esposa, uma princesa estrangeira. E assim, o rei vai colecionando matrimônios. Moabitas, amonitas, edonitas, sidôneas, egípcias e hetéias. Salomão redefiniu a poligamia, chegando ao total de setecentas esposas. Se não bastasse, ainda mantinha em seu harém trezentas amantes oficializadas. Mil mulheres!
Para manter a paz em seu reinado, sela pactos de cooperação com reis pagãos. Como garantia que os acordos seriam cumpridos, sempre toma como esposa, uma princesa estrangeira. E assim, o rei vai colecionando matrimônios. Moabitas, amonitas, edonitas, sidôneas, egípcias e hetéias. Salomão redefiniu a poligamia, chegando ao total de setecentas esposas. Se não bastasse, ainda mantinha em seu harém trezentas amantes oficializadas. Mil mulheres!
Salomão
também era um aficionado colecionador de tesouros. Periodicamente, recebia
carregamentos gigantescos de ouro, prata, madeira de
sândalo, pedras precisas, marfim, macacos e pavões. Para sustentar sua vida luxuosa,
explorava sem pudor as províncias de Israel, sobretaxando o povo e cobrando
impostos altíssimos das tribos que formavam a base de seu reinado. (I Reis
11:3, II Reis 3:1, 11:1-2, Eclesiastes 2.8).
Riquezas e
Mulheres. Coleções datadas. Vaidades.
Cada vez
mais corroído pelas próprias ambições, o rei se tornou uma presa fácil. As
mulheres estrangeiras lhe perverteram o coração, e ele, deixou de ser fiel para
com o Senhor. Foi nessa ocasião que Salomão cometeu a loucura de construir
santuários para os deuses de suas esposas, contrariando uma proibição da lei de Deus (I Reis 11.5-8, Êxodo 20.3). Além disso, passou a acompanhá-las em
seus cultos pagãos e rituais profanos. Novas coleção ocuparam as estantes de
sua alma. Apostasias. Angústias. Frustrações.
Tudo que
Salomão tinha, era oriundo do próprio Deus. Sua sabedoria era uma dádiva
celeste e as riquezas, um presente dos céus. O Senhor lhe concedeu de bom grado o que era
necessário para que o reinado prosperasse em paz, justiça e verdade. Porém, o
rei quis mais. E mais.
Acabou soterrado no próprio querer. Construiu uma parede que o isolava de Deus. As mulheres perderam a beleza. O ouro perdeu o brilho. A vida perdeu o sentido. Uma vez que os alicerces do temor do Senhor foram abalados, Salomão entrou numa grande depressão, e literalmente, perdeu o prazer de viver.
Acabou soterrado no próprio querer. Construiu uma parede que o isolava de Deus. As mulheres perderam a beleza. O ouro perdeu o brilho. A vida perdeu o sentido. Uma vez que os alicerces do temor do Senhor foram abalados, Salomão entrou numa grande depressão, e literalmente, perdeu o prazer de viver.
Exatamente neste
ponto de sua vida, nos deparamos com o texto melancólico do Livro de Eclesiastes.
Nesta fase de inconsistência espiritual, os bens até então acumulados, deixaram
de ser significativos. Casas, vinhas, jardins, pomares, açudes, escravos
comprados e escravos nascidos em casa, rebanhos de vacas e ovelhas, prata, ouro,
tesouros, cantores e cantoras, mulheres a granel, poderio e fama internacional, agora faziam parte de uma coleção sem propósito. Já não valia a pena revisitá-la. Tudo era vaidade. Supérfluo. Desnecessário. Já não tinham mais frescor, sabor ou doçura. Tudo cinza. Insosso. Descartável.
Salomão queixou-se
da eterna mesmice. Suas palavras revelam o dessabor da rotina e a ausência de
um propósito eterno em seu dia-a-dia. - O que aconteceu antes vai acontecer outra
vez, o que foi feito antes será feito novamente, não há nada de novo neste
mundo. Ele concluiu o que fatalmente, também concluiremos sobre os tesouros
efêmeros que insistimos em preservar:
- Tudo é vaidade: a vaidade das possessões, a vaidade da sabedoria, a
vaidade do trabalho, a vaidade das riquezas; a finitude da vida. Trabalhar
e se esforçar para conseguir algo é como correr atrás do vento, atrás do nada.
(Eclesiastes 1:9-14, 2:1-26; 5:8-6.12 , 17:26).
Salomão
ficou emocionalmente enfermo. Espiritualmente destruído. Moralmente arrasado.
Coleções descartáveis que são guardadas no coração, tendem a apodrecer. E a
podridão se espalha. A alma adoece.
A doença de
Salomão era complexa, desgastante e prolongada. Ele experimentou uma crise
existencial pavorosa, relacionada com a crise religiosa dela decorrente.
Esse mal corroeu muitos anos de sua vida. Ele se tornou um velho ranzinza e
rancoroso. Amargo e depreciativo.
Esta fase
negra, porém, não é irreversível. Dá para aprender com ela. O lixo ainda está
de boca aberta, esperando nossa coragem para executar certos descartes. Em sua
velhice, Salomão teve um reencontro com seu Deus, recuperando assim, a integridade emocional. Ele releu cada um de seus provérbios, e se viu frente a
frente com o espelho. Quem foi, e no que havia se tornado. Reconheceu que Deus
é a essência da vida, e tudo o mais, é apenas vaidade. Excesso. Vazio.
Ausência.
Ele
reorganizou sua biblioteca. Meditou nos próprios escritos. Percebeu que a obra estava
incompleta. Não havia o capítulo final. Por sorte, suas mãos tremulas e castigadas pelo tempo ainda tinham força
para um último registro. Ele segurou a pena com o máximo de firmeza possível, e
implorou a seus leitores para que não cometessem o mesmo erro. Insistiu para
que as próximas gerações não gastassem a juventude com o que é efêmero, passageiro
e ilusório: - Não façam coleções descartáveis, cuja importância, o tempo roubará.
E então,
resumiu suas palavras e descreveu sua vida num único parágrafo.
Tudo o que ele gostaria de ter feito e não fez.
A única coleção que realmente vale a pena preservar.
Temor, obediência e lealdade.
- Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal. (Eclesiastes 12:13-14)
Tudo o que ele gostaria de ter feito e não fez.
A única coleção que realmente vale a pena preservar.
Temor, obediência e lealdade.
- Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal. (Eclesiastes 12:13-14)
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