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domingo, 9 de julho de 2017

Fariseus Modernos

Aqueles que não permitem que Deus trabalhe neles, 
nunca podem trabalhar para Ele.
(T. S. Watchman Nee)


É muito difícil sentir qualquer empatia pelos fariseus. Este desmoralizado grupo religioso, era na verdade, formado por homens devotados ao estudo da Torá. A relevância desta comunidade de notáveis foi tão elevada, que as sinagogas só existiam por causa deles. Minuciosos observadores da Lei Mosaica e pesquisadores esmerados das profecias messiânicas, se tornaram baluartes do judaísmo e defensores irredutíveis da cultura semita. Entre os tópicos mais relevantes de suas observações diárias, estavam os presságios sobre a chegada do Messias e o impacto espiritual que o Emanuel causaria na humanidade.

O problema, é que, enquanto olhavam para os céus, esperando Deus se manifestar entre raios, trovões e luzes flamejantes, o Verbo caminhava sob o sol escaldante da Galileia. Mas, na perspectiva de homens imersos em religiosidade, um carpinteiro do interior não preenchia os critérios para ostentar o título de Filho de Deus. 

Ledo engano.

Quando Jesus se revelou como “aquele que haveria de vir”, a religião judaica entrou em colapso. Milhares de pessoas eram atraídas pelos ensinamentos do Rabi de Nazaré, e se admiravam com seus sinais e milagres gloriosos. Cegos enxergavam, mudos cantavam e aleijados bailavam desengonçadamente. Desesperados, os líderes religiosos de Israel atuavam em duas frentes.

Na primeira, confrontavam Jesus publicamente, criticando duramente sua postura agregadora. Enquanto isto, confabulavam em salas secretas, arquitetando planos ardilosos para sentenciar Cristo a morte.

E Jesus Cristo não se importava em colocar munição na arma que estava apontada para si. Pelo contrário, uma única alma salva, tinha mais valor que toda a casta religiosa perdida no próprio egocentrismo. Para homens que reverberavam santidade, pureza e separação, testemunhar Jesus Cristo abraçando leprosos, jantando com publicanos e sendo carinhosamente tocado por mulheres difamadas, era um pedido explícito de condenação. Se aquele “militante” realmente tivesse qualquer vínculo como Deus, certamente saberia separar o “joio e o trigo”, e se negaria a andar em companhia tão comprometedora.

E, de fato, Jesus aparentemente, tinha o dedo podre para amizades. Seu círculo mais íntimo era formado por homens xucros, pescadores iletrados, políticos radicais, e até mesmo por um “traidor” da pátria. Se aplicássemos em Cristo o famoso “diga-me com quem andas, e te direis quem és”, certamente, o excluiríamos de nossa lista de contato.

João 4 nos relata o encontro a sós entre Jesus e uma mulher samaritana cuja vida transbordava em luxúria. Em Lucas 19, Cristo se hospeda voluntariamente na casa de um homem cercado por indícios de corrupção. Mateus 9 nos revela que Jesus, intencionalmente, permitiu que uma mulher impura tocasse em suas vestes. Já Marcos 5, nos conta sobre a visita de Cristo as dependências de um cemitério perigosamente avizinhado por um criadouro de porcos. Tudo errado. Situações inconvenientes. Lugares inadequados.

Jesus não frequentava ambientes convencionais. Estava sempre fora da zona do conforto estabelecida pela religiosidade. Prato cheio para os críticos de plantão. As serpentes cravavam suas presas nos discípulos e destilavam o veneno legalista:

- Por que ceia o vosso mestre com publicanos e pecadores? (Mateus 9:11) 

Jesus tinha a resposta para esta pergunta estampada na essência de seu ministério.

 - Eu não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento. (Mateus 9:13)

Jesus estava onde precisava estar. Seu faro por pecadores o afastava dos ambientes religiosos, onde o pecado usava o perfume falsificado da santidade. Jesus descia ao esgoto, para de lá, retirar o miserável. Cristo sujava suas mãos, sem que seu coração se contaminasse. Esta era a diferença.

Quando Jesus se viu sozinho com uma prostituta que lhe “devia” favores, olhou em seus olhos e perdoou os seus pecados. Quando se encontrou na alfandega com um cobrador de impostos, fez dele um discípulo abnegado. Nem um centavo de lucro. Nenhuma vantagem pessoal. Cristo abominava o pecado na mesma intensidade que amava o pecador. Então, não media esforços para tirar uma alma do lamaçal pecaminoso.

Exatamente por isso, as críticas dos fariseus eram apenas murmúrios desprezíveis, que desapareciam entre os gritos desesperados dos aflitos e esquecidos. Na balança do Messias, uma ovelha equivalia a um rebanho inteiro. Uma única moeda perdida levava a conta para o vermelho. Um filho rebelde continuava tendo destaque no álbum de família. (Lucas 15)

Os fariseus não aceitavam isto. Se sentiam mais espirituais que as pessoas simples. Se consideravam mais santos que os cegos e aleijados curados por Cristo. Estavam errados. Homens pomposos revestidos de religiosidade vazia. Jesus os chamou de "sepulcros caiados". Aparência sem conteúdo. Amor sem bondade.

Hoje, fariseu é um termo pejorativo. No vocabulário cristão, geralmente faz referência a alguém que se promove sem ter algo a oferecer. Hipocrisia. Falsidade. Dissimulação. Nos chamem de “Filhos de Satanás”, mas, nunca de FARISEUS. Ofensa tem limite.

Porém, sugiro aqui, um rápido exercício de imaginação. E se ao invés de ter nascido na Galileia do primeiro século, Jesus Cristo fosse um brasileiro, originário do sertão pernambucano. Um agricultor de pouca renda chamado José, frequentador de nossa igreja. 

Será que o aceitaríamos como Messias? E qual seria a nossa análise, quando o encontrássemos dentro dos bares, assentado junto aos cachaceiros que tanto evitamos? Lidaríamos bem com suas visitas as boates suburbanas? Aceitaríamos seus encontros “escusos” com homens de moral dúbia e mulheres de vida pregressa?

Tenho a ligeira sensação, que todas estas situações hipotéticas seriam tratadas como escândalos vexatórios ao evangelho. José (ou Jesus), certamente seria excluído de nossos rol’s de membros, banido dos altares e catapultado ao limbo eclesiástico. Sim, paradoxalmente, Jesus Cristo seria considerado uma vergonha para a Cristandade. Não é tão fácil assim, compreender a urgência de um socorro. Quando preciso, Cristo nunca faz cerimonias ou ritos. Ele simplesmente desce ao inferno para resgatar uma vida. Nós, evitamos até mesmo a roda dos escarnecedores, mesmo que por vezes, nosso coração já esteja lá a muito tempo.

Queremos ser santos em ambientes de santidade. Jesus quer que sejamos santificados em meio ao mundo pecaminoso. Luz nas trevas. Sal para uma geração insípida. As redes precisam ser lançadas ao mar, e não no assoalho do barco. A vida diária dentro de um templo pode até nos edificar, mas, não evangeliza. Os perdidos estão lá fora.

As pessoas precisam invocar o nome do Senhor para serem salvas. Mas, como invocarão, se antes não acreditarem Nele? E como crerão, se ninguém as evangelizar? E como serão evangelizadas, se a igreja não sair ao mundo para pregar? (Romanos 10:14-15)

O que me entristece profundamente, é ter a plena consciência, que infelizmente, apesar de abominarmos o farisaísmo judaico, somos na verdade, fariseus que discursam em português. Até nos importamos com as almas. Só que nosso amor por elas, é menor que nossa letargia em buscá-las.

O IDE já foi dado. As estratégias já foram ensinadas. Jesus determinou a abrangência da mensagem. Todo o mundo. Sem acepção. Sem escolhas pré-determinadas. Não temos o direito de sermos seletivos. Escolher a quem destinar a palavra de salvação. Julgar merecimento. Até, porque, ninguém merece, mas, todos precisam. E é isto que Jesus nos revelou em suas ações. Estava presente quando uma alma gritava por Ele. E, enquanto isto, os fariseus apontavam o dedo é diziam: - Este tipo de pecador não pode se encontrar com Deus. 

Certamente, endossaríamos a estática dos não “salváveis”. Louvado seja Deus, pelo fato de Jesus ter uma queda por gente imprestável. Caso contrário, pobre de mim.


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