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domingo, 29 de julho de 2018

Efeitos da Guerra

A maneira mais rápida de acabar com uma guerra é perdê-la.
(George Orwell)


A guerra não se importa com os inocentes. Ela simplesmente acontece, consumindo tudo e todos que estiverem em seu caminho. Um enxame de gafanhotos explosivos devastando os campos floridos. Flores em chamas. Vidas destruídas. Para apreciar a guerra é preciso lucrar com ela. Obter vantagens e benefícios com a tragédia alheia. Ambição para governar sobre escombros ou sede por sangue ainda aquecido. Gente comum quer mesmo é viver em paz. Longe do caos. Distante da morte. Mas, que escolha temos, quando num dia sangrento, acordamos em meio ao conflito? Nem mesmo quem aperta o gatilho (ou pilota o bombardeiro) gostaria de estar ali. É apenas o dever gritando tão alto, que nada mais pode ser ouvido. Logo, é preciso seguir em frente atirando, mantendo-se em pé o máximo de tempo possível. Instinto de sobrevivência em seu estado mais latente.

A mesma guerra que devora soldados, também se alimenta de civis. Todos são petiscos diante deste monstro faminto que vocifera ameaças e cospe fogo. Os noticiários da TV acompanham seu rastro inflamável, e de longe, sentimos pena das vítimas inofensivas, enquanto secretamente estamos aliviados pela sorte de não termos nascido na Síria, Iraque ou Sudão. E quando tiros ecoam nas favelas do Rio de Janeiro, somos gratos por este "não" ser problema de alguém que mora no "interior de São Paulo"... É bom estar longe de conflitos. Tão bom, quanto impossível. O monstro devorador de almas tem muitos filhos, com as mais variáveis aparências. Batalhas que lutamos sem perceber. Pelejas que nos destroem antes do café da manhã, e mesmo assim, seguimos com a rotina do dia. Ainda nem tomamos posição efetiva no “fronte”, e a alma já se tornou estatística militar. Mais um efeito colateral da guerra. Baixa civil que não muda o resultado do embate, porém destrói por completo um número incontáveis de vida.

Bombas caindo do céu. Telefones tocando na madrugada. Banker´s militares. Salas de emergência. Guerras diferentes, com resultados semelhantes. Conflitos externos que podem explodir o corpo de um homem em mil pedaços. Conflitos internos que fragmentam a alma de forma tão intensa, que reduzem a existência a uma casca humana recheada de pó. Não queremos tomar parte destas guerras, mas elas já estão dentro de nós, esperando a sirene tocar. O câncer de hoje, era apenas uma célula ainda ontem. O jovem viciado, já foi aluno da EBD.  A parada cardíaca, atingiu o mesmo coração que pulsava segundos atrás. Tudo estava indo bem, e de repente o céu azul se tornou negro. O zumbido dos aviões bélicos atordoa os sentidos e mal temos tempo para entender os acontecimentos. E então, a bomba cai. A casa construída com anos de esforço é imediatamente reduzida a escombros. E mais ogivas são lançadas. Inocentes correm em chamas, e não sabemos como agir. Ninguém nos preparou para isso. Não há armas nas mãos. A guerra abre sua bocarra e corre em nossa direção. E neste momento desesperador, apenas nos resta um grito incompreensível que ecoa sem resposta. Se nada há para fazer, então tudo já foi feito... Neste ponto, a tendência é simplesmente sucumbir sem esboçar qualquer reação efetiva.

Dias atrás estava numa situação parecida com esta. Não havia bombas caindo do céu, elas despencavam do teto. Bombas incendiárias. E como um escorpião coagido pelas chamas, lá estava eu, pronto para me golpear com o próprio aguilhão, inoculando na alma o amargo veneno da frustração. Neste instante, meu pai me ligou: - Está tudo bem, filho? Duas palavras depois e as lágrimas já brotaram no rosto. Sem maiores detalhes, apenas compartilhei com ele minha incapacidade de lidar com o conflito inesperado no qual fui “equivocadamente” inserido. Tudo o que eu queria era desertar, correr para casa e deixar a batalha para os soldados. Então, meu pai me lembrou de um pequeno detalhe que as vezes insisto em esquecer:

- Filho, você é um soldado! E se Deus permitiu que esta guerra chegasse a sua porta, é porque sabe que as arma necessária para o combate já está em suas mãos...

Simples assim. Eu não sou um efeito colateral da guerra. Nem mesmo uma vítima civil. Me alistei para esta batalha. Competi para estar vivo e venci. O mesmo se aplica a você. Todos somos vencedores natos, afinal, qual desafio pode ser maior que a corrida pela vida? E agora que já estamos aqui, cabe a cada um de nós escolher lutar as próprias guerras, ou ser engolido por elas. E pensando bem, se a batalha é minha, existe melhor opção que batalhar? Até, porque, ninguém vai enfrentar teus conflitos internos por você, e é exatamente na alma que as grandes vitórias começam a ser desenhadas.

Sempre que leio a história de Jó me sinto inferiorizado em relação ao patriarca. Tenho plena convicção que jamais suportaria a mesma provação sem deixar desmorecer minha fé. Acordar milionário e dormir mendigo? Chorar em dez velórios no mesmo dia? Se tornar uma ferida purulenta ambulante? Nada disto é para mim. Certamente perderia a batalha antes mesmo dela começar. Somente sendo Jó para sobreviver a tamanho infortúnio. Porém, ultimamente tenho pensado um pouco diferente. Será que Jó passaria pelas minhas provações com o mesmo destemor? E, sinceramente,  acredito que não... Longe de mim a ideia de ser melhor que o notável morador de Uz, simplesmente entendi que Deus confia a cada um de nós, batalhas que podemos vencer. A prova vem com meu DNA embutido nela. Na proporção exata a minha capacidade de retaliação. Jó lutou a sua com excelência.  Agora, preciso enfrentar a minha. 

Esta condição facilita o combate? Obviamente que não. Mas, com certeza equilibra as forças. É bom olhar nos olhos do adversário sabendo que o monstro desolador  não é páreo para você. E acredite, ele não é! Deus já te deu as armas para vencê-lo, mesmo que ainda não tenha percebido. Minha amiga Jusileine Beatriz conta que num momento de grande provação financeira, prestes a ser derrotada pelo desespero, se lembrou que tinha “algumas” habilidades que poderiam ser usadas para a confeitaria. E então, "partiu para a guerra armada com bolos e brigadeiros". E venceu. Se tornou a Jucy´s Baker. Mais forte. Mais preparada. Um tipo de super-heroína do mundo real cuja capa é feita de pasta americana. Em 2007 tive que lidar com uma terrível depressão. Se não bastasse a tristeza avassaladora, os efeitos dos remédios se revelaram mais desagradáveis que os sintomas da doença. Que guerra! Já quase hasteando a bandeira branca, descobri que as armas necessárias para o combate estavam na escrivaninha do meu quarto. Parti para a batalha usando papel e caneta. Nesta época, escrevi os primeiros rascunhos do que viria a ser o “QUANDO (NÃO) ENTENDO DEUS”. Matei quem estava me matando. 

Sei que não é fácil, mas, uma luz brilha forte no fim do túnel assim que fazemos esta descoberta. Deus já te entregou as armas que matam o monstro. Enfrenta-lo não é uma missão suicida! É uma decisão corajosa, baseada na confiança que o Senhor dos Exércitos é quem me capacita para a batalha.

Combates grandiosos. Escaramuças quase imperceptíveis. Guerra é guerra, não importando a nomenclatura. Um diagnóstico médico pessimista é como um contingente de mil soldados descendo contra um guarda de trânsito. A tristeza de um relacionamento desfeito se equipara a um encouraçado abrindo fogo contra veleiros de papel. O desemprego prolongado se assemelha ao cerco de um batalhão, impedindo que água e comida entre na cidade, levando seus moradores a definharem por fome e sede. São muitos os conflitos nos aguardando fora de casa, e tantos outros acontecendo debaixo deste mesmo telhado. E podemos vencer cada um deles. Temos ao nosso lado um Deus que é mais poderoso que os mais poderosos exércitos. Maior que todos os gigantes. A cura de qualquer enfermidade. A calmaria das mais intensas tempestades. O Senhor é a solução definitiva para os mais ferrenhos conflitos.

Em seu livro “O Deus Invisível”, Philip Yancey nós um inspirador testemunho que aponta para sucesso num contexto de evidente fracasso: - “Aprendi buscar a Deus e apoiar-me com convicção em sua graça, especialmente quando alguma área da minha vida está mergulhada em desastre.” Quando desenvolvemos este tipo de entendimento, o céu escuro se ilumina com o sol do meio dia. A verdade se revela fluente como um veio cristalino de água, mesmo que um rio de sangue ainda corra pelas trincheiras. A batalha pode até ser minha, mas a guerra não é. Certa vez, o oficial norte americano Douglas MacArthur declarou que somente os mortos conheciam o fim da guerra. Quando disse esta frase, certamente retirou Deus da equação...  

Deus é meu refúgio e minha fortaleza... Ele é meu socorro em tempos de aflição. Por isso não devo ter medo, mesmo que o mundo desmorone a minha volta e as montanhas sejam devoradas pelos oceanos... Os governos irão se inflamar e as nações sempre terão motivos para o conflito, porém, basta que o Senhor erga sua voz para a terra engolir cada um deles... Preciso me lembrar do que Deus pode fazer. Ele é quem põe fim as guerras. Destrói as bombas e corta ao meio as metralhadoras. Queima com seu fogo  "F-22 Raptor" e tanques "M1 Abrans"! Devo apenas me preparar para as minhas batalhas, deixando que o meu Deus lute por mim as minhas guerras! O Senhor dos Exércitos está ao meu lado! O Deus de Jacó é o meu protetor! (Adaptado do Salmo 46)

Se a guerra é inevitável, vencê-la é uma questão de escolha. Basta fazer uma visita no arsenal. Deus já nos confiou as armas específicas com as quais enfrentaremos cada combate diário. As chamadas “Batalhas Possíveis”. E quando a "guerra" bater na porta, e nossa artilharia tornar-se inoperante, nada de desespero. No momento em que uma bomba chamada “impossível” é lançada contra a minha vida, a presença de Deus se revela a mais poderosa dentre todas as armas. Defesa intransponível e ataque inerrante. A única com a capacidade de finalizar definitivamente todos os conflitos. E ela já está aí com você, disponível para uso imediato. Porque não lançar mão agora mesmo? Como bem disse o Pr. Eduardo Silva, “ao homem cabe as vírgulas tristes de uma história, mas é Deus quem coloca um ponto final de alegria! ”


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