Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.
(Lei de Murphy)
Habacuque era um homem bom. Daqueles sobre o qual se dizem ter um coração de ouro. Sua empatia com o próximo era louvável. A sensibilidade demostrada em suas ações revelavam a compaixão latente que o profeta expressava no olhar. Seu nome significa “abraço”. Teólogos e estudiosos o identificam como alguém hábil para ministrar refrigério ao aflito. Um pai acalentando o filho choroso com mãos ternas e palavras gentis. Habacuque... Figura rara em Judá... Um tipo de pessoa em extinção. O mundo a sua volta era cruel e mesquinho, implantado na sociedade a cultura do “cada um por si e Deus por todos”. Em decorrência deste comportamento generalizado, o profeta estava com a alma ferida.
Todos os
dias, ao abrir a janela de seu quarto, o profeta se deparava com um cenário de
violência e destruição. As pessoas não se entendiam, e nem se esforçavam para
conviver com o mínimo de dignidade. As leis estavam senda rasgadas e jogadas no
lixo. A justiça havia sido pervertida. Virada ao avesso. Judá estava sob
dominação egípcia. O rei Jeoaquim não passava de uma marionete nas mãos do
faraó Neco. Sem a liderança de um homem compromissado com o Senhor, os judeus
desceram a ladeira da fé. A decadência civil e religiosa fez da nação um antro
de egocentrismo. Tudo era falso. A adoração formalista. Deus estava nos lábios
e ausente nos corações.
E descer o Everest numa bicicleta sem freios é programar a própria desgraça. Judá estava cavando a cova na qual seria sepultado. Velhos que se esqueceram do passado, incentivado crianças a não enxergarem o futuro. Habacuque não se conformava com este cenário tenebroso. Quais perspectivas existiam para as próximas gerações? Até quando a justiça seria ridicularizada nos tribunais? Continuaria a iniquidade a cirandar pelas ruas zombando dos homens de bem?
E descer o Everest numa bicicleta sem freios é programar a própria desgraça. Judá estava cavando a cova na qual seria sepultado. Velhos que se esqueceram do passado, incentivado crianças a não enxergarem o futuro. Habacuque não se conformava com este cenário tenebroso. Quais perspectivas existiam para as próximas gerações? Até quando a justiça seria ridicularizada nos tribunais? Continuaria a iniquidade a cirandar pelas ruas zombando dos homens de bem?
E é neste
ponto, que Habacuque faz suas mais relevantes perguntas:
- Onde está Deus?
- Porque clamo por socorro e Deus não me responde?
- Até quando eu vou denunciar a violência, e Deus não fará nada contra
aqueles que praticam o mal?
Habacuque
queria respostas imediatas. Ações práticas e decisivas. Ele confiava num Deus
poderoso e vencedor, e exatamente por isso, não se conformava com a fraqueza
espiritual de sua gente, um povo escolhido por este mesmo Deus. - Faça alguma coisa, Senhor! E Deus não
se esquivou deste clamor revoltado. Sua resposta retumbou pelos portais eternos
e fez o corpo de Habacuque reverberar. Não era a resposta que o profeta
gostaria de ouvir. Mas, desde quando a vontade do homem interfere nos planos de
Deus? O Senhor tem controle absoluto, até mesmo, sobre o caos. Ele caminha
suavemente por montanhas que estão sendo engolidas pela terra. O mais intenso
furacão não consegue nem mesmo balançar um fio do seu cabelo. O mal que triunfa
momentaneamente, se dissolve ao sussurro de sua voz. Deus sabe o que fazer no
hoje, porque o amanhã dorme na palma de sua poderosa mão.
Então,
esqueça a motivação da pergunta e se apegue aos motivos da resposta.
- Ao meu tempo, Habacuque, irei agir! E as nações da terra ficaram
pasmas diante do que farei. Quando as futuras gerações ouvirem as histórias
deste tempo, elas terão dificuldades para acreditar!
Deus contou seu plano ao profeta. O Senhor iria dar poder a uma nação impiedosa, que subiria ferozmente contra Judá, para se apoderar da terra e fazer sofrer seus moradores. Os judeus que perverteram a justiça, experimentariam do gosto amargo da injustiça. Homens que se digladiavam por motivos banais, agora enfrentariam uma guerra impossível de vencer. Casas saqueadas. Muros queimados. Templo em ruínas. Uma fila interminável de escravos marchando ao exílio. Soldados enterrados em covas rasas. Um povo outrora vencedor, indefeso como um coelho encurralado por centenas de raposas. A lição definitiva ministrada pelo professor mor. Aprendizado duradouro e eficiente.
Deus contou seu plano ao profeta. O Senhor iria dar poder a uma nação impiedosa, que subiria ferozmente contra Judá, para se apoderar da terra e fazer sofrer seus moradores. Os judeus que perverteram a justiça, experimentariam do gosto amargo da injustiça. Homens que se digladiavam por motivos banais, agora enfrentariam uma guerra impossível de vencer. Casas saqueadas. Muros queimados. Templo em ruínas. Uma fila interminável de escravos marchando ao exílio. Soldados enterrados em covas rasas. Um povo outrora vencedor, indefeso como um coelho encurralado por centenas de raposas. A lição definitiva ministrada pelo professor mor. Aprendizado duradouro e eficiente.
Habacuque
ficou indignado. Ele orava por dias melhores, e Deus lhe dava de bandeja
um futuro ainda mais aterrador. O profeta implorava por justiça, e em resposta,
Deus entregaria seu próprio povo nas mãos de um rei profano, idolatra e cruel.
Judá seria reduzido a um cardume de peixes no aquário, e a Babilônia viria para
a pesca munida de anzóis, tarrafas e arpões. – Senhor, tem certeza que isto é justiça? O tratamento mais eficaz
contra o mal é uma dose cavalar de maldade?
Em 1960, o meteorologista americano Edward Lorenz, ao tentar prever o movimento das massas de ar através de um programa de computador, percebeu que era impossível ter precisão sobre os resultados, já que pequenas alterações nas casas decimais nos dados que alimentavam a máquina, causavam mudanças significativas a longo prazo. Baseado nestas observações, ele cunhou o famoso termo “Efeito Borboleta”. Estava fundamentada a teoria do caos. A imprevisibilidade. A soma de pequenos fatores resultando em um evento cataclísmico. E o que isto quer dizer? Simples.
Em 1960, o meteorologista americano Edward Lorenz, ao tentar prever o movimento das massas de ar através de um programa de computador, percebeu que era impossível ter precisão sobre os resultados, já que pequenas alterações nas casas decimais nos dados que alimentavam a máquina, causavam mudanças significativas a longo prazo. Baseado nestas observações, ele cunhou o famoso termo “Efeito Borboleta”. Estava fundamentada a teoria do caos. A imprevisibilidade. A soma de pequenos fatores resultando em um evento cataclísmico. E o que isto quer dizer? Simples.
O acidente
de carro ocorrido no cruzamento da rua A com a B, não teria acontecido se um
dos envolvidos tivesse saído de casa com cinco minutos de antecedência. Esta
pessoa só “se atrasou” cinco minutos porque decidiu tomar uma xícara extra de
café. O café tentador era de uma marca nova, que ela comprou no dia anterior
naquele mercado da esquina. Tinha ido ao mercado comprar maças para fazer
uma vitamina. Ações aleatórias simplistas que resultaram numa tragédia
fortuita. Como dizia Lorenz, “é como se bater
das asas de uma borboleta no Brasil causasse, tempos depois, um tornado no Texas.”
Eu, particularmente,
gosto desta teoria. É bom jogar a culpa no acaso. Tirar o peso de nossas
decisões mais inconsequentes. É acalentador pensar que as mazelas vividas são
apenas as borboletas batendo suas asas. Porém, teorias não são consideradas na ciência
divina, que é absoluta e plena de certeza. As ações mundanas e pregressas de
Judá estava levando o reino para o exato ponto pré-determinado. E anunciado com
muita antecedência. Profetas pontuando a história com o grito de alerta. O
próprio Deus firmando as bases de sua lei no amago das primeiras gerações.
A desobediência aos mandamentos sagrados sempre foi um tapete de boas-vindas para a tragédia. O pecado é um apito agudo e insistente atraindo a atenção da morte.
A desobediência aos mandamentos sagrados sempre foi um tapete de boas-vindas para a tragédia. O pecado é um apito agudo e insistente atraindo a atenção da morte.
- O Senhor, o seu Deus, abençoará o que as suas mãos fizerem, os filhos
do seu ventre, a cria dos seus animais e as colheitas da sua terra, se vocês
obedecerem ao Senhor, ao seu Deus, e guardarem os seus mandamentos e decretos
que estão escritos neste Livro da Lei, e se voltarem para o Senhor, para o
seu Deus, de todo o coração e de toda a alma... Se, todavia, o seu coração se
desviar e vocês não forem obedientes, e se deixarem levar, prostrando-se diante
de outros deuses para adorá-los, eu hoje lhes declaro que, sem dúvida, vocês serão destruídos. O que hoje
lhes estou ordenando não é difícil fazer, nem está além do seu alcance. Vida ou
Morte. Ponho diante de vocês vida e prosperidade, ou morte e destruição.
(Adaptado do texto de Deuteronômio 30:9-17)
Nunca houve
eventualidade. Apenas escolhas muito conscientes. Uma sucessão de desmandos
encaminhando Judá na direção do caos. E Deus, é o Senhor que domina o caos.
Aquele que tem as repostas para tudo que é inexplicável. Dono das asas de cada borboleta existente na terra. Quem determina a rota dos mais volumosos furacões.
Habacuque ouviu a resposta que não queria. Percebeu tarde demais que a ignorância pode ser uma benção. Agora, ele tinha plena certeza do futuro. O que já era ruim iria piorar ainda mais. O temor lhe percorreu o dorso. Ele sentiu no ar a fúria do Todo Poderoso. Os lábios balbuciaram palavras que caíram ao chão. As pernas bambearam e Habacuque se prostrou. O profeta sofreu. Chorou por seus irmãos. Não haviam mais orações a serem feitas por eles. Pensou em pessoas que ainda se mantinham boas num mundo dominado mal.
Habacuque. Amável. Complacente ao sofrimento alheio. Um coração solidário e acolhedor, recebendo em primeira mão a notícia desoladora. Um futuro de dor, lágrimas e enlutamento. O profeta sentiu o golpe. Tremeu na base. Mas, não sucumbiu ao desespero. Ele se posicionou sobre a muralha. Manteve-se em posição de atalaia. Escreveu mensagens aos moradores de Judá. Anunciou os juízos do Senhor, na esperança de que os compatriotas se preparassem para o dia mal. – O que há de vir, virá. E não falhará. Mesmo que pareça demorar, se prepare. Porque certamente virá, e não se atrasará. (Habacuque 2:3).
Habacuque ouviu a resposta que não queria. Percebeu tarde demais que a ignorância pode ser uma benção. Agora, ele tinha plena certeza do futuro. O que já era ruim iria piorar ainda mais. O temor lhe percorreu o dorso. Ele sentiu no ar a fúria do Todo Poderoso. Os lábios balbuciaram palavras que caíram ao chão. As pernas bambearam e Habacuque se prostrou. O profeta sofreu. Chorou por seus irmãos. Não haviam mais orações a serem feitas por eles. Pensou em pessoas que ainda se mantinham boas num mundo dominado mal.
Habacuque. Amável. Complacente ao sofrimento alheio. Um coração solidário e acolhedor, recebendo em primeira mão a notícia desoladora. Um futuro de dor, lágrimas e enlutamento. O profeta sentiu o golpe. Tremeu na base. Mas, não sucumbiu ao desespero. Ele se posicionou sobre a muralha. Manteve-se em posição de atalaia. Escreveu mensagens aos moradores de Judá. Anunciou os juízos do Senhor, na esperança de que os compatriotas se preparassem para o dia mal. – O que há de vir, virá. E não falhará. Mesmo que pareça demorar, se prepare. Porque certamente virá, e não se atrasará. (Habacuque 2:3).
E então,
forjou nas fornalhas do coração o lema de sua vida. E o gritou para todos
ouvirem.
- O JUSTO VIVERÁ DA FÉ (Habacuque 2:5).
O profeta
acalmou seu coração. Havia esperança para aqueles que praticavam a justiça. Mesmo
que o mundo desmoronasse, existia uma certeza capaz de manter firmes os pés de
todos que se voltassem ao Altíssimo. O Senhor é o Deus da nossa salvação. Socorro bem presente na angustia. Tudo passa, enquanto Ele permanece. E então, sereno em sua crença, Habacuque para de se preocupar, e simplesmente... canta:
Se a figueira não florescer... Se não houver uvas nos vinhedos... Se a
safra das azeitonas falhar... Se as lavouras não derem alimentos... Se faltar ovelhas
nos currais... Se os bois desaparecerem dos pastos... Ainda assim, eu vou descansar
no Senhor. Vou me alegrar em Deus, pois Ele irá me salvar!
O canto de Habacuque nos inspira a enfrentar a escassez. Sua postura nos suscita para adoração mesmo diante de notícias trágicas e prognósticos pessimistas. Quando o solo se abre e engole toda a razão, ainda nos resta a fé. E se existir a fé, também existirá certeza de vida. Justos vivendo pela fé. O grito de Habacuque ecoando pela história. (Gálatas 3:11; Romanos 1:7; Hebreus 10:38) Paulo ouviu, e o replicou a plenos pulmões. Martin Lutero ouviu, e a Reforma se incendiou. Se você também ouvir, poderá provocar mudanças significativas a sua volta. Atalaia em meio a uma geração dispersa. Estrela cintilante se destacando no céu de breu. A ordem prevalecendo sobre o caos.
O canto de Habacuque nos inspira a enfrentar a escassez. Sua postura nos suscita para adoração mesmo diante de notícias trágicas e prognósticos pessimistas. Quando o solo se abre e engole toda a razão, ainda nos resta a fé. E se existir a fé, também existirá certeza de vida. Justos vivendo pela fé. O grito de Habacuque ecoando pela história. (Gálatas 3:11; Romanos 1:7; Hebreus 10:38) Paulo ouviu, e o replicou a plenos pulmões. Martin Lutero ouviu, e a Reforma se incendiou. Se você também ouvir, poderá provocar mudanças significativas a sua volta. Atalaia em meio a uma geração dispersa. Estrela cintilante se destacando no céu de breu. A ordem prevalecendo sobre o caos.
Sem figos. Sem
uvas. Sem azeitonas. Não há leite. Não há carne. Pratos vazios. Lavouras
ressequidas. Tribunais a postos. Chicote estralando no lombo. Caldeus
esmurrando à porta. A humanidade em desespero vivendo a lógica latente nas
razões humanas. Quando o mundo rodopia em suas próprias bases, o justo se
mantém em paz, descansando sobre os escombros, vivendo a loucura da fé. Os sãos
perecem, pois descendem ao inferno. Os loucos são preservados, e por fé,
ascendem aos céus. Mas, não se
deixe influenciar negativamente. E nem se conforme com as videiras infrutíferas.
Se hoje você receber a notícia que o amanhã será muito pior, então deposite suas
esperanças no dia seguinte a tragédia. Ou no próximo mês. Quem sabe no ano
vindouro. Deus sempre trabalha com ciclos crescentes. O vale é um caminho até
montanha. A noite escura nos encaminha ao amanhecer dourado.
José saiu da
cisterna.
Daniel não
ficou na cova.
Jeremias foi
retirado do poço.
Sadraque,
Mesaque e Abdenego apenas passearam na fornalha.
Habacuque termina seu livro "pessimista" com um brado de vitória. Um ode à esperança. Os pastos não ficariam vazios para sempre. As pizzas voltariam a ter azeitonas (Sim, pizzas!). As taças se encheriam novamente. No último suspiro de sua caneta, o profeta evoca o socorro divino, que nos dá confiança para caminhar seguramente por pântanos lamacentos. – Deus faz os meus pés firmes como os da corça.
Habacuque termina seu livro "pessimista" com um brado de vitória. Um ode à esperança. Os pastos não ficariam vazios para sempre. As pizzas voltariam a ter azeitonas (Sim, pizzas!). As taças se encheriam novamente. No último suspiro de sua caneta, o profeta evoca o socorro divino, que nos dá confiança para caminhar seguramente por pântanos lamacentos. – Deus faz os meus pés firmes como os da corça.
A corça. Pés firmes e boca sedenta, correndo ininterruptamente na direção das águas. E a fonte está no alto da montanha. Longe do vale. Longe do caos. Onde as asas das borboletas produzem apenas brisas suaves. Nenhum furacão. Perto dos céus. Longe do mundo. - Deus me faz habitar, e caminhar, por lugares altos! (Habacuque 3:19)
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