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terça-feira, 30 de outubro de 2018

Eu já fiz o universo tremer!


A oração é o encontro da sede de Deus e da sede do homem.
(Agostinho)


Confesso que sinto mais "necessidade de orar", do que "oro" de verdade. Estou sempre com vontade, porém, na maioria das vezes, indisposto. Como Max Lucado definiu em seu livro “Antes de dizer Amém”, posso me declarar “um banana da oração em recuperação”. Admiro pessoas próximas a mim que passam horas ajoelhadas falando com Deus, e quando se levantam, continuam em comunhão dialogando mentalmente com o Pai, já que para elas, encerrar o ciclo devocional é doloroso demais... Eu, por outro lado, estou sempre olhando o relógio, contanto os minutos para que o tempo pré-determinado (por mim mesmo) se encerre logo, e finalmente possa voltar para os afazeres triviais... Também não estou dizendo que nego-me a períodos de oração. Falo com Deus de forma íntima e sou visitado pelo seu Espírito constantemente... A inspiração para qualquer texto passa primeiro por experiências profundas com o sobrenatural... Entretanto, reconheço, é pouco... Muito pouco... Poderia ser mais... Deveria ser muito mais... O que tenho feito não passa de gotas, e existe um oceano a ser desbravado.... E nesta jornada (tão obrigatória quanto prazerosa) a oração é o navio, a bússola e o farol...

Ninguém ora em excesso. Na verdade, estamos mais perto da reserva, que de atingir os limites do tanque cheio. Tratamos a oração como uma necessidade diária, comparada a idas ao banheiro, ingestão de líquidos e refeições regulares. Não é... A oração está para a vida cristã, na mesma proporção que o ar para o organismo humano. Se faltar, mesmo que por um curto período, coloca em cheque toda existência... Como alguém muito sábio ponderou, "orar não deve ser a última solução, e sim, a primeira atitude". Jamais deve correr o risco da falta. Posso até não saber orar como convém, mas preciso saber que me convêm orar em todo tempo... Sem a oração, o crente se torna uma lembrança esquecida, uma lágrima perdida no meio da tempestade, cinzas de um holocausto nuclear. A falta da intimidade com Deus é um passaporte para a escuridão eterna, pois se não desejamos estar próximos ao Senhor nestes breves anos terrenos, é paradoxal desejar estar ao seu lado por toda a eternidade. Assim, é preciso entender a oração como um “teste” que demonstra a intenção de nossos corações para com Deus, e um “exercício espiritual”, que nos mantém preparados para uma maratona eterna de louvor e adoração. E esta constância não é fácil, porém necessária...

Podemos dizer que a prática diária da oração exige abnegação, sacrifícios e renúncias, sendo por vezes uma rotina cansativa e até pesarosa. Martin Lutero descrevia a oração como sendo o “suor da alma”. Porém, uma vida dedicada a oração se torna prazerosa, pois nada pode trazer mais paz e felicidade ao coração humano do que desfrutar de intimidade com Deus. A rotina da oração pode sim ser pesarosa, já que traz em seu bojo a questão da sobrevivência. É preciso orar para “não” morrer no sentido espiritual. Porém, o tempo e a persistência vão deixando esta prática cada vez mais agradável. O homem que faz da sua oração um hino de louvor, passa a orar não por uma necessidade mesquinha, mas, sim, porque deseja estar perto de seu Deus, conversar com seu melhor amigo, desabafar e ser aconselhado por seu Pai. Quando a verdadeira essência da oração é compreendida, nenhum dia será completo sem a comunhão irrestrita com os céus. Neste ponto, a oração se torna uma atividade tão prazerosa, que já não é mais possível deixar de praticá-la. Quando o evangelista inglês Smith Wigglesworth, famoso por realizar obras portentosas em nome de Jesus, foi questionado sobre sua vida de oração, prontamente respondeu: - "Eu nunca oro mais do que cinco minutos, e eu nunca fico mais do que dez minutos sem orar".

Segundo os relatos de pessoas que acompanharam o ministério de Wigglesworth, este homem era dotado de tamanha comunhão com Deus, que sua oração foi capaz de ressuscitar mortos. Como isto é possível? Gosto imaginar que cada prece sincera tem o mesmo poder de uma bomba atômica, que lança ao lar pétalas de rosas e perfume...  Aromatiza a alma, perfuma o espírito e aquieta o coração... Ao mesmo tempo, tem a capacidade de "pulverizar" impérios e principados... Tiago 5:16 é categórico em afirmar que a oração de um justo pode muito em seus efeitos. Ela é poderosa e eficaz... E como Max Lucado bem definiu, "o poder da oração não está naquele que faz, e sim em quem escuta". 

A oração é o único elemento produzido na Terra que consegue a proeza de atravessar por entre as potestades e legiões celestiais, e literalmente, rasgar os céus. E ali, onde reina pureza e perfeição, as orações realizadas pelos Servos de Deus, são recebidas com júbilo e alegria, pois tem a capacidade incompreendida de perfumar o próprio paraíso. João testemunhou em loco esta realidade, e a descreveu em suas revelações: 

- E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos (Apocalipse 5:8). 

Um pouco mais a frente, João se aproxima do Trono do próprio Deus, e avista diante dele um altar de ouro. Então um anjo imponente se apresenta, tendo em suas mãos um incensário de ouro. Em seu interior uma grande quantidade de incenso, que será usado para manter a chama do altar acessa. Para que tal “combustão” aconteça, primeiro é necessário agregar um novo componente a esta mistura: 

- E foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono. E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus (Apocalipse 8:3-4).

Que linda revelação. São as nossas orações que mantem acessa a chama do altar que está diante do Trono de Deus. Pode haver privilégio maior? Nenhuma arma fere Deus. Nenhuma tecnologia consegue alcançá-lo. Nenhum exército pode confrontá-lo. Mesmo assim, a mais singela oração feita aqui na terra, tem o poder de fazê-lo se levantar de seu Trono, para simplesmente, sentir o cheiro suave que emana de uma prece. E o que acontece depois é absolutamente poderoso. A imensidão celeste é tomada por fogo, trovões, relâmpagos e terremotos (Apocalipse 8:5). A oração que implode o inferno, também estremece os céus...

Se não bastasse tamanho poder, a oração ainda tem a capacidade ímpar de comover o coração de Deus em "nosso" favor, fazendo-o mover suas mãos em "nosso" auxilio, bradando dos céus em "nosso" socorro. Deus ouve todas as nossas orações, já que seus ouvidos nunca se fecham ao "nosso clamor" (Isaías 51:1). E o Senhor responde a cada uma delas: -  Porque todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, a porta se abre” (Mateus 7:8). E como é agradável a promessa de termos nossas orações atendidas, seja com "sim" ou "não". Pai e Filho se olhando nos olhos e enxergando a alma um do outro... Poder e ternura. Um joelho que toca o o solo, provoca frisson na eternidade... Explosão de Glória e Amor... 

Continuo sendo um "banana da oração em recuperação", mas posso seguramente dizer, que cada vez que me disponho a orar com sinceridade de alma e entrega de coração, faço o universo inteiro tremer! E acredite... No céu, terremotos sempre serão motivos de festa, jubilo e celebração...



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A Língua Incendiária

É melhor ser rei de teu silêncio do que escravo de tuas palavras.
(William Shakespeare)


Dizem os antigos que por muito falar, acaba-se dando bom dia a cavalos. E de fato, na sabedoria brejeira existe grande verdade. No excesso das palavras reside uma multidão de erros.... Alguns imperceptíveis e rapidamente esquecidos, outros crassos e calamitosos, que nem mesmo com o passar dos anos, é possível esquecer... Quem muito fala, pouco escuta e quase nunca aprende. Assim, continua errando, falando cada vez mais e chafurdando-se num lamaçal de boçalidades. Reflexão, introspecção e silêncio precavido sempre pavimentaram o caminho da sabedoria. Não é sem motivos que Tiago foi categórico ao afirmar em sua epístola: - Que todo homem esteja apto a ouvir e seja tardio no falar... Deus nos deu uma clara evidência quando projetou o corpo humano e incluiu no pacote “dois” ouvidos e apenas “uma” boca... A proporção não deixa dúvidas... Se a capacidade para ouvir não for o dobro da necessidade de falar, alguma coisa está terrivelmente errada na equação (Tiago 1:15).

E quando se refere a "ouvir", Tiago não fala da capacidade auditiva que transforma a vibração do ar em sons.... Isto, a maioria de nós faz... E muito bem.... Ouvimos até o que não deveria ser ouvido.... Na verdade, por vezes nossa audição capta palavras que sequer foram ditas ou toma como verdade, mentiras que o vento espalhou a esmo... A capacidade humana de assimilar vozes corrompidas e notas pervertidas sempre foi apuradíssima. Frases descartáveis e discursos contagiosos entram pelos ouvidos em debalde e toneladas... Grande parte deste material é alocado para o subconsciente, de onde influencia efetivamente nas tomadas de decisões, e uma outra generosa quantia escorrega até os recônditos do coração, onde o solo é tão fértil, que até mesmo nacos de fezes se transformam em sementes produtivas... Sabe-se lá exatamente “do que”...

Tiago na verdade, faz alusão a escolha consciente e criteriosa dos motes que irão pautar os debates acalorados nos saguões da alma. Por estes corredores enevoados, a Exma. Srª Carne (presidente vitalícia do comitê para conselhos temporais e externos) e Exmo. Srº Espírito (relator do conselho de ética para assuntos internos e eternos), dialogam anos a fio sobre os temas mais relevantes da existência, obviamente considerando o código legislativo da consciência humana, em constante revisão. Membros de ambos os partidos (liderados por Srª Carne e Srº Espírito) podem opinar, inquirir e até mesmo promover mudanças constitucionais, desde que o argumento apresentado seja convincente, e pelo menos uma das bancadas aprove por unanimidade. Geralmente, alguém pertencente ao outro lado, é sumariamente contrário a nova emenda, mas acaba aceitando a vontade da maioria... Lei é lei, e não deve ser questionada... Regra válida apenas para a legislação que o homem lavra em suas entranhas, com base em critérios hedonistas (e falíveis) sobre  o certo e o errado.  

No corpo humano existe uma grande biblioteca chamada MENTE, na qual a Srª Carne e Srº Espírito realizam pesquisas diárias. Toda a informação que tramita na alma, obrigatoriamente passa por esta jurisdição, onde é analisada e filtrada, seguindo para descarte ou arquivamento. A Biblioteca não gera conteúdo próprio, mas recebe diariamente um número incontáveis de malotes que entram por duas grandes portas chamadas “OUVIDOS”, além de possuir um sistema complexo de monitoramento externo por onde são obtidas imagens (em tempo real) do mundo exterior. Este sistema eficiente de vigilância recebe o nome de OLHOS. Todo material considerado “útil” é enviado ao CORAÇÃO, onde numa pré-sala, argumentos partidários são debatidos e avalizados, seja em agendas “internistas” ou “exterdistas”. Só entra no Coração, ou autos aprovados conforme as regras supracitadas... A partir daí, uma “tese” vira “lei” e a "opinião" se torna "fato". Sempre que a legislação da alma sofre emendas, ou algum julgamento convocado pelo CORAÇÃO é concluído, existe um departamento que torna pública a decisão, reportando para outras “bibliotecas” as resoluções da alma: A BOCA. Repartição fundamental para o corpo, a Boca é responsável pela "entradas" de suprimentos e "saída" de valores. Por vezes, em casos extremos, divide com outro departamento (localizado mais ao sul), o descarte de dejetos...  O porta voz da Boca, imponente e afiado, é ninguém menos que o Ilmo. Srº Língua, sempre cercado por sua guarda uniformizada num branco amarelado. E aí está o perigo... Srº Língua exerce grande influência sobre toda a instituição. É temido e admirado até mesmo pelos figurações da casa. Logo, "A Boca" tem priori sobre as demais instâncias, já que é a ligação direta da instituição privada com o mundo externo. Logo, precisa estar sempre em evidência, municiada de informações e pronta para os holofotes.

Quem fala demais, não permite tempo hábil para a análise de informações. Afim de manter A BOCA funcionando, a MENTE  da Alma contorna o regimento estabelecido pela ALMA, e despacha sem maiores analises todo o conteúdo que recebe via "ouvidos e olhos". Tudo passa a ser creditado incorretamente, e mesmo o mais inverídico malote, é identificado com o selo da verdade. As cargas são enviadas as pressas para o CORAÇÃO, e arquivadas sem qualquer debate democrático. Pilhas de Pastas... Documentos de inveracidades, enganos, mentiras, engôdos, falsificações e leviandades, abarrotando as estantes e prateleiras... Leis fictícias escritas num quadro negro com giz úmido e esfarelado... E a cada novo requerimento do Srº  Língua, A Boca fala sobre aquilo que o coração está cheio.

Metáforas a parte, o coração humano é alimentado por fast-food. Mal sabemos a procedência e comemos sem moderação. Muitas caixas que trazem “Deus” no rótulo são enlatados a base de ego humano...  E esfomeados, engolimos esta gororoba sem ao menos mastigar...  Sucos que se dizem “feitos com a polpa do fruto espiritual”, são apenas líquidos inodoros aromatizados artificialmente por interesses melindrosos. Mesmo assim, tomados em goladas generosas, o que impedem a percepção do verdadeiro sabor... Em pouco tempo,  coração e estômago estão empanturrados de tanta porcaria, que a única opção é vomitar imundícias... Exatamente por isto, Jesus disse que a contaminação mais perniciosa não está no que entra pela “boca” (o alimento), mas sim naquilo que dela sai... Palavras cozidas em dejetos borbulhantes nas caldeiras do coração.

É preciso ouvir com mais atenção.... Deixar que a grande biblioteca da alma faça seu trabalho. Filtrar as informações, retendo o que é bom e jogando na latrina toda palavra perniciosa. Quem escuta pacientemente antes de emitir opinião, não queima etapas. Permite que a verdade se revele naturalmente, sem tirar conclusões precipitadas sobre pessoas, lugares e situações. Não espalha boatos e nem perjúrios, e com isso se protege contra retaliações. Afinal de contas, calúnia, difamação e injúria, além de pecado contra o próximo, também é crime contra a honra, tipificados nos artigos 138, 139 e 140 do código penal. Existem sanções previstas na lei do homem e na legislação dos céus.... Assim, quem fala demais, realmente corre o risco de dar bom dia a cavalos, podendo o equino ser parte da polícia montada ou, quem sabe, uma das montarias descritas em Apocalipse 6.

Palavras são espadas de dois gumes. Podem abençoar ou amaldiçoar... Pregamos o evangelho... Murmuramos contra Deus.... Cantamos ao Senhor... Contamos Piadas.... Oramos por algumas pessoas.... Caluniamos outras... Dá para entender? A origem desta dubiedade está exatamente na captação de informações que sustentam os argumentos. Se dermos maior atenção as palavras do Senhor e menos crédito as vozes do mundo, o Srº Espírito terá maior respaldo para aprovar pautas espirituais.... Porém, se voltarmos os ouvidos para o auto-falante de Satanás, com suas lorotas, prevaricações e mentiras, sempre semeando caos, contenta e discórdia, então a Srª Carne transformará a alma num antro de iniquidades avalizadas. E independente de quem fala mais alto no interior do coração, é o Srº Língua quem compartilhará este conteúdo com as pessoas. E como avaliar a qualidade? Fácil... Imagine que ao final do dia, suas palavras lhe sejam servidas numa bandeja de prata.... Terás coragem de comer? Seu organismo seria alimentado ou envenenado pelas frases que saem de tua boca? E aqui vale lembrar que até mesmo comida boa, quando consumida em excesso pode causar mal-estar, e por vezes, óbito. Tiago foi categórico ao afirmar que, mesmo um religioso exemplar, quando não refreia a língua, torna nula sua devoção (Tiago 1:26).

Aliás, o escritor da epístola de Tiago se preocupava bastante com este tema. Mais à frente, ele compara a língua ao leme de um navio, que mesmo sendo uma pequena parte da embarcação, controla a direção de todos que estão a bordo. E de forma ainda mais incisiva, equipara a língua humana com uma fogueira na floresta. Pode parecer inofensiva, mas o potencial para estragos é incalculável. Uma língua irrequieta está sempre encharcada de veneno, e quando pela falta de controle entra em combustão, contamina o corpo e incendeia o curso da vida.... Literalmente, provoca o inferno na terra (Tiago 3:4-7).

A Língua... Com ela bendizemos o Senhor, nosso Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede a bênção e a maldição. Não convém, meus irmãos, que seja assim. Porventura lança uma fonte por uma mesma bica água doce e água amargosa? Acaso, meus irmãos, pode a figueira dar azeitonas ou a videira dar figos? Do mesmo modo a fonte de água salobra não pode dar água doce. Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre com um bom proceder as suas obras repassadas de doçura e de sabedoria. Mas, se tendes no coração um ciúme amargo e gosto pelas contendas, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade (Tiago 3:9-14). 

Há séculos conta-se a história de um rico mercador grego que tinha um escravo chamado Esopo, do qual se diz que era corcunda e feio, mas de uma grande sabedoria.  Certa vez, para provar as qualidades de seu escravo, o mercador lhe deu algumas moedas, ordenando que fosse ao mercado a fim de comprar o melhor ingrediente para um banquete. E ressaltou: - Hoje quero comer o que há de melhor no mundo! Pouco tempo depois, Esopo voltou do mercado e colocou sobre a mesa um prato coberto por fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso com a escolha do criado:

– Língua? Ah! Eu adoro língua! Nada como a boa língua que somente os gregos sabem tão bem preparar. Mas por que escolheste exatamente a língua como a melhor comida do mundo? 

O escravo explicou sua escolha: 

– O que há de melhor do que a língua, senhor? A língua é que nos une a todos, quando falamos. Sem a língua não poderíamos nos entender. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua é que se constroem as cidades, graças à língua podemos dizer o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura, do amor, da compreensão. É a língua que torna eterno os versos dos grandes poetas, as ideias dos grandes escritores, a filosofia dos nossos filósofos. Com a língua se ensina, se persuade, se instrui, se ora, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua dizemos “mãe”, “querida” e “Deus”. Com a língua dizemos “sim”. Com a língua dizemos “eu te amo”! O que pode haver de melhor do que a língua, senhor? 

O mercador concordou plenamente com a escolha do escravo. Uma semana depois, chamou Esopo outra vez, lhe deu a mesma quantia de moedas e propôs um novo desafio. Ir ao mercado, e desta vez trazer para o jantar, o que havia de pior para se comer... De ervas amargas a insetos nojentos... Não importava... Quanto pior fosse, melhor seria...  Em pouco tempo Esopo voltou do mercado trazendo um prato coberto por um pano. O mercador recebeu-o com um sorriso... Estava curioso... Descobriu o prato, e indignado esbravejou:

– O quê? Língua? Língua outra vez? Não disseste que a língua era o que havia de melhor, Esopo? Que brincadeira é esta?

E Esopo, sabiamente, respondeu: 

– A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade, que divide os povos. É a língua que usam os maus políticos quando querem nos enganar com suas falsas promessas. É a língua que usam os vigaristas quando querem trapacear. A língua é o órgão da mentira, da discórdia, dos desentendimentos, das guerras, da exploração. É a língua que mente, que esconde, que engana, que explora, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que mendiga, que xinga, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, que corrompe. Com a língua dizemos “morre”, “canalha” e “demônio”. Com a língua dizemos “não”. Com a língua dizemos “eu te odeio”! Sim, senhor... Completou Esopo: - A língua é a pior e a melhor de todas as coisas!

Srº Língua... Persona piromaníaca de grande influência, que faz da Boca seu altar. E as mensagens que prega percorrem um longo caminho antes de virar esboço. Passam pelo concílio da alma, verificadas a exaustão por Srª Carne e Srº Espírito. O que agrada a um, desagrada o outro, e a disputa parece nunca ter fim... Mas, ao final, alguém acaba sempre cedendo. Se a pauta for favorável ao Srº Espírito, seus colegas de bancada (Amor, Paciência, Bondade, Fidelidade, Mansidão, Domínio Próprio, Verdade, Pureza, Esperança e Fé) farão exames minuciosos em cada parágrafo, permitindo que a lei gravada no coração seja pura, agradável e eficaz... Porém, se não refrearmos o fluxo de informações, ouvindo atentamente cada palavra, retendo o que é bom e eliminando o que é mal, Srª Carne será absoluta na casa, validando os preceitos perniciosos que contaminarão toda a alma... Enquanto isso, o Srº Língua estará em chamas, destilando veneno por todos os lados, sem perceber que desta maneira,  gera contra si, provas irrefutáveis que a promotoria divina certamente usará no julgamento das obras...

Então...

Evite transtornos... Hoje e sempre... Ouça mais... Fale menos... Pense mais... Discurse menos... Como alguém sabiamente já aconselhou, “sejamos senhores da nossa língua para não sermos escravos das nossas palavras”. Pesquise mais... Compartilhe menos... Delete mais... Reencaminhe menos... Como Andson de Souza ponderou, “o homem sábio cria novas tecnologias e as novas tecnologias criam homens estúpidos”. O controle absoluto sobre os discursos mais importantes que faremos na vida concentra-se nos ouvidos, não na língua. A palavra lançada, não volta... A sentença proferida é irrefreável... A boca do homem é como o cano de um revólver, cujo tambor localiza-se no coração... A sabedoria nos permite carregá-lo com as munições corretas (respeito, verdade, afabilidade, ternura, evangelho... silêncio), já que uma vez disparado o gatilho, não há como voltar atrás. Caso o projetil tenha propriedades mortais, um assassinato já foi moralmente executado... E diante de Deus, ações e intenções tem peso, valor e consequências equivalentes... E pode ter certeza... Ainda hoje, vários disparos serão efetuados...

Quem acender as fornalhas do inferno com a própria língua, não terá tempo hábil para fugir das chamas...

sábado, 20 de outubro de 2018

Pedido de Desculpas

Se nossa vida não servir para servir, para que ela serve?
(Pr. Gilmar Galvão)


Tenho assuntos inacabados com a mulher de Jó. E de antemão já aviso que a culpa é toda minha.... Sinto que denegri a sua imagem, mesmo tendo boas intenções. Confesso que durante o afã de algumas ministrações, a fim de reforçar ainda mais o caráter ilibado do marido (como se fosse preciso), vilanizei de forma irresponsável uma esposa dedicada e digna de muitos elogios... E tenho certeza que não estou sozinho neste ato de injustiça... Já ouvi dezenas de pregadores recriminando “toda a vida” desta mulher, usando como base teológica apenas uma frase proferida em extremo desespero... Mas, cada um é dono da sua consciência... Falarei unicamente por mim, retratando-me publicamente pelas injúrias destinadas a uma personagem da Bíblia, que o tempo (e a maturidade) me levaram a admirar... E esta mudança drástica de perspectiva parte de uma constatação simples, realista e inquietante: - A mulher de Jó sempre foi muito mais crente que eu!

Jó foi um homem notável, sobre o qual o próprio Deus deu testemunho: - Tens observado o meu servo Jó? Homem integro, reto, temente a mim e que se desvia do mal (Jó 1:8). Seria preciso horas fio para discorrer com minúcias de detalhes todas as qualidades do patriarca de Uz. Pai dedicado, marido exemplar, patrão admirado por seus funcionários e figura publica respeitada em toda região. Temente à Deus! Cumpridor de seus deveres! Paciente na tribulação! Humilde, apesar das riquezas! Vigilante contra o pecado! Adorador por excelência.... Nada há que desabone o caráter de Jó ou manche seu comportamento exemplar, na fartura ou na provação. - Mas, e quanto a sua esposa? Que atributos costumamos lhe conceder? Geralmente, todo o seu caráter, postura e comprometimento é julgado a partir de uma única frase dita por ela e registrada em Jó 2:9: - Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre!

Com base nestas poucas palavras, por muito tempo “me atrevi” a construir uma personalidade, bem como especular seu comportamento, contrariando os indícios explícitos nas entrelinhas da própria história. Sempre descrevi a mulher de Jó (da qual nem o nome conhecemos, mas carinhosamente chamarei de “Dona Josi”), como uma pessoa egoísta, mal-agradecida, infiel, descontrolada, desajuizada e digna de recriminação. - Como ela pode pedir a Jó que amaldiçoasse à Deus e morresse logo para a deixar em paz? E toda a minha argumentação se sustentava na resposta emblemática dada por Jó: - Você está falando como uma louca... Aceitamos o bem de Deus com alegria, e agora não suportaremos o mal?  Como eu vibrava com esta frase. Jó colocando a mulher insensata no seu devido lugar! - Como assim “Dona Josi”? Ousas comportar-se de maneira tão indigna? Murmuras contra Deus? Desejas a morte do marido?  Que criatura vil e perversa, portadora de amargura e porta-voz de apostasia.... Resumindo... um perfeito exemplar de personagem má por essência, exatamente o oposto de todo o bem representado por Jó... 

Como me envergonho deste pré-conceito, raso e deturpado. Graças ao bom Deus, em todas as manhãs somos abençoados com a oportunidade da mudança. Como sabiamente ponderou a poetisa (e contista) Cora Coralina, “todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo”... E foi exatamente o passar dos anos, que me revelou novas perspectivas sobre a história que ouvi e contei tantas vezes. É muito fácil fazer juízo sobre a personagem, sendo um mero leitor do roteiro. Mas, a vida ensina com rigor e destreza, nos levando ao centro do palco. E em cada vez que me vi obrigado a lidar com decepções, sentia na pele a falta da paciência de Jó e a coragem de sua mulher. Simples assim...

Entendi que não tenho “autoridade” para chamá-la de louca, ou qualquer “licença moral” que me credencia a imputar–lhe rótulos pejorativos. Nem mesmo Jó fez isso, e ele conhecia a “Dona Josi” muito melhor do que eu, não é? Na verdade, o patriarca mostra-se surpreendido com a frase dita pela esposa, que em nada condizia com sua postura até o momento: - Tome cuidado com as palavras, querida... Você "está falando" como uma mulher insensata! Não é recriminação, e sim um conselho crítico construtivo... Se o patriarca identificou que “naquele momento” ela “falava como uma louca”, subtende-se que sua postura rotineira era de total coerência... E Jó continuou: - Aceitamos o bem de Deus de bom grado... Porque rejeitaríamos o mal que Dele provém? Que informação rica em detalhes intrínsecos... “Nós aceitamos”... “Nós não vamos rejeitar”... Ambos, marido e mulher, fundidos numa só carne, na saúde ou na doença, na pobreza e na riqueza... O patriarca não estava impondo uma condição para sua esposa, mas sim, lhe abraçando apertado enquanto a escuridão lançava-se esfomeada sobre ambos.

Vamos lá...

Os primeiros capítulos de Jó descrevem uma sucessão de desgraças sem precedentes, recaindo sobre um único indivíduo. Em questão de minutos, ele (o homem mais rico do oriente), descendeu ao fosso da miséria. Primeiro, um violento grupo de sabeus atacou a propriedade, matando a espada muitos empregados afim de roubar quinhentas parelhas de boi e quinhentos jumentos. Enquanto isto, nas pastagens próxima a residência, uma chuva de fogo caiu sobre os rebanhos de ovelha, matando sete mil animais e seus respectivos pastores. Quase no mesmo instante, três grupos distintos de salteadores invadiram o campo onde as cáfilas descansavam, assassinaram os empregadores e tomaram para si três mil camelos. Num instalar de dedos, Jó perdeu tudo o que tinha... E a situação iria piorar...

O patriarca era pai de sete moços, e três moças, notadamente as mais belas da região. Naquela tarde, toda a prole estava reunida na casa do irmão mais velho, onde comiam boa comida e bebiam vinho em abundância, sem qualquer preocupação relevante. De repente, um tornado surge no horizonte, e velozmente se lança sobre a residência. Todos os cômodos são tomados por ventos furiosos, danificando a estrutura do imóvel. O edifício implode em suas próprias bases, matando todas as pessoas em seu interior.... Conforme cada nova notícia lhe era trazida, os olhos de Jó transbordavam-se em lágrimas e uma dor lacerante destruía o coração. Quando soube que toda a sua descendência estava dizimada, rasgou as vestes, se lançou ao solo e adorou: - Nú eu nasci... Nú eu morrerei! Tudo que eu tinha era de Deus... Ele me deu, e tem todo o direito de tomar de volta... Bendito seja o nome do Senhor!

Este sim é um homem digno de aplausos. Passou por todo este sofrimento, sem deixar esmorecer sua fé. E mesmo diante da morte, não desistiu da vida. Quando chagas purulentas cobriram seu corpo, do alto da cabeça até as solas dos pés, sua devoção não foi afetada. Ele fez do Senhor, o combustível daquela infame existência dilacerada. Sua fé o mantinha vivo, enquanto os dias estavam recobertos por cinzas, gemidos e pústulas... É neste cenário de desolação e desesperança, ciente que o último folego de vida em Jó era exatamente sua crença inabalável em Deus, que a esposa angustiada pede ao marido que “abandone ao Senhor, a fim de morrer em paz”... Isto a torna numa figura vil e desprezível? De maneira alguma.... Apenas evidencia o quão frágil é a minha fé, e como tenho me acovardado diante das intempéries vividas. Afinal de contas, repercutimos a exaustão o tormento vivenciado pelo do patriarca, e esquecemos que a pessoa que se manteve ao seu lado durante o processo, também sentiu na pele a dor de sofrimentos indescritíveis.

Aquela mulher acordou “socialite” e foi dormir “mendiga”. Numa mesma noite, chorou sobre o caixão de seus dez filhos, e velou inconsolada o corpo de muitos netos. E se manteve ali. Firme. Segurando a mão do marido. Enlutada e falida, mas presente. Não há registro de discursos iracundos ou manifestações de revolta para com Deus. Jó não faz qualquer crítica ao comportamento da esposa, quando nos capítulos seguintes, lamenta a própria sorte. Ele se queixa ao Senhor sobre temas cruciais da existência, mas em nenhum momento aponta seu casamento como parte do problema. Jó era grato pela companheira com quem partilhou as lágrimas. Ela estava lá quando a doença devorou o corpo, a peste corroeu os membros e os vermes brotaram na carne apodrecida.... Quando ele se tornou um saco de pele e ossos, e apenas a gengiva ainda não tinha sido tomada pela infecção, a esposa lhe foi enfermeira.... Quando o mau cheiro do hálito tornou-se insuportável, os beijos foram substituídos pela companhia acalentadora...

Lembro-me quando uma amiga de nossa família, que há meses lutava contra um câncer devastador, pediu que orássemos por ela, não pela cura, mas sim clamando ao Senhor para que a levasse... Nas suas palavras, ainda havia forças em seu corpo para lutar contra a doença, porém, o sofrimento no olhar dos filhos e netos, era algo que ela não podia mais suportar... Jó foi provado ao limite, e a mesma provação se estendeu a sua esposa... Se num momento de angústia profunda, ela pediu ao marido para desistir de Deus e da vida, não sou eu quem deve repreendê-la... Muito menos recriminá-la... Afinal de contas, desisto de algumas batalhas simplesmente porque me assusto com o barulho dos passos no fronte inimigo... Deixo para trás aqueles a quem jurei amor, apenas porque não fazem mais parte da minha igreja...  Revolto-me com Deus sempre que uma segunda feira amanhece chuvosa... Ao invés de criticar a esposa de Jó, tenho é que bater continência para sua coragem, já que ela passou de pé, por lugares que eu não conseguiria passar me arrastando.

Por isto, sinto-me obrigado a escrever esta retratação. Preciso melhorar muito, para ser um pouco parecido com alguém que julguei ruim. E isto é bom.... Mostra que estou aprendendo a me avaliar, e com humildade, reconhecer erros e rever conceitos. A forma como eu enxergo as pessoas nada diz sobre elas, mas revela exatamente quem eu sou... Dias atrás, pedi a uma jovem da igreja que se preparasse para louvar ao Senhor no culto de domingo. Ela imediatamente recusou a solicitação, pois estava insegura e se errasse a música não iria suportar o “riso debochado” da platéia. Surpreso com a resposta, argumentei que as pessoas vão à igreja para cultuar ao Senhor, e não criticar a performance alheia: - Fique tranquila! Mesmo que você erre todo a letra da canção, ninguém irá rir de você.... Estamos na Casa de Deus.... Servos do Senhor não agem desta maneira! E então, para meu espanto e tristeza, ela retrucou sem qualquer constrangimento: - Como não? Eu mesmo “casco o bico” de todo mundo que erra! Lamentável... E geralmente, somos todos assim, sempre “achando” que nosso “achismo” é a régua que paramenta o mundo. Quando meu olhar sobre o próximo é tocado pelo colírio da bondade, imediatamente percebo que as pessoas a minha volta se tornam melhores. Seria algo como criticar o vizinho pelas roupas sujas no varal, até perceber que na verdade, era a vidraça da janela de casa que sempre esteve imunda.

É muito fácil criticar alguém por “não aceitar de bom grado” as tribulações da vida, enquanto tudo vai bem comigo e minha casa. Mas, continuarei louvando ao Senhor e sendo grato por todas as coisas, quando as ovelhas forem incineradas nos campos e a enfermidade for parceira de cama? Será mesmo que nenhuma palavra ofensiva, questionadora e furiosa escapará por entre os dentes? Cantaria hinos de gratidão no velório simultâneo de muitos entes queridos? Jó não entendia o motivo de tamanha provação, mas permaneceu fiel ao Senhor, apesar da incompreensão. A esposa, por sua vez, foi atingida diretamente pelas tragédias que Deus permitiu recair sobre o patriarca, e mesmo assim, se manteve leal a ele. Se aqui existe um único “comportamento” a ser “criticado”, existe também um “exemplo a ser seguido”... Somos uma geração mal-agradecida, que “se ofende com Deus” (e ofende à Deus) por causa de unhas encravadas e internet lenta. Deixamos de ir à igreja porque está frio e nos esquivamos dos trabalhos evangelismo em decorrência do calor. Quando o Senhor nos leva para a fornalha, com o intuito de “refinar” o ouro, pervertemos a tratativa e optamos pela autocombustão, revelando que pensamentos e obras não passam de madeira, feno e palha... O que sobra depois do fogo?

A provação do casal não foi aleatória. A perseverança de Jó e a lealdade da esposa decretaram a vitória do “bem” contra o “mal”. O nome de Deus foi engradecido e a arrogância de Satanás caiu por terra. A angústia intensificada deu lugar a um recomeço de felicidade. O Senhor restituiu em dobro tudo aquilo que fora tirado. Rebanhos maiores... Relacionamentos melhorados... Jó se tornou o homem mais rico da terra. E segundo o relato bíblico, a família cresceu novamente. Casa cheia outra vez.... Dez novos filhos e uma enxurrada de netos... 

E quem os pariu?

Jó renasce das cinzas e sua semente novamente é lançada ao chão, gerando muitos frutos. Geralmente, ressaltamos o vigor de Jó, sem dividir os méritos com sua esposa. Depois de tanto sofrimento, lá estava ela, inteira e revigorada, gerando e dando luz a uma nova prole. Se Deus presenteou a Jó com novos rebentos, foi a mulher quem os carregou no ventre, sentiu as dores do parto e amamentou cada criança. Quando aconselhou ao marido para desistir da vida, estava despida de esperanças... A morte de Jó também seria seu fim. Que chances teria uma viúva pobre, desprovida de filhos e abrigo? Jó, porém, não desistiu. E em sua postura íntegra, trouxe a esposa de volta para a batalha. Juntos até o final, mesmo que o desfecho não lhes agradasse... E literalmente, o que não os matou, fez deles uma fortaleza... Filhos na velhice... Recomeços mesmo depois dos finais decretados...

Trabalho numa empresa que mantém um pequeno canil onde recolhe cãozinhos que foram abandonados na região. Meses atrás, um surto de parvo-virose se espalhou entre os animais, e todos acabaram contaminados, o que infelizmente levou a maioria deles ao óbito. Mas, alguém sobreviveu. A única... Uma cadelinha mirrada, que “literalmente” caminhou sobre o vírus, e não sucumbiu a doença. E nos dias seguintes, ganhou peso... Musculatura... Ficou maior, visivelmente revigorada e com a pelagem mais brilhante... De um cenário de morte, destacou-se a vida... Mas... Como? Dias atrás, enquanto conversava com o dono da empresa, ele me contou um pouco da história desta cadelinha, e de como era frágil quando foi recolhida.... Estava muito adoentada, sendo necessárias visitas constantes ao veterinário... Sempre a base de vacinas e remédios... E quem diria que a saúde debilitada no passado, salvaria sua vida no futuro?  Tendo que lidar com tantas doenças, o organismo desenvolveu anticorpos... As vitaminas tomadas com regularidade fortalecerem as defesas biológicas... O que não a matou, a deixou mais forte, inclusive para sobreviver quando cães outrora saudáveis morriam em sua volta. Paulo descreveria este fenômeno como sendo “a leve e momentânea tribulação produzindo peso de glória”. Isto me lembra uma frase de Daniela Lacerda testificando que a quantidade de vezes em que caiu, chorou e se magoou, é insignificante se comparada a quantas vezes Deus a tinha ensinado a melhorar...

E esta é uma lição que não se aprende em livros ou tutorias no youtube. É preciso vivê-la. Ganhar experiência. Passar pelo forno sem apresentar trincas ou rachaduras. Eu ainda estou em etapas iniciais deste processo de aprendizado, e mesmo assim, por mais de uma vez, já pensei em trancar a matrícula e abandonar o curso. Tenho analisado o curriculum escolar com olhos egoístas e pragmáticos, visando o que é bom para mim (no agora), sem atentar para o papel que me foi reservado nos planos do Criador (na eternidade). E quando capengo em matérias básicas como “SUBMISSÃO A DEUS” e “LEALDADE AO PRÓXIMO”, quais méritos tenho para desmerecer quem tem diploma e pós-graduação?

Mil perdões, Dona Josi... Que seu exemplo seja minha inspiração no abandono desta postura de crente afrescalhado que tenho tido, tornando-me uma presença necessária e desejável, capaz  de aliviar a dor e o sofrimento das pessoas a minha volta (mesmo por vezes derrapando nas palavras), enquanto faço de minhas próprias mazelas, um esboço para novas histórias!



terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Evangelho Fascista


A maior esperteza do inferno está na camuflagem.
(Pr. Glênio Fonseca Paranaguá)


Enquanto ainda trabalhava na revisão deste texto, assisti ao vídeo de uma passeata realizada em alguma capital do país (não sei precisar exatamente qual delas), onde manisfestantes engajados em causas humanitárias (defensores da legalização do aborto, drogas e erotização infantil) gritavam palavras de ordem, contra o "sistema imperialista", dentre as quais gostaria de destacar uma única frase: - "A igreja fascista, está em nossa lista!" Não dá para discordar que a "religião" é opressora, já que nem é preciso muito esforço para trazer a memória o nome de "duas ou três" organizações religiosas que comprovadamente  sugam de seus fiéis até as últimas gotas de sangue e suor, porém não é disto que se trata o manifesto. A luta não é contra estatutos e liturgias, e sim, pela derrocada do "modelo" judaico-cristão, parâmetro de comportamento em nossa sociedade, "mantendo-a refém da normas e regras retrogradas". E de onde são retiradas estas normas e regras, que para estes "idealistas modernos" não passam de atraso e retrocesso? 

Acertou quem respondeu... Bíblia Sagrada.

Este livro, cujos primeiros textos remontam a milhares de anos, é uma afronta ao estilo de vida adotado por integrantes de diversos segmentos, incluindo os eclesiásticos. E o tempo não conseguiu dirimir seus ensinamentos ou deteriorar a credibilidade de um único verso. Mesmo que milhares de vozes se levantem questionando os preceitos bíblicos, a voz de Deus permanece absoluta, reverberando em cada página virada. Para cada questionamento, uma resposta inerrante. E tamanha autoridade, é exatamente o tipo de opressão que pensadores anarquizantes não conseguem mensurar... Logo, banalizam ou recriminam... E este comportamento tão evidenciado nos dias de hoje, já está por aí fazendo seu barulho a muito tempo. O grande problema, é que atualmente nossa postura como igreja está mais flexível, abrindo concessões em pautas já sacramentadas. Para não ser taxada de fascista, a igreja se omite diante de comportamentos... Exatamente o oposto do que Jesus nos ensinou com palavras e ações.

Vamos a um pequeno exemplo...

Os eventos descritos em Mateus 15 com certeza acenderiam a luz vermelha no painel do “politicamente correto”, que nos últimos anos não somente passou a ditar regras de comportamento para a sociedade, como também sutilmente influenciou os altares, atenuando a essência da mensagem ou ignorando veladamente as doutrinas básicas da fé cristã. Na análise de Willian Secker, “uma prostituta maquiada não nos é mais perigosa do que um hipócrita disfarçado”, e infelizmente, com o intuito de manter algumas portas abertas (e não “limitar” o diálogo com as diversas correntes “culturais”), a “igreja institucional” tem tornando-se um amalgama das duas coisas... Para não desagradar ninguém, transformou-se naquilo que jamais deveria ser. Aceita-se quase tudo.... Recrimina-se quase nada...  Noiva corrompida. Povo acovardado.

O conceito básico do “politicamente correto” é a neutralidade de uma linguagem, discurso ou opinião, evitando narrativas “estereotipadas” ou que “faz referência a qualquer forma de discriminação”. E o que parece ser um avanço do homem rumo ao apogeu da civilidade, acaba revelando-se a mais eficiente defesa para qualquer comportamento inadequado ou transgressor. Um induto à libertinagem indiscriminada. E se qualquer “voz” for ouvida na defesa dos valores éticos e morais, lá vem o “politicamente correto” mostrar a verdadeira face por trás da máscara, distribuindo rótulos “preconceituosos” (Retrógrados! Demagogos! Fanáticos!), construindo a cada dia um novo muro entre as pessoas, simplesmente para ter um local onde pendurar seus cartazes hipócritas de “somos todos iguais”. O “politicamente correto” clama pela união dos povos, enquanto promove de forma descarada um número incontável de verdadeiras guerras ideológicas. Um excelente exemplo é a atual polarização que atingiu vários segmentos da sociedade brasileira, colocando em frontes opostos os “soldados” que deveriam militar nas mesmas fileiras. Divisão estabelecida, em nome da “aceitação” e do “combate ao preconceito”, uma linha é traçada no chão, e com base na cor da pele, gênero, preferência sexual, víeis político ou religioso, somos colocados em um dos lados, e automaticamente classificados como “opositores” do grupo rival. Sabe aquelas “teorias” que os grandes “laboratórios” criam doenças para obter lucros exorbitantes com a venda dos remédios? Então... Algo parecido está acontecendo no cenário político... Todos os dias somos apresentados a um novo tipo de “epidemia social”, para que logo após alguém apareça prometendo cura a uma mazela que sequer sabíamos existir, antes do antídoto estar disponível no mercado.

Pois é... Aplicado sobre os eventos de Mateus 15, o “politicamente correto” certamente imporia muitos rótulos aos discípulos, e de forma ainda mais acintosa, sobre o próprio Jesus... Acha que estou exagerando? Pois então leia o texto referenciado com bastante atenção, transporte os fatos para os dias modernos e ao fundo será possível ouvir a “pacífica” voz de algum militante da ala rubra, apregoando sua paz (e aceitação) unilateral contra o Carpinteiro de Nazaré: - Fascista! Intolerante Religioso! Machista! Xenofóbico! Primeiro, porque Jesus censurou a hipocrisia religiosa dos escribas e fariseus, que acusavam os discípulos de transgredirem os ritos de purificação antes das refeições, enquanto eles mesmos mantinham seus corações imundos pela quebra dos preceitos sagrados, com causas e efeitos imensamente mais relevantes. Cristo não se esquivou de apontar-lhes a hipocrisia que valorizava a lei dos homens e banalizava a Palavra de Deus. Acusavam outras pessoas e ignoravam os erros pessoais... E este tipo de comportamento, Cristo não estava disposto a tolerar... Logo, seria tachado de “intolerante”: - O que contamina o homem, não é o alimento que entra em sua boca, mas sim o engano que saí dela!

O “mi-mi-mi” foi generalizado. Fariseus e escribas se sentiram ofendidos com o discurso de Jesus, e se puseram a chorar nas praças públicas, onde a audiência é maior e bem mais influenciável. Os acusadores se sentiam “violados” porque alguém expôs de maneira irrefutável a hipocrisia que impregnava o discurso da religiosidade farisaica. O rabino de Nazaré estava espalhando “fake news” contra as pessoas de bem, que só desejavam o melhor para “sua gente”. O mesmo discurso “picareta” de sempre, destinando cargas pesadíssimas para o povo, enquanto a elite privilegiada não se obrigava a carregar uma única grama deste fardo. E pressionado por seus contrapontos, o que fez Jesus para “amenizar” a tensão estabelecida? - Emitiu uma nota de retratação pública? Propôs um pacto de tolerância entre as partes? Convocou um plebiscito entre seus seguidores? Nada disto... O mestre consolidou ainda mais sua postura, fincando estacas e mantendo irredutível a posição...

- Meu Pai Celeste arrancará do meio desta nação todas as árvores que Ele não plantou.... Quanto a vocês, Casa de Israel, como se deixam guiar por pessoas que nada veem? Não entendem que um cego guiando outro cego, aumenta drasticamente a possibilidade de ambos caírem no mesmo buraco?

Ah, Jesus! Agora você pegou pesado.... Conseguiu na mesma frase ofender religiosos opositores e deficientes visuais? Como ousas proferir discurso tão preconceituoso e revestido de ódio.... Fascista inescrupuloso clamando para si o direito de exterminar da terra pessoas inocentes, só porque não concordam com as atitudes de seus simpatizantes? Você é a perfeita junção entre o “político populista” e “religioso fundamentalista”. Suas palavras geram o ódio e incitam violência! - Insinuas que as minorias não foram criadas por Deus e serão por Ele exterminadas? Rasgas ao meio o sagrado mandamento do amor ao próximo?

Jesus não se preocupava com os dedos em riste, e muito menos lhe enfraqueciam as palavras venenosas polvilhadas de açúcar. "Ele era a Verdade". Seu objetivo sempre foi apontar o Caminho, sem atalhos ou desvios. Cristo não estava mancomunado com os interesses de uma minoria barulhenta, e tampouco assumiu qualquer compromisso com as vontades da grande maioria, sempre acomodada a falácia dos sistemas dominantes. Cristo fazia a vontade do Pai. Retransmitia a Palavra de Deus. Palavra que confronta, inquire e incomoda. Espada de gumes afiados, penetrando até a divisa da alma, além das juntas e medulas... Doí onde tem que doer... Remédio amargo ministrado por entre os dentes careados. Unguento picante vertido sobre feridas abertas e purulentas. Esta história de "discursinho ensaiado" para não ofender “A” ou “B” nunca foi opção para Jesus. Seus ensinamentos jamais flertaram com os “gostos”, mas sempre atenderam as “necessidades” das pessoas. Ele nunca escolheu ouvintes. Falava a todo tipo de ouvidos e lançava a semente sobre todos os corações... Esta foi a estratégia usada pelo Cristo, e herdada pela igreja... Infelizmente, para não desagradar “partes da sociedade”, estamos filtrando o evangelho e apregoando somente o “inofensivo”. Mas, que tipo de conversão pode existir quando erros não são apontados? Porque alguém se daria ao trabalho de mudar a rota se todos os caminhos levam a Deus?

Jesus não nos deu o direito de escolher em qual terra queremos semear. É para lançar a semente sem olhar a direção. Tanto faz se é esquerda ou direita... Branca ou negra... Rica ou pobre. Homo ou hétero... A frutificação não está na diversidade da semente, e sim no solo onde ela vai cair... Só existe um tipo de semente verdadeira e frutífera, que  é exatamente a Palavra de Deus, sem rasuras ou aditivos. O resto é imitação barata, genérica e adulterada da verdade.... Geneticamente modificada para adoçar o paladar de algum grupo específico... E neste caso, tudo está muito errado... Evangelho que adapta-se as conveniências de uma ideologia, perde a essência e torna-se maldito... Leia Gálatas 1:6-8... O verdadeiro Evangelho de Cristo não tem cor, raça ou gênero. É universal e destinado para “toda” humanidade. O mesmo evangelho deve ser pregado à toda "toda criatura", sem exceções ou mudança de “tom”. O que vale para você, também vale para mim... E vice-versa. O que é pecado, pecado é, e nunca deixará de ser... Ponto Final... E pode fazer beicinho a vontade, que o seu descontentamento (e muito menos a minha resiliência) não irá alterar um único paragrafo da mensagem que divinamente já foi lavrada e registrada.... Não gostamos? Paciência.... Discordamos? Tanto faz... A Palavra de Deus é historicamente uma força de resistência e confrontamento... Bandeira de contrariedade... Contra as vontades humanas... Contra o descalabro da sociedade... Contra as vozes “pacíficas” que declaram guerra à Bíblia e seus ensinamentos... Não se pode adicionar uma única linha... Não se permite a remoção de uma única palavra... A “autoridade absoluta” até mesmo sobre aqueles que se dizem “oprimidos” pelo autoritarismo teocrático. Nos últimos dias, quando reflito sobre a falibilidade das minhas reivindicações contrárias aos argumentos bíblicos, sempre arrastadas para longe como se fossem folhas secas diante de um tsunami (tamanha autoridade residente em cada “til” das escrituras), tenho me feito a pergunta que insiste em “não” se calar:  -  Será que o Evangelho é fascista?

Como o fascismo está em moda! Na boca de metade da população brasileira, ainda que a maioria absoluta não conheça seu real significado. Chamar alguém de fascista tornou-se xingamento trivial, e uma doutrinação perigosa está sendo banalizada nas esquinas. O  “fascio” (do italiano - feixe), era um tipo de machado revestido por varas de madeira, geralmente carregado pelos guarda-costas dos magistrados do Império Romano . Usado para a punição corporal, tornou-se um símbolo de “poder” e “unidade”, já que o feixe era mais “resistente” que o bastão. Já no século XX, Benito Mussolini fez do “fascio” o emblema de seu novo partido político, que mais tarde seria conhecido como "Partido Nacional Fascista". Em 1922, Mussolini assumiu o cargo de primeiro ministro da Itália, e implementou naquele país um sistema político nacionalista, antiliberal e antidemocrático. Um governo totalitário que priorizava os conceitos de “nação” e “raça”, suprimindo assim os direitos individuais. Um mandava, e todos obedeciam.

Em tempos modernos, ocorre um fenômeno oposto... Todos querem mandar, e poucos estão dispostos a obedecer. A vontade individual prevalece sobre o bem coletivo. Engajamento pelo direito de fazer “o que tiver vontade”, sem importa-se com “quem”, “quando” ou “onde”. E sempre que alguém levantar uma bandeira contrária ao desmando ético proposto por estes indivíduos egoístas, ouvirá em alto e bom som a retaliação: - Seu fascista! Na atual leitura da sociedade, basta se opor ao individualismo, recriminar ações que afrontam a família ou protestar contra a “livre expressão de quem expressa em público aquilo que deveria ser expresso no privado”, para ser contado entre os "adepto do fascismo de Mussolini"... Basicamente, tudo o que Jesus fazia, e que todo cristão deveria estar fazendo exatamente agora... Pregar a Palavra de Deus (e viver a mensagem pregada) é comportamento de gente fascista? Neste caso, seria a Bíblia o livro mais fascista da história?  

É claro que não! O fascismo foi a ferramenta que um homem cruel utilizou para cegar o povo enquanto os empurrava na direção da tragédia...  Já a inquestionável autoridade residente na Bíblia é o bálsamo que retira dos olhos as escamas do pecado, abrindo na alma a janela por onde adentra outra vez a maravilhosa luz. Mesmo assim, se alguém ainda insistir nesta história de “fascismo”, peço a liberdade para expressar minha humilde opinião: - Se for para retirar das mãos humanas o conceito de certo e errado, entregando à Deus o poder de julgar bons e maus... Que seja! Prefiro uma Bíblia fascista que me aponte o caminho dos céus, do que um hedonismo libertário que pavimente com flores uma trilha até o inferno...

Cristo explicou a seus discípulos que alimentar-se antes de um bom banho pode “não" ser higiênico, mas é bem pior manter impuro os pensamentos. Os fariseus mantinham as mãos limpinhas e cheirando a sabonete, porém suas entranhas estavam corroídas, poluídas e putrefatas. – Não é a comida que contamina o homem, mas sim as palavras que ele profere.... Pois o que sai da boca, apenas é o transbordo do conteúdo que há em seu coração! Comportamento ilibados, intenções abomináveis. E esta bondade aparente pode até enganar olhos naturais, doravante, não passará intacta pelo crivo divino. As condições são Dele. As regras e normas foram escritas por Ele. A promotoria e a defensoria serão prerrogativas Dele. A sentença do julgamento perfeito será lavrada por Ele. E mais ninguém! Sem direito a contestação.... Nenhuma outra autoridade reconhecida em todo universo!  - Há justiça neste fascismo divino?

Prefiro estar debaixo da autoridade absoluta de um Deus onisciente, onipresente e onipotente, do que viver sob as asas da liberdade promovidas por homens falhos, mentirosos e que nada sabem sobre o meu amanhã... Além do mais, chega de "fascismo"... Ainda tem outros “ismos” na fila...

Se até aqui, a mensagem ainda era “tragável” ao “mi-mi-mi” da pós-modernidade, uma frase proferida por Jesus em Mateus 15:26, certamente faria “feministas” (das ortodoxas até as mais radicais) se unirem num uníssono grito de resistência, que deixaria o “Ele Não” no chinelo... Lá estava Jesus na região de Tiro e Sidom, ensinando seus seguidores sobre as verdades do Reino de Deus, quando uma mulher cananeia se aproximou, e prostrada, implorou por misericórdia: - Senhor, Filho de Davi... Tenha misericórdia de mim... Minha filha está miseravelmente tomada por demônios... E como Jesus reagiu a este pedido de ajuda? Ele o ignorou por completo. Continuou andando e falando, como se apenas uma mosca zumbisse em seus ouvidos... Cristo se comportou como um machista opressor, que relega toda mulher a uma posição de subserviência. Um ultraje! Agora, pergunte-se...  O que “ela” fez diante do aparente desprezo messiânico? 

Insistiu no clamor.

Numa sociedade patriarcal, a mulher estrangeira oriunda de uma região discriminada pelos judeus, se enquadrava naquilo que poderíamos chamar de “minoria das minorias”. Os discípulos estavam profundamente incomodados com a presença irrequieta e inquietante da siro-fenícia: - Senhor, ela não para de gritar e continua a nos seguir... Mande a embora! Quanto a esta solicitação excludente, Cristo emendou um discurso nacionalista e explicitamente segregador: - Que missão tenho eu nesta terra, senão a de resgatar as ovelhas pedidas da “Casa de Israel?” E quando a mulher implorou mais uma vez por misericórdia, Jesus voltou seus olhos para ela, e argumentou compassadamente: - Não é bom pegar o pão que seria dado aos filhos, e jogá-lo aos cachorrinhos...

UAU! Primeiro Cristo enaltece os judeus em detrimento aos estrangeiros. Agora chama aos siro-fenícios de cachorros e insinua que a mulher diante de si não passa de uma cadela?  - Racista!  Xenofóbico! Machista! Misógino!

Quer saber.... Somos a geração mais mimada da história. Tudo nos ofende, em especial as opiniões contrárias das nossas. Centralizamos o universo no próprio umbigo e queremos que Deus orbite em torno do “EU”. Minha ideologia! Meu grupo social! Meu “ismo” mais conveniente! Meu partido favorito! Meu político de estimação! A música que eu gosto! As pessoas que eu admiro! E neste amontoado de “quero”, “posso” e “vou”, onde fica a renúncia pessoal, matriz básica do discipulado? Em que gaveta foi esquecida a frase “seja feita a Tua Vontade”, onde a “VONTADE” pertence a Deus e não aos homens?  Sociedade chata inspirando crentes cada vez mais chatos... Politicamente corretos e espiritualmente equivocados... Deus nunca vai nos abençoar (ou usar) enquanto estivermos em zona de conforto. Por vezes, Ele precisa estremecer as estruturas e esbravejar com rispidez. Quando isso acontece, não é ódio e muito menos descriminação.... É o alerta... O teste... A validação! O paraíso não é lugar para chiliques, protestos e contestações frívolas. Exige postura e comportamentos adequados. E estamos sendo testados neste exato momento! O presidente americano Donald Trump pode estar errado em muitas coisas, mas acertou em cheio ao dizer que “o céu tem muro e rígidas políticas de imigração, e quem tem portas abertas é o inferno”. Quer ser cidadão dos céus? Pense menos nos seus interesses terrenos e se concentre-se mais na legislação celeste, incluindo direitos, deveres e implicações. Você já parou para pensar que existem pontos bíblicos que contradizem o que gostamos ou fazemos? Textos sagrados que soam ofensivos ao grupo social no qual estamos enquadrados? E diante das divergências, temos escolhas a fazer.... Abrir mão do agora pela eternidade, ou abrir mão da eternidade pelo agora? Questionar e aceitar as consequências ou obedecer e receber das mãos do Senhor todas as beatitudes prometidas no Santo Livro?

Sabe como a siro-fenícia reagiu diante do “insulto” de Jesus? Ela renunciou a si mesmo... Humilhou-se debaixo da potente mão... Lançou sobre Cristo toda a ansiedade: - Eu sei disto, meu Senhor... Mas, os cachorrinhos também comem das migalhas que caem da mesa dos donos... E qual o resultado da humilhação? Glória!!!! O que resulta da entrega? Restituição!!! Jesus a olhou nos olhos com ternura, sorrindo de contentamento e admiração: - Ah, mulher! Como é grande a tua fé! Maior que a destes judeus arrogantes! Superior à dos religiosos mimizentos!  Capaz de suplantar ofensas e lançar ao chão todos os preconceitos, sem deixar-se fraquejar diante de nenhum deles! Vai em paz, e seja feito conforme o desejo do seu coração!

E naquele mesmo instante, quando a verdade absoluta soterrava todos os achismos humanos, a liberdade chegou na casa daquela mulher que voluntariamente se despiu de orgulhos, para se submeter a vontade de Deus. No mesmo instante, sua filha foi curada! Quanto aos religiosos de Jerusalém, continuaram doentes de alma, enquanto estereotipavam uma religiosidade saudável, que de fato nunca existiu. Enquanto acusam aos outros pelos pecados que eles mesmos cometiam nas alcovas, caminhavam sem retorno para o abismo eterno, cegos por uma ideologia satânica que os fazia acreditar nas próprias mentiras, convencidos que enganando aos homens, também enganavam a Deus! Nunca enganou... Nunca enganará... Como bem proferiu Campbel Morgan, “o pregador da cruz tem que ser crucificado!” Seja mais exigente consigo mesmo, cumprindo a risca o seu dever, e talvez você descubra a tempo que muitos dos "direitos" que você exige, testemunharão contra sua inocência diante do supremo juiz... E qualquer semelhança com os manifestos populares de hoje em dia, nem de longe é mera coincidência