Arquivo do blog

domingo, 30 de setembro de 2018

A Covarde Confraria das Ratazanas

Uma nação consciente é o maior medo de um governo mal intencionado.
(Ivan Santana)


É vergonhosa a nossa omissão diante de causas pelas quais vale a pena lutar. E sim, estou falando da Igreja, daqueles que tomam para si o nome de Deus, e de antemão, já me insiro no mesmo contexto... Entregamos os pontos com muita facilidade, e assim o Inimigo não tem trabalho algum para tomar posse de coisas que deveríamos dominar (Gêneses 1:26-17). Afinal de contas, somos ou não, o Povo de Deus nesta terra, incumbidos de fazer a diferença no mundo, influenciar o comportamento das pessoas e propagar o evangelho de Cristo a toda criatura? O problema, é que fechamos com as próprias mãos, as portas que se abrem bem a nossa frente, antes mesmo de fazer uma análise elaborada sobre o bom uso das raras oportunidades que nos são ofertadas, e displicentemente recusadas.

Analisemos a questão...

Quando o “rádio” se popularizou no Brasil, os líderes evangélicos mais proeminentes logo o identificaram como sendo “coisa do diabo”... E Satanás, de bom grado, aceitou o presente. Por décadas, o mais influente meio de comunicação do país levou à milhares de casas, apenas a playlist que “o diabo” produziu. Quando percebeu-se que aquela poderia ser uma ferramenta evangelística de longo alcance, o estrago já estava feito. Poucas foram as concessões relevantes para emissoras de cunho cristão, e a transmissão do evangelho “pelas ondas sonoras” ficou restrita basicamente a “rádios comunitárias (alguns diriam piratas) de pequeno alcance”, e atualmente em “rádios web praticamente anônimas”... poderíamos ser uma potência na áudio transmissão, mas desistimos da oportunidade cedo demais, por puro preciosismo religioso.

Lição aprendida? 
É claro que não!

Quando a TV passou a ditar moda e comportamento, também a entregamos para Satanás: - A televisão é do diabo... caixotinho luminoso de Lúcifer! E mais uma vez, ele não fez pouco caso... se esbaldou com a nossa oferta. Pintou o sete. Criou as regras... Hoje, os programas televisivos são propagadores de uma doutrina anticristã, que pisa em tudo o que é bíblico e banaliza a família com palavreados chulos, violência gráfica e sexualidade explícita. A mensagem de Cristo se limita a programas que quase ninguém assiste, em horários onde a maioria das TV´s já foram desligadas. Se algum tele-evangelista consegue se infiltrar em horário nobre, o custo da ousadia é tão alto, que praticamente todo o tempo é gasto numa vergonhosa mendicância pelo dinheiro alheio, e a mensagem de Cristo mal chega a ser citada. Poderíamos ser uma potência do audiovisual, mas desistimos da oportunidade cedo demais, e novamente, por puro preciosismo religioso...

O mesmo aconteceu na imprensa escrita.... poucos veículos com mensagem genuinamente cristã nadando contra uma correnteza de publicações hedonistas. A sociedade sendo moldada através de editorais ateístas, comunistas e uma infinidade de “istas” que não acaba mais... e para quem achar que a internet escapou desta omissão, tente-se recordar dos primórdios da era on-line. Quantos cristãos podem ser contados entre os pioneiros da Web? Hoje, os maiores “influenciadores digitais” são aqueles que doutrinam “nossos filhos” (dói escrever isto) em matérias com as quais eles jamais deveriam se relacionar... libertinagem, rebeldia, livre sexualidade, felicidade a qualquer custo, quebra de paradigmas, confrontamento familiar, resistência a autoridade paterna, escárnio com os princípios morais...  e tudo isto é apenas o início da ladeira...

Agora, em pleno período eleitoral, onde a sociedade se mobiliza numa busca quase desesperada por novos rumos para um país dilacerado, sempre aparece algum “religioso exemplar” com o mesmo discursinho repetitivo, improdutivo e preguiçoso: - O cristão não deve se envolver com política. E ao me deparar com este tipo de comportamento, que engloba uma boa porcentagem dos evangélicos brasileiros, sempre me vejo as voltas com a mesma indagação: - Também vamos entregar nas mãos de Satanás a decisão de quem deve (ou não) governar o nosso país? E com todo o respeito que devo a você, prezado leitor, deixe-me aprofundar um pouco mais meu questionamento: - Que tipo de diferença, nós (Povo de Deus) fazemos no mundo, quando em momentos críticos e decisivos, nos escondemos numa caverna qualquer, omitindo a verdade na presença de discursos mentirosos, ou se calando diante de ameaças reais e incisivas aos valores éticos, civis e familiares? A família sendo ameaçada por ideologias forjadas nas fornalhas do inferno, e o cristão calado, escondendo-se atrás de um discurso mequetrefe, arrotando “santidade”. – Não me envolvo com política para não me contaminar com as coisas deste mundo. Se você pensa assim, meu amigo, reveja seus conceitos e tome suplementos vitamínicos para fortalecer a fé. Neutralidade nunca foi uma opção ofertada aos discípulos de Jesus. Muito menos a covardia. Aqui tem que ser “sim, sim” e “não, não”, ainda que o inquisidor seja o perigo, a espada ou a urna eletrônica...

A palavra “política” vem do termo grego “politiká”, derivação de “polis”, que por sua vez remete a ideia de algo que é público, pertencente a todos. Numa definição mais refinada, “política” é a “arte de negociação para compatibilizar interesses”. Quando alguém se esquiva da responsabilidade na participação política, deixa claro que não deseja compartilhar seus interesses com ninguém. E lá vou eu, fervilhar os neurônios outra vez: – O que se passa na cabeça de um cristão que pensa (e age) desta maneira? O ide de Jesus foi categórico: - Tornem-se influenciadores. Partilhem com as pessoas os interesses do meu Pai.  E apenas lembrando aos esquecidos, o maior interesse de Deus é que o homem creia em seu Filho, e com isso alcance salvação (João 3:16). Porém, no exato instante em que todos estão sensíveis aos argumentos (e contra-argumentos) sobre as diretrizes que irão nortear a sociedade nos próximos anos, tem cristão (auto-convencido na ideia de ser mais santo que a maioria) que desaparece da vida pública, deixando as negociações pelos “interesses coletivos” nas mãos de homens ímpios, devassos e perversos.... Qual o motivo? - "Futebol, política e religião não se discute". Alguns ainda citam I João 5:19 para justificar a apatia: - “Nada há para ser feito... temos que nos conformar... a Bíblia diz que o mundo jaz no maligno”. Não sei o que me irrita mais neste argumento, se a “ignorância” ou a “hipocrisia”.  Antes de citar um verso bíblico isolado, faça um favor a si mesmo, e leia atenciosamente todo o contexto... entenda a mensagem. Para facilitar o trabalho, vamos resumir I João 5 num único paragrafo:   

O Filho de Deus veio ao mundo e nos deu entendimento do que é verdadeiro... o mundo jaz no maligno, mas nós somos de Deus... e quem é de Deus, o maligno não toca... todo o que crê que Jesus é o Cristo, também é nascido de Deus... e quem ama quem o gerou, também ama aquele que por Ele foi gerado... e nosso amor pelas pessoas será reconhecido através de nosso amor para com Deus... e provamos nosso amor a Deus, quando praticamos seus mandamentos... e todo aquele que nasce de Deus vence o mundo... e esta é a vitória que vence o mundo... a nossa fé...

É difícil de entender?

O mundo jaz no maligno, isto é um fato. Mas, a nossa fé vence o "mundo" e consequentemente o "maligno", desde que renasçamos em Deus e levemos a verdade de Cristo para outras pessoas, afim de que elas também possam nascer em Cristo, crendo que Jesus é o Filho de Deus. Porém, se cada vez que o mundo questionar os valores de nossa crença, recuarmos como ratinhos indefesos diante de um tigre voraz, de fato, nunca iremos vencê-los... Nem o mundo, nem o maligno. E indo direto ao ponto, a pergunta necessária é simples e objetiva: - Somos evangélicos ou ratos? Quem milita no evangelho não pode se omitir diante do perigo. Não tem direito a ficar em cima do muro, assistindo de camarote o embate entre “homem mal” e “homem mais mal ainda”. Ele tem que entrar na batalha, arregaçar as mangas, exercer a fé e lançar mão da abertura política (que “ainda” se tem), para ser porta voz da verdade. Baluarte de justiça.... 

Como futuros cidadãos do céu, precisamos trazer para as pautas terrenas, questões de interesse celestial. Lembre-se das palavras de Jesus em Mateus 12:30 – Aquele que não está comigo, está contra mim, e aquele que comigo não ajunta, espalha. Ao contrário do que dizem, Deus tem “lado” e exige que tenhamos “lado” também. Neste caso, quem não escolhe um “lado”, já fez sua escolha, e infelizmente, escolheu o “lado” errado.

E aqui, chegamos ao lado B da mesma questão. O erro por omissão é inadmissível, mas errar por conveniência pode ser ainda pior. Renegar as próprias crenças por motivações mesquinhas é como cuspir no evangelho enquanto se faz juras de amor. E num contexto de “negociações de interesses”, não é incomum tentativas de enquadrar a Bíblia Sagrada em questões partidárias, adaptando a mensagem da cruz para justificar o discurso de algum candidato. O evangelho tem lado sim (o lado da verdade), mas não possui partido, já que todos são tendenciosos e manipuladores. E não podemos seguir estes mesmo princípios, “agindo” de maneira a contradizer as “palavras” discursadas. Maquiando a verdade. Espalhando mentiras. Difamando opositores. Calando-se diante das inverdades proclamadas pelos aliados. Quer exemplos? Muitos evangélicos recriminam certos candidatos favoráveis a pena de morte (para condenados por crimes hediondos), mas declaram voto (e juras de amor) por políticos que apoiam a legalização do aborto, e o consequente assassinato de centenas de crianças inocentes. Qual é a lógica?

Quando alguém critica o partido de sua preferência (ou o político alvo de sua “idolatria”), o cidadão logo conclama o texto de Mateus 7:1 para defender seu político (ou bandido) de estimação: - Não julgueis para não seres julgados. Mas, quando se depara com alguma postagem ofensiva ao candidato que rejeita, sai imediatamente compartilhando em redes sociais, sem nem ao menos preocupar-se em apurar a veracidade da informação. Dois pesos... duas medidas.  Mateus 7 também não censura calúnias, perjúrios e difamações Onde Jesus nos ensinou a empunhar a covardia como "escudo de defesa" e a ignávia como "espada de ataque"? Para os cristãos que assim procedem, reproduzo (e faço minhas), as palavras do jornalista Felipe Moura Brasil: - “Disparar mentiras, distorções e injustiças para desgastar quem quer que seja, e depois acusar quem as refuta de defensor de fulano, é apenas redobrar a vigarice.” E aí? Condenar “Chico” e absolver “Francisco” quando o crime é o mesmo? Quando são a mesma pessoa? É incoerente destilar amor por um lado e vociferar ódio contra o outro, se a moeda é a mesma... e ela estará no seu bolso por muitos anos, possivelmente, sem qualquer poder de compra ou barganha. Não seja mais um rato se alimentando do lixo que foi descartado por quem tem o poder, pois para eles você sempre terá significância “zero”, a mesma destinada a qualquer outro rato. E quer saber de uma coisa? Quem escolhe ser dependente do lixão por causa de migalhas jogadas a esmo, é digno da “rataria” na qual se presta a estar inserido.

Reaja! Cresça! Avance! O economista norte-americano Thomas Sowell (critico social e filósofo político), um dos intelectuais mais respeitados de nosso tempo, mostrava-se admirado com “o pânico que um único homem honesto causava em uma multidão de hipócritas”. Pois então, torne-se “o homem” (a mulher) e nunca a “multidão”. Considerando que Cristo te fez nova criatura, seja quem você precisa ser. Não se sujeite ao voto de manada. Aja como cristão, dando a Cesar o que lhe é devido, sem que para isto seja preciso defraudar ao Senhor. As autoridades são constituídas por Deus, mas num contexto democrático, eleitas por nós. Jesus não tem título de eleitor, é você quem o possui! Talvez seja difícil identificar em quem “Ele” votaria, mas é bem fácil concluir em quem “Ele” deixaria de votar.. Basta analisar as ideologias antes das propostas. Promessas de campanha não passam de artifícios para angariar votos. São os valores, conceitos e princípios defendidos pelo partido dominante que realmente irão ditar as regras da posteridade. Neste caso, será que você conhece a filosofia que se esconde por trás da legenda de seu candidato?

Vamos lá...

Se você ora pelos cristãos que estão sendo perseguidos nos países vitimados por regimes totalitários, mas vota em candidaturas comunistas, socialistas, nazistas ou (genuinamente) fascistas, você está sendo hipócrita... e tem mais... antes de falar asneiras em redes sociais, procure se informar sobre o comunismo, o socialismo, o nazismo, o fascismo, o feminismo e todos os “ismos” que estão na boca e no discurso dos “influenciadores modernos”. Pesquise sobre as mentes brilhante por trás de cada ideologia, e entenda como se comportavam em contraste ao discurso populista que proferiam. Ainda mais importante... aprenda sobre todos os lugares do mundo onde o “tal” sistema foi implementado, e quais foram os efeitos a longo prazo sobre a população local. Nem precisa ir muito longe. Basta fazer uma pesquisa na vizinhança. Quando estiver munido com informações verdadeiras, checadas e comprovadas, pelo menos terá a vantagem de ser um “hipócrita consciente”, e não mais um dos milhares de “hipócritas ignorantes”. É revoltoso testemunhar os mesmos “irmãos” que meses atrás encabeçam campanhas de oração em favor das igrejas na Bolívia (proibidas pelo governo de anunciar o evangelho ou realizar cultos), e hoje estão aí, braços dados e dedos em “L” com a mesma patotinha vermelha da qual faz parte Evo Morales, o algoz dos cristãos bolivianos... que nome devo dar a esta incoerência?

E tem mais...

Não adianta “absolutamente” nada recitar o texto de Provérbios 22:16 (instruiu o menino no caminho em que ele deve andar), porém, diante da urna, optar por candidatos que dignificam a pedofilia, tanto na defesa dos abusadores, quanto no incentivo da sexualização precoce. A doutrinação sexual nas escolas, com suas cartilhas pornográficas e erotização explícita já é uma realidade, e sabemos quem assina o cheque e paga por esta anomalia ética e moral. Na verdade, quem assina o cheque nem paga por ele, já que conta desta covardia cai no colo da sociedade.... Pagamos por um material didático pervertido, e posteriormente pagaremos o preço dos irreversíveis danos psicológicos que uma vida sexual prematura deixa no indivíduo. Em regra geral, estes demagogos da “sexualidade infantil” também têm ideais que convergem para a legalização das drogas, a regulamentação do aborto e a massificação da ideologia de gênero. Querem que homens barbados tenham o direito de usar o mesmo banheiro que uma garotinha de seis anos de idade... que um estuprador de mulheres, ao se declarar “mulher”, seja mantido na mesma cela que outras mulheres... e tudo isto é só a ponta do iceberg... ambicionam desconstruir o modelo familiar estabelecido no Gêneses, obrigando que sociedade aceite como regra todo tipo de aberração imoral que mentes perversas (e muito criativas) conseguem produzir em larga escala... e desculpe a sinceridade... se você é um defensor dos valores familiares, e emprega seu voto neste tipo de gente, não tenho outra definição para descreve-lo, a não ser, hipócrita!

Me conheço o suficiente para saber que este tema pode se prolongar por uma infinidade de parágrafos, e farei o possível para conter a “empolgação”. Acredito que a essência da ideia já foi assimilada. Não se pode “discursar” como cristão, mas “agir” mancomunado com homens ímpios. O voto também é uma semeadura, que produzirá frutos por muitas safras seguidas. Se eu escolhi (e plantei) a semente, como poderei reclamar que a jaqueira não produziu cerejas? E caso a opção seja abster-se da responsabilidade, deixando que outros façam o plantio por mim, também não existirá prerrogativa de escolha sobre os frutos que acabarei colhendo... afinal, quando a “chuva” deixa de cair, toda a terra padece... come-se o que tem, ou morre-se de fome. Em alguns casos, (paradoxalmente) acontece os dois. Morre-se de fome ao comer! É por estas e outras, que precisamos levantar nossa voz, participar dos debates democráticos e deixar muito claro que temos interesses, todos de imensa relevância para nação... E este comprometimento cívico não se resume em votar no candidato indicado (ou imposto) por um grupo, um líder ou até mesmo pela sua igreja. Com esta estratégia vergonhosa, placas denominacionais elegem homens corruptos que saqueiam os cofres públicos e arrastam na lama o nome de Cristo. Tem muita gente por aí manobrando as multidões, enquanto pensa apenas em si mesmo.

Seja prudente! Não se deixa manipular! Analise... Reflita.... Pense com seus próprios miolos... Alto, longe e distante.... Não na displicência, mas sim, no longo prazo... Nas causas e efeitos. Nos resultados que serão sentidos por todos, e não apenas na vantagem que “um ou outro” poderá levar. Lembre-se! Somos Povo... Povo de Deus! Somos cristãos e não ratos! Mas, os ratos estão por aí, usando ternos bem recortados, comendo pastel na feira e oferecendo pequenos favores em troca de votos preciosos, enquanto declaram um amor inexistente pelos pobres.... Eles falam macio e enfeitiçam mentes enfraquecidas... São espertos ao extremo.... Então, cabe a você ser sábio (e corajoso), recusando convictamente (sem arrependimentos) o convite VIP oferecido pela “covarde confraria das ratazanas”... Se não devemos sentir medo diante das portas do inferno, porque nos acovardamos durante o processo eleitoral? Medo de represália? Receio de deslikes? Obediência ao alto comando, mesmo com o coração cravejado de culpas? Oras bolas... Não estamos aqui para fazer a diferença? Por acaso fazemos a diferença se escondendo entre a multidão? Camuflando-se nas cores de uma bandeira que ignora o verde e o amarelo do Brasil? Faça-se ouvir! Seja representante do Reino de Deus! Tenha responsabilidades para com a nação na qual o Senhor te fez nascer.... Deve existir um propósito nesta escolha divina, não é? Pratique a boa política e ensine aos maus políticos como é que faz!  

E se você ainda acha que “política” é coisa do diabo, precisa urgentemente reler as escrituras e aprender um pouco mais sobre o teu Deus.... Por várias vezes, Ele usou a política como ferramenta de seus desígnios. José salvou a linhagem messiânica como governador do Egito. Daniel fez diferença nas terras do exílio exercendo a posição de “embaixador” da Babilônia. Sabe porque Moisés tinha livre acesso a sala de faraó? Porque ao longo de quarenta anos ocupou o posto de príncipe entre egípcios.... Sabe como os judeus sobreviveram ao plano de extermínio elaborado por um influente conselheiro persa? Através da influência política de Ester! Deus estava no controle, mas foi a coragem de homens (e mulheres) em não se omitir (quando os interesses dos hebreus eram discutidos por homens iníquos) que viabilizou todo o plano de salvação.

Não entregue a política nas mãos de Satanás. Ele tem muitos domínios erroneamente registrados em seu nome. A igreja já lhe deu presentes demais... É hora de fincar estacas. Hastear bandeiras. Marcar território. Dizer “não” ao que realmente interessa, e “sim” ao que faz diferença de verdade. Este é um dos poucos momentos em que pessoas comuns tem o poder de mudar o curso da história. Arrancar dos palácios todos os tiranos, e eleger governantes que foram previamente ungidos... Conhecer “quem são” e “como pensam” os candidatos, é um bom início para que esta identificação seja feita com sucesso... Seja cristão e cidadão. Nossa mente já está no céu, porém os pés ainda estão presos na terra. É preciso fazer a diferença aqui no mundo, para herdar um lugar diferente deste mundo. E não chegaremos nem perto deste feito, se valendo de argumentos “religiosos” para esquivar-se da responsabilidade social inerente ao exercício do cristianismo.

Não somos ratos que se escondem em tocas escuras com medo dos gatos que se declaram donos da casa, e menos ainda para se banhar nos esgotos que correm no submundo das cidades, alimentando-se apenas de dejetos (e excrementos) por medo de passar fome... Deus não nos deu espírito de temor, mas sim de ousadia, amor e equilíbrio (II Timóteo 1:7). Então, faça o investimento confiado em você valer a pena. É nos pequenos detalhes que a dignidade se evidencia, abrindo caminhos para a realização de coisas grandiosas. Voto não tem preço.... Tem consequências!

Sete pecados sociais: política sem princípios, riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade e culto sem sacrifício. (Mahatma Gandhi)

LEIA TAMBÉM: DE QUEM É A CULPA?

terça-feira, 25 de setembro de 2018

O Pastor do Salmo


Deus cuida de mim, mesmo que eu não veja, mesmo que eu não perceba.
(Karol Palumbo)


Quem tem nas mãos o cetro, detém o poder! E inevitavelmente, assume para si inúmeras responsabilidades. Sustento, guarida, segurança e direção.... Não se pode esquivar dos encargos inerentes ao alto comando. Os súditos estão ali, vulneráveis e famintos, esperando por comida e proteção. E todo homem, rico ou pobre, possui um castelo onde governa com soberania, por mais discreto, pequeno e desconhecido que seja seu reino. Sempre existirá alguém (ou alguns), esperando que tomemos decisões por eles. Família. Igreja. Trabalho. Sociedade. A própria alma.... Mais que escolhas bem-feitas, são necessárias ações assertivas. Então, diariamente é preciso reavaliar os próprios conceitos, e responder com sinceridade a mais inquietante das indagações: -  Para onde estamos guiando as ovelhinhas que nos foram confiadas? O trabalho está sendo bem feito? E de todo meu coração, espero que a resposta encontrada para a a ultima questão seja "sim". Se você estiver desempenhando um bom papel de "pastor", a essência  deste texto seja melhor assimilada...

Antes de reinar sobre Israel, assentando-se no trono em Jerusalém, Davi governava nos pastos de Belém. Centenas de súditos usando belos casacos de lã... Ovelhas ávidas por pastos verdejantes e águas tranquilas. E era ele (o menor da casa de Jessé), que tinha nas mãos o “cetro”, delegando-lhe poderes e responsabilidades. Enquanto os rebanhos ainda dormiam, Davi já estava acordado, traçando rotas seguras para as campinas mais fartas. A grei caminhava sem preocupações, enquanto Davi se mantinha atento aos perigos do caminho... O “cetro” de um pastor é o seu "cajado". Reto e pontiagudo em uma das extremidades, curvo e aconchegante na outra. Uma ferramenta útil para resgatar ovelhas e também para retalhar os lobos.  Quando uma ovelhinha se desgarrava do bando e se enroscava nos arbustos espinhosos, era Davi quem a retirava de lá.... Se algum animalzinho desatento rolasse na ribanceira, o cajado do pastor não tardava em içá-lo com segurança. E quando as feras investiam contra o rebanho, lá estava o pastorzinho empunhando seu sabre de madeira, desferindo golpes tão certeiros, que o recuo inevitável era a única opção que sobrava aos chacais...

Davi era digno de seu cetro. Portava o cajado com elegância e autoridade. Nenhuma ovelha se mantinha aquém de seus cuidados. Jamais uma delas foi arrebatada do aprisco... E não foram por falta de tentativas.. Lobos... Coiotes... Todos enfrentaram a fúria do pastorzinho de Belém... Quando um leão atacou suas protegidas, ele se lançou sobre a fera e retirou daquela bocarra a ovelha ferida. Verteu azeite sobre as lacerações, e limpou diariamente cada ferimento até que só restassem cicatrizes quase imperceptíveis. No dia que uma ursa feroz se lançou sobre o rebanho, Davi novamente revestiu-se de coragem para enfrentá-la.... Nenhum cordeirinho seria devorado em seu turno, mesmo que isto lhe custasse o braço... Ou a vida! Sim... Ele estava disposto a sacrificar-se por aqueles a quem devia proteger... Davi se portava como rei enquanto ainda era plebeu, e exatamente por isso, as ovelhas descansavam despreocupadamente sob seus cuidados. Todas conheciam bem o senso de responsabilidade do pastor que velava por elas, e não tinham motivos para duvidar de sua capacidade em prover sustento e garantir proteção...

Você certamente conhece a história de Davi, e tem ciência dos fatos que o transformaram em herói nacional. O franzino adolescente de cabelos avermelhados que enfrentou no "mano a mano" o temível, terrível (e colossal) Golias,  assegurando sozinho uma vitória que o próprio exército de Israel já considerava improvável. Músicas foram compostas para eternizar o grandioso feito. A multidão agradecida o carregou nos braços, em cortejo solene pelas principais ruas da cidade. Davi entrou no palácio pela porta da frente, com honras militares e ostentando um belíssimo anel de noivado, cuja contraparte repousava na mão da cobiçada princesa Mical. Ele arrancou do anonimato ao estrelato em poucas horas, e galgou a montanha do sucesso como se tivesse propulsão na sola das sandálias. E na mesma velocidade que subiu, também desceu... Apenas um vislumbre da promessa ratificada por Samuel, para logo depois, enfrentar uma frustrante jornada  composta por centenas de passos dados para trás... O rei Saul, corroído pela inveja, tramava planos secretos para matar o genro, e afim de salvar a vida do marido, Mical o desceu pela janela na calada da noite, enquanto uma escultura de anjo era apunhalada na cama do casal ... E lá se foi Davi, correndo pela escuridão noturna, sem saber exatamente qual rumo tomar. Saul aproveitou a ausência do príncipe para o declarar inimigo público, e valendo-se de mentirosos argumentos políticos, ordenou que todos os soldados do reino se mobilizassem na captura do fugitivo... Vivo ou morto!

Davi não tinha para onde ir... Quando tentou refúgio em Nobe, os sacerdotes da cidade pagaram com a vida pela hospitalidade demostrada. Saul estava disposto a matar qualquer pessoa que ousasse favorecer Davi... Ramá e Belém não seriam expostas a este perigo... Talvez Gade, berço de Golias e seus irmãos gigantes, epicentro dos inimigos do rei de Israel... O problema é que na capital dos filisteus, Davi era ainda mais odiado que Saul, e sua passagem por aquelas bandas quase terminou em morte... Sobrou Adulão... E foi exatamente na terra dos rejeitados, que Davi encontrou esconderijo.... Não na cidade, pois a exposição seria perigosa demais...  Nas cavernas.... Nas frias e solitárias cavernas de Adulão...

E é exatamente aqui, neste cenário desolador, vivendo o pior momento de sua vida, que Davi compõem uma das mais belas canções da história. Eu sei que a música em questão aparenta ter sido escrita após a heroica vitória contra os filisteus ou durante a lua de mel com Mical. Mas, não... Os versos escorregaram em paredes revestidas por musgo, durante uma noite escura e sem lua... Longe de abraços... Distante de afagos... Leitores desinformados, ao se deparem com as palavras do salmo, podem imaginar Davi tangendo sua harpa, assentado no trono... Cercado de luxos... Refestelando-se em banquetes... Admirando a diversidade em seu harém... Nada disto... Cada letra brotou da dor... Cada nota reverberou da fome... Sons gerados no medo... Davi não interpretou sua música mais emblemática diante de um povo que o aplaudia e gritava seu nome... Ele a louvou no silêncio, enquanto a solidão era a unica (e melhor) companhia...

O Senhor é o meu pastor, e nada vai me faltar... É Ele quem me conduz aos pastos verdejantes, guia-me até as águas tranquilas e faz minha alma descansar. Por amor do seu nome, tenho caminhado por veredas de justiça... E mesmo que eu ande por caminhos de morte, não vou ter medo do perigo... O Senhor sempre estará do meu lado, e o cajado em suas mãos é minha garantia de tranquilidade e segurança...

Aqueles de desejam meu mal, se assentarão na mesa do banquete que o Senhor já está preparando para mim...  O meu Pastor vai ungir a minha cabeça com óleo, e o meu cálice irá transbordar... Não morrerei nesta caverna, pois sei que a bondade e a misericórdia do Senhor estarão comigo todos os dias da minha vida... E eu habitarei na casa do meu Deus enquanto eu viver!

Salmo 23. Não é um grito de esperança, mas sim, um brado de certeza. Confiança irrestrita na provisão, mesmo com o estômago sendo devorado pela fome.  Garantia de proteção num caminho repleto de perigos... Davi sabia quem tinha o cetro nas mãos. Confiança naquele que empunhava com destreza e autoridade o cajado... O SENHOR É O MEU PASTOR... Em Adulão, antes dos valentes e desprovido de aliados, Davi mal governava a si mesmo. Ele tinha perdido o senso de direção... Encontrava-se distante de campos floridos e longe dos ribeiros de águas doces... Sozinho, contava os dias para morrer de fome, sede ou insanidade. Mas, então, contrariando a lógica pessimista dos fatos e pensamentos,  ele repousa a cabeça sobre uma pedra, e consegue descansar em paz.... Sabia que existia alguém cuidando dele... Ali, na caverna, não passava de uma simples ovelha, carente de cuidados e desesperado por proteção... Quem era o Pastor? 

O Deus de Israel! O Senhor dos Exércitos.... Agora, a responsabilidade de guiar e proteger Davi era exclusivamente Dele... Na verdade, sempre foi... Jamais houve negligência... Nada faltou... Os cheques assinados por Deus nunca deixaram de ter fundos. Seu cartão de créditos não conhece limite. Seus campos desconhecem fronteiras. O Senhor é quem desenhou  o caminho para o pasto mais verde... Plantou a grama... Enviou a chuva... Estava presente quando o rio de água cristalina nasceu. Delineou as margens... Aquietou as corredeiras... E, pessoalmente, faz questão de guiar suas ovelhas até o destino seguro... Ele tem o cetro e o cajado... A responsabilidade é Dele. A provisão é com Ele... A proteção vem Dele... O socorro emana Dele... Pão da Vida! Água Viva! Razão de todo viver. Davi se lembrou que as ovelhas dormiam despreocupadas, porque confiavam em sua capacidade de cuidar. E agora, como parte de um rebanho muito maior, ele toma para si o direito de descansar no Senhor... O "Pastor" que traz refrigério para a alma cansada. Quando Ele conduz a ovelha por caminhos perigosos, é porque sabe que poderá protege-la de todos os perigos.... Nesta caso, sentir medo é um desperdício de tempo e vigor... Davi não se daria a este trabalho...

Ele sabia como um "bom" pastor "pensa e age", e exatamente por isso, confiou em seu apascentador. O melhor entre todos os melhores. O "Pastor" que dá a vida pelas suas ovelhas. Que redefine (e supera) todos os conceitos de bondade. Naquele em quem não há injustiças, egoísmos ou inverdades. Pastor supremo. Absoluto. Sumo Pastor... Dono do sustento. Rei da provisão. Ele é quem prepara o banquete que reúne na mesma mesa antigos inimigos. O Senhor unge a cabeça de seus filhos com o óleo curador, derramando o azeite da honra sobre os desprezados e oprimidos. Nosso Deus é quem enche o cálice de alegria, até que o vinho abundante da felicidade plena comece a transbordar. Este era o Pastor de Davi. Ele também quer ser o meu Pastor... O teu Pastor... Deus almeja ser o portador de nossa tutela... Velar meu sono... Lutar suas guerras... Até mesmo homens maus, ímpios, perversos e tiranos se revelam bons pais, esforçando-se para fazer o melhor por seus filhos... Imagine então, a potencialidade existente nos cuidados do Senhor...

O salmista encerrou o cântico convicto que nenhuma caverna decretaria seu fim. Um buraco entre as rochas não teria forças para sepultar as promessas.... Ele sabia que as misericórdias do “Pastor” o iriam alcançar, não interessando o quão longe estivesse. O Senhor colocou um GPS de amor em cada uma de suas ovelhas...  Ele não precisa as procurar no vale da morte, porque caminha a senda de horror lado a lado com elas... Não arreda o pé até que os pastos verdejantes sejam encontrados... Continua as apascentando (e protegendo), enquanto matam a sede em ribeiros vividos de água pura, fresca e cristalina... Um lugar tão aprazível e maravilhoso, que nenhuma ovelha (em são consciência) desejaria abandonar: 

- “Quando a mim... Habitarei na presença do Senhor até o ultimo dia da existência..."

O salmo 23 é um doce brado de vitória, ainda que o amargor da derrota  mantenha rançosa a boca... Uma bela e solene canção ninando o sono tranquilo,  enquanto a tempestade assobia furiosa pelas frestas da janela. A vida sobrepujando a morte em seu próprio território... Cálice cheio, mesmo que o odre esteja vazio. Bálsamo vertido sobre as feridas, antes mesmo do espinho ser arrancado da pele. O Pastor tendo o controle de tudo, ainda que nada pareça fazer sentido. Ele sabe. Ele pode. Ele assume a responsabilidade! O Senhor tem nas mãos o cetro e o cajado... Retém em si o poder e o comprometimento... Companhia assegurada  na partida, no caminho e na chegada... Conhecer o Salmo do Pastor é matéria obrigatória a todo cristão... Mas quanto as ovelhas... ahhh... Elas precisam conhecer o Pastor do Salmo...  E confiar em seu cuidado!

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Na outra ponta da corda

A soberania de Deus é aquele cetro de ouro em sua mão, 
pelo qual ele faz todos se curvarem, seja por sua palavra, por suas obras, 
por suas misericórdias ou por seus juízos. 
(Thomas Brooks)


Jacó retornava para casa, temeroso pelo reencontro com Esaú, a quem tinha usurpado (enganando Isaque para apossar-se “indevidamente” da primogenitura que não lhe era de direito), quando viveu uma experiência tão impactante, que na mais literal das formas, estaria presente em cada passo dado por ele até o fim da vida. Jacó lutou com Deus...  E convenhamos, não é preciso nenhuma genialidade para concluir que “ninguém” sai ileso deste tipo de confrontamento... Doravante, meia volta, volta e meia, lá estamos nós, envolvidos neste mesmo embate grandioso, sem reconhecer que aquele a quem rotulamos de “inimigo”, é ninguém menos que o detentor de todo o poder existente no universo... Agora, responda... Numa análise simplista, pragmática e imparcial, qual dos oponentes leva a real vantagem neste prévio?

Sei que “brincar” de “Cabo de Guerra” é uma atividade corriqueira em acompanhamentos e retiros, e que certamente, você conhece muito bem todos os procedimentos. Mesmo assim, permita-me algumas rápidas explicações... A “brincadeira” consiste basicamente numa corda sendo puxada em ambas as extremidades por forças igualitárias. Ou, pelo menos, a ideia é esta. Competidores equivalentes. Números iguais. Se houverem três meninas do lado de cá, também deverá existir três meninas do lado de lá... E por aí vai.... Mais que entender a regra, você certamente já deve ter se aventurado na brincadeira. Ao centro, uma linha traçada no chão define os termos da vitória. Quem a ultrapassar primeiro, teve sua força superada pelo oponente, e, portanto, perdeu o jogo.  E este é um tipo de competição onde não existe margem para azarões. A zebra não costuma caminhar sobre cordas. Em condições estruturais parecidas, o mais forte sempre vence. É inviável traçar estratégias ou poupar energia para cansar o adversário. Se todas as forças não forem empregadas para derrotar o oponente, ele facilmente derrotará você. É “ferro quente" contra “ferro em brasa”, com faíscas incendiárias voando para todos os lados. Em outras palavras, se houver isopor cromatizado neste meio, pode até enganar os olhos, mas será sumariamente consumido pelo calor do embate.

Dito isto, voltemos a Jacó... 

Ele passou anos nas terras de seu tio Labão, até tomar a iniciativa de voltar para casa, após Deus lhe assegurar proteção. Porém no meio do caminho, soube que Esaú cavalgava velozmente em sua direção, acompanhado de quatrocentos homens bárbaros, armados até os dentes. Jacó tinha motivos para temer seu irmão, afinal de contas, roubar para si a benção patriarcal de outra pessoa era um feito desonroso e vil. Havia “justiça” na “vingança” de Esaú, e Jacó sabia disto muito bem. Assim, sua estratégia foi dividir a família em dois grupos e enviá-los por caminhos opostos, e talvez desta maneira, pelo menos uma parte da sua descendência teria alguma chance de sobreviver ao massacre. Quando a noite caiu sobre a região, Jacó seguiu sozinho até um vau do rio Jaboque, e ali se pôs a orar. Enquanto clamava pela proteção divina sobre seus filhos e mulheres, um homem aproximou-se silenciosamente. E foi neste ponto da história (e da vida), que Jacó tomou uma decisão drástica com consequências irreversíveis... O relato de Gêneses 32:24 não nos dá maiores detalhes sobre a batalha, e nem mesmo informações relevantes sobre o “homem” misterioso, mas Jacó, certamente o reconheceu. Ainda no início da viagem, ele tinha sido visitado por anjos enviados pelo Senhor. Jacó até mesmo renomeou o local deste encontro, que passou a se chamar Maanain, pois ali estava o “Exército de Deus”. O patriarca sabia bem diferenciar o “humano” do “sagrado”, e exatamente por isto, insistiu no combate. Ele tinha plena consciência do potencial existente em seu “opositor”. E faria disto uma vantagem. Lutar "com" Deus não é lutar "contra" Deus...

Mais que “desejar”, Jacó “precisava” ser abençoado. Aquela era uma questão de sobrevivência, e a vida de muitos inocentes corriam perigo. Qualquer ajuda seria bem-vinda, e se ela fosse oriunda de um ser celestial, ainda melhor. Revelando-se um exímio lutador de um estilo de luta parecido como o nosso “judô”, Jacó se agarrou na orla do manto de seu “oponente” e partiu para o ataque. Uma longa noite de imobilizações... Nada de chutes, socos ou agressões aleatórias.... Somente um homem desesperado, agarrando-se na única esperança que ainda lhe restava... Jacó tentou de várias maneiras aplacar a ira de seu irmão, incluindo (mais não se limitando) o envio de presentes caros e subornos explícitos. Nenhuma destas tentativas lhe trouxe qualquer garantia de segurança. Não houve retornos positivos, muito menos respostas conclusivas. E o desespero lhe fez esquecer das promessas do Senhor, e até mesmo da retaguarda formada por anjos que lhe acompanhava desde o começo do caminho. Mais uma vez Jacó estava lançando mão de estratégias inadequadas para assegurar por víeis humanos, tudo aquilo que Deus já lhe tinha reservado e garantido. Ele espalhava quando precisava ajuntar, e afastava quem devia estar perto.

Tudo isto mudou no Jaboque. Com a água fria batendo nas canelas, Jacó passou horas a fio mantendo proximidade com seu “adversário”, enquanto a madrugada ia dando vez aos primeiros raios de sol. E o porquê de tamanha mudança no comportamento? Simples... Ele reconheceu quem estava na sua frente. Partiu para cima, agarrou o “quimono branco” e não soltou mais. Corpo a corpo... Um sentindo a respiração do outro... E é exatamente assim que se luta com Deus... Usando a perseverança como arma e a proximidade como estratégia. Basicamente, a linha reta que separa você e “Ele”, é o caminho mais curto para qualquer sucesso relevante. Estar junto ao Senhor é garantia de vitória, antes mesmo do embate começar. De igual forma, a nossa derrota já está consolidada quando optamos pelo distanciamento. Na verdade, apenas cogitar esta hipótese já consiste em afastamento, e nos catapulta na direção do ostracismo eternal.  E esta constatação lança luz sobre minha imensa coleção de fracassos, e talvez (eu disse, talvez), possa explicar alguns de seus insucessos também.

Imagine que esteja disputando uma partida de cabo de guerra às escuras. Uma espessa venda nos olhos impede que o oponente seja visto. As regras que que você julga entender, te levam a acreditar que serão forças equivalentes. Possibilidades em meio a meio. E então, começa o certame... E bastam alguns segundos para a "percepção" que do "outro lado", o vigor é bem mais intenso. Mas, não se pode arregar em meio a um desafio... Mais força... O suor escorre pela face e a musculatura tesa está prestes a se romper.  Enquanto isto, a corda ainda não saiu do lugar. Mais força... A insistência se torna maior que a dor percorrendo o corpo. Mais força... Vasos sanguíneos com dilatação máxima... Mais força... Batimentos cardíacos no limite do suportável... Mais força... A saliva sendo expelida em cada tentativa de respiração... Mais força... A última gota de energia utilizada para empregar ainda mais força no empuxe, e então.... Nada.... Nem um mísero centímetro conquistado. Antes de morrer por exaustão, você decide entregar os pontos. Cai sentado ao chão, arfando desesperadamente, tentando de todas as maneiras recuperar o folego perdido.... Talvez, enxergar além da escuridão ajude no processo.... Você retira a venda, e percebe o erro quase mortal. O competidor no outro lado, nem de longe se equipara contigo... Na verdade, a  ponta oposta da corda esteve todo o tempo  presa a um elefante africano, no auge de seis toneladas bem encorpadas e quatro metros de comprimento caprichosamente distribuídos... Só então, a verdade surge como uma luz que se acende apenas em noites de blackout: -  Realmente... Não dá pra competir contra alguém tão forte assim...

Mas, este é apenas um exercício de imaginação, que em nada reflete a realidade da vida... Até porque, convenhamos, ninguém em sã coincidência se poria num desafio tão desproporcional... Pelo menos, não por vontade própria... Ou se poria?

Se você também acha um atestado de tolice a tentativa de vencer um elefante adulto numa partida de “cabo de guerra”, saiba que fazemos ainda pior. Dedicamos anos preciosos (e irrecuperáveis) de vida, tentando puxar a ponta de uma corda, em que no outro lado está ninguém menos que o próprio Deus. E ainda cultivamos a pascácia ambição de vitória, quando na verdade, nesta condição, é bem mais provável morrer exaurido de ilusões, do que mover um único milímetro do “objetivo sonhado” para a esfera da “realidade”. E não me refiro a carros, casas, empregos estáveis ou salários de seis dígitos. Falo do propósito de vida, desígnios da eternidade... Tudo o que deveríamos “ser” e aquilo que ainda “está” por vir. A história que o “Autor Supremo” escreveu, e deliberadamente optamos por ignorar. Força máxima aplicada na direção aposta da vontade de Deus. Existência estagnada, enquanto temos a falsa sensação de avançar.

Medir forças com Deus é uma parvoíce sem tamanhos. Os pensamentos do Senhor são maiores que os nossos e sua compreensão do universo é plena, enquanto nós, sequer, sabemos a quantidade de fios de cabelo que estão sobre as nossas cabeças mortais. Que julgamos compreender? Que lógica existe em confrontar tamanha sabedoria? Ir na direção oposta aos planos do Senhor, é como tentar arrastar um cargueiro abarrotado de rinocerontes sobre um campo de areia. Não há possibilidade de sucesso, a menos que você tenha algum superpoder. E este, certamente não é o caso. Reconhecer a própria (e imensa) limitação foi o segredo da vitória de Jacó.... Aprender a lição do Jaboque, pode ser o primeiro passo na conquista da nossa...

Se afastar de Deus é um erro crasso. Decisão tão inteligente quanto mergulhar em águas profundas usando nada mais de ceroula e pantufas. E quando contrariamos seus desígnios, enfrentamos forças que não podemos mensurar. Mesmo sendo inútil esta infeliz insistência, confundimos perseverança com teimosia e mantemos posição, confrontando aquilo que é inconfrontável. Na prática, nem saímos do lugar, pois Deus se mantem imóvel respeitando a decisão humana, enquanto esperneamos na direção oposta sem conseguir trazer a corda para o nosso lado. Porém, espiritualmente falando, esta decisão estapafúrdia cria um abismo de dimensões incalculáveis, nos afastando eternamente daquele que sempre nos quis por perto. Exatamente por isso, Ele continua lá, do outro lado da corda, segurando uma das pontas, enquanto espera que afrouxemos a tensão, e ao invés de empregar esforços na direção contrária, passemos a caminhar ao seu encontro. E em cada passo dado neste sentido, uma ponte vai se construindo sob os pés...

Não existe nenhum esforço da parte de Deus para nos manter afastado Dele. Pelo contrário... o Senhor tem movido céus e terra para se reaproximar do homem. Jesus veio ao mundo com este propósito. Quem insiste na distância, somos nós, mesmo que as vezes, movidos por boas intenções. Na ânsia pela conquista do sucesso, retumbamos em fracasso. No empenho em angariar riquezas, ficamos cada dia mais pobres. Na busca desesperada por felicidade, encontramos tristezas que se enraízam na alma, gerando traumas, angústias e conflitos internos, dos quais não conseguimos identificar a origem. E a resposta para todo este paradoxo é facilmente encontrada na declaração de Davi no Salmo 51:10-12...

Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito. Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer.

Davi estava percebendo a distância entre ele e Deus aumentando progressivamente, e o afastamento lhe roubava a alegria de viver. Para o salmista, não existia razão numa existência longe do Senhor. Poderes, riquezas, luxúrias... Tudo não passava de prazeres efêmeros que satisfaziam o ego e a libido, mas trancafiavam o espírito numa cela fria, escura e solitária. Então, com o coração quebrantado, ele clama por Deus, confessando suas transgressões, misérias e pecados. Reconhece que está do lado oposto da corda, fazendo força na direção contrária, e implora por ajuda: - Não desista de mim, Senhor! Estou envergonhado de minhas atitudes! Purifica-me! Lava-me! Renova em mim, a alegria da tua salvação! Não se afaste de mim e nem retire da minha vida tua presença! O salmista até se expressou de forma equivocada (Deus jamais desistiria dele...), porém agiu da maneira correta. Ele parou de fazer força na direção oposta, afrouxou a corda e caminhou em direção à Deus. O Senhor não tinha o abandonado, estava apenas guardando posição, enquanto esperava uma decisão de Davi. Quem escolhe ultrapassar a linha sou eu, não Ele... Deus sempre se manterá inabalável. E acessível... Ao final do Salmo, esta é a exata conclusão alcançada por Davi: 

- Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás (Salmo 51:17).

Séculos antes, Jacó também agiu desta maneira. Ele tinha cometido diversos erros ao longo da vida, e não estava disposto a errar novamente. Pelo menos, não por omissão. Se Deus estava ao alcance das mãos, porque deixa-lo partir? O patriarca se agarrou ao Senhor, com músculos enrijecidos e coração liquefeito. E Deus não o desprezou... Ele tem prazer de estar perto daqueles a quem ama. E teu nome está nesta lista. O meu também.... Nós todos... Amados, desejados e atraídos... Mas, será que temos aceitado o convite da graça? Não raramente, os desejos e as ambições nos levam para tangentes que passam longe de Deus, roubando dos olhos a verdade absoluta. Não dá para ser “completo” quando a “essência do tudo” é trocada por quase nada. Nem mesmo uma ópera composta pelo mundo, pode suprir a ausência de uma única estrofe da canção celeste. Exatamente por isso, como bem disse a cantora paulistana Zoe Lilly, é necessário silenciar todas as outras vozes, inclusive a minha própria voz para conseguir compreender a voz de Deus. O Senhor sempre deseja o nosso melhor... Isto nunca consiste no enfaramento, e sim na entrega.... Jamais no distanciamento, sempre na aproximação... No sublime silêncio de uma voz que nunca parou de gritar...

Quando o dia começou a nascer, o homem misterioso no qual Jacó se atracara, pediu permissão para partir. Ele bem poderia simplesmente ir embora, paralisando as funções motoras de seu oponente, mas não o fez. Deus não deixa assuntos inacabados, e Jacó ainda tinha muito o que conversar. Porém, não seja imprudente e bem alegue ignorância.... Ninguém saí ileso de uma conversa como esta. O Senhor sempre nos levará a extremos, visando o aprimoramento da fé. No caso de Jacó, o teste foi um toque sútil na perna do patriarca, que deslocou a juntura de sua coxa. A dor foi intensa e um grito espontâneo ecoou pelos ares. Mesmo assim, não houve rendição.... Com o movimento dos membros inferiores limitados, os braços de Jacó redobraram o esforço. Ele segurou seu “oponente” com mais força, e como nunca na vida, se aproximou ainda mais de Deus... 

- Eu não te solto, enquanto você não me abençoar...

Que lição gloriosa! Quantas pessoas fazem uso da dor como desculpa para se afastar de Deus. Deixa de frequentar a igreja porque se magoou com o “irmão fulano” ou se decepcionou com o “pastor sicrano”. Abandonam a fé porque a “porta A” se fechou ou a “porta B” não se abriu. Se respaldam em promessas “ainda” não cumpridas para vociferar desconfiança. Lançam mão de derrotas momentâneas para justificar blasfêmias e injúrias contra aquele que nunca deixou de ser fiel em cada palavra. Deus não é injusto... Ele é onisciente. Sabe que nossa “leve e momentânea” tribulação é a matéria prima com a qual se produz a glória futura que nos está reservada. A dor é como espinhos num jardim florido... Pena que só nos foquemos neles, sem atinar para a beleza existente em toda a volta... Da mesma maneira que uma colônia de formigas segue sua rotina sem tomar consciência que um prédio está sendo erguido próximo ao formigueiro, também vivemos absortos em detalhes efêmeros, alheios as “coisas inefáveis” que estão sendo preparadas na eternidade: - Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam" (I Coríntios 2:9). Não se pode permitir que a dificuldade enfrentada no hoje, apague da memória tudo o que Deus já fez, ou abale a confiança no que Ele ainda vai fazer. Que a dor sentida no agora, seja uma cola unindo a doença e o remédio, e não uma mola distanciando quem precisa da cura e aquele que pode curar...

Em Jaboque, Jacó não ficou mais rico e nem mais poderoso. Na verdade, ele saiu da água debilitado, exaurido e mancando.... Pelo resto da vida, seu andar ficou descompassado. Detalhes... O ganho foi imensurável. Além de ouro e prata...  Superior a tronos e coroas... Ele encontrou o real propósito da sua existência, e isto, não tem preço... A benção veio resumida numa única sentença...

- Teu nome não será mais JACÓ... A partir de agora, se chamarás ISRAEL...

Jacó ganhou este nome porque nasceu segurando o calcanhar de seu irmão gêmeo. Queria ser o primeiro a qualquer custo, mesmo que fosse preciso usar de meios imorais neste intento. Já adulto, enganou seu pai e defraudou Esaú, afim de tomar para si a benção da primogenitura. O significado do nome Jacó sempre um  foicampo semântico composto de adjetivos vilipendiosos... Enganador... Usurpador... Mentiroso.... Não seria mais! Por toda a vida, ele escolheu travar batalhas que não deveria lutar. Fez “cabo de guerra” com Deus e as consequências foram sempre ruins... Não pode velar o corpo dos pais. Trabalhou anos a fio por uma esposa que lhe foi negada.... Agora, a verdade lhe tinha aberto os olhos. Não se luta com Deus à distância... É no corpo a corpo. EU. DEUS... DeuS... Eu guardado em Deus... Deus ao redor de mim... E foi neste instante que Jacó morreu... Nasceu Israel. Um novo homem. Uma descendência. Uma nação. Um Reino que nunca terá fim...

Jacó questionou o significado da troca do nome, e em resposta, ouviu a celebre frase: - Como um príncipe, você lutou com Deus e com os homens, e não foi derrotado! Que mudança! Príncipe! Guerreiro! Vencedor! Tudo porque mudou a perspectiva, afrouxou as cordas e abandonou a estratégia de medir forças contra o Senhor. Ele atingiu Deus em seu único ponto fraco... O Todo Poderoso se derrete como manteiga em chapa quente, quando diante dele está um coração quebrantado. Deus se “deixa” vencer por abraços... Se rende a um único desejo humano... O desejo de estar próximo do próprio Deus... 

Jacó tentou ir além.... Queria saber o verdadeiro nome do homem que o abençoou... Mistério que ainda não podia ser revelado.... Em objeção, recebeu a pergunta retórica: - Precisa mesmo que eu te diga quem sou?

E quanto a você? Sabe quem Ele é?

Reconhecer quem está do outro lado da corda é o primeiro passo para o triunfo. Este nunca foi um duelo de força, e sim de entrega. Obediência. Prudência. Humildade... Sabedoria para entender as limitações e mudar a estratégia do embate. Não se luta com Deus por vias de fato. A única arma que atinge o Senhor é um coração carregado de sinceridade. E Deus, em momento algum, faz questão de se esquivar do tiro... Jacó renomeou Jaboque. Agora aquele lugar se chamaria PENIEL... “Porque aqui eu vi a face de Deus e minha alma foi salva”. E quer saber.... Faça como Jacó.... Redefina tudo.... Esqueça a linha que marca o limiar da derrota.... Caminhe voluntariamente, avançando sobre ela, e descubra que na travessia, reside a vitória.  Empregue seus esforços na direção de Deus, pois Ele tem feito o mesmo por você desde as eras mais remotas. E não tenha medo de rejeição.... Aquele que muitas vezes aparenta ser o seu maior “adversário”, é na verdade, o mais fiel entre todos os aliados... Alguém que te ama incondicionalmente, e que por vezes puxa a corda com certo "entusiasmo"... Não para te ver cair... Apenas para trazer-te um pouco mais pertinho...

sábado, 15 de setembro de 2018

Efésios 6 - Tratado de Obediência


Quando se desconfia da bondade de Deus,
fica-se suscetível às ofertas de Satanás.
(Paschoal Piragine Jr)


Tem manhãs que a gente acorda cheio de fé, dispostos a pegar o diabo pelo chifre e mandá-lo de volta as profundezas de onde nunca deveria ter saído. E é exatamente nestes dias, que Satanás encontra mais vulnerabilidades para nos atacar. Não estamos numa tourada, onde o inimigo se lança em golpes cegos tentado empalar com os chifres seu oponente. Ele é astuto, ardiloso e paciente. A arma preferida do diabo não é seu “apêndice ósseo avantajado”, e sim uma “zarabatana” de longo alcance, pela qual pode lançar seus dados incendiários na direção do alvo. Eu sou o alvo e você também é. Então, esta coragem excessiva e irresponsável, torna-se um convite para a fúria infernal, que nem mesmo precisa se esforçar tanto assim... Geralmente, enquanto erguemos a espada invocando poderes que não foram destinados a homens mortais, ingenuamente abaixamos o escudo. É o que basta para o adversário, com um único tiro certeiro, causar danos geralmente irreversíveis...

A sensação de “super-crente” intocável e invencível, é tão frágil quanto perigosa. Somos feitos de barro, e a excelência do poder está em Deus, que despeja parte deste tesouro em vasos que deixam-se moldar. A estratégia do diabo é danificar o vaso, gerando trincas e rupturas por onde o preciso conteúdo se esvai lentamente. Sem perceber, ficamos cada vez mais “vazios” enquanto ainda nos sentimos “cheios”. Prova é, que muitas vezes, mesmo sentindo-se preparado para um confronto pessoal com o inferno, basta uma "carta da prefeitura", o "resultado do exame" ou um "telefonema do banco" para implodir toda esta fé “inabalável”. Satanás não precisa se desgastar num duelo de espadas, quando basta um sussurro pernicioso, para derrotar crentes inflados, falastrões e desobedientes...

Isto mesmo... Desobedientes... A vitória contra o mal não passa por falácias e discursos ensaiados. É preciso um preparado adequado e treinamento constante. Conhecer o adversário, sem deixar-se corromper por ele. Manter intacto um arsenal de armas comprovadamente eficazes. Seguir à risca todo o planejamento do estrategista supremo. Nada  de achismos egoístas, deduções lógicas,  invencionices religiosas ou planificações mirabolantes alimentadas por crendices demagógicas. A fórmula já foi estabelecida, testada e aprovada. E a bula do sucesso não é segredo para ninguém...

Efésios - Capítulo 6.

Você conhece o argumento. Decorou a canção... O artigo da guerra! O mapa da conquista!  Efésios 6 - Popularmente conhecido como o texto da “Armadura de Deus”.  E todas estas afirmações são verdadeiras, ainda que um tanto... rasas. Há muito mais a ser destacado nestes "vinte e quatro versos" escritos por Paulo para a igreja estabelecida na cidade de Éfeso. Além do discurso armamentista e das referências bélicas (no tocante a guerra contra as hordas da maldade), existe um vasto contexto por muitos ignorado. Todo o escrito é um grandioso tratado a respeito da OBEDIÊNCIA. E não dá para isolar apenas os pontos coniventes a interesses pessoais, e despreza o que parece inconveniente. Tudo está intrínseco. O treinamento diário para as batalhas espirituais não acontece em regiões celestes. Ele se desenvolve no “aqui” e no “agora”. Relações familiares. Comportamento social. Capacidade de obediência. Respeito para com as normas estabelecidas.... Basta uma análise nos primeiros versos, para compreender que não se vence no mundo que é invisível, sendo inconsequente no mundo tangível. No Exército de Deus não existe lugar para soldados anarquistas! O Senhor busca recrutas compromissados com a honra e a honestidade, defensores dos princípios morais, éticos e familiares... O espiritual é quase uma consequência imediata de tudo isto...

Duvida? Então, vamos por partes...

Verso 1:
Filhos, obedeçam aos vossos pais, assim como vocês tem obedecido ao Senhor. Há justiça nesta obediência.

Verso 2:
Honrem vossos pais, pois há uma promessa aos obedientes.

Verso 3:
Filhos obedientes, terão uma vida mais longa, próspera e bem-sucedida.

Verso 4:
Pais, sejam responsáveis e coerentes na criação de seus filhos. Não os incite ao ódio, a ira e ao desrespeito. Não os irrite sem motivos. Tenha como base de educação, os conselhos do Senhor e os ensinamentos de Cristo.

Verso 6:
Exerçam com dignidade as tarefas do seu dia a dia. Trabalhem com esmero. Deixe que Cristo seja seu parâmetro de comportamento em todas as esferas sociais.

Verso 7:
Tudo que vier a mão para fazer, independente "do que" e "a quem", faça como se estivesse fazendo para o próprio Deus.

Verso 8:
Lembre-se que é o Senhor (que conhece as intenções do coração), é  quem dará a recompensa final de cada trabalho. Seja para empregados ou patrões. Servos ou senhores. Ricos ou pobres. Negros ou brancos. Pastores ou ovelhas. Petralhas ou coxinhas....

Verso 9:
Tratem a todos com dignidade e respeito. Dinheiro não faz de você um ser humano melhor. Posição social não determina caráter. Jamais se baseie em qualquer prestígio que desfrute para ofender, ameaçar ou menosprezar qualquer pessoa. O próprio Senhor tomará para si a afronta sofrida pelos humilhados, e Ele não faz acepção de ninguém.

Verso 10
Quem respeita seu próximo, também respeita à Deus. Aquele que demostra um comportamento ilibado no que tange as coisas da Terra, está apto a se embrenhar em batalhas nas dimensões espirituais...

Somente a partir deste ponto, nos é revelada a famosa “ARMADURA DE DEUS”, disponibilizada ao cristão fiel e obediente aos princípios antes citados.  A ordem inicial é para fortalecer-se em Cristo, na força de “seu” poder, deixando claro que não temos condições naturais para suportar tamanha batalha. Em seguida, é explicitado que a função prática desta armadura é a resistência, e não o ataque. Com ela, poderemos “estar firmes” contra as "astutas ciladas" do diabo, e não agir afim de “desarmá-las” lançando mão de conhecimento meramente teórico. Esta  é uma atribuição do próprio Deus, aquele que realmente sabe o que faz. E o faz com perfeição...

A primeira “peça” revelada é um tipo de malha que deve cingir o lombo, funcionando como uma base de toda a armadura. A VERDADE.

Sua importância se deve exatamente ao fato de Satanás ser repelido pela fidedignidade, já que vive numa dimensão de engôdos e enganos, sendo atribuída á ele, a paternidade da mentira (João 8:44). A Bíblia também afirma que os mentirosos não herdarão o Reino dos Céus (Apocalipse 22:14:15). A verdade, por sua vez, liberta e santifica. Sem ela, as demais peças da ARMADURA simplesmente deixam de ter qualquer funcionalidade. Pelo menos, sobre a vida de quem se reveste de auto enganação.

Próximo passo... Vestir-se com a COURAÇA DA JUSTIÇA.

A couraça era uma armadura feita de metal ou couro, usada por soldados sobre o peito e as costas para protegê-los de golpes inimigos em órgãos vitais. Aqui, estamos falando da Justiça de Cristo, imputada por Deus e recebida pela fé. Ela guarda os nossos corações contra as acusações de Satanás e protege o nosso interior contra seus ataques mortais, cuja intenção é sempre plantar sementes perniciosas na mente e no coração humano. Delas eclodem raízes de amargura e brotam árvores produtoras de frutos amargos, que apodrecem ainda nos galhos, envenenando a alma humana. 

Dorso protegido, agora é a vez de proteger os pés. Chegou a hora de calça-los na preparação do EVANGELHO DA PAZ.

Numa zona de guerra, os pés sempre estarão expostos a perigos de armadilhas, irregularidades do terreno, tropeções e até fragmentos cortantes. Por muitas vezes, os pés estão desprotegidos pelo nosso raio de visão e vulneráveis aos perigos escondidos na estrada, sendo também uma porta de entrada para doenças, vírus e bactérias. O salmista Davi testifica que a Palavra de Deus é lâmpada para seus pés e luz em seu caminho (Salmo 119:105). Só conseguiremos avançar por territórios inóspitos com segurança, se nossos pés estiverem protegidos pelo Evangelho de graça, misericórdia e poder, guia fiel mesmo em veredas tortuosas e fonte de luz em rotas de escuridão. Proteção contra ferimentos cutâneos. Lembre-se sempre que em Gêneses 3:15, o próprio Deus advertiu que aquele que ferisse a cabeça da serpente, seria ferido de volta no calcanhar... Cristo suportou este ferimento e se mostrou imune ao veneno... Nós, por outro lado, sucumbíramos sem possibilidades regeneração, com a alma completamente necrosada. Não dá para andar descalço...

Já nas mãos, é obrigatório o uso do ESCUDO DA FÉ.

II Coríntios 5:7 revela que nossa caminhada é por Fé e não por vista. Logo, cada passo que damos neste terreno espinhoso precisa ser primeiramente dado "em fé"e "por fé". Esse escudo é nossa confiança total e irrestrita em Deus, tendo a certeza que ele é o guia protetor, socorro bem presente que não falta na tribulação. Munidos desta confiança, não temos mais motivos para lançar mão de ataques inconsequentes contra as "portas infernais", pois sabemos que Deus é quem derruba os ""portais do inferno. Ele guerreia por nós, e nós nos calamos... No visível e no invisível... No agora e no depois... Simples assim...

O CAPACETE DA SALVAÇÃO é o ultimo item de defesa, e surge como a garantia de  justificação, o que protege nossa mente das possíveis duvidas lançadas por Satanás. Arma usada a exaustão pelo inimigo, por sua eficiência em minar a fé, a devoção e o primeiro amor, até mesmo nos corações mais convictos. 

Esta é uma peça de suma importância, pois qualquer ferimento na cabeça, pode trazer danos irreversíveis. Os dardos e as flechas de Satanás estão sempre revestidos por um tipo veneno que age em nossos pensamentos. Com o tempo, a mente fica vazia, e se torna uma oficina onde o diabo fabrica o que bem entender. Redimensiona as culpas do passado, mesmo que o próprio Deus já as tenha tornado nulas. Ele também problematiza pequenas questões hodiernas, transformando-as em empecilhos para uma vida plena e feliz. Com isso, o futuro projeta-se nebuloso e inseguro. Neste ponto, deixamos de confiar em Deus e em sua salvação, e Satanás nos ganhou para si. Quando o inimigo conquista a mente, a alma sucumbe... Então, proteja a cabeça. Reforce a segurança. Asperja o sangue de Cristo em cada umbral. Cabeça protegida, coração resguardado. Mantenha os pensamentos guardados em Deus, cofre onde nenhuma força maligna pode penetrar.

O último elemento desta armadura é também o único item de ataque em toda a lista: A ESPADA DO ESPÍRITO.

O apóstolo Paulo identifica esta espada como sendo a Palavra de Deus. Não a "sua" palavra, a "minha" palavra... Nem a palavra do reverendo fulano ou do apostolo beltrano... Nada disto... A PALAVRA DE DEUS... Não a palavra pregada apenas no altar da sua igreja, e tampouco a palavra reverberada apenas no altar da minha congregação... Palavra de Deus. Imutável. Universal. Intransgredível...  Esta é de fato, a única arma que o cristão está autorizado a usar contra Satanás... Quando foi tentado no deserto, o próprio Jesus se fez valer desta ferramenta, citando por três vezes o livro de Deuteronômio, repelindo com as Escrituras, todos os ataques do maligno. (Mateus 4:1-10). Outro exemplo grandioso pode ser encontrado no verso 9 da epístola de Judas, onde nos é revelado que quando Moisés morreu, Satanás tentou usurpar seu corpo. Miguel, comandante dos exércitos angelicais foi enviado para intervir, porém se recusou a um confronto direto, usando como arma as palavras do próprio Deus: - O Senhor te repreenda. Jó, ao ser tocado por Satanás, embora não conhecesse textos Bíblicos para refuta-lo, o venceu através da adoração (Jó 1:20, 2:10, 42:10)... A ordem é sujeitar-se a Deus em obediência, resistir ao diabo usando a Armadura de Deus, e então “ELE”, fugirá de nós! (Tiago 4:7). 

Vença ao Inimigo, sem precisar encostar nele! Quem se atreve a enfrentar Satanás com armas alternativas que não seja a PALAVRA DE DEUS, não encontrará legalidade de ataque e estará espiritualmente desprotegido. Fúria tola. Coragem irresponsável. Ataque fadado ao fracasso...  A derrota do cristão no enfrentamento com Satanás nunca se dará por falta de munição, falha de estratégia ou displicência de comando. Ela sempre será um efeito colateral da desobediência... Até mesmo nas questões mais simplistas do dia a dia.