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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A Síndrome de Chapeuzinho Vermelho

 A virtude não passa de tentação insuficiente.
(George Bernard Shaw)


Algumas tentações podem ser resistidas, outras, precisam ser terminantemente evitadas. Até porque, não temos forças o suficiente para dizer “não” à todas elas. Logo, a ação mais prudente é evitar o confrontamento, fugindo apressadamente na direção oposta daquilo que “aparenta” ser mal. A curiosidade não pode ser usada como justificativa para a incidência de riscos. Lembre-se que o “gato curioso” tende a não voltar para casa ao fim da noite de bisbilhotice. E o mesmo pode acontecer com qualquer um de nós (I Tessalonicenses 5:22).

Até o mais precavido dos homens, flerta com o perigo de vez em quando. Sempre haverá focos “neon” brilhando na estrada, com a capacidade de desviar nossa atenção. Somos todos insetos voando em direção a algum farol, sem ao menos compreender que este destino iluminado é tão “trágico” quanto “belo”. Satanás é como uma aranha paciente, construindo teias nos becos e vielas que costumamos frequentar quando ninguém está olhando. E caminhamos sobre os fios, cantarolando incautamente, encantados com a “macies” do asfalto. Neste caso, aproveitar a “liberdade” é apenas uma ilusão temporária, pois os pés já estão presos na armadilha desde que o primeiro passo foi dado.

Vivemos num tempo de apostásia generalizada. Cada um escolhe seu “ismo” favorito, se reveste de autoafirmação e a sociedade aplaude tamanha ousadia. A moda é buscar completa satisfação pessoal, mesmo que seja a “qualquer custo”. O hedonismo grita palavras de ordem que um número cada vez maior de pessoas obedece cegamente, sem ao menos perceber a incoerência: “Assuma quem você é” e “seja feliz de verdade”! Nada de renúncia, altruísmo e respeito ao próximo. É preciso alcançar o estrelato independente de quantos mandamentos sejam quebrados no processo. Para os autodeclarados “donos do mundo”, a Bíblia é um livro retrogrado, a família se tornou uma instituição ultrapassada e os pilares da sociedade estão carcomidos pelo arcaísmo. O que realmente rege o universo, é o pensamento individual. A vontade de uma minoria que finge lutar por igualdade, enquanto ambiciona privilégios e superioridade. Pense... O mesmo grupo que defende penas mais severas para crimes cometidos contra a “mulher” (o controverso "feminicídio"), exige que a "mulher" tenha o direito de assassinar um filho que está sendo gerado em seu ventre. Vai entender... Acumulo de direitos, sem a obrigação de deveres.... Não importa o gênero, a raça ou opção sexual, sempre queremos que o "cosmo" gire em torno do nosso umbigo. E nesta cultura do “eu” acima de “todos”, ao invés de evoluirmos, regredimos sem perceber. Nem “servos”, e muito menos “filhos”, apenas “criaturas” famintas pelo prazer e agindo por instinto inconsequente. Ou será que os abusos cometidos no hoje, não gerarão déficits no amanhã?

Sabemos que existe um caminho a ser seguido. Ele é estreito, espinhoso e retilíneo demais. Por vezes a jornada se torna enfadonha e desinteressante, o que faz de qualquer ruído fora da estrada um convite a novas e divertidas aventuras. E lá vamos nós, correr atrás de sonhos lisérgicos e ilusões pueris. Breves momentos de euforia que retumbam em anos de amargura pontuados por remorso ineficiente. Ninguém desce ao lamaçal do pecado sem sair de lá com algumas sanguessugas a tiracolo, mesmo sabendo que a sangria desatada pode nunca se estancar. O hedonismo é um tipo de miopia espiritual que recobre com cores vividas um mundo revestido de cinza opaco. Ceder aos próprios desejos é enxergar jardins floridos onde existe apenas um desolado e assustador cemitério de elefantes. Quem se guia apenas por vista, de fato nada consegue enxergar além de escuridão camuflada por luzes artificiais. Está preso a uma realidade mundana que só tem em seu cardápio “momentos efêmeros”, para os quais nem mesmo as boas lembranças trarão alívio quando o arrependimento tardio bater na porta. Em resumo, é preciso ponderar cautelosamente sobre o custo benefício de tudo aquilo que desejamos, pois, a conta após o consumo sempre vem alta demais, e nunca temos recursos para pagá-la.

Do que adianta alguns anos de popularidade, e ser lançado num esquecimento eternal no outro lado da vida? Ter sido aplaudido por muitos terá alguma serventia quando a escuridão nos esconder dos olhos de Deus? As ardentes paixões vividas por um curto espaço de tempo substituirão a contento o amor que se perdeu para sempre?

Escolhas e mais escolhas. E quando fazemos cada uma delas pautados apenas no que “desejamos”, assumimos riscos inconsequentes. As inclinações humanas sempre nos levarão para trilhas de iniquidades cujo final é mais trágico que a morte. Afinal de contas, o que pode ser mais terrível que o total isolamento de Deus, fonte de toda luz e esperança? O mais assustador, é que mesmo tendo ciência dos perigos, sempre cedemos a tentação dos caminhos perniciosos. “Cores falsificadas” são excelentes atrativos para quem deseja se esquivar da verdade. Um estratagema que já vem sendo utilizado desde o Éden, onde cada detalhe é projetado para cativar a atenção e arrastar a vítima ao centro da armadilha, enquanto ela sorri e cantarola junto com pássaros verdes que não existem. Mesmo sabendo que nada faz sentido, nos sentimos bem enquanto embarcamos no trem fantasma da vida real.

Sabe aquela sensação de estar no lugar errado na hora errada? Pois é... Este é o típico sentimento que antecede a tragédia, e ele não costuma chegar atrasado. É que geralmente ignoramos a voz da consciência e os sinais de alerta enviados pelos céus, pela preferência em ouvir os ecos do próprio ego, sem atinar que eles apenas reverberavam os intentos nefastos de Satanás. E não terceirize a culpa.... Cair na armadilha é uma questão de escolha pessoal.... Infelizmente, na maioria das vezes, optamos pela queda intencional, mesmo alegando inocência ou ignorância.

Embora a egolatria seja uma característica predominante da nossa geração, “ser feliz” as custas da infelicidade alheia é um desvio de caráter que sempre impregnou a humanidade. E podemos encontrar um exemplo bem corriqueiro desta realidade já no livro do Gêneses. Gente fazendo o que “bem queria” sem se importar com os “efeitos colaterais” destes desejos na vida de outras pessoas. Escolhas motivadas por algum tipo de paixão, gerando resultados calamitosos e irreversíveis. No centro da narrativa, temos Diná, filha de Jacó e Leia, protagonista de um passeio inocente que terminou de forma trágica. Fato é, que com um pouco mais de cautela, tudo poderia ter sido evitado...

Entenda...

Quando regressou de Padã-Arã, rumo a terra de seus antepassados, Jacó se estabeleceu na cidade de Sucote, onde construiu tendas para seus “muitos” familiares. Também adquiriu uma propriedade na região de Salém e no terreno comprado edificou um Altar, onde todos deveriam prestar cultos ao Senhor. Aquela era a “igreja” que os filhos de Jacó frequentavam. Diariamente, o patriarca reunia sua prole ao redor da edificação para adorar ao “Deus de Israel” e oferecer-lhe sacrifícios. E todos seguiam esta “rotina”, mesmo que "um ou outro" não gostasse dela. Porém, numa bela manhã ensolarada, enquanto toda a família se reunia para o culto matinal, Diná decidiu sair do “marasmo” e fazer algo diferente. Nada de ir na igreja ou ficar dentro de casa ajudando no almoço: - “Hoje o dia será só meu...Vou fazer o que eu me der na cabeça! ” E munida deste pensamento, a incauta moça do “interior”, acostumada a "servos zelosos e ovelhas obedientes", saiu sozinha em direção a cidade grande, habitada por um povo pagão e imersa no pecado. Diná não planejou fazer nada de errado, ela apenas queria “observar” o movimento. Conhecer “gente legal”. Socializar-se com os jovens da região, e na base da sorte, flertar com alguém “interessante”... E tudo estava indo muito bem... Diná ainda não sabia, mas aquele dia tão divertido, terminaria em sonhos desfeitos e lágrimas ressentidas. Ela “estava” num lugar onde não deveria “estar”, e este “deslocamento” sempre tem consequências severas.

Enquanto “observava” as pessoas, Diná também era "observada". O jovem Siquém, embora fosse príncipe naquelas terras, nada tinha de “encantado”. Seus olhos foram imediatamente atraídos pela beleza exótica da moça israelita e seu corpo fervilhou em excitação. E o “moço rico”, acostumado a ter absolutamente tudo que queria, não fez qualquer esforça para conter o desejo lascivo. Lançando mão do prestígio social e poderes políticos da família, ele “arrastou” a moça para sua casa, e na solidão da recâmara, a estuprou. Pobre Diná... No mesmo dia em que “escolheu” seguir seus instintos e se afastar do Altar, cruzou o caminho de alguém que também optou por dar vazão aos próprios desejos, sentindo-se no direito de violar e humilhar outra pessoa, para simplesmente obter satisfação pessoal... Diná mereceu ser estuprada?  É obvio que não! E ao contrário do que poderia insinuar as “feministas de plantão”, Siquém não nasceu com o “gene” do estupro escondido em suas células apenas por ser "homem". Em ambos os casos, jovens “ávidos pela liberdade" (ou seria libertinagem?), optaram por dar vazão as próprias vontades, e o resultado foi uma tragédia imensurável. 

- Mas, Miquéias... Como você ousa equiparar um passeio matinal ao estupro de uma mulher? 

Ei.. Vamos com calma! Longe de mim tamanha sandice. Não há parâmetros que igualem as ações de Diná e Siquém, bem como as consequências de cada ato. A metáfora subentendida, é a constatação que ao frequentar “lugares inapropriados”, aceitamos o risco de “encontros desagradáveis”. O direito de ir e vir pertence a todos nós, e jamais deve ser cerceado. Porém, cabe a cada indivíduo usá-lo com sabedoria. Se o mundo é “inevitavelmente” mal, escolha estar em ambientes impregnados de bondade. Se lá fora só existe escuridão (e sabemos que os monstros se escondem nas trevas), qual a prudência de abrir a porta, sair de casa e se afastar da luz?  Entenda que o “ilegítimo direito” de ser “feliz a qualquer custo”, mesmo que seja preciso machucar outras pessoas no processo, empurra goela abaixo o “ilegítimo dever” de aceitar que outras pessoas sejam “felizes a qualquer custo”, mesmo que para isto, seja necessário te machucar também. E quer saber, você pode até não concordar com a ideia, mas o Altar sempre será mais seguro que as praças de Salém... Então, para que arriscar?

Alguém imediatamente já respondeu: - Porque a vida é feita de riscos! E eu digo: - Bom argumento! Só me deixe acrescentar uma pequena observação: - Não existem garantias de segurança em zonas de perigo. Quem assume riscos, antecipadamente também aceita as consequências...

Estou sempre me questionando se a “responsabilidade” pela interpretação de um texto é apenas do leitor, ou também recai sobre os ombros de quem o escreveu. E esta reflexão me mantem centrado em cada linha escrita. Zeloso pelas palavras que digito. Literalmente, levei horas escrevendo, reescrevendo e revisando os dois parágrafos acima. Sei que neste momento você está caminhando sobre uma estrada que eu pavimentei. Posso não ser o responsável por seus tropeções, mas se houver buracos no caminho, a culpa será toda minha. E no exato instante em que este senso de responsabilidade se tornar um fardo que eu não esteja disposto a carregar, imediatamente preciso parar de escrever. Hoje em dia, o que mais vejo é gente se expondo em “excesso” e recriminado as pessoas que se “inflamam”, tendo como combustível a citada (ou  seria excitada?) exposição. Jogam gasolina sobre a fogueira e recriminam o furor das labaredas. Mas, espere um pouco... O objetivo de toda “mostra” não é exatamente aguçar olhares? A “degustação” ofertada não visa incitar a fome do degustador?

Não quer ser visto? Não se mostre!
Não quer ser lido? Não escreva!
Não quer receber “certos” comentários?
Não publique “certas” postagens!
Não quer correr riscos e nem se expor aos perigos mundanos? 
Em hipótese alguma se afaste do Altar, nem mesmo pelos mais aprazíveis motivos!

O problema é que desenvolvemos a “Síndrome de Chapeuzinho Vermelho”. Na entrada da trilha existe uma gigantesca placa amarela, na qual se observa um triângulo preto com o emblema de uma caveira no interior, e um “X” vermelho cruzando toda a imagem. Embaixo da figura, em letras garrafais pode-se ler o aviso claro e objetivo: AFASTE-SE - PERIGO – LOBO NA FLORESTA! E agora, o que fazer? Procurar um caminho seguro (mesmo que mais longo) seria uma ótima alternativa (na verdade, a mais sensata das opções). Mas, não... Confiamos naquela sensação de falsa segurança que nos faz acreditar numa imunidade inexistente: - Coisas ruins só acontecem com as outras pessoas! Então, cantarolando “lá-lá-lá-lá”, embrenhamos mata adentro, trajando apenas um “discreto” capuz escarlate como proteção. Nas mãos, uma cesta com quitutes deliciosos, cujo cheiro agradável pode ser sentido a quilômetros de distância.... E pode ter certeza... Sempre existe algum olfato apurado para tortas de maça (e carne humana) bem mais perto do que se imagina. Sabe o que é ainda pior? A empatia que sentimos pelo perigo. A adrenalina percorrendo o corpo é uma sensação viciante. Assim, quando o lobo aparece, nos simpatizamos com ele. Fazemos amizade. Pegamos confiança. Após poucos minutos de conversa, já estamos confortáveis para lhe contar detalhes íntimos da vida. Trocamos receitas secretas de família e lhe damos de bandeja, a localização do destino para o qual estamos indo.... E enquanto a fera melindrosa se esgueira pelas árvores, deixamos escapar num suspiro, o mais paradoxal dos pensamentos: – Este lobo malvado e tão gentil... E neste momento de tola ingenuidade, assinamos o recibo da desgraça. Caímos na armadilha e continuamos a sorrir. E de quebra, colocamos em risco as pessoas que amamos. Lembre-se que o lobo não quer devorar apenas a Chapeuzinho... Seu apetite voraz também aprecia vovós, mamães, papais, filhinhos, esposas e maridos...

Quem diria que um passeio despretensioso (e aquela conversinha descompromissada na beira do caminho), resultaria numa tragédia familiar de proporções épicas? Pois é... A placa na entrada da trilha disse isto. A cultura pagã dos moradores de Salém explicitava o perigo. Risco assumido, consequência agendada. O lobo conhece atalhos que você nunca saberá da existência. Exatamente por isso, tenha consciência que a desvantagem é toda sua. Nunca do agressor.

Diná "escolheu estar onde não deveria estar" e se arrependeu amargamente por isso. Numa sociedade patriarcal, uma jovem "deflorada" não serviria para ser esposa de ninguém. E uma mulher sem esposo, não tinha qualquer utilidade relevante. Dor, humilhação e revolta cresceram no coração da moça como raízes de jambolão. E quanto a Siquém? Quais as consequências por “fazer” o que não deveria ter “feito”? Seus crimes ficariam sem punição como se ele fosse um parlamentar brasileiro? Que nada... O preço cobrado considerou taxas de juros e correções monetárias.  Após violentar Diná, o estuprador se afeiçoou a vítima, e a pediu em casamento. Melhor dizendo, a “exigiu” em casamento. Diná não teve direito de opinião. O acordo para “remendar” o estrago foi costurado entre os pais de família. Hamor de um lado, Jacó do outro. Haveriam vantagens financeiras para ambas as casas. O pai de Siquém pagaria um dote pela perda da virgindade de Diná, e socialmente falando, tudo ficaria bem. E lá estava a moça, condenada a um casamento forjado nas chamas das paixões efêmeras. É lá estava Siquém, imerso em excitação física, vislumbrado por uma pele macia que o tempo faria questão de deteriorar... Tudo estava muito errado, e as tentativas de correções, só fazia a coisa degringolar ainda mais...

Os irmãos de Diná convenceram Jacó a inserir uma exigência no acordo. Assim como acontecia aos israelitas, todos os homens de Salém deveriam ser circuncidados. Seria "pele por pele". "Prepúcio por hímen".  "Sangue por sangue". Hamor concordou com a condição. Era um homem de paz tentando reverter os estragos causados pelo filho. Com a assinatura do contrato, eles seriam um só povo, repartindo a terra, dividindo o gado e miscigenando a linhagem com futuros casamentos arranjados. Tudo ficaria muito bem. Pelo menos, era isto que o velho pensava. Desta vez, os lobos na floresta habitavam em Sucote, atendendo pelos nomes de Simeão e Levi. O “capuz vermelho” que Diná usou nas praças de Salém, agora recobria a cabeça de Siquém, ingenuamente assinando o contrato de casamento que não passava de uma sentença de morte . Como dizem por aí, para “um esperto”, nada melhor que “um esperto e meio”. Neste caso, dois.

Os homens de Salém foram convocados para uma circuncisão coletiva. Operação para remover a fimose feita com faca de pedra e sem anestesia. Soldados, camponeses e príncipes. Todos eles foram obrigados a se submeteram ao rústico processo cirúrgico para honrar o pacto estabelecido com Jacó. Enquanto a cidade estava desprotegida, já que seus moradores gemiam por causa da dor, Simeão e Levi lideravam um ataque surpresa a Salém, resgatando Diná da casa de Siquém, mas não sem antes, matar ao fio da espada todos os homens daquele lugar. Depois da barbárie, os demais filhos de Jacó saquearam a cidade, tomando mulheres e crianças como prisioneiros. Enquanto voltavam para casa orgulhosos pelo feito cruel e desonroso, exclamavam com satisfação: - Isto é o que acontece com quem trata nossa irmã como se fosse uma prostituta!

Saldo desta história. Siquém morto, e com ele toda a sua família. Diná amargurada pelo resto da vida, assombrada pelos traumas de um passado que nunca pode ser esquecido. A cidade de Salém completamente destruída. E a casa de Jacó fugindo na calada da noite, para não ser dizimada pelos povos da região, todos indignados com a traição imperdoável da quebra de um acordo selado, que agora não passava de papéis embebecidos por sangue. E tudo isto, poderia ter sido evitado tão facilmente... Respeito as tradições familiares... Respeito aos direitos alheios...

Pense melhor nas suas escolhas. Um passo na direção incorreta pode afetar um número de vidas que você não tem como mensurar. Não se afaste do Altar, mesmo que o mundo lá fora pareça mais agradável que a Casa do Pai. O tempo irá desfazer as ilusões, e tudo o que restará serão as dores da alma, para as quais, não existem analgésicos conhecidos. Não entre na floresta contando com a sorte, pois a fera que lá habita sempre será mais ágil e sábia que você. Lembre-se que no tocante a relacionamentos com lobos, Jesus recomendou que preservemos a inocência das pombas, sem deixar de lado a prudência das serpentes. Não com o intuito de “levar vantagem” ou “revidar a agressão sofrida”, mas sim, na prática sagaz de antever o perigo e “fugir dele”. Não tentar a Deus. Resistir ao Diabo sem o encarar diretamente nos olhos (Mateus 10:16 / Tiago 4:7).

Minha amiga Christiane, desenvolveu um tipo de "alergia" ao contato direto com materiais metálicos. E como ela costuma evitar o desconforto na pele? Usando brincos, pulseiras e adereços feitos de... metal! Adivinha qual é o resultado desta “insistência”? Acertou quem disse, “reação alérgica”. Nos divertimos com este "incoerência", porque uma "pomadinha" no local irritado resolve o problema e tudo volta a ficar bem. Mas, e quando a teimosia em flertar com o perigo gera consequências que já não se pode reverter? Terá o risco valido a pena? Em regra geral, a maioria esmagadora das respostas para esta pergunta é negativa.

Não aposte corrida contra o lobo, porque você sempre irá chegar por último. E haverá dentes afiados te esperando na linha final. Haja com prudência. Demonstre sabedoria. Simplesmente evite a floresta e faça o trajeto mais longo, pelo caminho estreito que conduz à salvação. Certa vez, o escritor Oscar Wilde afirmou que “podia resistir a tudo, menos a uma tentação", e que não havia outro jeito de livrar-se dela "a não ser sucumbindo a ela.” Se este também for o seu caso, não seja tentado. Fuja das tentações... Esconda-se sob as asas do Altíssimo e não arrede os pés do Santo Lugar. Mantenha seus instintos na jaula e os desejos trancafiados no calabouço da alma.

Para seu próprio bem-estar (e a segurança das pessoas que ama), evite passeios demorados pelas praças de Salém, e jamais caminhe por trilhas desoladas que te conduzam para o interior de bosques escuros. Siquém só pagará um drinque para quem aceitar beber com ele. O lobo mal só encontra a Chapeuzinho, quando “ela” escolhe entrar sozinha na floresta.

Para melhor entendimento do texto é recomendado a leitura bíblica de Gêneses 33/34 , bem como o conto "Chapeuzinho Vermelho" dos irmãos Grimm.


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