Olhe para aquela cruz.
Aquele homem morreu para salvar pecadores.
Você sente que é um pecador?
Ele morreu para te salvar!
(Charles H. Spurgeon)
A
crucificação, seguramente, está entre as mais terríveis penas de morte da
história. O condenado poderia passar dias preso ao madeiro, antes de falecer
por exaustão ou asfixia. Uma agonia lenta e desesperadora, provocando fluxos
contínuos de dor por todo o sistema nervoso. Morrer na cruz era um castigo demasiadamente
cruel até mesmo para homens maus. Imagine, então, quando a vítima era
inocente.
Na retomada da Babilônia, os
persas crucificaram mais de três mil babilônicos oriundos de família nobres, com
o intuito de desmotivar novas rebeliões. Após sua batalha na Fenícia, Alexandre
- O Grande, abarrotou a praia de Tiro com duas mil cruzes, nas quais os sobreviventes
da guerra foram pendurados como troféus de vitória. Em solo romano, a
crucificação era destinada apenas aos traidores do império e aos escravos que defraudassem
seus donos. Já nos territórios anexados a Roma, a pena capital era bem mais
corriqueira, e aplicada como “contenção” de revoltas populares. Se alguém
insurgisse contra o império, seria fatalmente condenado. Após a chamada “Rebelião
de Spartacus”, mais de 6.000 mil gladiadores fugitivos acabaram crucificados. Quando Roma sitiou Jerusalém no ano 70 DC,
relatos indicam que todas as árvores ao redor da cidade foram cortadas, tamanha
a quantidade de cruzes fabricadas para a execução dos judeus revoltosos.
A
crucificação era um violento espetáculo público banhado a sangue. Um caminho
sem volta. Sempre que alguém carregava nos ombros uma cruz, todos sabiam do
terrível destino que o aguardava. No madeiro, a morte era certa. Sem
escapatórias ou clemência. Não havia margem para gestos nobres ou palavras
gentis. Tudo era escárnio, vergonha e opróbrio. Vidas ceifadas, lares
destruídos e a turba em polvorosa. Era quase um programa de família assistir
aos malfeitores pagando por seus pecados. Conclamava o “bom” cidadão a se
manter na linha, submisso ao regime dominante. Basicamente, a cruz era um
símbolo de opressão e medo. Terror explícito nos olhos de moribundos
agonizantes, e temor latente na face da plateia curiosa. Quem diria, que séculos depois, ela se
transformaria na mais poderosa expressão de amor e bondade?
Em
Cristo, a cruz maldita se fez bendita. Quando Jesus subiu ao Gólgota, seus
lábios se mantiveram em silêncio, ainda que desejasse gritar pela dor. Como um
cordeiro mudo diante dos tosquiadores, Ele se manteve calado enquanto os
soldados romanos golpeavam os cravos que atravessaram seus ossos e adentraram
na madeira embebecida de sangue. Quando a cruz foi erguida, ele se manteve quieto.
Enquanto a multidão zombava de seu corpo nu e dilacerado, Cristo os observava
com olhar de compaixão. Era comum aos crucificados vociferar palavras de ódio
contra os executores, e devolver enfaticamente os insultos recebidos da
multidão. Qualquer centurião de Roma conhecia bem esta rotina. Cuspir e ser
cuspido. Eles estranhariam exatamente o contrário. E foi isto o que aconteceu
naquela sexta-feira excepcional. Ali, na cruz do meio, não se ouviu gemidos e
lamentos. Apenas o silêncio sendo quebrado com palavras inesperadas.... Sete pequenas
frases que estremeceram os céus, e que fizeram o véu da história se partir ao
meio...
Três
anos antes, diante de uma multidão boquiaberta, o jovem rabino de Nazaré
apontou para seus discípulos o caminho do amor sacrificial. Amar sem
recompensa. Desejar o bem para aqueles que anseiam teu mal... Orar pelos perseguidores.
Perdoar as mais agressivas ofensas. Ofertar a outra face. Palavras que
impactaram a sociedade judaica e inspiraram gerações que já não se pode contar
nos dedos das mãos. O motivo de tamanho poder influenciador está muito além da
retórica, passando obrigatoriamente pela cruz. Nela, Cristo comprovou com ações, tudo o que ensinou
no Sermão da Montanha. Quando olhares de ódio se voltaram em sua direção, ele
os fitou com ternura. Enquanto o povaréu erguia o punho em riste, empolgados
com a barbaria imposta ao nazareno por homens perversos, Ele se voltou a Deus, e
orou. Não por socorro. Nem por justiça. Jesus queria perdão...
- Pai.... Perdoe cada um deles...
Eles não sabem o que estão fazendo!
(Lucas 23:34)
Um
condenado a cruz podia levar dias para morrer, e pela lei romana, deveria permanecer
“pendurado” até ser constatado o óbito. Em muitos casos, o cadáver permanecia
exposto, enquanto os pássaros devoravam a carne. Em solo judeu, os corpos tinham que ser
removidos no mesmo dia da morte. Neste caso, ser crucificado numa sexta feira,
até poderia ser vantajoso. Significava que a morte seria mais rápida, ainda que
o meio usado para acelerar o processo tornasse tudo mais cruel. Geralmente,
pernas quebradas a golpes vigorosos, para impedir o esforço hercúleo em busca do ar já
rarefeito. No dia em que Jesus foi crucificado, apenas três cruzes erigiram-se
no Gólgota. Duas delas, ocupadas por criminosos de alta periculosidade, segundo
a tradição, “Dimas” e “Gestas”. Desesperados em decorrência da dor e
embebecidos pela revolta que corroía suas pobres almas, ambos destinavam todo o
ódio que sentiam para Jesus. Eles o questionavam sobre sua natureza divina.
Exigiam que o “Filho de Deus” descesse da cruz, salvasse a si mesmo e os
levasse a tiracolo. – Mostra teu poder....
Ou será que você mente sobre quem é?
Enquanto
isto, Cristo permanecia calado...
O
comportamento de Jesus foi uma pregação convincente para Dimas. Ele compreendeu
que o homem na cruz do meio nada tinha de malfeitor. Era um ser divino. A
encarnação do próprio amor, que de bom grado, entregava sua vida pela
humanidade. Seu coração se encheu de temor: -
Gestas, mostre algum respeito para com Deus... Estamos recebendo apenas a
paga por nossos crimes, mas este homem é inocente... E então, com lágrimas
nos olhos, ele se voltou para Jesus. –
Senhor, lembra-te de mim ao entrares no teu Reino...
E
para esta petição, Cristo mais uma vez quebrou o silêncio. Uma resposta que
lançou ao chão a religiosidade. Derribou as convicções numa salvação baseada em
meritocracia. Amor que cobre uma multidão de pecados. Graça que envolve o
pecador numa nuvem de perdão. O efeito imediato da cruz trazendo regeneração no
apagar das luzes. Arrependimento atraindo redenção...
- Filho, hoje te digo... Estarás comigo no Paraíso!
(Lucas 23:43)
Jesus
foi traído por Judas, negado por Pedro e abandonado por seus discípulos. Apenas
um deles estava aos pés da cruz. Coração desfacelado, olhos vitrificados e o
espírito imerso em insegurança. Ele havia deixado tudo para seguir o Cristo. O que faria de sua vida ? Quem cuidaria
de sua alma? Em qual colo repousaria a cabeça? A quem destinaria todo o
amor que tinha recebido? Ao seu lado, Maria velava o sofrimento de seu
primogênito. Ela gerou, pariu e amamentou o menino Deus. Trocou suas fraldas.
Assoprou os esfolados dos joelhos. Teceu a túnica que os soldados rasgaram. Como ela poderia viver agora, quando parte
de seu coração era arrancado do peito? Para quem iria fazer guisado de cordeiro
nas manhãs de domingo? Quem a visitaria, entre as incursões missionárias pela
Galileia? Então, Jesus mais uma vez rompeu a quietude agonizante para
cuidar de pessoas. Criar laços. Formar famílias...
- Maria... Este é o seu filho....
João... Esta é a sua mãe...
(João 19:26-27)
Na
cruz, todos os pecados do mundo foram creditados a um único homem. Jesus levou
sobre si as nossas transgressões. Sofreu o castigo por cada pecado consumado ou
iniquidades pretéritas. Uma horda de demônios rodopiava ao redor do madeiro
atraídos pelo cheiro pútrido das profanações e imundícias que soterravam o Cristo.
Deus não podia tolerar. Não era possível suportar. Todas as ofensas, afrontas e
blasfêmias concentradas num único lugar. Então, pela primeira (e única) vez em toda a existência, o
Pai fechou seus olhos para alguém, e Jesus experimentou o sabor amargo da
completa solidão. A hora mais escura. A mais insuportável das dores. Deus se
fechou para Jesus enquanto se abria para todos nós. Cristo caminhava sobre a
estrada de espinhos, levando cada abrolho fincado em seus pés. O caminho estava
livre, mesmo que o custo da liberdade fosse alto demais. E um homem sozinho, pagou
por tudo isto...
- Eloí, Eloí! Lamá Sabactâni? Deus
meu, Deus meu! Porque me abandonaste?
(Mateus 27:46 / Marcos 15:34)
Os
romanos costumavam oferecer aos crucificados uma bebida feita a base de fel e
vinagre. O torpor provocado amenizava o sofrimento. E esta, seria toda a
misericórdia ofertada aos condenados. Quando Jesus lamentou a solidão da cruz,
o centurião mais próximo imediatamente molhou uma esponja na mistura
“anestésica” e se aproximou dos lábios de Cristo... Ele recusou... Não haveriam
atenuantes ou atalhos. Nenhuma dor anestesiada. Nenhum pecado esquecido. Era
preciso trazer à tona todo o mal, para que o bem pudesse erradicá-lo
definitivamente. Um Deus venceria este desafio com facilidade, porém, não podia
ser assim... Todos os evangelistas narraram a negativa de Jesus, mas, apenas
João que estava aos pés do madeiro, pode ouvir a frase que antecedeu a oferta.
Ela evidenciava a humanidade do Messias, que enfrentou a cruz como homem e a
venceu sem lançar mão do poder divinal que possuía...
- Estou com sede!
(João 19:28)
Jesus
ficou na cruz por apenas seis horas. Longas horas. Nenhum osso seria quebrado.
Seu corpo não seria lançado numa vala comum. Era preciso cumprir as escrituras.
As nove da manhã, a cruz foi erguida no Calvário. As três da tarde, Cristo
expirou. Antes, num esforço indescritível, ele se apoiou sobre os membros
inferiores, ignorou a dor que percorreu seu corpo, encheu os pulmões de ar e
exclamou: - TETELESTAI!
Este termo grego expressa a ideia de um trabalho “concluído”, “completado”, “feito”, “acabado”. “Dívida paga”. “Sentença já cumprida”. “Fatura Liquidada”. “Hipoteca cancelada”. Quando um condenado estava sendo enviado para prisão, seus delitos eram registrados num papiro que passava a ser chamado de “Cédula da Dívida”. Ao término da pena, o juiz responsável pela soltura do preso, riscava a cédula no campo onde os crimes estavam descritos, e no rodapé do documento escrevia a palavra “TETELESTAI”. A partir deste momento, o prisioneiro se tornava um homem livre.
Este termo grego expressa a ideia de um trabalho “concluído”, “completado”, “feito”, “acabado”. “Dívida paga”. “Sentença já cumprida”. “Fatura Liquidada”. “Hipoteca cancelada”. Quando um condenado estava sendo enviado para prisão, seus delitos eram registrados num papiro que passava a ser chamado de “Cédula da Dívida”. Ao término da pena, o juiz responsável pela soltura do preso, riscava a cédula no campo onde os crimes estavam descritos, e no rodapé do documento escrevia a palavra “TETELESTAI”. A partir deste momento, o prisioneiro se tornava um homem livre.
Foi
exatamente isto que Jesus fez. Riscou a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, tirou da mão do credor e a cravou na cruz. Um documento público de quitação
da dívida. Ele pagou o preço. Cumpriu a pena. Nos deu a liberdade. inquestionável. Irrevogável. Definitiva... Não existe mais condenação, porque o
Juiz escolheu morrer por aqueles que aguardavam no corredor da morte
(Colossenses 2:14 / Romanos 8:1). A cruz valeu! O sacrifico foi aceito! O véu
da separação deixou de existir!
- Está Consumado!
(João 19:30)
A
cruz. Veículo de medo, ódio e morte, em Cristo se fez manancial de vida... Uma
fonte inesgotável de amor. Um altar de mensagens silenciosas. A
eternidade resumida em poucas palavras. É ou não é, o maior paradoxo da história? O “Cordeiro de Deus” realmente foi
capaz de remover o pecado do mundo inteiro. Ele enfrentou os cravos, a coroa de
espinhos, o chicote romano, a afronta judaica, a zombaria dos fortes Touros de Basã...Venceu cada um deles. Suportou as ofensas da terra e o silêncio do céu. E fez
isto para resgatar a alma do homem. Fazer da criatura, "filho" mais uma vez... E
faria de novo, quantas vezes fossem necessárias... Mas, não será preciso. O sacrífico
foi perfeito. A cruz é a porta que se abriu para todos nós, sem qualquer tipo
de seletividade, exigência ou pré agendamento. Amor distribuído sem senhas.
Perdão disponibilizado a qualquer coração que se quebrante.
A
cruz real já não existe mais. Se desfarelou com o tempo. Nada mais que madeira
corroída por cupins. Nós a carregamos no coração! A exibimos nas paredes dos
templos, nas marquises das catedrais, nas capas das bíblias, nos cordões
pendurados no pescoço.... Cruz vazia, como vazio está o túmulo onde sepultaram
Jesus. Apenas uma lembrança de quem
passou por ali, mas, hoje é soberano nos céus. Aquele que desceu Cordeiro e
subiu novamente... Desta vez como Leão.
- Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!
(Lucas 23:46)
Para melhor entendimento desta mensagem é recomendada a leitura dos seguintes textos bíblicos: Salmo 22, Isaías 53, Mateus 5/6/7/27, Marcos 15, Lucas 23, João 13/19, Romanos 8, Colossenses 2 e Apocalipse 5.
Cara que palavra maravilha ainda não conhecia seu site, mais já estou lendo vários artigos seus e fica admirada com Tamanha sabedoria, que Deus continue te abençoando poderosamente e te dando sabedoria.
ResponderExcluir