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domingo, 19 de agosto de 2018

A Mensagem da Cruz

Olhe para aquela cruz. 
Aquele homem morreu para salvar pecadores.
Você sente que é um pecador?  
Ele morreu para te salvar!
(Charles H. Spurgeon)


A crucificação, seguramente, está entre as mais terríveis penas de morte da história. O condenado poderia passar dias preso ao madeiro, antes de falecer por exaustão ou asfixia. Uma agonia lenta e desesperadora, provocando fluxos contínuos de dor por todo o sistema nervoso. Morrer na cruz era um castigo demasiadamente cruel até mesmo para homens maus. Imagine, então, quando a vítima era inocente.

Na retomada da Babilônia, os persas crucificaram mais de três mil babilônicos oriundos de família nobres, com o intuito de desmotivar novas rebeliões. Após sua batalha na Fenícia, Alexandre - O Grande, abarrotou a praia de Tiro com duas mil cruzes, nas quais os sobreviventes da guerra foram pendurados como troféus de vitória. Em solo romano, a crucificação era destinada apenas aos traidores do império e aos escravos que defraudassem seus donos. Já nos territórios anexados a Roma, a pena capital era bem mais corriqueira, e aplicada como “contenção” de revoltas populares. Se alguém insurgisse contra o império, seria fatalmente condenado. Após a chamada “Rebelião de Spartacus”, mais de 6.000 mil gladiadores fugitivos acabaram crucificados. Quando Roma sitiou Jerusalém no ano 70 DC, relatos indicam que todas as árvores ao redor da cidade foram cortadas, tamanha a quantidade de cruzes fabricadas para a execução dos judeus revoltosos.

A crucificação era um violento espetáculo público banhado a sangue. Um caminho sem volta. Sempre que alguém carregava nos ombros uma cruz, todos sabiam do terrível destino que o aguardava. No madeiro, a morte era certa. Sem escapatórias ou clemência. Não havia margem para gestos nobres ou palavras gentis. Tudo era escárnio, vergonha e opróbrio. Vidas ceifadas, lares destruídos e a turba em polvorosa. Era quase um programa de família assistir aos malfeitores pagando por seus pecados. Conclamava o “bom” cidadão a se manter na linha, submisso ao regime dominante. Basicamente, a cruz era um símbolo de opressão e medo. Terror explícito nos olhos de moribundos agonizantes, e temor latente na face da plateia curiosa.  Quem diria, que séculos depois, ela se transformaria na mais poderosa expressão de amor e bondade?

Em Cristo, a cruz maldita se fez bendita. Quando Jesus subiu ao Gólgota, seus lábios se mantiveram em silêncio, ainda que desejasse gritar pela dor. Como um cordeiro mudo diante dos tosquiadores, Ele se manteve calado enquanto os soldados romanos golpeavam os cravos que atravessaram seus ossos e adentraram na madeira embebecida de sangue. Quando a cruz foi erguida, ele se manteve quieto. Enquanto a multidão zombava de seu corpo nu e dilacerado, Cristo os observava com olhar de compaixão. Era comum aos crucificados vociferar palavras de ódio contra os executores, e devolver enfaticamente os insultos recebidos da multidão. Qualquer centurião de Roma conhecia bem esta rotina. Cuspir e ser cuspido. Eles estranhariam exatamente o contrário. E foi isto o que aconteceu naquela sexta-feira excepcional. Ali, na cruz do meio, não se ouviu gemidos e lamentos. Apenas o silêncio sendo quebrado com palavras inesperadas.... Sete pequenas frases que estremeceram os céus, e que fizeram o véu da história se partir ao meio...

Três anos antes, diante de uma multidão boquiaberta, o jovem rabino de Nazaré apontou para seus discípulos o caminho do amor sacrificial. Amar sem recompensa. Desejar o bem para aqueles que anseiam teu mal... Orar pelos perseguidores. Perdoar as mais agressivas ofensas. Ofertar a outra face. Palavras que impactaram a sociedade judaica e inspiraram gerações que já não se pode contar nos dedos das mãos. O motivo de tamanho poder influenciador está muito além da retórica, passando obrigatoriamente pela cruz. Nela, Cristo comprovou com ações, tudo o que ensinou no Sermão da Montanha. Quando olhares de ódio se voltaram em sua direção, ele os fitou com ternura. Enquanto o povaréu erguia o punho em riste, empolgados com a barbaria imposta ao nazareno por homens perversos, Ele se voltou a Deus, e orou. Não por socorro. Nem por justiça. Jesus queria perdão...

- Pai.... Perdoe cada um deles... Eles não sabem o que estão fazendo!
(Lucas 23:34)

Um condenado a cruz podia levar dias para morrer, e pela lei romana, deveria permanecer “pendurado” até ser constatado o óbito. Em muitos casos, o cadáver permanecia exposto, enquanto os pássaros devoravam a carne.  Em solo judeu, os corpos tinham que ser removidos no mesmo dia da morte. Neste caso, ser crucificado numa sexta feira, até poderia ser vantajoso. Significava que a morte seria mais rápida, ainda que o meio usado para acelerar o processo tornasse tudo mais cruel. Geralmente, pernas quebradas a golpes vigorosos, para impedir o esforço hercúleo em busca do ar já rarefeito. No dia em que Jesus foi crucificado, apenas três cruzes erigiram-se no Gólgota. Duas delas, ocupadas por criminosos de alta periculosidade, segundo a tradição, “Dimas” e “Gestas”. Desesperados em decorrência da dor e embebecidos pela revolta que corroía suas pobres almas, ambos destinavam todo o ódio que sentiam para Jesus. Eles o questionavam sobre sua natureza divina. Exigiam que o “Filho de Deus” descesse da cruz, salvasse a si mesmo e os levasse a tiracolo. – Mostra teu poder.... Ou será que você mente sobre quem é?

Enquanto isto, Cristo permanecia calado...

O comportamento de Jesus foi uma pregação convincente para Dimas. Ele compreendeu que o homem na cruz do meio nada tinha de malfeitor. Era um ser divino. A encarnação do próprio amor, que de bom grado, entregava sua vida pela humanidade. Seu coração se encheu de temor: - Gestas, mostre algum respeito para com Deus... Estamos recebendo apenas a paga por nossos crimes, mas este homem é inocente... E então, com lágrimas nos olhos, ele se voltou para Jesus. – Senhor, lembra-te de mim ao entrares no teu Reino...

E para esta petição, Cristo mais uma vez quebrou o silêncio. Uma resposta que lançou ao chão a religiosidade. Derribou as convicções numa salvação baseada em meritocracia. Amor que cobre uma multidão de pecados. Graça que envolve o pecador numa nuvem de perdão. O efeito imediato da cruz trazendo regeneração no apagar das luzes. Arrependimento atraindo redenção...

- Filho, hoje te digo... Estarás comigo no Paraíso!
(Lucas 23:43)

Jesus foi traído por Judas, negado por Pedro e abandonado por seus discípulos. Apenas um deles estava aos pés da cruz. Coração desfacelado, olhos vitrificados e o espírito imerso em insegurança. Ele havia deixado tudo para seguir o Cristo. O que faria de sua vida ? Quem cuidaria de sua alma? Em qual colo repousaria a cabeça? A quem destinaria todo o amor que tinha recebido? Ao seu lado, Maria velava o sofrimento de seu primogênito. Ela gerou, pariu e amamentou o menino Deus. Trocou suas fraldas. Assoprou os esfolados dos joelhos. Teceu a túnica que os soldados rasgaram. Como ela poderia viver agora, quando parte de seu coração era arrancado do peito? Para quem iria fazer guisado de cordeiro nas manhãs de domingo? Quem a visitaria, entre as incursões missionárias pela Galileia? Então, Jesus mais uma vez rompeu a quietude agonizante para cuidar de pessoas. Criar laços. Formar famílias...

- Maria... Este é o seu filho.... João... Esta é a sua mãe...
(João 19:26-27)

Na cruz, todos os pecados do mundo foram creditados a um único homem. Jesus levou sobre si as nossas transgressões. Sofreu o castigo por cada pecado consumado ou iniquidades pretéritas. Uma horda de demônios rodopiava ao redor do madeiro atraídos pelo cheiro pútrido das profanações e imundícias que soterravam o Cristo. Deus não podia tolerar. Não era possível suportar. Todas as ofensas, afrontas e blasfêmias concentradas num único lugar. Então, pela primeira (e única) vez em toda a existência, o Pai fechou seus olhos para alguém, e Jesus experimentou o sabor amargo da completa solidão. A hora mais escura. A mais insuportável das dores. Deus se fechou para Jesus enquanto se abria para todos nós. Cristo caminhava sobre a estrada de espinhos, levando cada abrolho fincado em seus pés. O caminho estava livre, mesmo que o custo da liberdade fosse alto demais. E um homem sozinho, pagou por tudo isto...

- Eloí, Eloí! Lamá Sabactâni? Deus meu, Deus meu! Porque me abandonaste?
(Mateus 27:46 / Marcos 15:34)

Os romanos costumavam oferecer aos crucificados uma bebida feita a base de fel e vinagre. O torpor provocado amenizava o sofrimento. E esta, seria toda a misericórdia ofertada aos condenados. Quando Jesus lamentou a solidão da cruz, o centurião mais próximo imediatamente molhou uma esponja na mistura “anestésica” e se aproximou dos lábios de Cristo... Ele recusou... Não haveriam atenuantes ou atalhos. Nenhuma dor anestesiada. Nenhum pecado esquecido. Era preciso trazer à tona todo o mal, para que o bem pudesse erradicá-lo definitivamente. Um Deus venceria este desafio com facilidade, porém, não podia ser assim... Todos os evangelistas narraram a negativa de Jesus, mas, apenas João que estava aos pés do madeiro, pode ouvir a frase que antecedeu a oferta. Ela evidenciava a humanidade do Messias, que enfrentou a cruz como homem e a venceu sem lançar mão do poder divinal que possuía...

- Estou com sede!
(João 19:28)

Jesus ficou na cruz por apenas seis horas. Longas horas. Nenhum osso seria quebrado. Seu corpo não seria lançado numa vala comum. Era preciso cumprir as escrituras. As nove da manhã, a cruz foi erguida no Calvário. As três da tarde, Cristo expirou. Antes, num esforço indescritível, ele se apoiou sobre os membros inferiores, ignorou a dor que percorreu seu corpo, encheu os pulmões de ar e exclamou: - TETELESTAI! 

Este termo grego expressa a ideia de um trabalho “concluído”, “completado”, “feito”, “acabado”. “Dívida paga”. “Sentença já cumprida”. “Fatura Liquidada”. “Hipoteca cancelada”. Quando um condenado estava sendo enviado para prisão, seus delitos eram registrados num papiro que passava a ser chamado de “Cédula da Dívida”. Ao término da pena, o juiz responsável pela soltura do preso, riscava a cédula no campo onde os crimes estavam descritos, e no rodapé do documento escrevia a palavra “TETELESTAI”. A partir deste momento, o prisioneiro se tornava um homem livre.

Foi exatamente isto que Jesus fez. Riscou a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, tirou da mão do credor e a cravou na cruz. Um documento público de quitação da dívida. Ele pagou o preço. Cumpriu a pena. Nos deu a liberdade. inquestionável. Irrevogável. Definitiva... Não existe mais condenação, porque o Juiz escolheu morrer por aqueles que aguardavam no corredor da morte (Colossenses 2:14 / Romanos 8:1). A cruz valeu! O sacrifico foi aceito! O véu da separação deixou de existir!

- Está Consumado!
(João 19:30)

A cruz. Veículo de medo, ódio e morte, em Cristo se fez manancial de vida... Uma fonte inesgotável de amor. Um altar de mensagens silenciosas. A eternidade resumida em poucas palavras. É ou não é, o maior paradoxo da história? O “Cordeiro de Deus” realmente foi capaz de remover o pecado do mundo inteiro. Ele enfrentou os cravos, a coroa de espinhos, o chicote romano, a afronta judaica, a zombaria dos fortes Touros de Basã...Venceu cada um deles. Suportou as ofensas da terra e o silêncio do céu. E fez isto para resgatar a alma do homem. Fazer da criatura, "filho" mais uma vez... E faria de novo, quantas vezes fossem necessárias... Mas, não será preciso. O sacrífico foi perfeito. A cruz é a porta que se abriu para todos nós, sem qualquer tipo de seletividade, exigência ou pré agendamento. Amor distribuído sem senhas. Perdão disponibilizado a qualquer coração que se quebrante.

A cruz real já não existe mais. Se desfarelou com o tempo. Nada mais que madeira corroída por cupins. Nós a carregamos no coração! A exibimos nas paredes dos templos, nas marquises das catedrais, nas capas das bíblias, nos cordões pendurados no pescoço.... Cruz vazia, como vazio está o túmulo onde sepultaram Jesus.  Apenas uma lembrança de quem passou por ali, mas, hoje é soberano nos céus. Aquele que desceu Cordeiro e subiu novamente... Desta vez como Leão.

- Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!
(Lucas 23:46)

Para melhor entendimento desta mensagem é recomendada a leitura dos seguintes textos bíblicos: Salmo 22, Isaías 53, Mateus 5/6/7/27, Marcos 15, Lucas 23, João 13/19, Romanos 8, Colossenses 2 e Apocalipse 5.

Um comentário:

  1. Cara que palavra maravilha ainda não conhecia seu site, mais já estou lendo vários artigos seus e fica admirada com Tamanha sabedoria, que Deus continue te abençoando poderosamente e te dando sabedoria.

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