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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A Síndrome de Chapeuzinho Vermelho

 A virtude não passa de tentação insuficiente.
(George Bernard Shaw)


Algumas tentações podem ser resistidas, outras, precisam ser terminantemente evitadas. Até porque, não temos forças o suficiente para dizer “não” à todas elas. Logo, a ação mais prudente é evitar o confrontamento, fugindo apressadamente na direção oposta daquilo que “aparenta” ser mal. A curiosidade não pode ser usada como justificativa para a incidência de riscos. Lembre-se que o “gato curioso” tende a não voltar para casa ao fim da noite de bisbilhotice. E o mesmo pode acontecer com qualquer um de nós (I Tessalonicenses 5:22).

Até o mais precavido dos homens, flerta com o perigo de vez em quando. Sempre haverá focos “neon” brilhando na estrada, com a capacidade de desviar nossa atenção. Somos todos insetos voando em direção a algum farol, sem ao menos compreender que este destino iluminado é tão “trágico” quanto “belo”. Satanás é como uma aranha paciente, construindo teias nos becos e vielas que costumamos frequentar quando ninguém está olhando. E caminhamos sobre os fios, cantarolando incautamente, encantados com a “macies” do asfalto. Neste caso, aproveitar a “liberdade” é apenas uma ilusão temporária, pois os pés já estão presos na armadilha desde que o primeiro passo foi dado.

Vivemos num tempo de apostásia generalizada. Cada um escolhe seu “ismo” favorito, se reveste de autoafirmação e a sociedade aplaude tamanha ousadia. A moda é buscar completa satisfação pessoal, mesmo que seja a “qualquer custo”. O hedonismo grita palavras de ordem que um número cada vez maior de pessoas obedece cegamente, sem ao menos perceber a incoerência: “Assuma quem você é” e “seja feliz de verdade”! Nada de renúncia, altruísmo e respeito ao próximo. É preciso alcançar o estrelato independente de quantos mandamentos sejam quebrados no processo. Para os autodeclarados “donos do mundo”, a Bíblia é um livro retrogrado, a família se tornou uma instituição ultrapassada e os pilares da sociedade estão carcomidos pelo arcaísmo. O que realmente rege o universo, é o pensamento individual. A vontade de uma minoria que finge lutar por igualdade, enquanto ambiciona privilégios e superioridade. Pense... O mesmo grupo que defende penas mais severas para crimes cometidos contra a “mulher” (o controverso "feminicídio"), exige que a "mulher" tenha o direito de assassinar um filho que está sendo gerado em seu ventre. Vai entender... Acumulo de direitos, sem a obrigação de deveres.... Não importa o gênero, a raça ou opção sexual, sempre queremos que o "cosmo" gire em torno do nosso umbigo. E nesta cultura do “eu” acima de “todos”, ao invés de evoluirmos, regredimos sem perceber. Nem “servos”, e muito menos “filhos”, apenas “criaturas” famintas pelo prazer e agindo por instinto inconsequente. Ou será que os abusos cometidos no hoje, não gerarão déficits no amanhã?

Sabemos que existe um caminho a ser seguido. Ele é estreito, espinhoso e retilíneo demais. Por vezes a jornada se torna enfadonha e desinteressante, o que faz de qualquer ruído fora da estrada um convite a novas e divertidas aventuras. E lá vamos nós, correr atrás de sonhos lisérgicos e ilusões pueris. Breves momentos de euforia que retumbam em anos de amargura pontuados por remorso ineficiente. Ninguém desce ao lamaçal do pecado sem sair de lá com algumas sanguessugas a tiracolo, mesmo sabendo que a sangria desatada pode nunca se estancar. O hedonismo é um tipo de miopia espiritual que recobre com cores vividas um mundo revestido de cinza opaco. Ceder aos próprios desejos é enxergar jardins floridos onde existe apenas um desolado e assustador cemitério de elefantes. Quem se guia apenas por vista, de fato nada consegue enxergar além de escuridão camuflada por luzes artificiais. Está preso a uma realidade mundana que só tem em seu cardápio “momentos efêmeros”, para os quais nem mesmo as boas lembranças trarão alívio quando o arrependimento tardio bater na porta. Em resumo, é preciso ponderar cautelosamente sobre o custo benefício de tudo aquilo que desejamos, pois, a conta após o consumo sempre vem alta demais, e nunca temos recursos para pagá-la.

Do que adianta alguns anos de popularidade, e ser lançado num esquecimento eternal no outro lado da vida? Ter sido aplaudido por muitos terá alguma serventia quando a escuridão nos esconder dos olhos de Deus? As ardentes paixões vividas por um curto espaço de tempo substituirão a contento o amor que se perdeu para sempre?

Escolhas e mais escolhas. E quando fazemos cada uma delas pautados apenas no que “desejamos”, assumimos riscos inconsequentes. As inclinações humanas sempre nos levarão para trilhas de iniquidades cujo final é mais trágico que a morte. Afinal de contas, o que pode ser mais terrível que o total isolamento de Deus, fonte de toda luz e esperança? O mais assustador, é que mesmo tendo ciência dos perigos, sempre cedemos a tentação dos caminhos perniciosos. “Cores falsificadas” são excelentes atrativos para quem deseja se esquivar da verdade. Um estratagema que já vem sendo utilizado desde o Éden, onde cada detalhe é projetado para cativar a atenção e arrastar a vítima ao centro da armadilha, enquanto ela sorri e cantarola junto com pássaros verdes que não existem. Mesmo sabendo que nada faz sentido, nos sentimos bem enquanto embarcamos no trem fantasma da vida real.

Sabe aquela sensação de estar no lugar errado na hora errada? Pois é... Este é o típico sentimento que antecede a tragédia, e ele não costuma chegar atrasado. É que geralmente ignoramos a voz da consciência e os sinais de alerta enviados pelos céus, pela preferência em ouvir os ecos do próprio ego, sem atinar que eles apenas reverberavam os intentos nefastos de Satanás. E não terceirize a culpa.... Cair na armadilha é uma questão de escolha pessoal.... Infelizmente, na maioria das vezes, optamos pela queda intencional, mesmo alegando inocência ou ignorância.

Embora a egolatria seja uma característica predominante da nossa geração, “ser feliz” as custas da infelicidade alheia é um desvio de caráter que sempre impregnou a humanidade. E podemos encontrar um exemplo bem corriqueiro desta realidade já no livro do Gêneses. Gente fazendo o que “bem queria” sem se importar com os “efeitos colaterais” destes desejos na vida de outras pessoas. Escolhas motivadas por algum tipo de paixão, gerando resultados calamitosos e irreversíveis. No centro da narrativa, temos Diná, filha de Jacó e Leia, protagonista de um passeio inocente que terminou de forma trágica. Fato é, que com um pouco mais de cautela, tudo poderia ter sido evitado...

Entenda...

Quando regressou de Padã-Arã, rumo a terra de seus antepassados, Jacó se estabeleceu na cidade de Sucote, onde construiu tendas para seus “muitos” familiares. Também adquiriu uma propriedade na região de Salém e no terreno comprado edificou um Altar, onde todos deveriam prestar cultos ao Senhor. Aquela era a “igreja” que os filhos de Jacó frequentavam. Diariamente, o patriarca reunia sua prole ao redor da edificação para adorar ao “Deus de Israel” e oferecer-lhe sacrifícios. E todos seguiam esta “rotina”, mesmo que "um ou outro" não gostasse dela. Porém, numa bela manhã ensolarada, enquanto toda a família se reunia para o culto matinal, Diná decidiu sair do “marasmo” e fazer algo diferente. Nada de ir na igreja ou ficar dentro de casa ajudando no almoço: - “Hoje o dia será só meu...Vou fazer o que eu me der na cabeça! ” E munida deste pensamento, a incauta moça do “interior”, acostumada a "servos zelosos e ovelhas obedientes", saiu sozinha em direção a cidade grande, habitada por um povo pagão e imersa no pecado. Diná não planejou fazer nada de errado, ela apenas queria “observar” o movimento. Conhecer “gente legal”. Socializar-se com os jovens da região, e na base da sorte, flertar com alguém “interessante”... E tudo estava indo muito bem... Diná ainda não sabia, mas aquele dia tão divertido, terminaria em sonhos desfeitos e lágrimas ressentidas. Ela “estava” num lugar onde não deveria “estar”, e este “deslocamento” sempre tem consequências severas.

Enquanto “observava” as pessoas, Diná também era "observada". O jovem Siquém, embora fosse príncipe naquelas terras, nada tinha de “encantado”. Seus olhos foram imediatamente atraídos pela beleza exótica da moça israelita e seu corpo fervilhou em excitação. E o “moço rico”, acostumado a ter absolutamente tudo que queria, não fez qualquer esforça para conter o desejo lascivo. Lançando mão do prestígio social e poderes políticos da família, ele “arrastou” a moça para sua casa, e na solidão da recâmara, a estuprou. Pobre Diná... No mesmo dia em que “escolheu” seguir seus instintos e se afastar do Altar, cruzou o caminho de alguém que também optou por dar vazão aos próprios desejos, sentindo-se no direito de violar e humilhar outra pessoa, para simplesmente obter satisfação pessoal... Diná mereceu ser estuprada?  É obvio que não! E ao contrário do que poderia insinuar as “feministas de plantão”, Siquém não nasceu com o “gene” do estupro escondido em suas células apenas por ser "homem". Em ambos os casos, jovens “ávidos pela liberdade" (ou seria libertinagem?), optaram por dar vazão as próprias vontades, e o resultado foi uma tragédia imensurável. 

- Mas, Miquéias... Como você ousa equiparar um passeio matinal ao estupro de uma mulher? 

Ei.. Vamos com calma! Longe de mim tamanha sandice. Não há parâmetros que igualem as ações de Diná e Siquém, bem como as consequências de cada ato. A metáfora subentendida, é a constatação que ao frequentar “lugares inapropriados”, aceitamos o risco de “encontros desagradáveis”. O direito de ir e vir pertence a todos nós, e jamais deve ser cerceado. Porém, cabe a cada indivíduo usá-lo com sabedoria. Se o mundo é “inevitavelmente” mal, escolha estar em ambientes impregnados de bondade. Se lá fora só existe escuridão (e sabemos que os monstros se escondem nas trevas), qual a prudência de abrir a porta, sair de casa e se afastar da luz?  Entenda que o “ilegítimo direito” de ser “feliz a qualquer custo”, mesmo que seja preciso machucar outras pessoas no processo, empurra goela abaixo o “ilegítimo dever” de aceitar que outras pessoas sejam “felizes a qualquer custo”, mesmo que para isto, seja necessário te machucar também. E quer saber, você pode até não concordar com a ideia, mas o Altar sempre será mais seguro que as praças de Salém... Então, para que arriscar?

Alguém imediatamente já respondeu: - Porque a vida é feita de riscos! E eu digo: - Bom argumento! Só me deixe acrescentar uma pequena observação: - Não existem garantias de segurança em zonas de perigo. Quem assume riscos, antecipadamente também aceita as consequências...

Estou sempre me questionando se a “responsabilidade” pela interpretação de um texto é apenas do leitor, ou também recai sobre os ombros de quem o escreveu. E esta reflexão me mantem centrado em cada linha escrita. Zeloso pelas palavras que digito. Literalmente, levei horas escrevendo, reescrevendo e revisando os dois parágrafos acima. Sei que neste momento você está caminhando sobre uma estrada que eu pavimentei. Posso não ser o responsável por seus tropeções, mas se houver buracos no caminho, a culpa será toda minha. E no exato instante em que este senso de responsabilidade se tornar um fardo que eu não esteja disposto a carregar, imediatamente preciso parar de escrever. Hoje em dia, o que mais vejo é gente se expondo em “excesso” e recriminado as pessoas que se “inflamam”, tendo como combustível a citada (ou  seria excitada?) exposição. Jogam gasolina sobre a fogueira e recriminam o furor das labaredas. Mas, espere um pouco... O objetivo de toda “mostra” não é exatamente aguçar olhares? A “degustação” ofertada não visa incitar a fome do degustador?

Não quer ser visto? Não se mostre!
Não quer ser lido? Não escreva!
Não quer receber “certos” comentários?
Não publique “certas” postagens!
Não quer correr riscos e nem se expor aos perigos mundanos? 
Em hipótese alguma se afaste do Altar, nem mesmo pelos mais aprazíveis motivos!

O problema é que desenvolvemos a “Síndrome de Chapeuzinho Vermelho”. Na entrada da trilha existe uma gigantesca placa amarela, na qual se observa um triângulo preto com o emblema de uma caveira no interior, e um “X” vermelho cruzando toda a imagem. Embaixo da figura, em letras garrafais pode-se ler o aviso claro e objetivo: AFASTE-SE - PERIGO – LOBO NA FLORESTA! E agora, o que fazer? Procurar um caminho seguro (mesmo que mais longo) seria uma ótima alternativa (na verdade, a mais sensata das opções). Mas, não... Confiamos naquela sensação de falsa segurança que nos faz acreditar numa imunidade inexistente: - Coisas ruins só acontecem com as outras pessoas! Então, cantarolando “lá-lá-lá-lá”, embrenhamos mata adentro, trajando apenas um “discreto” capuz escarlate como proteção. Nas mãos, uma cesta com quitutes deliciosos, cujo cheiro agradável pode ser sentido a quilômetros de distância.... E pode ter certeza... Sempre existe algum olfato apurado para tortas de maça (e carne humana) bem mais perto do que se imagina. Sabe o que é ainda pior? A empatia que sentimos pelo perigo. A adrenalina percorrendo o corpo é uma sensação viciante. Assim, quando o lobo aparece, nos simpatizamos com ele. Fazemos amizade. Pegamos confiança. Após poucos minutos de conversa, já estamos confortáveis para lhe contar detalhes íntimos da vida. Trocamos receitas secretas de família e lhe damos de bandeja, a localização do destino para o qual estamos indo.... E enquanto a fera melindrosa se esgueira pelas árvores, deixamos escapar num suspiro, o mais paradoxal dos pensamentos: – Este lobo malvado e tão gentil... E neste momento de tola ingenuidade, assinamos o recibo da desgraça. Caímos na armadilha e continuamos a sorrir. E de quebra, colocamos em risco as pessoas que amamos. Lembre-se que o lobo não quer devorar apenas a Chapeuzinho... Seu apetite voraz também aprecia vovós, mamães, papais, filhinhos, esposas e maridos...

Quem diria que um passeio despretensioso (e aquela conversinha descompromissada na beira do caminho), resultaria numa tragédia familiar de proporções épicas? Pois é... A placa na entrada da trilha disse isto. A cultura pagã dos moradores de Salém explicitava o perigo. Risco assumido, consequência agendada. O lobo conhece atalhos que você nunca saberá da existência. Exatamente por isso, tenha consciência que a desvantagem é toda sua. Nunca do agressor.

Diná "escolheu estar onde não deveria estar" e se arrependeu amargamente por isso. Numa sociedade patriarcal, uma jovem "deflorada" não serviria para ser esposa de ninguém. E uma mulher sem esposo, não tinha qualquer utilidade relevante. Dor, humilhação e revolta cresceram no coração da moça como raízes de jambolão. E quanto a Siquém? Quais as consequências por “fazer” o que não deveria ter “feito”? Seus crimes ficariam sem punição como se ele fosse um parlamentar brasileiro? Que nada... O preço cobrado considerou taxas de juros e correções monetárias.  Após violentar Diná, o estuprador se afeiçoou a vítima, e a pediu em casamento. Melhor dizendo, a “exigiu” em casamento. Diná não teve direito de opinião. O acordo para “remendar” o estrago foi costurado entre os pais de família. Hamor de um lado, Jacó do outro. Haveriam vantagens financeiras para ambas as casas. O pai de Siquém pagaria um dote pela perda da virgindade de Diná, e socialmente falando, tudo ficaria bem. E lá estava a moça, condenada a um casamento forjado nas chamas das paixões efêmeras. É lá estava Siquém, imerso em excitação física, vislumbrado por uma pele macia que o tempo faria questão de deteriorar... Tudo estava muito errado, e as tentativas de correções, só fazia a coisa degringolar ainda mais...

Os irmãos de Diná convenceram Jacó a inserir uma exigência no acordo. Assim como acontecia aos israelitas, todos os homens de Salém deveriam ser circuncidados. Seria "pele por pele". "Prepúcio por hímen".  "Sangue por sangue". Hamor concordou com a condição. Era um homem de paz tentando reverter os estragos causados pelo filho. Com a assinatura do contrato, eles seriam um só povo, repartindo a terra, dividindo o gado e miscigenando a linhagem com futuros casamentos arranjados. Tudo ficaria muito bem. Pelo menos, era isto que o velho pensava. Desta vez, os lobos na floresta habitavam em Sucote, atendendo pelos nomes de Simeão e Levi. O “capuz vermelho” que Diná usou nas praças de Salém, agora recobria a cabeça de Siquém, ingenuamente assinando o contrato de casamento que não passava de uma sentença de morte . Como dizem por aí, para “um esperto”, nada melhor que “um esperto e meio”. Neste caso, dois.

Os homens de Salém foram convocados para uma circuncisão coletiva. Operação para remover a fimose feita com faca de pedra e sem anestesia. Soldados, camponeses e príncipes. Todos eles foram obrigados a se submeteram ao rústico processo cirúrgico para honrar o pacto estabelecido com Jacó. Enquanto a cidade estava desprotegida, já que seus moradores gemiam por causa da dor, Simeão e Levi lideravam um ataque surpresa a Salém, resgatando Diná da casa de Siquém, mas não sem antes, matar ao fio da espada todos os homens daquele lugar. Depois da barbárie, os demais filhos de Jacó saquearam a cidade, tomando mulheres e crianças como prisioneiros. Enquanto voltavam para casa orgulhosos pelo feito cruel e desonroso, exclamavam com satisfação: - Isto é o que acontece com quem trata nossa irmã como se fosse uma prostituta!

Saldo desta história. Siquém morto, e com ele toda a sua família. Diná amargurada pelo resto da vida, assombrada pelos traumas de um passado que nunca pode ser esquecido. A cidade de Salém completamente destruída. E a casa de Jacó fugindo na calada da noite, para não ser dizimada pelos povos da região, todos indignados com a traição imperdoável da quebra de um acordo selado, que agora não passava de papéis embebecidos por sangue. E tudo isto, poderia ter sido evitado tão facilmente... Respeito as tradições familiares... Respeito aos direitos alheios...

Pense melhor nas suas escolhas. Um passo na direção incorreta pode afetar um número de vidas que você não tem como mensurar. Não se afaste do Altar, mesmo que o mundo lá fora pareça mais agradável que a Casa do Pai. O tempo irá desfazer as ilusões, e tudo o que restará serão as dores da alma, para as quais, não existem analgésicos conhecidos. Não entre na floresta contando com a sorte, pois a fera que lá habita sempre será mais ágil e sábia que você. Lembre-se que no tocante a relacionamentos com lobos, Jesus recomendou que preservemos a inocência das pombas, sem deixar de lado a prudência das serpentes. Não com o intuito de “levar vantagem” ou “revidar a agressão sofrida”, mas sim, na prática sagaz de antever o perigo e “fugir dele”. Não tentar a Deus. Resistir ao Diabo sem o encarar diretamente nos olhos (Mateus 10:16 / Tiago 4:7).

Minha amiga Christiane, desenvolveu um tipo de "alergia" ao contato direto com materiais metálicos. E como ela costuma evitar o desconforto na pele? Usando brincos, pulseiras e adereços feitos de... metal! Adivinha qual é o resultado desta “insistência”? Acertou quem disse, “reação alérgica”. Nos divertimos com este "incoerência", porque uma "pomadinha" no local irritado resolve o problema e tudo volta a ficar bem. Mas, e quando a teimosia em flertar com o perigo gera consequências que já não se pode reverter? Terá o risco valido a pena? Em regra geral, a maioria esmagadora das respostas para esta pergunta é negativa.

Não aposte corrida contra o lobo, porque você sempre irá chegar por último. E haverá dentes afiados te esperando na linha final. Haja com prudência. Demonstre sabedoria. Simplesmente evite a floresta e faça o trajeto mais longo, pelo caminho estreito que conduz à salvação. Certa vez, o escritor Oscar Wilde afirmou que “podia resistir a tudo, menos a uma tentação", e que não havia outro jeito de livrar-se dela "a não ser sucumbindo a ela.” Se este também for o seu caso, não seja tentado. Fuja das tentações... Esconda-se sob as asas do Altíssimo e não arrede os pés do Santo Lugar. Mantenha seus instintos na jaula e os desejos trancafiados no calabouço da alma.

Para seu próprio bem-estar (e a segurança das pessoas que ama), evite passeios demorados pelas praças de Salém, e jamais caminhe por trilhas desoladas que te conduzam para o interior de bosques escuros. Siquém só pagará um drinque para quem aceitar beber com ele. O lobo mal só encontra a Chapeuzinho, quando “ela” escolhe entrar sozinha na floresta.

Para melhor entendimento do texto é recomendado a leitura bíblica de Gêneses 33/34 , bem como o conto "Chapeuzinho Vermelho" dos irmãos Grimm.


domingo, 19 de agosto de 2018

A Mensagem da Cruz

Olhe para aquela cruz. 
Aquele homem morreu para salvar pecadores.
Você sente que é um pecador?  
Ele morreu para te salvar!
(Charles H. Spurgeon)


A crucificação, seguramente, está entre as mais terríveis penas de morte da história. O condenado poderia passar dias preso ao madeiro, antes de falecer por exaustão ou asfixia. Uma agonia lenta e desesperadora, provocando fluxos contínuos de dor por todo o sistema nervoso. Morrer na cruz era um castigo demasiadamente cruel até mesmo para homens maus. Imagine, então, quando a vítima era inocente.

Na retomada da Babilônia, os persas crucificaram mais de três mil babilônicos oriundos de família nobres, com o intuito de desmotivar novas rebeliões. Após sua batalha na Fenícia, Alexandre - O Grande, abarrotou a praia de Tiro com duas mil cruzes, nas quais os sobreviventes da guerra foram pendurados como troféus de vitória. Em solo romano, a crucificação era destinada apenas aos traidores do império e aos escravos que defraudassem seus donos. Já nos territórios anexados a Roma, a pena capital era bem mais corriqueira, e aplicada como “contenção” de revoltas populares. Se alguém insurgisse contra o império, seria fatalmente condenado. Após a chamada “Rebelião de Spartacus”, mais de 6.000 mil gladiadores fugitivos acabaram crucificados. Quando Roma sitiou Jerusalém no ano 70 DC, relatos indicam que todas as árvores ao redor da cidade foram cortadas, tamanha a quantidade de cruzes fabricadas para a execução dos judeus revoltosos.

A crucificação era um violento espetáculo público banhado a sangue. Um caminho sem volta. Sempre que alguém carregava nos ombros uma cruz, todos sabiam do terrível destino que o aguardava. No madeiro, a morte era certa. Sem escapatórias ou clemência. Não havia margem para gestos nobres ou palavras gentis. Tudo era escárnio, vergonha e opróbrio. Vidas ceifadas, lares destruídos e a turba em polvorosa. Era quase um programa de família assistir aos malfeitores pagando por seus pecados. Conclamava o “bom” cidadão a se manter na linha, submisso ao regime dominante. Basicamente, a cruz era um símbolo de opressão e medo. Terror explícito nos olhos de moribundos agonizantes, e temor latente na face da plateia curiosa.  Quem diria, que séculos depois, ela se transformaria na mais poderosa expressão de amor e bondade?

Em Cristo, a cruz maldita se fez bendita. Quando Jesus subiu ao Gólgota, seus lábios se mantiveram em silêncio, ainda que desejasse gritar pela dor. Como um cordeiro mudo diante dos tosquiadores, Ele se manteve calado enquanto os soldados romanos golpeavam os cravos que atravessaram seus ossos e adentraram na madeira embebecida de sangue. Quando a cruz foi erguida, ele se manteve quieto. Enquanto a multidão zombava de seu corpo nu e dilacerado, Cristo os observava com olhar de compaixão. Era comum aos crucificados vociferar palavras de ódio contra os executores, e devolver enfaticamente os insultos recebidos da multidão. Qualquer centurião de Roma conhecia bem esta rotina. Cuspir e ser cuspido. Eles estranhariam exatamente o contrário. E foi isto o que aconteceu naquela sexta-feira excepcional. Ali, na cruz do meio, não se ouviu gemidos e lamentos. Apenas o silêncio sendo quebrado com palavras inesperadas.... Sete pequenas frases que estremeceram os céus, e que fizeram o véu da história se partir ao meio...

Três anos antes, diante de uma multidão boquiaberta, o jovem rabino de Nazaré apontou para seus discípulos o caminho do amor sacrificial. Amar sem recompensa. Desejar o bem para aqueles que anseiam teu mal... Orar pelos perseguidores. Perdoar as mais agressivas ofensas. Ofertar a outra face. Palavras que impactaram a sociedade judaica e inspiraram gerações que já não se pode contar nos dedos das mãos. O motivo de tamanho poder influenciador está muito além da retórica, passando obrigatoriamente pela cruz. Nela, Cristo comprovou com ações, tudo o que ensinou no Sermão da Montanha. Quando olhares de ódio se voltaram em sua direção, ele os fitou com ternura. Enquanto o povaréu erguia o punho em riste, empolgados com a barbaria imposta ao nazareno por homens perversos, Ele se voltou a Deus, e orou. Não por socorro. Nem por justiça. Jesus queria perdão...

- Pai.... Perdoe cada um deles... Eles não sabem o que estão fazendo!
(Lucas 23:34)

Um condenado a cruz podia levar dias para morrer, e pela lei romana, deveria permanecer “pendurado” até ser constatado o óbito. Em muitos casos, o cadáver permanecia exposto, enquanto os pássaros devoravam a carne.  Em solo judeu, os corpos tinham que ser removidos no mesmo dia da morte. Neste caso, ser crucificado numa sexta feira, até poderia ser vantajoso. Significava que a morte seria mais rápida, ainda que o meio usado para acelerar o processo tornasse tudo mais cruel. Geralmente, pernas quebradas a golpes vigorosos, para impedir o esforço hercúleo em busca do ar já rarefeito. No dia em que Jesus foi crucificado, apenas três cruzes erigiram-se no Gólgota. Duas delas, ocupadas por criminosos de alta periculosidade, segundo a tradição, “Dimas” e “Gestas”. Desesperados em decorrência da dor e embebecidos pela revolta que corroía suas pobres almas, ambos destinavam todo o ódio que sentiam para Jesus. Eles o questionavam sobre sua natureza divina. Exigiam que o “Filho de Deus” descesse da cruz, salvasse a si mesmo e os levasse a tiracolo. – Mostra teu poder.... Ou será que você mente sobre quem é?

Enquanto isto, Cristo permanecia calado...

O comportamento de Jesus foi uma pregação convincente para Dimas. Ele compreendeu que o homem na cruz do meio nada tinha de malfeitor. Era um ser divino. A encarnação do próprio amor, que de bom grado, entregava sua vida pela humanidade. Seu coração se encheu de temor: - Gestas, mostre algum respeito para com Deus... Estamos recebendo apenas a paga por nossos crimes, mas este homem é inocente... E então, com lágrimas nos olhos, ele se voltou para Jesus. – Senhor, lembra-te de mim ao entrares no teu Reino...

E para esta petição, Cristo mais uma vez quebrou o silêncio. Uma resposta que lançou ao chão a religiosidade. Derribou as convicções numa salvação baseada em meritocracia. Amor que cobre uma multidão de pecados. Graça que envolve o pecador numa nuvem de perdão. O efeito imediato da cruz trazendo regeneração no apagar das luzes. Arrependimento atraindo redenção...

- Filho, hoje te digo... Estarás comigo no Paraíso!
(Lucas 23:43)

Jesus foi traído por Judas, negado por Pedro e abandonado por seus discípulos. Apenas um deles estava aos pés da cruz. Coração desfacelado, olhos vitrificados e o espírito imerso em insegurança. Ele havia deixado tudo para seguir o Cristo. O que faria de sua vida ? Quem cuidaria de sua alma? Em qual colo repousaria a cabeça? A quem destinaria todo o amor que tinha recebido? Ao seu lado, Maria velava o sofrimento de seu primogênito. Ela gerou, pariu e amamentou o menino Deus. Trocou suas fraldas. Assoprou os esfolados dos joelhos. Teceu a túnica que os soldados rasgaram. Como ela poderia viver agora, quando parte de seu coração era arrancado do peito? Para quem iria fazer guisado de cordeiro nas manhãs de domingo? Quem a visitaria, entre as incursões missionárias pela Galileia? Então, Jesus mais uma vez rompeu a quietude agonizante para cuidar de pessoas. Criar laços. Formar famílias...

- Maria... Este é o seu filho.... João... Esta é a sua mãe...
(João 19:26-27)

Na cruz, todos os pecados do mundo foram creditados a um único homem. Jesus levou sobre si as nossas transgressões. Sofreu o castigo por cada pecado consumado ou iniquidades pretéritas. Uma horda de demônios rodopiava ao redor do madeiro atraídos pelo cheiro pútrido das profanações e imundícias que soterravam o Cristo. Deus não podia tolerar. Não era possível suportar. Todas as ofensas, afrontas e blasfêmias concentradas num único lugar. Então, pela primeira (e única) vez em toda a existência, o Pai fechou seus olhos para alguém, e Jesus experimentou o sabor amargo da completa solidão. A hora mais escura. A mais insuportável das dores. Deus se fechou para Jesus enquanto se abria para todos nós. Cristo caminhava sobre a estrada de espinhos, levando cada abrolho fincado em seus pés. O caminho estava livre, mesmo que o custo da liberdade fosse alto demais. E um homem sozinho, pagou por tudo isto...

- Eloí, Eloí! Lamá Sabactâni? Deus meu, Deus meu! Porque me abandonaste?
(Mateus 27:46 / Marcos 15:34)

Os romanos costumavam oferecer aos crucificados uma bebida feita a base de fel e vinagre. O torpor provocado amenizava o sofrimento. E esta, seria toda a misericórdia ofertada aos condenados. Quando Jesus lamentou a solidão da cruz, o centurião mais próximo imediatamente molhou uma esponja na mistura “anestésica” e se aproximou dos lábios de Cristo... Ele recusou... Não haveriam atenuantes ou atalhos. Nenhuma dor anestesiada. Nenhum pecado esquecido. Era preciso trazer à tona todo o mal, para que o bem pudesse erradicá-lo definitivamente. Um Deus venceria este desafio com facilidade, porém, não podia ser assim... Todos os evangelistas narraram a negativa de Jesus, mas, apenas João que estava aos pés do madeiro, pode ouvir a frase que antecedeu a oferta. Ela evidenciava a humanidade do Messias, que enfrentou a cruz como homem e a venceu sem lançar mão do poder divinal que possuía...

- Estou com sede!
(João 19:28)

Jesus ficou na cruz por apenas seis horas. Longas horas. Nenhum osso seria quebrado. Seu corpo não seria lançado numa vala comum. Era preciso cumprir as escrituras. As nove da manhã, a cruz foi erguida no Calvário. As três da tarde, Cristo expirou. Antes, num esforço indescritível, ele se apoiou sobre os membros inferiores, ignorou a dor que percorreu seu corpo, encheu os pulmões de ar e exclamou: - TETELESTAI! 

Este termo grego expressa a ideia de um trabalho “concluído”, “completado”, “feito”, “acabado”. “Dívida paga”. “Sentença já cumprida”. “Fatura Liquidada”. “Hipoteca cancelada”. Quando um condenado estava sendo enviado para prisão, seus delitos eram registrados num papiro que passava a ser chamado de “Cédula da Dívida”. Ao término da pena, o juiz responsável pela soltura do preso, riscava a cédula no campo onde os crimes estavam descritos, e no rodapé do documento escrevia a palavra “TETELESTAI”. A partir deste momento, o prisioneiro se tornava um homem livre.

Foi exatamente isto que Jesus fez. Riscou a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, tirou da mão do credor e a cravou na cruz. Um documento público de quitação da dívida. Ele pagou o preço. Cumpriu a pena. Nos deu a liberdade. inquestionável. Irrevogável. Definitiva... Não existe mais condenação, porque o Juiz escolheu morrer por aqueles que aguardavam no corredor da morte (Colossenses 2:14 / Romanos 8:1). A cruz valeu! O sacrifico foi aceito! O véu da separação deixou de existir!

- Está Consumado!
(João 19:30)

A cruz. Veículo de medo, ódio e morte, em Cristo se fez manancial de vida... Uma fonte inesgotável de amor. Um altar de mensagens silenciosas. A eternidade resumida em poucas palavras. É ou não é, o maior paradoxo da história? O “Cordeiro de Deus” realmente foi capaz de remover o pecado do mundo inteiro. Ele enfrentou os cravos, a coroa de espinhos, o chicote romano, a afronta judaica, a zombaria dos fortes Touros de Basã...Venceu cada um deles. Suportou as ofensas da terra e o silêncio do céu. E fez isto para resgatar a alma do homem. Fazer da criatura, "filho" mais uma vez... E faria de novo, quantas vezes fossem necessárias... Mas, não será preciso. O sacrífico foi perfeito. A cruz é a porta que se abriu para todos nós, sem qualquer tipo de seletividade, exigência ou pré agendamento. Amor distribuído sem senhas. Perdão disponibilizado a qualquer coração que se quebrante.

A cruz real já não existe mais. Se desfarelou com o tempo. Nada mais que madeira corroída por cupins. Nós a carregamos no coração! A exibimos nas paredes dos templos, nas marquises das catedrais, nas capas das bíblias, nos cordões pendurados no pescoço.... Cruz vazia, como vazio está o túmulo onde sepultaram Jesus.  Apenas uma lembrança de quem passou por ali, mas, hoje é soberano nos céus. Aquele que desceu Cordeiro e subiu novamente... Desta vez como Leão.

- Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!
(Lucas 23:46)

Para melhor entendimento desta mensagem é recomendada a leitura dos seguintes textos bíblicos: Salmo 22, Isaías 53, Mateus 5/6/7/27, Marcos 15, Lucas 23, João 13/19, Romanos 8, Colossenses 2 e Apocalipse 5.

sábado, 11 de agosto de 2018

Senhas, filas e esperanças adiadas

Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio,
é melhor calar e esperar.
(Eduardo Galeano)


A vida é curta para se “esperar”, mas aqui estamos nós... esperando. 

Nem tudo está ao alcance das mãos. Inúmeras resoluções que tomamos só funcionam plenamente com a atuação de outras pessoas. Na maioria das vezes, depender do esforço alheio é um exercício de paciência que não estamos dispostos a praticar. E este é um ciclo vicioso... eu preciso que alguém trabalhe por mim e alguém precisa que eu trabalhe por ele. E todos acabamos travados. Estagnados. A espera não é opcional, e sim uma imposição deste labirinto sem saída que insiste em nos aprisionar.

Ninguém escapa. Estamos sempre esperando algo ou alguém. Cada etapa vencida nos leva a um novo patamar de espera. E assim a vida segue, entre nós que desatamos e novelos embaraçados que se emaranham em nossos pés. Uma corrida de obstáculos com balisses tão altas, que as vezes só é possível ficar parado, olhando para o alto, conformado com o ponto final imposto pelas circunstâncias. Na verdade, nenhuma barreira é totalmente intransponível, mas, encontrar formas de ultrapassá-las costuma consumir alguns anos de vida. E não se pode dar ao luxo de tamanho desperdício...

Exemplos...

A causa trabalhista atravancada pela morosidade da justiça brasileira, depende da boa vontade de juízes, advogados e promotores. Nenhum deles, está realmente preocupado com a necessidade imediata do pai de família desempregado. Como não dá para esperar que o feijão caia do céu, é melhor “deixar” para lá, e continuar trabalhando, onde e quando for possível. 

Um paciente no SUS vitimado por Cardiomiopatia Dilatada, precisa contar com a “morte” de inúmeros desconhecidos para que a “fila” ande e ele tenha a possibilidade de receber um transplante de coração. E mesmo assim, dependerá do bom trabalho de toda a equipe médica para sobreviver ao procedimento. Logo, é preciso viver um dia de cada vez, sem fazer planos a longo prazo.

Cenários de situações críticas muito além da “minha” capacidade de resolução, dependendo de pessoas bem mais capacitadas do que “eu”, para solucionar um problema que afeta especificamente a “mim”. E quer saber, quantos deles realmente se importam “comigo”?

É desoladora a sensação que permeia uma “espera” desesperançada. O “TALVEZ” que nunca se converte em “SIM”. A “esperança descrente”.  Marcar o amanhã no calendário sentindo que ele nunca vai chegar. No final do dia, o médico não lembrará do nome. O juiz já terá apagado o rosto da memória. Apenas mais um na multidão, endossando as fileiras dos desafortunados. E enquanto o mundo se mantem alheio as minhas necessidades, uma pergunta que nunca será respondida escapa pelos lábios trêmulos de aflição...

Até quando?

Enquanto escrevo estes parágrafos, percebo que trocando os termos “EU” por “VOCÊ” ou “MINHA” por “SUA”, não alteraria a empatia que busco estabelecer aqui. Na verdade, todos temos nossos “ATÉ QUANDO". Anos a mais, meses a menos, aqui estamos de mãos dadas, esperando que alguém lá do alto chame o número da senha. Todos na mesma sala, afligidos pelo girar descompassado dos ponteiros de um mesmo relógio. O que nos difere, é forma como encaramos o “tic-tac” impiedoso. Dias atrás, estava ministrando sobre o nascimento de Isaque, enfatizando o longo tempo decorrido entre a “promessa” de uma descendência e o primeiro choro de Isaque, herdeiro legítimo da aliança abraâmica. Neste momento, olhei para a igreja e lancei a pergunta retórica:

- Abraão esperou vinte e cinco anos para vivenciar seu milagre... Há quanto tempo você está esperando o seu?

Obviamente, o objetivo deste questionamento era ressaltar que por mais longa que seja a espera de uma pessoa, sempre haverá alguém com muito mais tempo de “fila”. Abraão esperou 1/4 de século por seu filho (...) - Será que não podemos esperar alguns anos também? (...) Quando terminei de formular minha indagação, pude ler com todas as "letras" o lábio de uma senhora sentada numa cadeira da primeira fila:

- Quarenta e dois anos ...

O “balbuciar” destes números inaudíveis foi uma das mais impactantes pregações que já “ouvi” na vida. Três segundos eternos onde Deus bradou com poder e glória reverberando em minha alma aquelas palavras inaudíveis... “Quarenta e dois anos”... 

Assim como você, eu também estou na sala de espera, estarrecido com o tamanho das barreiras e ansioso por ouvir meu nome no auto-falante. E para ser sincero, cogitei a possibilidade de abandonar o posto algumas vezes.  Já passei horas a fio na “montanha russa” da fé, deixando que sentimentos sazonais abalassem minhas mais profundas convicções. Em outras palavras, “cansei de esperar”... e contínuo me cansando. Mas agora, sempre que a “paciência” junta as malas e faz “ckeck-out” no balcão da alma, lembro-me daquela mulher de cabelos brancos que há mais de quatro décadas está na fila... sem jamais arredar o pé.  A geração  hebreia que saiu do Egito demorou menos tempo para cruzar as fronteiras de Canaã... eu ainda nem tinha nascido e ela já estava esperando seu milagre... enquanto penso em desistir das minha esperas, a senhorinha de olhar gentil segue firme confiando na fidelidade “daquele” que lhe fez a promessa... o Médico dos Médicos... o Advogado dos Advogados... o Juiz soberano que atua na última instância, e cuja sentença não se pode revogar.

- Há quanto tempo eu esperando? 

Bem menos que quarenta e dois anos... 

A lembrança deste número me constrange a não desistir. 
Mesmo que a espera insista em se prolongar.

Mas, não se sinta envergonhado por seus questionamentos pessimistas. Como bem disse Salomão em Provérbios 13: 12, “a esperança adiada enfraquece o coração”. O tempo é, de fato, um adversário que nenhum homem consegue derrotar. Neste embate, somos como um “sparing” inexperiente levando jabs do pugilista "peso pesado" que ostenta o título de campeão mundial. O desafio não é vencer, e sim, evitar o nocaute. Apanhar sem cair, e se cair, ainda ter forças para levantar. Cedo ou tarde, a espera termina, o sino toca, os golpes cessam e a perseverança é recompensada. Por enquanto, apenas se mantenha em pé a maior quantidade de tempo possível...  seja por um round ou pelos próximos quarenta e dois anos. 

Nunca dá para antever os prazos do PCP celeste, o que também não nos impede de questionar a demora da intervenção divina. Davi era um homem rico e muito bem-sucedido. Amado pelas mulheres, respeitado pelos a homens. Os inimigos tremiam ao simples pronunciar de seu nome. Nas ruas de Jerusalém, o povo louvava seus feitos em canções épicas. Ele não deveria ter motivos para temer o amanhã. e muito menos se angustiar pelo hoje.... mesmo assim, escreveu o Salmo 13... um bom Salmo para se manter na cabeceira da cama...

Até quando, Senhor?
Se esquecerás de mim para sempre?
Por quanto tempo não me revelarás seu rosto?

Até quando, Senhor?
Quantos dias de tristeza ainda me restam?
Porque não consolas meu coração aflito?
Minhas histórias de fracasso nunca terão fim?

Davi.... poucos homens lidaram tão bem com a espera. Esperou no pasto até ser chamado para a sala. Esperou a hora precisa para arremessar a pedra. Esperou Saul dormir antes de encerrar a música. Esperou na caverna até Deus lhe enviar para o palácio. Esperou em Hebrom até marchar para Jerusalém. Esperou anos a fio para novamente sentir o sabor dos lábios adocicados de Mical. Uma vida de espera compromissada e confiança comprometida. Mas agora, no auge da glória, no ápice do poder, alguém lhe impunha medo. Seu coração estava descompassado no peito, e a sensação de insegurança se prolongou além da paciência...

Até quando, Senhor? 
Meus inimigos já celebram a vitória e uma festa foi preparada para comemorar a minha derrota...

Até quando, Senhor? 
Apressa te em me mostrar a luz no fim do túnel, pois os meus olhos estão imersos em trevas...

Até quando, Senhor? 
Me mantenha acordado durante esta longa noite, pois estou quase adormecendo nos braços da morte! 

Sabe de onde vem a força necessária para sobreviver a mais longeva das esperas? Da esperança mantida em estado de alerta. E como fazemos isto?  Trazendo a memória o histórico de promessas já cumpridas por aquele que é fiel em cada palavra dita. Sem mentiras, engodos ou arrependimentos, e cuja fidelidade é bem maior que a todas as filas do mundo... enfileiradas. Seu agir não é limitado pelo excesso de senhas e seu poder não diminuiu com o passar dos anos. Controle absoluto desde as eternidades passadas. Nenhum segundo perdido no tempo ou nome abandonado no espaço vazio. Deus não perde hora e nem erra de endereço.

Davi entendia está verdade, mesmo num momento de absoluta angustia e incertezas. Ele fez uma escolha. Acreditar naquele que nunca lhe deu motivos para ter dúvidas. Os homens falham... Deus não! A burocracia humana procrastina... a justiça divina age com precisão milimétrica! Depender de Deus não implica em correr riscos. É a mais segura entre todas as garantias...  

Até quando, Senhor? 
Mesmo que eu ainda não tenha a resposta, confiarei no teu amor, e minha alma exultará em tua salvação... Ao invés de me lamentar pelas coisas que ainda espero, cantarei ao meu Deus por tudo que Ele já me tem feito! 

(Salmo 13:6 - Adaptação Livre).

domingo, 5 de agosto de 2018

Dono do Barco... Inquilino no Mar


No Rio de Lágrimas somos pescadores de sonhos perdidos...
(Fernando Matos)


Muitas contas para pagar. Bocas famintas para alimentar. E lá vai Simão se lançar no mar escuro, confiante que aquela seria uma pescaria produtiva. Com sorte, a mais produtiva do ano. E mesmo que as primeiras levadas tenham servido apenas para lavar as redes "já limpas", ele não estava disposto a abandonar a esperança de que a próxima hora seria melhor aproveitada. Assim, madrugada a dentro, o pescador progressivamente foi sendo vencido pelo desânimo, e quando o sol raiou no horizonte da Galileia, já não existia mais força para insistir. Era hora de voltar para casa, mesmo ainda estando de mãos vazias.

Assim que chegou a margem. Simão encontrou seus companheiros de pesca. Mas, ao invés de carrancas mal-humoradas, todos tinham sorriso nos lábios. E peixes nos barcos. Na verdade, dezenas deles. Haveria variedade no mercado e fartura nas mesas. Em todas as casas... menos na de Simão. Com um nó preso na garganta, ele lamentou a má sorte num resmungo rancoroso. Sentia-se desafortunado, como se os céus zombassem de sua miséria. Sabia que era bom em seu ofício, mas todos os esforços se mostraram nulos. Confiava plenamente em sua capacidade profissional, porém os peixes se negavam a cooperar. E enquanto todos se afastavam do mar rumo a cidade, ele continuava nas margens, procrastinando o retorno ao lar. Não é fácil “vender” expectativas e somente ter frustração para “entregar”.

Mas, Simão sabe que nem todas as noites são iguais. Se hoje a pescaria não foi nada boa, amanhã será melhor. Então, certo de dias felizes (por mais triste que seja o hoje, certamente eles virão), o pescador se pôs a limpar as redes. Quando chegasse a hora, ele estaria pronto para o mar. Se jogaria nas águas mais uma vez e insistiria nos lançamentos até vencer os cardumes pelo cansaço. Da mesma forma, que os peixes o venceram na noite que se passou.

Este é o detalhe. A pescaria frustrada se tornou passado. O maior fracasso de um homem é "não se recuperar de seus fracassos". Porque ao longo de uma vida, eles serão muitos. Incontáveis. Diários. Cada SIM é precedido por inúmeros “NÃO´s”. Como bem disse o escritor norte americano Zig Ziglar, o fracasso é um “evento” e não uma “pessoa”. Ainda que não seja impossível deleta-lo da história, também não há necessidade de tratá-lo com carinho. Deixe-o ir, enquanto acena para as novas oportunidades que estão chegando. Entenda que o ontem encerrou-se a meia noite de hoje. Assim, mantenha a ferramenta afiada para a posteridade... E lá estava Simão, preparando suas redes para novas pescarias. Limpando seu barco para receber os peixes que ainda viriam as dezenas. O mar esteve momentaneamente de mal humor, porém, costumava sorrir com frequência. Ele não desistira tão facilmente. 

E foi exatamente enquanto “afiava” suas ferramentas, que a vida de Simão mudou para sempre....

Perto dali, um jovem pregador de Nazaré estava cercado pelos seus ouvintes. Em pouco tempo, as centenas se tornaram milhares, de modo que os mais distantes já não conseguiam ouvir a voz do nazareno. Então, ele teve uma ideia. Entraria num barco de pesca, se afastaria um pouco da margem, e desta maneira poderia olhar sua platéia nos olhos, destinando a cada um deles, a mesma atenção. Haviam barcos ancorados na praia, mas seus donos já tinham se retirado para o merecido descanso. Outros tantos se lançaram ao mar nos primeiros raios de sol e se encontravam distantes demais. Sem problemas. Ainda havia um. Alguém transitava entre os turnos, sem saber que aquele espaço de tempo margeando a "pescaria improdutiva" e o "descanso inquieto" estava planejado desde o princípios da eternidade.

- Bom homem...  Poderia me emprestar seu barco?

Os olhos cansados de Simão se voltaram para o nazareno, ainda cerrados para evitar o excesso de luz.. 

- O Senhor vai pescar? -

- Nunca se sabe o que o mar nos reserva, não é?  Antes, porém, preciso conversar com toda esta gente... Tenho certeza que seu barco será uma ótima sinagoga...

- Bom... Eu já estou indo para casa.... Trabalhei a noite toda... Mas, se quiser, o barco é todo seu... Só o deixe no mesmo lugar quando terminar sua pregação...

- Na verdade, eu preciso de alguém para remá-lo... Será que você não poderia esticar um pouco seu expediente?

Pobre Simão. Hora extra de um emprego não remunerado. Mas, apesar de turrão, aquele sempre foi um homem gentil e prestativo. Coração de ouro! Ele ajeitou as redes no fundo do barco, recolocou os remos na posição e ajudou o nazareno a se equilibrar na meia-nau. E pelas próximas horas, lutou contra o sono enquanto ouvia o sermão mais longo de sua vida...

Coisas ruins parecem dominós enfileirados. Basta o primeiro toque, e tudo desmorona sem intervalos para recomposição. Os antigos diziam que “desgraça pouca é bobagem”, e aparentemente tinham razão. Tem dias que as notícias ruins fazem fila na porta, se acotovelando para ver qual entra primeiro. A tempestade resulta em inundação. O terremoto causa desmoronamentos. A gripe evolui para pneumonia. Uma sucessão de infortúnios caindo do céu sobre a cabeça, enquanto a mente se vê soterrada pela inoperância. E nesta condição, sequer temos a capacidade de distinguir o cenário em volta. Não percebemos que há alguém sobre os escombros, erigindo novos alicerces.

Simão ainda não sabia, mas as redes vazias dentro barco haviam se transformado num tapete de boas-vindas para o criador de todos os peixes. E durante a noite, os cardumes ouviram sua voz. E obedeceram. – Afastem-se deste barco! Fujam destas redes. Para Simão não está autorizado nem mesmo o menor dos lambaris. E enquanto isso, lá estava o velho marujo, confiante de si mesmo, certo que as técnicas centenárias jamais falhariam. O mar era o quintal da sua casa. Ainda jovem, já era considerado um dos maiores pescadores da Galileia. Seus pescados eram famosos em Jerusalém e abasteciam as fartas mesas de Roma. Aquela era a temporada mais produtiva nas águas sempre generosas de Betsaida, literalmente, “A Casa da Pesca”. Não existiam variantes que apontassem para o revés. E mesmo assim, Simão fracassou, sem ao menos entender que o fracasso momentâneo resultaria em sucesso permanente... Afinal de contas, enquanto a lua deslizava pelo céu, um Cristo incógnito observava da margem...

- Não Pedro! Não esta noite!  Hoje não será do seu jeito, e sim do meu...

O jeito de Jesus nem sempre nos agrada. Porém, funciona com perfeição. Neste exato instante, o planejamento divino está em vigoroso funcionamento com diversas etapas concluídas, mesmo que você não observe qualquer resultado imediato. Os cardumes já nadam para o ponto de encontro enquanto as palavras de Jesus são aparentemente destinadas a pessoas aleatórias. Não se engane, o centro de tudo é Cristo, mas o epicentro da transformação é você! A grande verdade é que não será do "seu" jeito e sim do jeito "Dele"... mas algo grandioso está  acontecendo agora mesmo. 

Deixe me compartilhar um “insight” que clareou minha mente dias atrás. Por anos a fio, tenho ouvido profecias e revelações acerca do meu ministério: - Você levará a Palavra de Deus para pessoas espalhadas pelos quatro os cantos da Terra! E cada vez que ouvia está promessa, sempre me imaginava viajando de primeira classe e desembarcando nos mais famosos aeroportos do planeta. Porém, já tenho três  dezenas de anos acumulados (na verdade, um pouco mais), e meu passaporte continua em branco. Por muito tempo, esta frustração foi minha longa noite de pescaria improdutiva. Promessas que não se realizaram. Ou pelo menos, era isto que eu pensava. Enquanto escrevo este parágrafo, estou com uma página aberta no meu computador, na qual posso visualizar o histórico de acessos do “QUANDO (NÃO) ENTENDO DEUS”. Embora todos os textos sejam escritos para "leitores brasileiros", o blog tem sido acessado de diversos pontos do planeta, em TODOS os continentes. Rússia, Líbia, Ucrânia, Austrália, Peru, Estados Unidos, Uganda, Canada, Espanha Alemanha, Gana, Itália, Líbano, México, Japão, Portugal, Bolívia, Coréia, Jamaica... Não sei explicar o real motivo, mas “Filipinas” está entre os dez países com mais acessos registrados. Vai entender o trabalhar de Deus...  O barco é meu, porém o oceano é Dele, sou apenas um inquilino nestas imensas águas. Não está sendo do jeito que planejei, mas o Senhor já está realizando em minha vida os seus propósitos. Por anos tenho vivido o cumprimento das promessas sem ao menos me atentar para a fidelidade de Deus. Eu posso não compreender, mas Ele sabe o que faz... E acredite... Já está fazendo!

O jovem pregador era mais que um líder espiritual. Suas belas palavras entraram no coração de Simão e o fizeram acreditar que tudo poderia ser diferente. Mudança! Transformação! Nenhum homem continua o mesmo depois que permite que Jesus entre em seu barco. Quando o sermão acabou, Simão já não se sentia tão desanimado. Ele remou despreocupadamente até o barco tocar na areia, esperando que Jesus desembarcasse. Mas, o Mestre tinha outros planos...

- Ainda está cedo, Simão. Porque você não volta ao mar e lança suas redes mais uma vez?

- Senhor! Eu passei a noite inteira nestas águas e não apanhei um único peixe... Mas, pelas suas palavras, lançarei as redes no mar...

Estaria Simão crendo no milagre ou apenas se livrando de um homem bem inconveniente? A quem diga que as palavras de Simão indicavam convicção absoluto: - Até agora deu tudo errado. Mas agora será diferente!  Pela sua palavra, eu vou lançar a rede! Outros acreditam que o pescador estava sendo apenas... "irônico": - Com toda a minha experiência, passei a noite inteira no mar e nada apanhe..., Mas se você, um "carpinteiro" de Nazaré acha que conhece o mar melhor que eu, então vamos lá... Lançarei a rede! Certo é, que concordando ou não com a ideia, Simão obedeceu a voz de Jesus. Este é o segredo. Nem sempre é possível entender Deus. Geralmente é quase impossível concordar com Ele. E isto não muda as estatísticas. Os planos do Senhor possuem 100% de exatidão. A mais “sábia” decisão humana, é aceitar de bom grado a mais “ilógica" das ordenanças divinas. O jeito Dele é o correto, independente do manual de instrução que  teimamos seguir. 

Logo, esqueça o que você sabe, e faça o que Ele manda.

Simão levou seu barco até o ponto indicado por Jesus. O mesmo da noite passada. Lançou as redes na direção apontada por Jesus. A mesma da noite passada. A diferença? Centenas de peixes. Lucas 5 nos conta que os cardumes abarrotaram as redes, ao ponto de rompê-las. O barco estava sucumbindo ao peso, quando André,  Tiago e João vieram ajudar. O volume dos pescados foi tamanho, que ambas as embarcações quase vieram a pique. Benção recebida, conquistada e repartida. Fora do horário planejado. No mesmo cenário do último fracasso. Não estava nos planos, mas tudo se encaixou perfeitamente no propósito...

E foi então que Simão finalmente compreendeu a verdade. Entendeu quem era o homem que acolheu em seu barco...

- Afasta-te de mim Senhor, pois tu es Santo e eu pecador...

Sabe porque o teu fracasso momentâneo está presente nos planos divinos? Para cortar as asas da autossuficiência. Ensinar que vemos apenas parte de um plano, mas o Senhor conhece todo o planejamento, incluindo o seu papel dentro dele. Naquele dia, Simão aprendeu que pescar ao lado de Jesus é sempre a melhor opção, não interessando o que você acha que sabe sobre o mar. As águas são apenas a superfície de um oceano muito mais profundo, que apenas Deus conhece com total propriedade. O lugar exato onde estão os peixes que realmente importam...

- Venha comigo Pedro.... Eu farei de você um pescador de almas!