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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Deus, cade a minha promessa?

A paciência é a fortaleza do débil e a impaciência a debilidade do forte.
(Immanuel Kant)


- Senhor... Dai-me paciência! 

Esta é uma oração que vez ou outra fazemos, sem ao menos nos atentarmos que segundo Romanos 5:1-4, a paciência nasce de nossos sofrimentos. Seu desenvolvimento é aprovado em nós pelo próprio Deus, e a partir dela, a esperança surge como o sol após a mais escura noite. Então, podemos concluir que o Senhor não nos dá “paciência”, e sim, “exercícios” para que ela seja desenvolvida e aprimorada.

Quem ora pedindo por “paciência”, incautamente pede por “provações”. Mas, este é um “ato falho” bem produtivo, já que não havendo provações, a vida cristã não tem legalidade. Vivemos por fé, e como bem diz meu amigo Bene Wanderley, “o sofrimento é um teste eficaz para fé”. A grande questão aqui não é o “se”, mas sim, o “como” lidamos com as crises inevitáveis. 

Qual é nossa reação mediante o desemprego, uma perda familiar ou a um diagnóstico devastador? É nestes momentos, onde somos levados ao extremo das convicções, que o tempo parece se deslocar velozmente na nossa direção, como um trem em altíssima velocidade, andando de marcha ré nos trilhos do destino. O futuro nos golpeia com a brevidade. Na ampulheta, as areias do tempo se liquefazem. Não há mais perspectiva de longevidade. E quando a urgência grita nosso nome, faz, se necessário, um exercício imediato de paciência. Longanimidade.  Perseverança.

A paciência nos mantém fortes durante a fraqueza. Confiantes quando surgem incertezas. Determinados a esperar que Deus cumpra em nós seu querer no tempo oportuno. Mesmo que o nosso tempo pareça estar se findando na velocidade da luz. A paciência é resposta definitiva para a questão que mais aflige a maioria de nós:

- Porque a promessa ainda não se cumpriu?

Toda a vida na terra é conduzida e cronometrada dentro do “CRONOS”, o tempo humano. Enquadramos-nos em agendas e calendários, espremendo nossos dias entre os ponteiros de um relógio. Por isto quando algo inesperado compromete esse cronograma vital, nos desesperamos e perdemos o compasso.

Ora, Deus não se encaixa em nosso tempo. Ele é atemporal. Sua existência é de eternidade em eternidade. Diante de seus olhos, nossa vida é como um breve sopro. Ele a tem como uma fagulha em suas mãos, com conhecimento profundo sobre nosso passado, presente e futuro, sabendo “quando” e “onde” agir para nos favorecer... Mas, seu socorro não esta comprometido com o CRONOS, e se desenrola no KAIRÓS, o tempo perfeito de Deus. 

Então, haja paciência! 

As promessas não foram esquecidas. Passado, presente e futuro são a mesma coisa diante de Deus. Sua palavra suplanta o tempo. Mil anos são como um dia... Deus não é afetado pelas décadas... Nós, por outro lado, envelhecemos. Nos cansamos. Esquecemos.

Ou seja, não fique de pé, com os braços levantados, gritando aos quatro ventos, exigindo o cumprimento das promessas. Você vai ter varizes. E ficará rouco. Sente-se. Cale-se. E espere. Espere sentado e com muita tranquilidade, pois Deus não se apressa com nosso imediatismo. Ele é longânimo, e a longanimidade, é também um desafio diário para nós...

A palavra longanimidade vem do termo grego “MAKROTHUMIA”, que remeta a ideia de alguém que sabe esperar o momento certo para falar ou agir, sem reagir de forma subconsciente ou explodir em ira quando provocado. Em resumo, quem é longânime, sabe “contar até dez”, escuta mais do que fala e pensa antes de agir. Segundo Provérbios 25:15, a longanimidade persuade o príncipe, e a língua branda esmaga os ossos.

Pensar com prudência.
Agir com sabedoria.
Não precipitar delírios.
Não verbalizar sandices.

A paciência é o cabresto num cavalo quase indomável. A barragem represando um rio de ansiedades. E compreender esta verdade, mais do que uma escolha de vida, é uma questão de sobrevivência. Não se escapa dela. Parafraseando a poetisa Cora Coralina, “todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo”. Só quem se sujeita ao “Senhor do Tempo”, consegue aceitar o “Tempo do Senhor”.

A longanimidade nos faz entender e se entregar ao Kairós de Deus, cientes que depois da tempestade, o Senhor colocará no céu de nossas vidas o seu arco (Gênesis 9:16). Que no tempo exato (do ponto de vista da eternidade), Deus virá em nosso socorro.

Muitas vezes, na pressa por uma solução imediatista, queremos enfrentar os Gigantes do Vale com a força existente nos braços. Vestimos “nossa” armadura de bronze, empunhamos “nossa” espada afiada, e movidos por irritação, ira, revanchismo e até pela vingança, atacamos descoordenadamente. Como resultado, acabamos ainda mais feridos. E, infelizmente, alguns encontram a própria morte. Provérbios 16:32 nos diz que vale mais o paciente do que o guerreiro e que controlar o próprio espírito vale mais que conquistar uma cidade.

É claro que existem circunstâncias onde é preciso guerrear, mas haverá casos em que a batalha não cabe a nós, é sim ao próprio Deus (Êxodo 14:14). E neste caso, a “arma” mais eficiente para termos em mãos, é exatamente o exercício da longanimidade... A capacidade de esperar Deus agir. 

Calebe foi um dos espias que sondaram Canaã a pedido de Moisés. Ao lado de Josué, animou o povo à conquistar a Terra Prometida, mesmo contrariando os prognósticos negativos de seus compatriotas. Se revelou um homem dotado de tantas virtudes, que o próprio Deus deu impressionante testemunho sobre seu caráter. Por sua perseverança e fé, o Senhor lhe fez duas grandes promessas: ele sobreviveria ao deserto e herdaria a terra que espiou (Números 14:34). Calebe lavrou este juramento em seu coração, e nem mesmo a passagem dos anos foi capaz de minar sua fé nas promessas. E o tempo não foi gentil...

Calebe se submeteu ao Kairós de Deus por quarenta e cinco anos. Não questionou as décadas que passou no deserto, vivenciando uma peregrinação resultante de pecados que ele mesmo não cometeu. A chegada em Canaã não lhe assegurou a posse de sua herança. Foi preciso investir mais cinco anos de vida na conquista do território que lhe fora prometido. Mesmo empregando seus melhores dias nesta jornada, e esforçando suas mãos na conquista, Calebe não valorizou os seus méritos pessoais. Pelo contrário. Fez questão de louvar ao Senhor por tê-lo conservado com vida até o dia em que a promessa se tornou realidade. E este pensamento é bem reconfortante... A promessa de Deus é o mais eficiente seguro de vida.

Muitas pessoas estão frustradas, com a vida espiritual em declínio, decepcionados com Deus e a Igreja. Tudo isso, porque supostamente, Deus deixou de cumprir as promessas feitas. Obviamente, este tipo de pensamento nada mais é que loucura humana, pois Deus é fiel em tudo o que fala e faz. Se uma promessa foi realmente feita por Deus, não haverá no céu, na terra ou embaixo da terra, qualquer força para impedi-la de se realizar... Mas, elas só se tornarão realidade no tempo de Deu,s e não no nosso. É aí que os prognósticos do homem falham miseravelmente e os projetos de Deus se mostram plenos e absolutos.

Chronos e Kairós são dois conceitos gregos para explicar o tempo.  Chronos (do qual se derivam palavras como “cronologia’ e “cronômetro”), é o tempo marcado pelo relógio; minutos, décadas, séculos – passado, presente e futuro. Kairós, por sua vez, é o tempo como substância, não-sequencial e indivisível. Deus nos enxerga no Kairós; nós o enxergamos no Chronos.  Não sabemos todas as razões. Todos os porquês. Todas as implicações. Mas, Ele sabe de tudo. Aqui. Agora. Eternamente. Isso é grande e misterioso demais para entendermos. Mas, quem disse que é preciso entender? 

Não precisamos entender, precisamos confiar e crer. 
O amanhã está nas mãos do Senhor.

As promessas de Deus são uma ferramenta de aperfeiçoamento, usada com sabedoria em seus filhos. Se ao invés de uma promessa futura, Deus nos desse apenas certezas imediatas, qual seria a utilidade da fé? E sem fé, não há salvação. Tudo tem um objetivo. 

- Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. (Hebreus 11:1)

Esperar com paciência as promessas se cumprirem, nos deixa mais fortes. Mais convictos. Crentes de verdade. Resistentes ao sofrimento. Um ciclo fechado e profícuo. Deus é fiel em suas promessas. Se Ele promete, certamente vai cumprir. Então, se os anos acumulam e nada acontece, tenha paciência... Ao invés de se angustiar com a “promissória” em aberto, apenas “relaxe”. Concentre-se em aproveitar (e fazer valer a pena) a vida longeva que uma promessa “ainda não cumprida”, certamente te assegura. Não viver a promessa hoje é a garantia que estaremos vivos para "vivê-la" no amanhã. 

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