Apresso-me a rir de tudo, com medo de ser obrigado
a chorar.
(Pierre
Beaumarchais)
É
difícil lidar com o luto. Os nossos, e os das pessoas que nos cercam. A
tristeza mareja os olhos e embarga a voz. É como se um amarrado de arame
farpado estivesse entalado na garganta. Pensamentos turvos e palavras escassas.
Me
recordo da tragédia que assolou a igreja que frequentava quando criança. Dois
irmãos, ambos com menos de dez anos de idade, saíram bem cedinho para comprar
pão, e aquela família nunca mais pode partilhar de um café da manhã juntos. No
meio do caminho, a bicicleta na qual estavam, acabou atingida por um veículo
que trafegava em alta velocidade. O impacto foi tão intenso, que os meninos
morreram no local. Como explicar para a mãe das crianças, o glorioso propósito
existente naquelas mortes? Impossível!
Sepultar um filho vai contra a lógica da vida. Um tipo de situação que
não se consegue aceitar.
Durante
o culto fúnebre, a irmandade não se acovardou na hora de revelar seus
sentimentos. Frases como “Deus sabe o que
faz” e “eles estão num lugar melhor
agora”, eram repetidas as carreiras. Como sempre fui uma criança
observadora, percebia que a cada nova inserção de consolo, aquela mãe enlutada,
gradualmente aumentava seu lamento. Palavras não conseguem confortar um coração
dilacerado.
Foi
então, que nosso pastor chegou. As atenções se voltaram para aquele homem
sábio. Certamente, seu discurso teológico responderia a todos os inúmeros
“porquês” que se multiplicavam naquela sala. Mas, para a surpresa geral, ele ministrou um
sermão sem palavras. Simplesmente, abraçou os pais, e por muitos minutos,
chorou copiosamente com eles.
Sabemos
que Deus tem propósito em tudo o que faz. Mas, não é esta a mensagem que conforta um coração
enlutado. Não adianta dizer a uma mãe que acabou de perder seus filhos, que
eles estão em um lugar melhor. Lugar de filhos são ao lado de seus pais, e não
em caixões velados por eles. Nestes casos, o melhor que podemos fazer é
exatamente aquilo que a Bíblia ensina:
- Chorai com aqueles que choram
(Romanos 12:15).
A
grande verdade, é que até podemos enxugar as lágrimas de alguém, mas, jamais
conseguiremos inserir a mão dentro dos corações, para de lá, retiramos a
tristeza. Então, choramos juntos, afim de partilhar da dor, e aliviar o
sofrimento daqueles com os quais nos importamos. Quando Jesus visitou o túmulo
de Lázaro, foi recepcionado em lágrimas por Marta e Maria. Cristo sabia o que
estava para acontecer. Ele entendia completamente o propósito daquela morte. E
mesmo assim, Jesus chorou. Terapia das lágrimas, aplicada em grupo. Se como
homem, Cristo compartilhava da tristeza de seus amigos, como Deus, tinha um belíssimo
plano de contingência.
A
experiência do choro, impactou profundamente o Emanuel. Cristo fez a promessa a
seus discípulos, que iria pessoalmente aos céus, construir um lugar especial
para eles. Habitação eternal. Quando tudo estivesse preparado, Ele os levaria
para lá, onde viveriam em paz e felicidade para todo o sempre. Um dos
discípulos, não só teve a oportunidade de visitar este paraíso, como ainda nos
deixou um relato detalhado da visita.
Nas
palavras de João, a Nova Jerusalém se assemelhava a uma noiva enfeitada para o
casamento. O apogeu da beleza. Ele olhou para as ruas, e as descreveu como
sendo feita de uma mistura a base de ouro e cristal. Os muros, estavam
adornados de pedras preciosas. Tudo era iluminado pela presença de Deus. Do
trono divino, descia o Rio, tão cristalino, que mais se parecia com um mar de
vidro. Nas margens, uma vegetação exuberante, tendo como destaque a árvore da
vida. Certamente, não existe um lugar melhor para estar pela eternidade.
Mais,
há uma informação sobre a cidade, que nos remete a experiência de Jesus com as
lágrimas. Ele sabe o que é sentir-se enlutado. Cristo compreende a dor latente
de um coração ferido. E nosso Salvador, cuidou de reverter este cenário. Na
Cidade Santa, cada um de nós seremos abraçados pelo próprio Deus, e Ele,
pessoalmente, “limpará dos nossos olhos
toda lágrima”. E não para por aí.
E lá não haverá mais morte, nem
haverá pranto, nem lamento, nem dor. (Apocalipse 21:4)
O
que mais me impressiona, é exatamente a redundância proposital do texto. Primeiro,
a promessa é que as lágrimas já existentes serão enxugadas. Mas, até aí, Deus
está fazendo o que qualquer um de nós pode fazer. A grande beleza reside no
fato de que, o Senhor, eliminará de nossa existência, qualquer motivo que nos
faça chorar... E isso, é glorioso!
Travesseiros
molhados pela madrugada? Nunca mais!
Esperança
comprometida? Nunca mais!
Solidão
vespertina no campus da faculdade? Nunca mais!
Quebra
de confiança? Nunca mais!
Ligação
de credores? Nunca mais!
Sentimentos
desafiados? Nunca mais!
Olhos
marejados no vestiário da empresa? Nunca mais!
Luto
por aqueles que amamos? Nunca mais!
Currículos
rejeitados? Nunca mais!
Diagnósticos
médicos? Nunca mais!
Batalhas
espirituais? Nunca mais!
Amores
não correspondidos? Nunca mais!
Linchamentos
emocionais? Nunca mais!
Expectativas
frustradas? Nunca mais
Noites
em claro? Nunca mais!
Promessas
vazias? Nunca mais!
Desesperos
precoces e imaturos? Nunca mais!
Incertezas
com o amanhã? Nunca mais!
Uma eternidade sem dor... Uma eternidade sem
sofrimentos... Uma eternidade sem choro...
Lágrimas nos céus não passam de lembranças esquecidas. E já não teremos nenhum
motivo para delas se recordar.